Relicário de Memórias: Rubi Imaginário

Um conto erótico de Konrad
Categoria: Homossexual
Contém 2647 palavras
Data: 20/02/2016 23:29:54

Parte II: Imaginário

Sempre gostei de escrever as minhas experiências. Ruins ou boas. Normalmente, as escrevo sem alterar muitos detalhes. Só uma compressão de tempo aqui e acolá para resumir os detalhes. Gosto de agrupá-las em um relicário de memórias como joias de muita estima. Ás vezes é muito engraçado e reconfortante relê-las, consertar alguns erros de escrita e relembrar o passado, mas também pode ser dolorido e penoso perceber que no fundo você não aprendeu tanto assim com a vida e continua o bobo adolescente de sempre.

Algumas vezes também altero alguns finais das minhas memórias é divertido escrever como o passado poderia ser diferente com algumas mudanças, mesmo que só na imaginação, por isso, diferente de muitas outras memórias, para essa escrevi um final diferente. Foi guardado no relicário de memórias dois fragmentos de um rubi. Um adolescente, rubro, quase sangue representando a paixonite e outro imaginário, com um vermelho quase rosa representado a matéria dos sonhos que é de onde essa outra “versão” veio. Certamente eu não acreditaria na época que reescrevi essa história, mas hoje ela parece quase uma previsão do futuro que me aguardava...

Quase...

[...]

Na noite desta sexta-feirative um sonho. Na verdade, uma construção do meu inconsciente, dos meus desejos, de como essa historia teria terminado se nós tivéssemos nos falado.

No sonho:

Depois de não ir mais aos aulões do Enem, eu não tinha mais o visto. Eu estava triste, mas conformado, afinal não tive coragem de se declarar. Até tinha escrito uma pequena carta para dizer meu amor.

Tempos depois, quando estava saindo da aula de geografia o vejo na porta da sala de informática. Ele me olhou e eu retribui o olhar. Ele tentou falar alguma coisa, mas eu não olhei de volta, então, rapidamente ele entrou na sala. Já eu fui à biblioteca. Como de costume, fiquei na última cadeira esperando o tempo passar vendo um livro que não lembro mais o nome.

Do nada, ele entra na sala deixa a mesma bolsa laranja de sempre perto da minha cadeira e foi para o computador. Era a oportunidade perfeita para entregar a carta. Não tive coragem, mas ainda tive a oportunidade de por dentro da bolsa dele uma pequena carta-poema e sair rápido da biblioteca.

Quando lembrei que não tinha posto o meu nome, o toque do quarto período me acordou do devaneio. Fui em direção à sala e tentei tirar toda aquela confusão da minha cabeça, meu coração parecia uma bomba relógio prestes a explodir.

[...]

Na carta:

Desde o primeiro olhar,

não consigo mais parar

de te amar.

Parece repentino,

mas é o destino

te encontrar.

Eu te amo

e isso não é um engano.

Foi desde o primeiro olhar

que agora me faz enxergar

o que é amar.

[...]

Passou muito tempo e nada dele parecer. Logo achei que era tudo da minha cabeça mesmo, e talvez ele nem tivesse percebido que tinha sido eu que escrevi a carta, afinal não pus meu nome. Ou outra informação de contato. Com o tempo, me desliguei um pouco desses pensamentos, continuava triste, mas conformado. (felizmente, o H. não existia nesse sonho, mas é bom que ele não saiba disso).

[...]

Antepenúltima semana antes do fim das aulas, Pedro, o jovem professor de geografia, falava dos assuntos para a última prova que seria na sexta. Todos ansiosos pelo fim do terceiro ano. O professor ditava uma atividade. Eu entretido com essa tarefa e nem percebi que havia chegado alguém à porta chamando o professor. Depois disso, Pedro falou: “Felipe, tem uma pessoa aqui que quer falar com você”. Na hora, nem sabia quem poderia ser, afinal, em todos esses anos ninguém havia me chamado nas aulas. A maioria da turma ficou curiosa para saber quem era. Ando para fora da sala de cabeça baixa e quando a levanto... Era ele.

