Vamos Nós Três - Parte 6

Um conto erótico de calango86
Categoria: Homossexual
Contém 1560 palavras
Data: 26/02/2016 07:30:47

PARTE 6

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Ao escutar a voz de Alexia, Leandro retirou a mão de cima da minha perna imediatamente. Mas havia sido rápido o suficiente? Ela vinha até nós pelo caminho que ligava a quadra coberta aos bancos externos, onde permanecíamos sentados. Seu casaco estava comigo e balançava de um lado pro outro em mãos nervosas. Não sabia exatamente o motivo, mas sentia como se estivesse fazendo alguma coisa errada e fosse pego no flagrante. Como uma criança que derruba o vaso de planta no exato momento em que a mãe chega em casa.

Quando Alexia já estava bem próxima, nos levantamos. Ela se limitou a olhar para Leandro e me deu um abraço apertado, os dedos fazendo carinho nas minhas costas. Eu não sabia o que pensar. Ela poderia estar brava pelo atraso, com pena por eu ter perdido o jogo, aliviada por eu ter chegado. Ou nenhuma das respostas anteriores. Finalmente, após mais um silencio constrangedor (aquela tarde havia sido feita deles), ela disse:

- Você não respondeu as minhas mensagens... e não me atendeu também.

Desfiz o abraço para olhar o celular. Ela havia ligado fazia pouco tempo, enquanto eu conversava com o Leandro no banco. Estava no modo de vibração, mas não tinha reparado o celular tremendo durante o papo. Se ela soubesse como era difícil prestar atenção em outra coisa enquanto ouvia a voz dele.

- Eu... eu não reparei que o celular tinha vibrado, Alex. Não dormi nada essa noite, daí preguei o olho só de manhã, acordei meio-dia, matei o culto... eu... me desculpa. – minha voz falhava e denunciava meu nervosismo.

- Ei, calma! Tá de boa... Eu só queria saber se você tava bem. Achei que alguma coisa tivesse acontecido, sei lá... – ela falou enquanto segurava a minha mão e a acariciava com seu rosto. Tive a impressão de que ela havia olhado para o Leandro quando disse “alguma coisa tivesse acontecido”.

- Oi... olá, Alê. – Ele disse, meio sem jeito.

- E aí, Leandro... Você veio mesmo. – Foi a resposta dela.

Seca. Não parecia em nada com o modo que alguém receberia um grande amigo após tê-lo convidado e meses sem se verem direito. O que se seguiu depois disso foi o pior e mais longo silêncio do dia. Foi como o chefão no final da fase nos videogames. Quem finalmente o venceu foi o Leandro, que falou passando a mão na parte detrás da cabeça:

- Então, gente... Valeu pela maçã, Edu, mas ainda parece que tem um Gremlin berrando na minha barriga. – e deu uma risadinha tímida ao perceber que ninguém mais riu. – Eu vi que na entrada do clube tem uma lanchonete... então... vou lá rapidão e deixo vocês conversando aí, beleza?

Assenti com a cabeça e ele foi. Ao fundo, a torcida delirava com algum gol marcado, o som de apitos e batuques tomava conta dos arredores. A Alexia se sentou no banco e, reparando no casaco, apontou para ele e falou:

- Quer dizer que você só veio aqui pra me devolver o casaco? – e sorriu enquanto eu jogava a peça de roupa por sobre seus ombros e dava um nó com as mangas na frente do corpo. Também sorri. Aproximando aos poucos meu rosto do dela, nos beijamos. Sentei e ficamos trocando algumas carícias por um tempo, ela tocando meus dedos com os seus e alisando minha mão.

- O pessoal deve tá puto comigo, né... lá dentro...

- “O pessoal” é muita gente. Meia dúzia tá, acham que você amarelou... A Marisa jura que você teve outra caganeira pelo nervosismo e o Fabiano se sentiu culpado. Ele acha que você não encontrou o clube do pai dele. – ela falava enquanto desmanchava o nó do casaco e o retirava dos ombros. - Disse que devia ter mandado a localização pelo cel, alguma coisa assim...

- Que ótimo. Pelo menos não temos mais aula na segunda-feira pra ter de encarar a galera toda... Ia ser foda.

Olhando para o horário no celular percebi que o jogo já devia estar chegando ao fim do primeiro tempo. Em minha cabeça, chequei as horas para saber isso, mas na verdade eu queria ver quantos minutos haviam se passado desde que o Leandro tinha ido embora. Como por telepatia, a Alexia falou justamente dele quando guardei o aparelho de volta no bolso da calça.

- Meu bem, antes que o Lê volte... eu preciso que você seja bem sincero comigo. Tipo, muito! – ela disse com ênfase para, em seguida, cochichar, mesmo que estivéssemos sozinhos – Por acaso ele tava dando em cima de você agora há pouco?

