Deitado na cama eu me virava de um lado para o outro naquela noite quente de primavera, mas o calor era de um verdadeiro verão.
Impaciente e completamente impressionado com as coisas que tinha acabado de ouvir.
Minha cabeça fervia e eu não conseguia pregar os olhos.
Flashes de recordações pipocavam na minha cabeça.
O Gabriel me colocando de quatro na cama e socando com violência enquanto eu gemia e implorava para que fosse mais forte.
Hora eu estava abraçado a seu corpo exausto deitado sobre seu peito, beijos carinhosos e as veias grossas pulsantes naquele enorme pau da cabeça vermelha entrando na minha boca.
Senti repulsa de mim mesmo!
Levantei e caminhei até a sacada para olhar o céu noturno banhado de estrelas, mas com algumas nuvens carregadas.
Logo ao fundo em direção ao horizonte vejo os clarões de relâmpagos e raios que indicavam que uma chuva estaria a caminho e rapidamente as nuvens acinzentadas encobriríam o céu todo.
O ar estava parado, as ruas movimentadas e bastante iluminadas, estávamos no mês de setembro.
As chuvas de setembro são rápidas mas extremamente fortes e propícias a alagamentos e enxurradas pelos lugares onde passa.
Desci até o jardim e comecei a caminhar pelo terraço com meus pensamentos voltados exclusivamente para as palavras do Gabriel.
Ouvi barulhos de água na piscina!
Era quase meia noite e o Matheus estava nadando sozinho, com uma garrafa de whisky sobre o deck da piscina.
Eu: boa noite Matheus? Nadando a essa hora?
Matheus: caralho cunhado que susto me deu, você quer me enfartar é rsrs?
Eu: desculpa Matheus, essa não foi a minha intenção rs.
Ele falou assustado e nadou em direção ao copo de whisky que estava ao lado da garrafa.
Um gole do líquido cor de mel e um sorriso mais solto que ele me direcionava.
Ele: vai entrar ou vai ficar em pé aí me olhando?
Eu: não to muito afim não cunhado.
Ele: para de graça Henrique, você sempre nada aqui comigo!
"Espero que seja só nado mesmo". Pensei alto!
Ele: o que disse Hick?
Eu: nada não, só pensei alto!
Ele: vai cara entra ae, faça companhia para mim? Vem?
- Eu estou apenas de shorts de dormir, melhor não rsrs.
Ele: Henrique eu vou ter que ir aí te buscar?
Ele foi tão insistente que quando me dei conta, já estava na água.
Ele: toma um gole pra relaxar cara.
Eu: não posso Matheus, estou tomando medicamentos fortes.
Ele: verdade cunhado, esquece o que eu te falei.
Eu: tudo bem, não tem importância não rs.
Ele: e aí, me conta da sua perda de memória, como é, sente alguma coisa? Já recordou de algo?
Eu: não sei o que te contar Matheus, eu não sinto dor nenhuma, mas aconteceram algumas coisas que estão começando a me deixar preocupado.
Ele: sério? Quer me contar?
Eu: não, deixa quieto, prefiro esquecer "literalmente".
O Matheus estava bem altinho já.
Suas bochechas estavam rosadas e seus olhos vermelhos.
Ascendeu um cigarro e bebeu outro gole do líquido, o fedor de fumaça me incomodava, mas não falei nada.
Nesse momento eu tomo coragem e pergunto;
- Matheus o que você sabe do meu passado?
Ele: cunhado eu sei o suficiente rsrs.
Eu: suficiente? Como assim?
Ele: Henrique, posso te assegurar que você não é um cara muito correto, não gosta muito de seguir os padrões normais e de andar na linha como as outras pessoas.
Eu: Matheus??
Ele: cunhado eu não sei se é uma boa hora para falarmos sobre essas coisas, sua irmã pode aparecer e a gente se enrola.
Eu: pelo amor de Deus Matheus, começou, agora me explica isso aí cara?
Ele: calma Henrique, não é nada de mais mano, só tenho medo da Sara ouvir e "da ruim pra mim".
Eu: o que fizemos Matheus?
Ele: Henrique eu conheci você na faculdade, não frequentávamos o mesmo curso, mas um dia sem saber ou me conhecer, você veio até mim! Não sei por intermédio de quem.
Eu: como assim Matheus?
Ele: eu não sou de família rica como vocês todos dessa casa Henrique, eu fazia faculdade de educação física por que era o curso mais barato e também por causa do meu trabalho. Que precisava ter shape legal, se não eu era descartado.
Eu: seu trabalho, tipo instrutor de academia?