O desconhecido com sua bolsa laranja. Fico paralisado. Nesta hora, sem eu falar nada, ouço pela primeira vez sua forte voz:

─ Posso falar com você? É muito importante ─ eu o segui, ainda sem falar nada, para trás da sala de geografia onde ele falou novamente:

─ Você deve se lembrar de mim, eu ia aos aulões do Enem ─ confirmei com a cabeça. ─ Antes de qualquer coisa queria entregar essa carta para você, como resposta, a que você me entregou e que esqueceu o nome, só a abra em casa. Próxima semana, eu venho e aguardo sua resposta, obrigado por me ouvir.

─ Como você soube?

─ Fiquei um pouco na dúvida, mas seu olhar dos sábados te denunciou, um pouco, só um pouco ─ falou isso sorrindo e andando em direção à saída da escola.

Depois disso, a única coisa que pensei foi: “deveria ter perguntado o seu nome, deveria ter perguntado o seu nome...”. Essa frase se repetiu na minha mente diversas vezes.

Guardei a carta e voltei para a sala. Curiosa, como de costume, Samanta perguntou quem era. Tentei explicar da melhor forma possível, mas ela não se contentou com a resposta. Até mesmo Rafael quis saber, mas não pude saciar a curiosidade dos dois, muito menos a do resto da turma.

Pedro me olhou com olhos curiosos para a minha reação. Aparentemente, ele sabia de algo, pois o desconhecido e o professor se conheciam, segundo informações anteriores de Sam’s. No fim, falei apenas que não foi nada demais, e logo a aula voltou ao seu ritmo.

No caminho para casa, não parei de pensar nele e o que poderia estar naquela carta. A curiosidade era grande, mas decidi só abri-la no meu quarto. Ao chegar, fui direto para a minha cama e abri o pequeno envelope que não tinha assinatura, mas ao que parece ele sabia meu nome. E eu ainda não sabia o dele. Mas como ele sabia o meu? Pedro teria dito? Ou quem sabe Samanta ou Iris, elas não eram chamadas de “informantes” à toa, sabia os segredos de todos.

[...]

Na carta:

Não sei como começar isso tudo, por uma historia ou fantasia, mas talvez seja melhor pela realidade.

No primeiro sábado que te vi, eu tinha chegado atrasado (como de costume). Entrei na sala de reuniões e comecei a prestar atenção no que os professores falavam. Entretanto quando eu olhei para o lado e vi uma pessoa me observando com grandes olhos de curiosidade minha concentração na aula desapareceu completamente. Naquele momento, algo me fez prestar a atenção em você, e só em você.

Meu coração começou a acelerar, não sei descrever bem por palavras, mas era algo muito bom. Continuei a te observar. Nossos olhos se cruzaram a noite toda. Deu vontade de ficar te olhando eternamente. Mas a aula tinha acabado e quando voltei o meu olhar para o lado você tinha saído da sala. Foi tão rápido que quase não percebi. Fiquei na expectativa, deu vontade de falar com você logo de cara, mas decidi falar em outra hora. Cheguei à minha casa e não parava de pensar em você. Saber sobre sua vida, seu nome. Qualquer coisa que me fizesse ficar calmo. Estava incerto sobre o que era tudo isso, mas logo desconfiei.

O tempo foi passando e sempre nos víamos aos sábados. Adorava corresponder os seus olhares, por as mãos no queixo e te observar com curiosidade. Era engraçado e fofo como você se envergonhava com facilidade.

Antes de a aula terminar ouvi uma amiga sua chamar pelo seu nome. Felipe. É um belo nome. Depois de saber um pouco mais de você por meio de Pedro (o professor de geografia é um conhecido da minha família) o admirarei ainda mais. Sua timidez, seu sorriso, seus olhos. A partir disso, tive a vontade de falar com você, mas tinha medo de ser tudo coisa da minha cabeça e te ofender de alguma forma, por outro lado, sabia que tinha algo entre nós. Afinal passamos quatro sábados seguidos nos olhando quase que todo o tempo.

Passou a semana e não tive tempo de ir para a aula, tive que resolver uns problemas familiares, mas não parei de pensar em você. Você já era uma ideia fixa em meus pensamentos. Não era alguém que eu poderia deixar passar na minha vida.

