Os capítulos 1 a 5 estão neste link: http://www.casadoscontos.com.br/perfil/217787
oooooooooOOOOooooooo
Guilherme> Sabe, quando você cantou naquele dia, eu não acreditei que aquela voz havia saído de você, tanto que olhei duvidoso pra ti. Hoje sua mãe falou que você toca piano. Quero que toque agora pra mim Gabriel. E que cante. Só assim acreditarei que era mesmo você naquele dia, e não um play back... Vamos... cante!
Nem sob tortura eu cantaria... nem que ele fosse me quebrar ao meio... quem ele pensa que é... não quero. Não vou... sentei no banco a frente do piano ao lado dele. Eu não vou tocar... postei minhas mãos sobre as teclas... eu não quero... não vou! E o som do piano ecoou na sala, entrando em sintonia com a melodia que começava a ser formada pela minha voz... fechei os olhos e comecei a cantar One de U2...
(Não sei o que me deu em cantar esta música naquele momento... mas a letra parecia cair em cheio com os conflitos que eu estava vivendo e que ele também, parecia viver... O som do piano era leve).
Is it getting better?
Or do you feel the same?
Will it make it easier on you now?
You got someone to blame
(Minha voz estava rouca, acho que de tanto chorar anteriormente – meus braços tocavam os dele, porque ele estava ao meu lado, absorvido no dançar das minhas mãos.)
You say one love, one life
It's one need in the night
One love, we get to share it
Leaves you, darling, if you don't care for it.
(Sempre que canto esta música me sinto bem, por isso acredito que a escolhi naquela hora...jay eu precisava me sentir melhor – e eu gosto de cantar com a interpretação de Mary Jay Blige – pois ela canta de forma muito forte esta musica... e era assim naquele momento... eu estava com raiva do Guilherme e cantava com força, muita força... tocava piano absorvido pela melodia e olhando-o de rabo de olho... via seu peito subir e descer rapidamente, nervoso com aquelas sensações por nós experimentadas)
Did I disappoint you?
Or leave a bad taste in your mouth?
You act like you never had love
And you want me to go without
(Neste momento eu entrava mais forte na música… buscando emocionar, buscando mostrar pra ele que eu sei cantar e bem... que minha timidez não prejudicava minha voz... e que do alto daquela arrogância um dia ele pudesse enxergar-me como sou... não como imagina que sou...)
(Dedilhava o piano e em momentos precisava quase que tocar seu rosto com o meu ao tentar alcançar a extensão do piano... ele ficava imóvel ao meu lado... sem dar espaço e eu tendo que cantar e tocar e ele ali... era difícil... ele me puxou pra junto dele e eu continuava a tocar e cantar sem parar... a música chegando ao seu ápice enquanto sentia sua pele quente queimar a minha)
Well, it's too late, tonight,
To drag the past out into the light
We're one, but we're not the same
We get to carry each other, carry each other
One
(Entao fechei os olhos, minha melhor forma de defesa… de viajei novamente na música... permitindo-me levar aonde a estrutura melodiosa da canção poderia me conduzir, fazendo-me entrar em um torpor absoluto, embora ainda consciente daquele enorme corpo que agora meio que se colava ao meu... o Guilherme passa uma perna para trás do banco como que tivesse me encoxando... senti seu rosto próximo ao pescoço por trás, como se quisesse estar atrás de mim como se ele próprio me conduzisse a tocar...)
(Mesmo ciente de sua presença e de sua condução... não me deixei distrair em nada da letra, nem da melodia... eu cantava com a voz mais límpida possível... mesmo estando sendo abraçado pelo Guilherme que fazia-me um escudo protetor... me senti bem... tranqüilo e sem nenhum medo ou vergonha ou timidez)
Have you come here for forgiveness?
Have you come to raise the dead?
Have you come here to play Jesus
to the lepers in your head?
(Com mais ênfase cantava esses versos de forma a tentar o ápice da nota de cada verso... o Guilherme suspirava e olhava maravilhado a forma com tocava piano.. como cantava e como me encaixava em seu corpo quente sem me descuidar da música que ele havia pedido pra escutar e escutava plenamente)
(Senti os lábios dele a primeira vez em meu ombro – não era um beijo... era diferente de beijo – era mais... era como se ele estivesse tocando uma relíquia cara... ou um santo ao altar... ou carinhosamente uma criança que acabara de nascer... um beijo, não era... era a prova e o reconhecimento de que ele estava do lado de algo que repentinamente lhe era caro)
Did I ask too much, more than a lot?
You gave me nothing, now it's all I got
We're one, but we're not the same.
Well, we hurt each other, then we do it again.
(Foi quando cantei que o amor era um templo e que o amor é a lei maior, que o Guilherme respirou fundo... suspirou em meu pescoço e falou baixinho no meu ouvido o refrão da música)
You say:
Love is a temple, love a higher law
Love is a temple, love the higher law
You ask me to enter, but then you make me crawl
And I can't keep holding on to what you got
When all you got is hurt.
One love, one blood
One life you got to do what you should.
One life with each other: sisters, brothers.
One life, but we're not the same.
We get to carry each other, carry each other.
One! One!
(sussurrando ao meu ouvido em português o que eu cantava em inglês)
Guilherme> Você diz; O amor é um templo; O amor é a lei suprema; O amor é um; templo; O amor é a lei suprema; Você me pede para entrar; E depois você me faz rastejar; E eu não posso continuar me agarrando; Ao que você tem; Quando tudo que você tem são feridas; Um amor; Um sangue; Uma vida; Você tem que fazer o que deve;
Uma vida; Um com o outro; Irmãs e Irmãos; Uma vida; Mas não somos os mesmos; Temos que carregar um ao outro; Carregar um ao outro...
A música acabou. Ficamos ali parados absortos com a emoção estampada na pele... como tatuagem recém feita que fica dolorida, áspera, irritada... mas muito, muito sensível... consciente de sua existência, de sua presença... de sua força. A melodia ainda estava no ar... e aquele sentimento de harmonia entre mim e o Guilherme era muito forte... muito profundo e sublime. Ele ainda estava sentado ao meu lado, mas de uma forma que me tomava ao todo... com suas pernas enlaçando-me e todo o tronco de seu corpo encostado em minhas costas com o rosto colado a minha nuca... se eu me virasse consequentemente encontraria os seus lábios e o seu beijo. Senti suas mãos deslizando pelo meu braço até tocar mas minhas... seus dedos tocavam os meus como que os estivesse estudando a anatomia. Sua respiração no meu pescoço me aquecia por completo... sentia os músculos de seu peito tocar minhas costas no ritmo de sua respiração, enquanto sua mão enlaçava a minha... os lábios dele tocaram meu pescoço e tive uma violenta ereção... digo violentíssima... que espasmos foram dados com se uma corrente elétrica tivesse atingido o meu corpo... ele percebeu minha reação e senti ele sorrir e passar a língua no meu pescoço... o arreio foi maior... baixei a cabeça e meus cabelos caíram como cascata por sobre meu rosto... estava febril... arquejante... e com uma vontade louca de ser dele. Dele me possuir como um animal selvagem possui sua presa... queria ser devorado pelo Guilherme... e ele precisou apenas me tocar o pescoço... se ele dissesse, dispa-se que hoje vou fuder você até me dar por satisfeito... eu apenas diria, venha, eu quero... eu estou pronto. Ele tocou novamente meu pescoço com a língua, agora mais intensamente... como que me lambesse...