E então tudo fez sentido. A rispidez com que ela havia tratado ele ao nos ver juntos era fruto dos ciúmes. Sabendo que o Leandro era gay e presumindo que eu não fosse (afinal, era o namorado dela!), ela pensou que aquela mão na perna fazia parte de uma cantada. Coitada, mal sabia ela que quem estava hipnotizado por seu amigo gay era eu. Sentia-me péssimo, claro. Mas não podia culpar ninguém além de mim.

- Alex, você tá ficando doida? O Leandro veio justamente perguntar se não estamos indo com muita pressa pra já ter um desses. – e levantei o dedo com o anel de compromisso – Ele pediu que eu não a magoasse, contou das vezes em que te ajudou com os caras do colégio antigo... ele... disse que você é uma irmãzinha. Você acha mesmo que ele daria em cima do namorado da irmã? Acha? Seja sincera comigo.

Não queria deixá-la se sentindo culpada, mas defendi o Leandro com tanta convicção que ela começou a chorar. Aproximei-me mais, abracei seu ombro e a fiz deitar sua cabeça no meu peito. Ela com sua culpa por ter duvidado do Leandro e eu me sentindo culpado por causar isso. Mas a maior culpa de todas era estar consolando a pessoa que gostava de mim e a quem eu traia em pensamento. Eu me odiava mais a cada soluço abafado dela.

Enxugando as lágrimas dos olhos com o mesmo casaco que eu havia usado para enxugar as minhas, ela se afastou de mim e ficou contemplando o ipê amarelo no gramado em frente ao nosso banco. Após uns instantes, falou :

- É, você tá certo... Não conta nada pra ele, por favor. Não sei nem porque pensei numa merda dessas... – e continuou, agora brincando com a situação – mas também, com essas pernas de jogador de futebol, não são só as mulheres que devem cair em cima não, viu... Fica esperto!

Rimos. Senti-me mais leve por ter tirado essa dúvida da cabeça dela. Eles tinham uma amizade tão bonita que eu não queria ser responsável por estragá-la. Já bastavam os estragos que eu causaria quando não suportasse mais viver uma vida que não era a minha e contasse a verdade.

Durante esse momento de descontração, o Leandro voltava. Ele chegou equilibrando, nas mãos, três pães de queijo e três sucos de caixinha para nós, depositando-os no banco assim que parou na nossa frente. A Alexia iluminou seu rosto quando o viu. Pronto, essa era a prova de que ela tinha superado sua desconfiança.

- Lê!!! Que bom você ter vindo hoje! Tá que eu prometi um jogo de futebol e você tá comprando lanche pra gente, mas releva!

- Ahhhh, você apareceu, Alê! Até pouco tempo, tinha um androide aqui no seu lugar... e acho que ele tava programado pra me ignorar. – ele disse, rindo. O Leandro era do tipo que não perdia a piada. E ele também deve ter imaginado que se eu e Alexia conversássemos, a sós, resolveríamos qualquer que fosse o problema que a afligia.

Comemos enquanto a conversa finalmente fluía. O papo não era mais refém dos silêncios constrangedores. Tudo estava em paz, como deveria ser. E então o Leandro perguntou:

- Mas então, galera... sobre o que vocês falavam tão animadamente antes de eu voltar?

- A gente... a gente tava combinando de te fazer um convite! – mentiu a Alexia. – Já que você tá coçando o saco desde que terminou o ensino médio... Por que não faz uma boa ação e nos ajuda a estudar pra passar na recuperação de português? A mãe do Du passa o dia trabalhando, pode ser lá no apartamento dele! Bora? Você é o mago dos livros, cara... nossa última salvação!

- Meu bem, erhh... Amanhã é domingo. Mamãe vai ter um encontro com o povo da igreja lá em casa. – eu falei, dando uma gaguejada.

- Segunda, então! Mas eu só vou poder chegar às cinco da tarde, tenho inglês às três. Qualquer coisa o Leandro vai antes e vocês começam a estudar sem mim... e você precisa estudar mais que eu, mesmo. Hahaha

Gelei. Eu e o Leandro na minha casa, sozinhos. Talvez fôssemos estudar no meu quarto e eu não conseguisse disfarçar minha atração estando a palmos de distância dele. Talvez fosse melhor não combinar isso, seguir com minha vida de namorado heterossexual e retomar as antigas saídas, com os caras do colégio. Talvez eu devesse poupar a Alexia de ter um namorado no armário e terminar tudo, mas sem ficar com seu melhor amigo para evitar machucá-la ainda mais. Talvez...

- Por mim, excelente. Resta saber se o Leandro topa, né? – foi tudo o que consegui dizer, interrompendo todas as minhas dúvidas e jogando todos os “talvez” para o espaço.

- Perfeito. Será uma honra ajudá-los, cavalheiros. – e simulou uma reverência para nós.

Começou a chover nesse instante.

É. Eu tava ferrado.

(FIM DA PARTE ¨)

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Comentários

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Idem com a ideia do Leo, muito bom, mais uma vez. Ansioso pelo próximo

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Achando incrível como vc ta conduzindo a história. Sem apressar as coisas, com ritmo.. Escreves super bem tbm. Não pare

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