Ele: não cara, eu era garoto de programa, eu trabalhava na noite, saia da facul e já ia direto pra casa dos clientes ou eles vinham até mim. Mas apenas eu e você sabemos disso, nunca ninguém dessa casa imaginária ou suspeitaria de algo desse tipo.
E um dia sem saber, você me ligou e agendou um horário comigo.
Eu: aí meu Jesus Cristo, você está me zoando!?
Ele: não cunhadinho, não estou. Você me ligou e agendou uma hora comigo no meu kit net. A gente não se conhecia e mesmo estudando na mesma faculdade, nós nunca havíamos nôs cruzado por lá.
- Eu não quero mais lembrar do meu passado Matheus.
Ele: calma Henrique, deixa eu terminar? Você chegou no meu quartinho todo nervoso e preocupado, não por que você estava com medo, mas sim com raiva, você tinha brigado e queria trair alguém.
Eu imaginava quem seria a pessoa a essa altura do campeonato.
Ele: então Hick, eu te dei o melhor de mim aquela tarde e você prometeu que voltaria outras vezes, pois tinha gostado do meu desempenho.
Eu: mas eu voltei mesmo?
Ele: sim, você ia pelo menos duas vezes por semana no meu cafofo até o dia que nos encontramos na faculdade.
Eu: e aí, como foi Matheus?
Ele: eu estava liso, sem grana alguma e você me pagou um lanche, ficamos conversando por diversas horas e depois daquele dia acabamos virando amigos.
Mesmo assim você me procurava pelo menos uma vez por semana, as vezes eu não cobrava nada, por que eu gostava da sua companhia. Logo depois eu conheci sua irmã por intermédio de uma amiga que fazia o mesmo curso que o dela, nôs encontrávamos sempre, ficamos amigos e logo começamos a namorar sem saber que ela era sua irmã e ela não sabia que eu e você éramos amigos.
Eu: puta que pariu Matheus que loucura é essa que você está dizendo?
Ele: foi doido o dia que descobrimos que éramos cunhados, você ama tanto sua irmã que me obrigou a sair daquela vida, paramos de nos encontar e ficamos só na amizade até então. Quando eu precisava de algo você dava um jeito e hoje eu devo muito do que sou a você Henrique, esse segredo está guardado a sete chaves e é apenas nosso, mas eu posso te garantir que só paramos de nos encontrar por que você não quis mais.!
Meu pensamento estava mais confuso e minha cabeça doía.
Era o dia das revelações, uma bomba atrás da outra.
Eu estava enlouquecendo mesmo. Como um ser humano iria tão longe?
Ele: cunhadinho só mais uma coisa: - Você não traiu sua irmã! Por que, a gente parou assim que você soube que eu estava namorando ela.
Eu: Matheus eu não quero ouvir mais nada, vou dormir.
Ele deu uma tragada mais forte e disse uma última frase enquanto expelia a fumaça do cigarro;
Ele: Henrique você era o meu melhor cliente, não falo de grana, mas de atenção, de carinho de amizade mesmo. Até hoje eu nunca vi alguém chupar uma rola igual a você, só de pensar o meu pau pula aqui dentro da sunga.
Eu: cala essa boca cara, você é marido da minha irmã.
Ele: ahh Henrique, mas, se fosse em outra ocasião eu tenho certeza que já estaríamos num cantinho reservado pra uma trepada gostosa que só você sabe como fazer. Tem certeza que você não quer nem bater uma punhetinha pra mim?
Eu: Matheus a Sara está grávida cara, tenha respeito.
Falei e saí rumo ao meu quarto, enquanto os pingos da chuva já caíam sobre o jardim.
Como eu podia ser tão sujo, tão baixo daquele jeito?
Eu deveria ser um rapaz imprudente, arrogante e bastante mesquinho para fazer as coisas, sem me preocupar com as consequências.
E doía ouvir a forma que os outros diziam que eu o fizera.
A Sara era meu amor, minha amiga e minha parceira até aquele momento. E meu medo era por algum modo decepcionar a minha irmã.
Como eu iria olhar nos olhos dela, como eu disfarçaría a vergonha que estava sentindo?
Da sacada do meu quarto eu fiquei olhando a chuva banhar toda a cidade, com pingos grossos e reluzentes que respingavam no capô dos automóveis em movimento.
A noite agora estava mais fresca, um arzinho gostoso com cheiro de terra e grama molhada me trouxeram o cansaço e eu voltei a deitar e dessa vez consegui dormir.
Na manhã seguinte fui acordado por Sara e Luma que queriam ir ao shopping.