Guilherme> Gostoso seu sabor... (e respirando profundamente me abraçou com muita força, com os dedos entrelaçados aos meus puxando-me pra ele) quero mais... muito mais...
E subitamente me larga... como que saíssemos de um transe, o Guilherme se ergue e anda nervoso pela sala... com as mãos em seus cabelos... e o olhar apreensivo... parecia um animal enjaulado. Me olha de um jeito diferente... meio terno, meio confuso, e com um pouco de medo...
Guilherme> Gostoso demais... mas eu não posso... eu não sei o que é isso... querer e não poder... (frustrado ele vem se ajoelha ate mim e me vê banhado de lágrimas) não chora... por favor... não gosto quando você chora...
Eu não conseguia compreender, mas eu queria chorar, eu não estava triste, mas também não estava feliz... só sei que me dava uma enorme vontade de chorar sem motivos, pelo menos aparentes...
Guilherme> Biel, por favor, não chora! (Então foi Biel do que ele me chamou naquele dia... a memória veio como um raio! Olhei com lágrimas nos olhos ainda) Por favor não chora! (e tocava meu rosto) Não posso... eu não consigo... preciso compreender primeiro... além do mais você... você é tão jovem... (limpava cada lágrima que ali saía) e eu não sou assim, como você (tocava meus lábios com os dedos fazendo um desenho deles) eu não sou assim... mas preciso compreender o que sou... (sua mão desceu ate meu queixo depois subiu pela lateral do rosto – era como se ele estivesse decorando minhas feições – guardando pra ele cada detalhe) compreender o que nunca compreendi... o que nunca aceitei... me desculpa (era a segunda vez que ele me pedia desculpas... mas daquela vez eu não entendia o porque – o que ele precisava compreender?) não sei se é isso que eu quero, mas preciso refletir... é duro pra mim... compreenda... sei que não está me pedindo nada... (ele não conseguia dizer claramente) sou eu que quero! Muito veja... (foi ai que ele tocou minha mão e colocou levemente sobre o seu coração – estava disparado!) mas eu não tou pronto... (e se levantou me levantando com ele – aproximou seu roto e deu um beijo na minha testa segurando minha cabeça com uma mão e a outra apertando meu corpo num abraço que fundia um misto de proteção e posse)
Depois de um tempo me soltou e disse...
Guilherme> Me promete uma coisa...
Gabriel> O que? (num fio de voz)
Guilherme> Aliás, duas... Espera... me espera, o tempo que for... (olhei pra ele assustado) e tente não enlouquecer... pois vai ser difícil aturar o meu humor... acho que amanhã estarei horrível, bem diferente de agora... ok
Balancei positivamente a cabeça... não tinha noção do que estava fazendo naquele momento...
Guilherme> Saiba de uma coisa... quando um dia compreender isso que sinto agora por você, aí estarei pronto...
Olhei ele depositar outro beijo em minha testa, desta vez agarrando-me com muita força, que senti o seu pau encostar em mim e estava um volume monstruoso ali... mostrando que definitivamente ele precisava compreender como um hetero estava sentindo um tesão avassalador por um homem... ele precisava entender pois, acredito eu que nunca havia nem cogitado em olhar para outro homem com qualquer intuito sequer de ao menos tocar-lhe o corpo... nem por brincadeira... nem que fosse embriagado... ele simplesmente nunca teve um momento na vida em que olhou para um homem e cogitou a possibilidade de tocar-lhe a face como fez comigo... de beijar-lhe a nuca... abraçar... sussurrar ao ouvido e sentir aquele desejo incontrolável que sempre que está ao meu toque sente... aquilo era novo pra ele e pra mim também...
Guilherme> Vai cumprir tudo? (balancei a cabeça positivamente) olha que eu vou cobrar de você viu... (riu) agora vou embora... amanhã falo pra você como serão as viagens e quando...
Gabriel> Te levo até a porta (consegui pateticamente dizer)...
Guilherme> Biel, eu não te prometo nada... por isso peço que se prepare de alguma forma pois acho que vou te machucar muito... mas saiba que quando eu decidir, se sim ou não... apenas você saberá...
Olhei pra ele e pensei de que forma eu seria machucado, se ele ficaria com meninas pra provar que era homem... se ele procuraria outros homens... se ele me teria apenas como amante... se ele me queria apenas para o desejo e casará, terá filhos e simplesmente iria me ver para gozar como se fosse uma válvula de escape e disse corajosamente...
Gabriel> Se me machucar, eu não vou aceitar... prepare-se também. Porque não serei o segundo na vida de ninguém...
Esperei suas mãos fortes em mim, para me pôr no lugar, mas ele me olhou enigmaticamente, e abriu um leve sorriso...
Guilherme> Certo. Mas cuidado... ou eu te divido em dois (mas o seu semblante estava divertido – tocou com os dedos a ponta do meu nariz e virando-se foi embora)
# LIVRO I # - Capítulo 2
Nossa mente nos prega peças engraçadas de vez em quando. Aonde eu teria respondido uma provocação do Guilherme daquela forma... que iria revidar... foi o que quase disse... mas ele não era nada meu... ele não era meu namorado, nem amante, nem nada! Eu era apenas o garoto homem que despertou o desejo de uma fera... de um homem que seguia o curso de sua vida de forma linear... bem sucedido, com mulheres aos seus pés e que iria encontrar uma, casar e ter filhos... até que eu atravesso o seu caminho... sem querer... o encanto de forma diferente... e mostro uma possibilidade nunca por ele antes entendida como SUA POSSIBILIDADE... era complicadíssimo... e tinha variáveis em nosso caminho... eu não sei quem ele é... quem são seus pais... se tem namorada... e eu, nossa, eu tinha minha vida simples e já traçada... namorar descompromissadamente um garoto, o Paulo, talvez, entrar na universidade... me formar... trabalhar por conta própria... contar pra minha mãe que sou gay... encontrar o meu amor e viver minha vida... mas aos 16 anos chega um furacão que me levanta de meu solo e me leva a outra realidade... a de se envolver com um homem ambientado no mundo machista das lutas, extremamente bruto, e complicadamente doce, que até então mostrava-se hetero, era hetero e desejava-me ardentemente... não sei se suportaria tanto... não sei se conseguiria cumprir as duas promessas... mas com certeza... iria revidar quando provocado... por Deus, morria de medo daquele sentimento que não sei decifrar... mas que me impelia a não aceitar ser machucado por Guilherme...
Agora, precisava refletir sobre aquele dia... sobre aquele homem... e sobre mim. Fui pro quarto e me tranquei. Desliguei o celular... e deitei-me... o Guilherme aparentemente parecia me desejar... não que estivesse apaixonado... não sei... mas eu queria descobrir. Só que, embora que ele fosse perfeito quando era terno... e era a segunda vez que ele se mostrava terno... ele era horrível quando me agredia, me humilhando e me pisando, pondo-me totalmente abaixo do que se é mais baixo possível chegar... então, o que eu iria fazer? Como iria proceder... pensei e cheguei a uma única conclusão... iria esperar... como ele pedira... iria aguentar... como ele pedira... mas iria ficar na minha, iria aguardar ele chegar até mim... não iria provocar... pelo menos não intencionalmente... viveria minha vida normalmente, pois foi assim que ele me encontrou... e se um dia acontecesse de nos unirmos... então aí sim, eu iria tomar posição... seria positivo, agiria.