Algumas semanas se passaram e infelizmente eu estava ocupado nos sábados, por isso não fui mais para as aulas do Enem.

Em uma certa segunda, o professor de Inglês da noite, Bruno, me chamou para fazer um curso de Inglês. Interessei-me e decidi participar. Na semana seguinte, decidi ir para a escola no turno da manhã para usar a sala de informática, a que o professor Bruno era responsável, e iniciar o curso.

Antes de entrar na sala, olhei para o lado e vi você. No mesmo instante, parei e fiquei te observando e logo nossos olhos se cruzaram. Entretanto, infelizmente, você continuou o seu caminho e eu o meu.

Depois desse dia, decidi-me que iria falar com você, mas o medo e o receio de alguma forma me impediram.

Dias se passaram e nos reencontramos na sala de informática. Antes de entrar, vi você indo em direção à biblioteca. Tentei falar, mas você não retribuiu o olhar. Depois de fazer uma etapa do curso decidi ir à biblioteca ver se você ainda estava lá. Quando entrei, vi que você estava última cadeira. Deixei minha bolsa perto de onde você estava. Você parecia tão distante lendo o livro que não quis te atrapalhar, por isso fui para o computador.

Depois de um tempo, vi você saindo rapidamente da biblioteca. Deu vontade de ir falar com você, mas o medo mais uma vez me venceu.

Fiquei triste por não ter falado com você. Eu poderia ter falado, mas algo me impediu, me bloqueou. Podia ser apenas olhares curiosos. Dizia para mim mesmo. Essa incerteza e o medo me deixavam loucos.

Peguei a bolsa e o capacete e fui de moto de volta para casa. Estava me sentindo muito cansado, por a isso fui para o meu quarto. Ao abrir minha bolsa, um papel pequeno caiu dela. Ao abri-lo vi que Era um pequeno poema. Muito bonito por sinal.

Ao lê-lo um sorriso de alegria se estendeu na minha boca. De alguma forma eu sabia que tinha sido você mesmo sem o seu nome. Seu olhar havia te denunciado. Mesmo que você tenha esquecido ou tenha sido de propósito, não importava, eu sabia que você também desconfiava da origem desse nosso sentimento.

“É amor, não é?”. Pensei comigo mesmo. E depois de reler algumas vezes tomei coragem e escrevi uma carta.

Infelizmente, nesse instante, minha mãe entrou no meu quarto e falou que teríamos que nos mudar. Eu pensava que demoraria mais, contudo ela falou que teria que ser ainda naquele mês. Com toda essa confusão não tive tempo de te entregar a carta antes. Queria ter tempo de te entregar os meus sentimentos e ouvir os seus de sua própria boca. Imagino que você também queria isso.

Depois de me mudar, voltei para a cidade e disse para minha mãe que passaria o resto do ano com os meus tios, para não atrapalhar os estudos nem o curso, o que não era mentira, mas o principal objetivo era conhecer certo garoto.

Peço desculpas por não responder antes. Para resumir tudo isso, poucas palavras são necessárias, e é tudo que encontro na confusão que seu olhar deixou no meu coração. Eu te amo. E não, isso não é uma brincadeira ou algo do tipo, é serio. Quero namorar você, te amar, te beija, te abraçar. Andar de mãos dadas, tudo que dois namorados fazem (espero que você não me ache meloso demais). Claro, que tenho medo do que pode vir depois que nossas famílias souberam. Mas se sua resposta for “sim” eu enfrentarei tudo e todos com você ao meu lado.

[...]

Li aquela carta e lágrimas saíram dos meus olhos não acreditava que ele também tinha se apaixonado por mim. Tive medo. Sim, mas o amor venceu o medo. Logo, uma coragem se apoderou do meu coração e não tinha outra resposta se não o “sim”. Eu poderia escrever uma carta-resposta, mas a altura do que ele fez não havia tempo para isso. Apenas queria poder olhar para ele eternamente mergulhar nos seus olhos negros e nunca mais emergir. Queria viver com ele ao lado dele. Queria concretizar o amor com ele.

