Pessoal, muito obrigado pelos comentários e por lerem. Adoro vocês! Por favor, deixem nos comentários se devo continuar, se não, deleto e edito um outro que tenho aqui. Valeu, bjs ;)
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Era meu último ano na faculdade de Direito. Eu tinha acabado de chegar e vi de longe o pessoal do ano anterior, reunido na lanchonete. Fui até lá e cumprimentei todos e ficamos conversando sobre a formatura no final do ano. Enquanto as meninas falavam sobre seus vestidos exuberantes, eu fui até a biblioteca renovar minha carteirinha e devolver um livro que pensei ter perdido. Quando entrei, notei que a moça não estava mais lá e em seu lugar, tinha um rapaz, muito bonito por sinal. Me sentei e expliquei o porquê da demora em devolver o livro e ele foi bem simpático.
— não se preocupe, isso acontece. Seu nome? — ele perguntou.
— Diego, e o seu?
— Leonardo, muito prazer. Deixa eu ver aqui, você quer renovar a carteirinha, é isso?
— isso mesmo. Demora?
— se você puder voltar e pegar na hora do intervalo, eu agradeço. Tenho umas vinte pra fazer.
— tudo bem. Pego depois.
Levantei e o sino acabara de tocar. Fui pra sala e já encarando uma aula de Direito Penal. Todo mundo ainda parecia estar dormindo e eu era o único que prestava atenção. A hora se arrastava como lesmas e até o sino bater, foi uma eternidade. Fui até a lanchonete pegar um lanche e me lembrei de pagar a carteirinha na biblioteca. Paguei meu lanche e comprei um refrigerante pro Leonardo, não sei o porquê, mas tinha me simpatizado com ele, parecia ser um cara legal.
Assim que cheguei, ele não estava, mas ouvi um barulho vindo da salinha. Fui até lá e antes de bater na porta, ela se abriu e o Leonardo veio sentado em uma cadeira de rodas. Eu fiquei meio surpreso em vê-lo, mas não demontrei. Segurei a porta pra ele passar e me agradecendo, pediu pra eu me sentar.
— está pronta. Eu plastifiquei pra você, só não espalha, porque só posso plastificar os documentos da faculdade.
— ah, sim. Muito obrigado. Trouxe um lanche pra você. — na verdade, o lanche era pra mim, mas pensei que o polparia de ter que ir buscar. Ainda mais, por ele ter sido tão gentil.
— você me polpou de subir aquela rampa enorme. Valeu mesmo. Já lanchou?
— já sim. Aproveita que anda está quente.
Ele empurrou a cadeira pra trás e foi ate o armário. Pegou um pacote de guardanapo e voltou pra mesa. Fiquei me perguntando o motivo de o ter levado a ficar numa cadeira de rodas, mas não queria ser tão invasivo, tinha acabado de conhecer o rapaz e ele poderia ficar chateado.
Ficamos conversando enquanto ele lanchava e aproveitei pra procurar um livro de Direito do Trabalho nas estantes.
— você se forma esse ano? — ele perguntou.
— sim. Já foram quatro longos anos, mas esse ano é o último. E você? Você estuda?
— sim, faço Letras, aqui mesmo, só que a noite.
— você trabalha o dia todo e ainda vem a noite estudar?
— não. Eu trabalho só a parte da manhã, a tarde é livre, aí eu volto a noite. Tenho a vantagem de morar perto.
— perto?
— sim, moro aqui na rua de trás. Nem canso.
— cara, que bom...
O tempo passou e eu nem ouvi o sino tocar. Estava tão entretido conversando com ele que nem me dei conta. Se não fosse o Leonardo me avisar, teria ficado ali o resto da manhã.
Ele agradeceu pelo lanche e perguntou se eu ia levar o livro. Disse que sim e ele anotou.
— bom, nos vemos. — disse e ele estendeu a mão. — Foi um prazer te conhecer.
— que isso Diego, o prazer foi todo meu. Aparece aí as vezes pra gente passar o tempo, claro, se você não estiver ocupado.
— pode deixar, se cuida cara.
— você também.