Como a defesa é o melhor ataque... a inércia é a melhor forma de ser notado uma multidão que dança compulsivamente. Ficaria na minha... mas ele me veria como sou... sem mentiras... sem medos... como eu realmente sou. Iria mostrar pra ele... pra ele se decidir... porque se ele se decidisse por mim ou se decidisse não comigo ficar... era comigo mesmo, real e verdadeiro, que ele decidiria. Pelo sim ou pelo não.
Ok, certo! Decidi atacar... foi? Não sei, mas acho que foi. Minha primeira providência seria uma abordagem direta com a Jú... ela teria que ser meu escudeiro... me apoiar, pois previa que iria precisar... peguei o celular e liguei pra ela..
Jú> Nossa já se curou da deprê! Menino precisa ensinar esse método... vamos ficar ricos...
Gabriel> Jú deixa de bobagem... preciso falar contigo urgentemente... vem aqui...
Jú> Dá não fi... olha tou ocupadíssima...
Gabriel> JULIANA! PRECISO DE VOCÊ...
Jú> Quero não... me liga amanhã depois da manicure (e desligou o celular... que ódio!). Ligou em seguida...
Jú> Kkkkkk, brincadeira... já, já tou ai... (desligou)
Vinte minutos depois ouvi a campainha tocar... senti um frio no estomago e lembrei que era o Guilherme que a pouco entrara por aquele apartamento... corri e abri a porta...
Jú> Me conta tuuuuuuuudo, tou com fogo no rabo...
A Juliana estava linda, parecia uma miss... aff, parece que 24 horas está pronta pra uma sessão de fotos...
Gabriel> Vem cá...
Fomos pro quarto e contei tudo o que havia acontecido desde o momento que o Guilherme entrou no apartamento até o momento em que saiu... a Juliana estava hipnotizada... nem piscava! Quando terminei ele suspirou e falou...
Jú . Tá legal, só pode ser duas coisas: você acha que tenho idade mental de 5 anos com atrofia cerebral, ou então o Gilberto Braga precisa saber que sua vida pra novela das 8 interpretada por marsupiais australianos... você é louco!
Gabriel> Como? (pisquei várias vezes)
Jú> Você sabe quem é o cara? Um matador...carrasco... destruidor de bichinhas virgenzinhas coitadinhas... ele é a própria ku klux klan, e você um negro-judeu-homossexual-pobre!
Gabriel> Juliana cala a boca... você precisa me ajudar...
Jú> Sei que preciso... e é por isso que vou pagar as caras sessões com o psiquiatra mais caro de Recife (suspirei exasperado) Gabi você não vê a furada que tá entrado... que pode se machucar seriamente se você se apaixonar por esse cara... MEU DEUS ACORDA E CAI FORA DO BARCO MACHO MAN!
Gabriel> Jú eu prometi... só quero que me ajude sim... me ajude a compreender o Guilherme... me apoie... preciso de seu apoio...
Jú> Quer dizer que você vai entrar nessa loucura... esperar um machão se decidir se enfia o pau no teu cuzinho virgem ou se ele segue a vida de coça saco com mulher e 12 filhos desdentados de plano dentário vencido?
Gabriel> Vou cumprir minha promessa...
Jú> Registre-se: não diga que não avisei... e segundo: se der certo esqueça o que foi registrado... rs
Gabriel> Vai me ajudar...
Jú> Vou e do meu jeito... você verá, serei amiga intima dele... e quando isso acontecer... ele irá comer na minha mão Pink...
Gabriel> Pink?
Jú> claro! Você acha que eu seria Pink? Sou o cérebro baby... (ahhh, que saco, a Jú não para)...
Gabriel> Não quero isso Jú. Quero que fique amiga dele, mas não com intuito de por ele na mão, espionar e tal... quero quer fique amiga porque você é minha irmã, e eu quero que se dêem bem... mas não quero manipular nada... enganar... mentir... quero apenas que aconteça o que tiver de acontecer... e que você apenas me apoie, pois sou muito medroso e preciso de seu apoio só isso...
Jú> Tá, gostava mais da ideia do Pink e o Cérebro... (e com um suspiro de tristeza) mas nem tudo é perfeito... por sinal... o que tu viu nele? Tudo bem que é fenomenal de corpo... esses lutadores sempre são... mas... você já se viu no espelho... você é lindo... cara você é tão bonito que dói (fiquei vermelho – E ESTOU AGORA POR ESCREVER ISSO RS)... tu pode ter quem quiser... quem desejar... se for tesão... dá uns pega nele... relaxa e goza marta! Depois vai embora limpando o canto da boca... rs
Gabriel> Esse não sou eu.
Jú> É eu sei... e isso me faz te amar mais ainda seu bobo (me abraçando e me beijando na bochecha começamos a fazer cócegas até chorarmos de rir)
Mainha chegou e nada percebeu do que ali se passou... imagino que se tivesse percebido... teria me matado. Falou que o Guilherme havia conversado com ela sobre as viagens e sobre eu ir junto em alguma delas... disse que no princípio não iria deixar, mas quando ele contou que era muito bom para meu currículo e que iria pessoalmente cuidar de mim ela se tranquilizou e permitiu... parece que ele fez ela entender que eu estava de acordo e queria muito, o que eu fiquei apenas na minha, sem esclarecer o assunto, pois poderia levantar suspeitas e também eu, naquele momento, queria ir... tinha que ficar inerte na minha, seguindo a correnteza do rio. Queria ver até onde ela ia dar... nem que tivesse que pagar pra isso...
A ju, prometendo ser minha aliada incondicionalmente, foi pra casa logo depois do jantar... tinha que estudar. Eu fiquei no MSN até umas 10 da noite e percebi que o Paulo não estava on... tudo bem... mas eu ainda queria que ele entendesse-me. Nãos sei, eu gostava do Paulo... não estava apaixonado, mas sentia que ele era importante pra mim. Na realidade ele era mais próximo que o próprio Guilherme... pois poderia rolar naturalmente entre a gente e eu estava propenso a ter algo com o Paulo... mas quando o Guilherme esta preste eu perco a noção, e mesmo vendo tudo que nos cerca ser totalmente contra, eu me sentia jogado até ele e não para o Paulo, o que seria normal. Pela manhã acordei cedo, impressionantemente revigorado e louco pra ir pra escola...
Era quase tão absurdamente estranho eu querer ir pra escola! Não que eu não goste de estudar... eu gosto! É que adoro dormir... e dormir muitooooooo. Mas me levantei com coragem e tomei um banho rápido... vesti uma roupa... separei a farda e fui pra escola...