Sara: bom dia dorminhoco, já são dez da manhã, você não vai levantar não?!
Eu: bom dia Sara.
Luma: vai mano, levanta dessa cama e vamos dar uma volta no shopping, pra comprar roupinhas de neném.
Eu: bom dia pra você também Luma! ta bom! Vou tomar um banho e já desço.
Sara: Nerd isso aqui é seu, mas acho que vai precisar comprar outro rsrs.
A Sara me entregou um celular todo moído, tela detonada e bateria zoada.
Tiramos o cartão de memória e o chip para colocar no aparelho novo.
Tomei um banho rápido, me arrumei e desci para tomar café, eu não conseguia tirar as informações da minha cabeça e me perdi nos meus pensamentos.
Sara: Henrique? Acorda, ta viajando?
Eu: hã, oi! Desculpa.
Sara: o que foi? Se lembrou de algo?
Eu: não, não me lembrei é que estou com um pouquinho de dor de cabeça.
Luma: mano se não estiver disposto, não se limite a ir e passar mal lá, fique descansando.
Eu: imagina minhas Deusas, eu vou sim! Preciso comprar outro telefone.
Luma: isso mano e nós vamos comprar roupinhas para meu sobrinho que está para chegar.
Luma estava entusiasmada para a chegada do novo ou nova sobrinha e queria enchê-lo (la) de presentes.
Seguimos para o shopping e no caminho eu perguntei a elas sobre meu comportamento:
Luma: ahh, mano você sempre me ajudou. Por eu ser mais nova que vocês, você ia me buscar no colégio, sempre me dava presentes, me levava nas baladas, nunca me proibiu de fazer o que eu quisesse, sempre me alertou para drogas e pessoas erradas, livrava eu e o Jean de castigos, mas sempre nôs deu liberdade, acho que você é mais presente em nossas vidas que o papai e o Gabi.
As palavras da Luma me encheram de alegria e foram seguidas pelas de Sara;
Sara: Nerd! Você tem uma facilidade em se dar bem com todos, se preocupa e está sempre alí para qualquer coisa, se eu parasse para contar seus feitos, eu levaria anos. O Gabi não gosta disso em você, ele acha que você confia em todo mundo e não pode ser assim.
"Na realidade, ele tinha ciúmes das pessoas que eu me relacionava, mas tudo bem, aquele não era o momento para pensar nas coisas que havíamos feito".
Compramos tudo que elas queriam, o meu aparelho de celular, e paramos para um lanche.
Eu me sentia confortável ao lado das minhas irmãs.
Eu ainda não tinha parado para conversar com o Jean a meu respeito, mas acho que nossa relação era boa, afinal ele trabalhava comigo.
Para minha surpresa o William apareceu para almoçar no shopping e acabou sentando conosco e ao final daquele almoço ele me convidou a ir com ele para a sorveteria e em seguida iríamos para o escritório.
Me despedi das meninas e acompanhei o William até o estacionamento.
Ele era gentil, conversava olhando nos meus olhos, sorria a todo momento que eu olhava e numa preocupação comigo, que, nem a Dona Branca minha mãe teria.
Chegamos na sorveteria e as meninas vieram praticamente todas, perguntar sobre minha saúde, dizendo que haviam sentido a minha falta.
Uma delas me olhava de maneira diferente e não contente com a situação ela veio até nossa mesa;
Ela: Henrique você não se lembra mesmo de mim?
Eu: me desculpa moça, mas não me recordo mesmo.
Ela: nadica?
Eu: nada! Exatamente nada, mas éramos amigos?
Ela meio decepcionada me respondeu.
- Éramos mais que amigos, espero que você recobre a consciência logo.
Eu: espero o mesmo moça, mas qual o teu nome?
Ela: me chamo Luiza e é estranho me apresentar a você novamente rsrs.
Eu conversava com ela e as vezes que olhava no rosto do William ele não disfarçava as demonstrações de incomodo com a presença da menina e quando ela resolveu voltar ao trabalho eu perguntei a ele.
Eu: William eu era próximo dela? Tínhamos alguma coisa?
Ele: não Henrique, você não tinha nada com ela, mas ela queria sair com você para tentar subir na vida, você só se divertia com ela.
Eu: entendi! Mas e você? Como está sua relação? O seu namoro?
Ele: está bem!
Foi super seco comigo e me chamou para irmos ao escritório.
O lugar era bem próximo a sorveteria, um ponto com uma fachada bonita e bem chamativa.
Não muito grande, mas organizado e bastante aconchegante.
Quando entramos o Jean abriu um sorriso largo e veio me abraçar.