Uma semana se passou, vagarosamente, e na aula de geografia ele apareceu. Chamou novamente o professor que logo me chamou. Eu o segui e não esperei perguntas apenas disse:

─ Sim. Eu te amo desde primeiro olhar. Eu ia escrever uma carta resposta, mas não achei necessário queria ser o mais rápido possível. Ver-te. Poder mergulhar em seus olhos, poder te beijar, te amar. Saber seu nome, saber mais sobre você. Mas, antes de tudo, qual é o seu nome? ─ Ele esboçou um largo sorriso e como se conhecêssemos pela primeira vez posicionou a mão em frente a minha, apertou calorosamente e falou:

─ Prazer meu nome é...

[...]

Neste instante o sonho acaba e acordo decepcionado por não saber seu nome. A lembrança dele se reacendeu depois desse sonho. E pude rever seu rosto que já estava apagado nas minhas memórias. Se eu pudesse mergulhar nos seus olhos mais uma vez. Acho que isso seria o suficiente para ser feliz. Totalmente feliz.

Depois de um tempo, não consegui imaginar completamente sua imagem no sonho. Eu não sabia o motivo. Logo não sonhei mais com o ele.

“A realidade contaminou o sonho e o não olhar se apoderou do sonhar e da própria vontade de falar”.

Imagino qual será o verdadeiro nome, poderia ser qualquer um...

Samuel

Pedro

Mateus

Tomas

Leandro

Ricardo

Rafael

Samir

João

Hikan...

Ou nenhum desses. O seu nome é “incerto”, mas meu amor por ele é bem certo. Tão certo que só em me lembrar dele meu coração acelera. Meus olhos se fecham tentando recobrar uma melhor imagem dele. Se um dia eu o recontar perguntaria seu nome. E mostraria esse pequeno texto. Largaria o medo e seguiria meu coração. Se ele já sentiu algo por mim também nos poderíamos nos tornar namorados. E concretizar o sonho, mas tudo isso fica escondido enquanto tempo passa. Enquanto as verdades vão embora e as mentiras são descobertas. No fim, estou feliz por saber que sou normal que posso amar alguém. Só falta saber se sou normal ao ponto de ser feliz como qualquer outra pessoa. Totalmente feliz. Isso eu descobrirei com o tempo se eu tiver sorte.

...Mas parece que eu tenho muita, porque o tempo adora laranja.

[...]

P.S. ─ Quero saber o resto!

─ Vai ficar para uma próxima.

─ E que história é essa de eu não existir no sonho?

─ Foi a única forma de você não atrapalhar.

─ Eh! Vou deixar passar essa, mas você acha que ele poderia ter o meu nome?

─ Tudo é possível H. ainda mais no mundo dos sonhos.

─ Verdade. O mundo é realmente pequeno, principalmente Quimera. Mas me conte é o mesmo Pedro?

─ Sim, não é curioso? É o mesmo, logo, logo conto a história dele.

─ Eh! Conte a minha primeiro.

─ Certo, certo, mas não interrompa.

─ E também quero saber as historias das informantes e do Rafael com o Ricardo também. E, além disso, você não estudou com o Leonardo também?

─ Estudei, mas foi no cursinho, ele era bem mais velho. Não o vejo faz alguns anos, mas tenho que contar o início e o fim da história do Leo também, pelo menos o que sei. Não éramos tão amigos, mas é uma bela história.

─ Não eram amigos!? Ele foi um alvo de guerra, pobre coitado. Se o laranja soubesse...

─ Menos H., menos. Foi em épocas diferentes, ou quase...

─ Certo, certo, não fique chateado. Quero ouvir todas as histórias, principalmente aquela do livro.

─ Ei, espera ai, essa ainda não está nem na metade.

─ Mas essa é a melhor, afinal é sua, minha e do laranja.

─ Sim, mas isso fica para uma próxima. Até.

─ Até.

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Comentários

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Continua esse conto! Muito massa. Na parte do sonho eu vibrei mas, no fim deu aquela tristeza. Ótima escrita tmb.

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Muito Boa, de verdade. Amei seu jeito de escrever. Aguardo todas as memórias que você escolher expor *-*

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