Estava as primeira duas aulas de matemática com muita raiva porque eu tinha esquecido de fazer o exercício e tive que fazer no final da aula enquanto todos estavam liberados... que ódio... 30 minutos de ódio... a Jú tinha feito e nem me lembrou... ela tava agora passeando com os outros enquanto eu estava ali... até que “Yorulê - Yoruleiiiii-riiiiiiiii” olhei pro visor do celular e não conheci o número... abri a mensagem #Estarei no estacionamento da academia de 12:15, não se atrase, odeio atrasos... almoçaremos no Porcão, eu#. Praguejei, pense num convite... parecia uma convocação... e se eu tivesse compromisso... e como ele conseguiu meu celular? Talvez mainha...
Gabriel> Sei não! Agente nem ao menos tem tempo pra planejar novas táticas...
Danilo> E que táticas essa garotinha de castigo está planejando? É pra agarrar quem... (falou ao meu ouvido me assustando – acabei derrubando a caneta)
Gabriel> Porra Danilo... que merda... que deu em você pra me assustar assim...
Danilo> Nada Gabizinho... você que tá ficando pinel ai falando sozinho...
Gabriel> Me deixa aqui... tenho que terminar a porra desse exercício antes da próxima aula...
Danilo> Num tou nem ai... quero saber o que você ta planejando... é pra quem? Se for pra mim, cai fora... não quero comer essa sua bunda suja hoje não... kkkkkk
Gabriel> Como tu é nojento cara... vai procurar a imundice de sua turma...
E o Danilo saiu dali às gargalhadas... respirei fundo e tentei me concentrar pra terminar o exercício... mas não conseguia... só pensava no Guilherme e em voltar pra o Porcão... e também no infeliz do Danilo e na raiva que ele me deu... resultado, não terminei a tempo... e fiquei fazendo na aula de história e filosofia, com os professores irritantemente me fazendo perguntas e eu tentando responder sem sucesso! Tive que ficar no intervalo do lanche fazendo o exercício e depois ainda continuei nas três últimas aulas do dia... entreguei em cima da hora na sala do professor e quando olhei a hora meu coração deu um baque... 12:16! Corri como se fosse a são silvestre...
12:18... esbaforido... com a bolsa a tira-colo voando os cabelos despenteados, ofegante e desengonçado, cheguei ao jipe que estava estacionado e já com o motor ligado. Parei na porta do carona, engoli saliva, sem sucesso... com a boca seca, abri a porta e me deparo com os olhos mais incrivelmente negros que já vi na vida... desafia a genética! Negros como o próprio preto absoluto.
Guilherme> Está atrasado! (falou simplesmente)
Subi, sentei e ele ainda me olhava com os olhos apertados e a séria cara costumeira. Tentei sentar com dignidade, o corpo suado, o cabelo agora precado no casco a boca aberta ofegante e as pupilas dilatadíssimas nos olhos abrindo uma imensidão escura sob um raiozinho de azul em volta... puxei o sinto e falei debilmente...
Gabriel> Me desculpe, fui entregar um trabalho...
E o carro começou a arrancar numa ré tão veloz que se não fosse o sinto seria arremessado pra frente... dá um breque que me joga colado a poltrona do carro e arranca seguindo em frente, mostrando que mais uma dia de Rali paris Dakar começava. Olhei de rabo de olho esperando ele me dar uma bronca do tamanho de sua raiva, mas percebi incrédulo... ele sorria disfarçadamente... que cachorro!
O vai e vem característico de sua direção me fazia temer um deslocamento do cérebro da caixa craniana... e toda vez que ele fazia uma curva fechada eu tocava-lhe o braço o que me deixava muito perturbado... ele sempre fazia essas curvas pra eu cair nele com mais intensidade... olhei-o enviesado e percebi como estava... nossa... eu o desejava cada vez mais... ele estava com um short jeans e camiseta sem mangas branca... fiquei reparando no seu corpo e ele apenas dirigia como se não percebesse... mas ele percebia sim... e estava se divertindo com aquilo... olhei os seus braços e os músculos que eu conhecia dos livros estavam todos ali dizendo... olha eu aqui sou de verdade... suas cochas queria rasgar o short e nossa... ele só poderia estar excitado porque era enorme aquele volume... porque se não tivesse excitado tinha medo que tamanho aquilo assumiria quando estivesse...
Guilherme> Tá dormindo! (falou repentinamente com um meio sorriso e olhos fixos na estrada)
Tomei um susto tão grande, que virei o roso pra frente bruscamente ficando tão vermelho que sentia o calor do sangue irrigarem minha face...
Guilherme> Kkkkkkkk (caiu na risada! Eu queria me afundar naquele banco – cogitei tirar o sinto pra ser arremessado pela janela na próxima curva...) mas se você tocar em mim ele vai acordar... (e piscou divertido – pelo menos ele conseguia se divertir – eu queria cianureto!)
Chegamos no Porcão com o Guilherme ainda rindo muito de mim... e eu já estava com vontade de pegar um ônibus pra casa... desci do carro com pernas bambas, tão tonto que quase cai. Olhei ao redor e senti um desconforto grande... fiquei um pouco paralisado com lembranças ruins... o Guilherme percebeu e se aproximou de mim...
Guilherme> O que foi Biel? Algum problema? (serio)
Gabriel> Não, nada... (hesitei) é que não achei que tornaria aqui tão cedo...
Ele me segurou nos ombros e me virou pra ele, falou calmamente...
Guilherme> Só viemos hoje aqui, porque tenho uma surpresa... não pela qualidade do restaurante em si ok...
Gabriel> Surpresa? (me animei, eu amo surpresas, só fico tímido...) qual é...
Guilherme> Se eu te contar...
Gabriel> Não será surpresa! Já sei... vamos...
Entramos no restaurante e o Guilherme foi na frente e eu o seguindo até a mesa, até a MESMA MESA QUE HAVIAMOS IDO A PRIMEIRA VEZ... sentei. Não olhei ao redor, tive medo daquele maldito garçom voltar... e querer nos servir. Tava tão nervoso que disse ao Guilherme que iria ao banheiro. Fui, lavei o rosto e fiquei um tempo olhando, pedindo a Deus que aquele almoço corresse bem... respirei fundo e voltei a mesa. O Guilherme estava lendo o cardápio e disse que ele não queria comer rodízio. Achei melhor... tava querendo que terminasse logo, pois não queria cruzar com o maldito garçom. Ele escolheu a comida, e nem perguntou o que eu queria... mas era de se esperar... ele sempre escolhia... mas como seu meio camarão... como de tudo! Se o camarão é o lixeiro do mar, sou o lixeiro da terra...rsrsrsr
Eu estava o tempo todo apreensivo e olhando pra o lado... toda vez que um garçom andava próximo eu olhava de rabo de olho tentando reconhecer o criminoso... mas não o via ou pelo menos não saiba quem era... percebia um tempo depois que eu estava apenas olhando como um animal assustado pros lados e tinha deixado o Guilherme sem atenção na mesa quando segui um garçom com os olhos e este passando por trás do Guilherme o vi olhando fixamente pra mim, com os braços sob a mesa e as suas mãos apoiando a cabeça, pensativamente...
Guilherme> Está procurando ele, não é?
Gabriel> Não! Eu não... (suspirei) sim tava (falei timidamente, baixando a vista)
Guilherme> Psiuu (repetiu quando eu não levantei a cabeça) psiuuu! (olhei) ele não trabalha mais aqui... essa era minha surpresa pra você!