Aquele dia parecia que todos os professores tinham se reunido pra ferrar de uma vez com todos os alunos no primeiro dia de aula. Voltei pra casa com uma pilha de trabalho e ainda teria que ir pro Escritório do meu pai fazer meu estágio. Aí você começa a pensar que seu ente querido vai aliviar sua barra, mas você se engana. Assim que cheguei, tinha uma pilha de processos me esperando e antes de eu entrar na sala do meu pai, ele apareceu.
— e aí estagiário, preparado pra enfrentar o seu pior pesadelo?
— ha..ha...ha. O senhor fala assim com todo mundo?
— não, claro que não. Falo só com meu filhão.
— que sorte a minha. — ele veio e me abraçou.
— alguma novidade?
— não, nada importante. Bom, conheci um rapaz hoje, ele trabalha na biblioteca.
— bonito?
— pai...pára.
— que foi?
— ele é bonito sim..
— olha aí.
— mas também é simpático, divertido e muito culto. Ele trabalha na biblioteca de manhã e faz Letras a noite.
— ele é gay também?
— acho que não. Ele é cadeirante, caramba, fiquei tão surpreso.
— como assim? O que aconteceu?
— não sei, fiquei com vergonha de perguntar.
— bom, melhor não tocar no assunto. Quando ele estiver confortável em falar, ele vai te contar. Agora, o trabalho te espera. Tenho uma audiência daqui a pouco. Se precisar de ajuda, peça à Camila, ela conhece isso aqui melhor que todo mundo.
— tudo bem pai.
Fiquei até as sete da noite no escritório e fui pra casa. Arrumei meu material e tirei da bolsa o livro que havia pego na biblioteca. Meu celular tocou e era o Marcelo, meu amigo. Perguntou se eu já tinha começado a fazer os trabalhos e disse que nem tinha aberto o livro ainda. Ele queria saber onde eu estava na hora do intervalo e disse que tinha ficado na biblioteca procurando um livro e conversando com o Leonardo.
— ele é gente boa né? Rapaz ponta firme.— ele disse e estranhei a intimidade.
— você já conhecia ele?
— sim, minha mãe e a dele lecionam no mesmo colégio. Conheço o Léo antes dele sofrer o acidente.
— o que aconteceu com ele?
— cara, foi uma bobagem. Ele foi pra uma festa com uns amigos e escorregou na beira da piscina, batendo a cabeça. Ele tava só andando, não estava pulando nem nada. Faz três anos que ele não anda. Sorte ele ter perdido só os movimentos da perna. Mas olha, nunca vi um cara tão gente boa viu.
— ele parece ser mesmo. Gostei de conversar com ele.
— bom, te vejo amanhã. Ei viado, não esquece de trazer aquele livro que te pedi.
— falow...
O Marcelo era o amigo hétero mais filho da puta que eu tinha. E se tratando de amizade, ele era o melhor também. Ele nunca se incomodou por eu ser gay, e eu nunca o incomodei por ele ser tão boca suja e folgado. Tirando o fato dele sempre querer se dar bem nos trabalhos em grupo, o cara era super gente boa. Enfim, a gente sempre se deu muito bem.
Ouvi minha mãe me chamar, ela era Enfermeira e acabara de chegar do plantão. Perguntou se eu já tinha jantado e se meu pai já tinha chegado. Ficamos conversando enquanto ela tomava banho e meu pai tinha chegado.
— reunião de família? — meu pai perguntou nos vendo tão animados.
— estava aqui conversando com esse garoto. Sabia que ele te acha um carrasco? — ela disse brincando e meu pai socou meu ombro.
— mãe... não disse isso. Só falei que o papai tinha me dado um monte de serviço. — e dei mesmo. Amor, você está linda hoje. — ele disse à minha mãe e eu fui saindo.
— nossa, vocês dois nem esperam eu sair do quarto. Que horror.
Eles riam e eu fui pra sala estudar um pouco. Preparei um lanche e liguei a TV. Fiquei vendo a novela das nove e acabei me distraindo. Me lembrei do acidente do Leonardo e realmente foi por uma bobagem que ele ficou numa cadeira de rodas. A vida é estranha as vezes e ninguém está preparado de verdade. Caramba, não deve ter sido fácil pra ele; ter que se adaptar de outra maneira, lidar com pessoas preconceituosas e a falta de acessibilidade que existe em nosso país. E mesmo assim, ele conseguia manter aquele sorriso no rosto e continuar em frente. Era digno de admiração.
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Continua....?