Olhei aturdido pro Guilherme... como ele sabia que o garçom não trabalhava mais ali? Ou será que ele...
Gabriel> O que você fez Guilherme?
Ele nada disse, apenas pegou a garrafa de água que o garçom tinha servido, e displicentemente colocou no copo, sorvendo alguns goles, e só então falou:
Guilherme> Eu o fiz ser demitido!
Gabriel> Mas Guilherme! Porque fez isso, como fez isso? (falei assustado) coitado...
Guilherme> Coitado? (repetia incrédulo) coitado? O cara te assedia... fica passando o pau imundo em você te constrangendo, sem ética profissional, sem respeito com o cliente, uma pessoa suja, e você simplesmente diz coitado! A Biel, você é muito bom pra isso tudo! Ele deveria ser era preso... perder o emprego foi pouco... (respirou fundo) só precisei contar para o gerente, que foi amigo de meus pais, e dizer pra ele o que aquele garçom fez...
Ele tinha razão... o cara mereceu. Mas eu não conseguia deixar de sentir pena dele. Nossa, então o Guilherme tinha ido falar com o gerente só pra me defender... e ainda me trouxe ali novamente apenas pra que eu soubesse isso! Nossa! Senti uma fome repentina... estava pronto pra devorar a comida!
Enquanto comia, o Guilherme escolheu costelas de porco (amo), linguiça toscana (amo) e salada de peperoni com molho picante (amo muito tudo isso! rs). Enquanto ele comia e eu devorava, ele me perguntava curioso:
Guilherme> Biel me conta (achava ótimo ele me chamar de Biel... ninguém me chamava assim... eu adoro) você gosta mais de fazer massagens ou de tocar piano... ou cantar?
Pegando um pedaço de linguiça e passando na farofa carioca com bacon, falei de boca cheia...
Gabriel> É a mesma sensação...
Guilherme> Como assim (rindo de minha forma de comer)
Gabriel> Bom, quando ponho as mãos nos músculos de uma pessoa eu estou ali conseguindo ampliar a energia que existe dentro de cada um, e eu sinto o movimento desta energia quando os músculos ficam maleáveis, ao invés de rígidos... com o piano é a mesma coisa... a forma como dedilho as teclas fazem com que eu sinta a energia de cada nota musical se expandindo conforme toco... é como uma massagem também... é como se eu estivesse massageando o piano e ele respondendo a essa massagem... quando estou massageando é como se dedilhasse um piano... e sinto o corpo expandir também... conforme toco. Guilherme sorriu e me olhou enigmático.
Gabriel> Mas quando eu canto é diferente... sinto sair de mim uma força, uma energia, um estado sublime de eterna paz, quietude, como se minha alma se desprendesse de meu corpo naquele momento e saísse livre de sua prisão, para sentir as sensações que a luz, o calor, o ar tudo que faz o mundo possa lhe proporcionar... eu adoro massagear e tocar piano... mas eu AMO CANTAR...
O Guilherme havia parado de comer e me olhava calado... eu continuava a batalha... comia, comia e comia.
Guilherme> E porque não canta muito, Biel?
Gabriel> Eu sou tímido! Fico com vergonha, sei lá... cantar pra mim não é ser artista... isso é outra coisa... outra profissão... eu só canto o que eu acho lindo, incrível... ser artista é cantar o que vai lhe dar dinheiro, e nem sempre o repertório que você gosta lhe dá dinheiro, então... você acaba cantando o que não gosto, ou o que não se identifica... (enquanto o Guilherme me fitava calado, eu conclui simples) na verdade, nasci pra cantar, não pra ser cantor... entende?
Guilherme> Não sente que está desperdiçando algo?
Gabriel> Além dessa costela? Você ainda quer? (olhei esperançoso que não – ele riu e balançou negativamente a cabeça) não há desperdício, pois não sou compositor... sou interprete... como Elis Regina, ela era ótima... mas ela além de interprete era performática... e ai sim, ali seria desperdício... mas deixa isso pra lá...
Guilherme> O que sua mãe acha...
Gabriel> Que tenho que passar no vestibular... (ele riu) aff, só quero ver ano que vem! (e vendo que ele iria me indagar mais eu perguntei) e você Guilherme, gosta de lutar?
Guilherme> Não luto mais, e não quero falar sobre isso (repentinamente ele ficou sério, com a famosa cara de bravo que naturalmente tem) Gabriel, temos que ir... já são 1:20... temos trabalho hoje a tarde... vamos!
Balancei a cabeça positivamente. E comi logo a costela, antes que o garçom viesse com a conta... mas nesse tempo, percebi uma brecha na vida do Guilherme... o bruno já havia iniciado... ele não luta mais... e por quê?
Chegamos vivos a academia... francamente, não era saudável comer daquela forma e sair em disparada numa montanha russa, que era o carro o Guilherme. Quando ele finalmente parou no estacionamento eu estava decidindo se vomitava antes ou depois da reza de agradecimento... não tive tempo nem pra rezar, quanto menos vomitar...
Guilherme> Vamos Gabriel... estamos atrasados... desce deste maldito carro!
Gabriel> Tou descendo (entre os dentes – e baixinho só pra mim) bem vindo de volta entidade do mal...
Guilherme> O que você falou? (disse carrancudo)
Gabriel> Que seria mal se não tivesse vindo de volta rápido... atrasados (e entrei antes que ele me visse rir da cara dele)
A tarde foi ótima... mesmo com o Guilherme no meu pé... reclamava quando fazia massagem por mais de 20 minutos... e mandava eu organizar a academia toda... parecia um faxineiro... A Flávia tentava me defender dizendo que não era minha função... mas era em vão.. Darth Vader estava novamente do lado negro da força... o Bruno não foi porque estava se preparando para uma luta logo a noite... experimental, claro... o Samir era uma figura... eu estava adorando trabalhar com ele... pois era cômico sem precisar ser... naturalmente. A Jú havia se matriculado na aula da Flávia e estava amando... tentava falar comigo, mas o Guilherme me dava todo o tempo todo... quando era umas 4:30 da tarde, o Alysson chegou... era um negro de estatura mediana, cabeça raspada, olhos maus e corpo troncudo... forte, mas um pouco “bombado”. Cumprimentou o Guilherme com um abraço de depois o Samir e a Flávia. Fui apresentado.
Guilherme> Alysson, este é o Gabriel... Gabriel, Alysson, nosso professor de boxe...
Alysson> E ai cara, beleza! Você que vai tratar os machucados é? (sem sorrir – parecia um vampiro sanguinário)
Gabriel> Farei o possível.
O Alysson me olhava desconfiado, meio de banda, querendo entender quem eu realmente era. Não gostei muito dele. Fiquei achando que ele estava me analisando e que não estava sendo aprovado... e acho que ele não gostou muito de mim, pois se virou e saiu com o Guilherme até o seu escritório... voltou vinte minutos depois, aplicou sua aula e dispensou a massagem... saiu carrancudo como entrou... pronto. O time estava completo... mais um bruto pra meu dia-a-dia... quando terminou o expediente, fechamos a academia (a Jú tinha ido cedo) e eu fui saindo me despedindo de todos... o Guilherme falou de longe...
Guilherme> Gabriel, espera... Olhei pra ele e gritei...
Gabriel> Tenho que correr, pois senão perco o ônibus... xau... até quinta... (e corri fechando a porta.)
Andei passos apressados, pois já era tarde e provavelmente eu iria perder o ônibus... eu corri quando vi que o ônibus já estava no ponto... correi desgovernado... parecia que estava sendo um hábito chegar em atraso! Quando chego perto do ônibus, esta já estava saindo... ainda corri mais, mas não alcancei... saco! Voltei pro ponto e sentei. Olhei pros lados, vi o ponto vazio... a noite, escuro e pensei – só falta chover! Tá mas não choveu. Sentei no banco e esperei. Quando estou absorto escutando musica com fone de ouvido, sinto um carro quase subir na calçada... o susto foi tão grande que cai pra trás do banco... ainda caído, tentei me levantar, pois estava de pernas pra cima, quando ouvi uma porta bater violentamente e vi aqueles fatídicos olhos negros me fitando numa cara de ódio sem precedentes. Ele me levantou com uma mão só... abriu a porta do carona e me jogou (mais uma vez como um trapo) lá dentro... deu a volta, sentou ao volante e gritado disse...
Guilherme> QUANDO EU DISSER QUE É PARA ME ESPERAR É PARA ME ESPERAR PORRA! EU NÃO DISSE QUE VOCÊ TEM QUE ME OBEDECER? (e arrancou cantando pneus)...
O carro cantava pneus... não entendia aquela reação do Guilherme... eu não fiz nada... desta vez EU NÃO FIZ NADA! Não chamei ele de gostoso ao microfone na frente de todo mundo... não o excitei com massagens eróticas (o que nunca havia feito, por sinal, a massagem foi normal rs)... não derrubei bebida em sua camisa... não o sequei em banheiro nenhum... CARA EU NÃO FIZ NADA! Eu apenas fui embora pra casa... e porque ele estava ali transtornado, dirigindo como se tivesse fugindo da polícia e gritando comigo?
Guilherme> Eu disse que você me esperasse, não disse? (ele vociferava enquanto eu tentava, em vão por o cinto de segurança)... porque simplesmente não me obedece... o que dá em você pra me enfrentar dessa forma? Seu... seu... (gritava que as vezes me cuspia sem conseguir sustentar) aarrrrg seu sem juízo!
O carro não respeitava nem os sinais de trânsito... corria desgovernado...
Gabriel> Guilherme eu não ouvi...
Guilherme> Cala essa maldita boca... quando eu falar você deve me ouvir... se eu ao menos acenar, você deve no momento parar e verificar o que eu quero! Está entendido (e no meu silêncio) ESTÁ ENTENDIDO? (gritando).
Balancei afirmativamente...
Guilherme> Responde Gabriel... eu QUERO OUVIR!
Reuni coragem aonde eu não sei e falei...
Gabriel> Agora tou confuso, é para eu ficar CALADO ou POSSO FALAR? Qual regra devo obedece...
Ele freou o carro que quase fui estrangulado pelo cinto de segurança... no asfalto provavelmente ficou as marcas dos pneus, pois sentia o cheiro da borracha queimada... ele me fuzilou com os olhos... suas mãos tremiam violentamente segurando com força o volante... eu pude ver a veia grossa de seu pescoço pulsando descontroladamente... temi ter ido longe demais... o que deu em mim, eu havia dito que iria ficar na minha... calado... só esperando os passos deles... mas tive que abrir a maldita boca pra falar o que não devia...
Guilherme> Desce do carro...
Gabriel> Como? (eu não podia acreditar no que tava acontecendo... primeiro me sequestra, agora me deixa no meio do nada!)
Guilherme> Desce do maldito carro... senão eu lhe quebro a cara!
Olhei atônito pra aquele louco... pra mim chega... chega, CHEGA! Não quero mais saber desse louco... imbecil idiota... tirei o sinto com as mãos tremendo dificultando, abri a porta e bati com extreme violência... sai andando pelo que parecia a Agamenon Magalhães... nada perigoso a noite! Ele saiu em disparada... não queria nem saber daquele monstro. Olhei ao redor tentando identificar onde eu estava... senti os olhos banhados de lágrimas já. Maldição! Como podia ser tão emotivo... tão ridiculamente fraco... que qualquer arroubo daquele grosso eu simplesmente caía em lágrimas... senti o queixo tremer... só faltava agora eu ter uma crise! Lembrei do que ele disse “senão eu lhe quebro a cara”... tive um soluço só de lembrar aquilo... como machucou... como doeu... Não sabia direito onde estava, olhava ao redor mas a turvidez que as lágrimas proporcionavam não ajudava... cheguei na esquina e tentei identificar aquele prédio ali... quando percebi que umas luzes vermelhas viam em minha direção... era o jipe do Guilherme que estava do outro lado da rua, voltando lentamente em marcha ré... eu passei a rua e fui pela calçada sem olhar do lado... quando cruzei o jipe escuto o Guilherme...
Guilherme> Entra, Gabriel...
Olhei feio de lado, com os malditos olhos a sair lágrima uma atrás da outra... ele me acompanhava bem devagar... com o vidro do carona baixo e falava de voz branda... acolhedora, diferente da loucura anterior...
Guilherme> Gabriel... (não queria nem ouvir, apressei o passo tentando me afastar dele, então ele acelerou o carro e passou na minha frente, parando poucos metros depois, onde desceu do carro e veio em minha direção). Eu dei meia volta e andei apressado. Senti suas mãos me pararem e virarem pra ele.
Guilherme> Vamos aqui é perigoso... (eu tentei resistir, mas suas mãos eram muito fortes, não largavam meus braços) e foi por causa do perigo que tudo isso começou... vamos (ele falava mais brando)
Eu estava de cabeça baixa chorando... que raiva de mim que não para de chorar... senti ele me puxando e andei como um autômato. Subi no jipe, sentando e colocando o sinto em seguida. Ele entrou, sentou-se ao meu lado e ficou olhando para mim calado por um bom tempo, ate que falou:
Guilherme> Só tem mais uma coisa que vou te pedir... não brinca comigo quando eu estiver irritado... eu não sei do que sou capaz... e tenho medo, muito medo de te machucar...
Mas eu sabia do que ele era capaz... fiquei de cabeça baixa e mudo. Ele tocou no meu rosto limpando as lágrimas que caiam em silencio. Seus dedos deslizavam do meu maxilar até o cantinho dos olhos, limpado cada lágrima. Passou um bom tempo assim... só tentando conter os fios de lágrima que caiam do meu rosto... como se tivesse tentando estancar uma ferida que sangrava... em dado momento ele pôs o dedo na boca e provou minha lágrima...
Guilherme> Até sua lágrima é doce... você é todo doce... (e suspirou) olha quando te pedi para me esperar lá na academia, era porque sabia que estava tarde e você iria voltar pra casa de ônibus... então, como moramos perto...
Moramos perto? Onde ele morava... desviei o meu pensamento da raiva que estava e fiquei um pouco curioso com aquela informação... até havia parado de chorar... mas pensando no que ele havia dito, de que eu deveria ter atendido o pedido dele de esperar obedientemente, retruquei...
Gabriel> Qual é essa a regra... a 1ª de te esperar eternamente, a 2ª de aguentar suas grosserias... ou a mais novinha em folha, a 3ª a de lhe dever obediência cega?
Guilherme olhou-me por um momento... e eu esperei mais uma cena de loucura sem medidas... agora sabia que ele iria me jogar pra fora do carro e passar com ele por cima, mas me assustei com a gargalhada que ele deu, aff, aquele rapaz de 23 anos era um enigma...
Guilherme> Olha, só você Biel... (rindo) eu disse que iria ser difícil, não disse?! E você concordou em suportar-me... (olhei com cara de magoado e ele abriu mais ainda o sorriso) mas você tem razão... (e dando partida no carro, falou) você só precisa cumprir as duas primeiras, que foi nosso acordo... a terceira se quiser eu agradeceria... (rindo)
Gabriel> Mas eu poderia ir de ônibus... sou acostumado...
Guilherme> Não, é perigoso... sempre que eu puder eu te dou essa carona ok. Quando não voltar pra casa com Júlia... você sempre volta com ela, não é? (balancei a cabeça positivamente), então... quando eu estiver por perto você será minha responsabilidade...
Gabriel> Mas...
Guilherme> Nada de mas! Já decidi assim... (e passando a mão no meu cabelo assanhando-o falou) deixa de ser cabeça dura... (Eu! Cabeça dura... seiiiii). E fomos pra casa.
Quando chegamos, ele parou o carro e eu fiz menção de descer... mas hesitei, não teria outra oportunidade de bom humor, então tinha que jogar todas as fichas rapidinho...
Gabriel> Quando quiser algo de mim... é só pedir Guilherme... (e ele me olha cômico, com um meio sorriso) quer descer?
Guilherme> Não, tenho um compromisso... (seu semblante mudou de repente – estranhei um pouco, mas dei de ombros, desci do carro e ele chamou-me) Gabriel, (olhei) e qual a graça em pedir... melhor pegar o que é meu!
E dizendo isso arrancou o carro toda velocidade... olhei pro céu e pensei se Deus era lutador...
Em casa minha mãe ainda não tinha chegado. Subi, liguei o note, pus música me despi e fui tomar banho um banho, demorado... pra esquecer um pouco aquele volume de confusões que estão marcando minha vida... sai do banho e fui escutar Adele, o seu cd 19... maravilhoso... que voz límpida. Sentei, só de toalha em volta do corpo, peguei um papel de cifras e tentei “tirar” uma música... isso fazia-me esquecer muita coisa... pois ficava absorto na melodia e atento para tirar as notas... mainha chegou e me encontrou tentando escrever as cifras...
Mãe> Hummm, olha quem está se dedicando a música novamente, faz tanto tempo... (e beijou minha cabeça) com foi seu dia...
Gabriel> Bom, falei...
Mainha se sentou na cama e ficou olhando os porta-retratos que tem no meu quarto. Minhas fotos, principalmente quando era criança...
Mãe> Como passa rápido... você era um cotoquinho de gente, e de repente... esse homem enorme, rs... daqui a três meses 17 anos... depois já fica de maior...
Gabriel> Pois é... lei natural da vida!
Mãe> Já deve ta namorando... rs
Gabriel> Não começa mãe... nem vem que num tem (já imaginando o rumo daquela conversa...)
Mãe> Filho sou sua mãe, temos que conversar sobre tudo... olhe não sei como anda sua vida sexual, mas...
Gabriel> Dona Júlia, pelo amor de Deus... sem educação classe média sexual, por favor!
Mãe> Ah filho, já ta quase na hora de você viver esta experiência... se bem que queria do meu lado pra sempre... mas vai acontecer mais cedo ou mais tarde... quero que use preservativo...
Gabriel> MÃE!
Eu me afundava na cadeira... o que raios deu nela!
Mãe> Algumas meninas precisam esta preparadas... quando elas dizem não é para você apenas lhe dar atenção... então pense no orgasmo delas primeiro do seu...
Gabriel> MÂEEEEEEEEEEEE! (eu estava rubro... morto, enterrado e sem planos pra reencarnar!)
Me levantei, puxei ela e fui empurrando a porta, com seus protestos dizendo que teríamos que ter aquela conversa porque ela não queria ser avó cedo... que eu deveria criar juízo e que embora o sexo seja prazeroso eu deveria me proteger... ai Deus, que coisa! Fechei a porta com ela inda gritando
Mãe> Filho não terminamos este diálogo... precisamos continuar... (liguei o som mais alto...)
Não queria perpetuar a espécie... entenda querida mãe... eu não quero ter esse tipo de conversa – pensei... poxa, pelo visto iria ter muito problema quando ela descobrisse que seu filho gosta de salada com palmito!
No outro dia eu tinha teste surpresa (que não foi surpresa porque descobri olhando a programação – sem querer gente – de mainha). Liguei pra Jú, mandei ela se preparar e fui estudar... acabei dormindo em cima dos livros, acordei umas 2 da manhã com dor nas costas... e o sinal de mensagem no celular piscando... abri #Falei com o Paulo... amanhã te conto, tudo resolvido... Jú a garotinha que não cumpriu a promessa de te ajudar com Darth Vader#. Meu Deus, o que aquela maluca aprontou... tentei ligar pra ela mas seu celular estava desligado. Fui pra cama e adormeci... tive pesadelos com o Guilherme batendo no Paulo... dizendo pra ele se afastar e nunca mais me procurar... depois abria uma porta imensa de ferro e eu via um quarto apertado, um cubículo, me jogava lá e trancava a pesada porta... acordei com falta de ar...
O teste surpresa foi legal, tinha estudado tudo... como foi na primeira aula, nem tive tempo de perguntar a ela o que aquela louca havia aprontado com o Paulo... depois do teste, sai e fiquei esperando na cantina ela chegar...
Jú> Bom teste, não foi Gabi?
Gabriel> Jú me conta o que você fez com o Paulo... o que você resolveu?
Jú> Meu querido, na realidade eu simplesmente não fiz nada do que contar suas noias...
Gabriel> Juliana... você contou o que aconteceu quando eu tinha sete anos....
Jú> Você está louco? Fumou o cabelo do preto veio foi? Sei não... acho que você pensa que sou burra... louca... idiota...
Gabriel> Tá, tá... para! (exasperado) me conta o que você fez...
Jú> Pede por favor... (com cara de inocente)
Gabriel> JÚ (gritei)...
Jú> Aff, sem graça você! Eu apenas disse que você não havia rejeitado ele... só tava com medo de decepcioná-lo com sua performance na cama, bem... pois você era virgem de marré marré marré!
Olhei incrédulo. Ele não fez aquilo! Fez?
Gabriel> Juliana, você não fez isso fez... Juliana...
Jú> Queridinho, a aula vai começar... (e levantando-se começou a andar em direção a sala de aula) vamos... não podemos chegar atrasados, pois somos bons alunos...
Não sei qual foi minha contribuição para com a crucificação de Cristo, mas provavelmente eu tive uma parcela de culpa bastante alta... Depois da aula, a Jú meio que tentou se esconder de mim... mas não adiantou... a persegui até a sala da diretoria...
Gabriel> Jú você não podia ter feito isso... não podia... quem te autorizou... Juliana quem te autorizou... que coisa... e agora? Onde enfio minha cara...
A Jú andava a passos largos e parou dando um profundo suspiro, e falou...
Jú> Enfia no furico do carinha, que ele vai adorar! (e entrando na sala da mãe, falou antes de bater a porta) ahh, e não esquece de pôr a língua pra fora... (sorriu diabolicamente).
Será que não há normalidade em minha maldita vida? Sai dali contrariado. Teria que enfrentar o Paulo... o que diria a ele. Nossa e o Guilherme o que ele diria se soubesse que eu tinha o Paulo como pretendente... que confusão... o Guilherme havia me feito prometer esperar ele entender o seu sentimento, mas e se ele entendesse da forma que ele é homem, hetero e eu não estou em suas aspirações futuras... deixarei minha vida escapar... o Paulo escapar... até que ele se decida por não me ter... pois era o que obviamente iria acontece... estava tão absorto em pensamentos que não percebi a pessoa a minha frente e esbarrei...
Guilherme> Calma boi... tá fugindo de que boiada (rindo)
Naaaao! Ele não morre mais... ri.
Meu celular começa a tocar... Olhei o monitor... Paulo... Deus, ele também não morreria mais, mas em compensação... eu poderia já encomendar o meu caixão!
O Guilherme olhava atentamente para o visor do celular... ainda estava de bom humor... ria de meus desastres... mas estava olhando fixamente para o celular chamando em minha mão e eu sem reação... como poderia falar com o Paulo na frente do Guilherme, depois de tudo o que aconteceu... também não poderia recusar a ligação porque ele poderia interpretar de outra forma.. o que faço!
Guilherme>Não vai atender? (olhou desconfiado)
Gabriel> Ah, vou... vou sim (gaguejei)... alo...
Paulo> Oi Gabriel, é o Paulo, tudo bem? (como se eu não soubesse... o Guilherme cruzou os braços, prestava atenção em cada palavra que eu proferia)...
Gabriel> Oi Paulo tudo bem sim... e contigo mano (olhei desconfiado para o Guilherme)...
Paulo> Bem, primeiro preciso conversar contigo... eu preciso te ver... pra gente poder conversar...
Gabriel> Certo, certo (estava ficando vermelho... era o primeiro sinal de que eu estava nervoso – o Guilherme apertou os olhos) é pode ser quando você pode? (eu não poderia falar friamente, mas também não podia ser muito saidinho... meu Deus, que dilema!)
Paulo> Tá tudo bem... eu sei que ficou meio chato o que aconteceu... eu, bom quero conversar contigo... mas tou te achando diferente... sei lá, tá chateado comigo eu sei, mas...
Gabriel> Não é isso... é que, que eu... (olhei para o Guilherme e ele estava com o semblante sério)...
Guilherme> Fala Gabriel... pode falar com seu amigo... (Eu mudo)
Paulo> Porque... não sei o que deu comigo... também não quero conversar aqui... agora... só quero me encontrar contigo... mas você ta estranho. (Eu mudo)
Guilherme> Fala Gabriel (já com voz pesada) Gabriel... ta com medo de que? (Não conseguia falar direito)
Gabriel> Tou o mesmo...
Paulo> Não tá podendo falar agora? (Mudo!!!!!)
Guilherme> Gabriel (já era outro) ponha no viva a voz... AGORA!
Lentamente, peguei o celular... e apertei o botão esquerdo onde dizia viva-voz... o som metálico inicial deu vez a voz do Paulo que falava claramente... como se estivesse ali do lado...
Paulo> Gabriel, tudo bem se não ta podendo falar agora... a gente se fala depois ok... mas só quero apenas te dizer uma coisa... queria te dizer ao vivo isso ao vivo... eu pisei na bola... mas não vou mais pisar... nem desistirei de você... tchau... te ligo depois...
To..to...to...to... era apenas o som que eu ouvia naquele momento, não me atrevia a levantar o olhar... estava muito nervoso, com medo da reação do Guilherme...
Guilherme> Quem é esse cara? (sua voz era um trovão) quem é ele Gabriel (falava comedido, entre os dentes)...
Senti meu corpo todo retesado... levantei o olhar. O Guilherme estava muito nervoso, com o peito subindo e descendo rapidamente... os lábios estavam crispados como que tentasse controlar uma explosão. O que eu iria dizer naquele momento... o que falaria? Quais minhas opções? Optei pelo que sempre foi minha única opção na vida, e disse...
Gabriel> Um rapaz que conheci na sexta-feira à noite... depois que saí daqui, da inauguração da academia... nos encontramos no outro dia... depois terça-feira passada, quando você chegou no Ap e me encontrou daquela forma... falando da fossa... não vou negar Guilherme... ele me beijou... tentou ficar comigo... e naquela tarde ele, ele... bem nos desentendemos e ele foi embora pouco antes de você chegar... era o amigo que minha mãe falou que estava em casa comigo.
A cada momento que eu falava via o corpo do Guilherme se retesar... seus punhos estavam cerrados e seus olhos apertaram-se muito... parecia prestes a explodir..
Guilherme> Eu estava indo conversar com a diretora... mas tudo pode esperar... mas isso não... (E me pegou pelo braço com os dedos esmagando-o e arrastou-me com ele)
Levou-me para a academia... olhei pro lado com medo de alguém visse a cena... e se mainha visse? Percebi uma pessoa lá ao fundo, perto da sala de computação... era um rapaz, mas eu não sabia quem era... pois o Guilherme me arrastava. Abriu a porta e trancou na chave. Continuou me segurando, me conduzindo até o seu escritório, abriu a porta, me empurrou lá pra dentro e fechou com o pé... nem imaginava o que me esperava ali!
Guilherme> Agora me conte que história é essa... mas fala direito... eu não estou nada bem!
Ele deu a volta abriu a persiana e a janela e ficou de costas... seus músculos estavam retesados... parecia que estava num ringue, pronto pra lutar... eu observava suas costas duras... enquanto que as mãos estavam crispadas na janela... ele olhava lá pra fora... como que procurasse se acalmar... ou estava evitando olhar-me...
Guilherme> Diga Gabriel... estou esperando (e virou-se encostando na janela com braços cruzado – seus olhos estavam em mim como uma águia fita uma presa)
Fechei os olhos, respirei fundo e falei...
Gabriel> Guilherme, você precisa acreditar em mim... eu não minto. Nunca menti. (ele apenas olhava. Ele não mudou um milímetro... mudo, esperou...)
Gabriel> Eu vou contar a verdade... conheci o Paulo na praia, quando sai da festa de inauguração da academia... não vou mentir... (estava tão nervoso que a voz ficou embargada... meu nariz e ao redor da boca queimavam de vermelhidão) eu fiquei interessado nele naquele momento...
O Guilherme fechou os olhos momentaneamente... ouvi o rangido de seus dente! Mas não falou absolutamente nada... nada! Apenas, abriu os olhos e continuou a me fitar com as sobrancelhas apertadas... prossegui...
Gabriel> Eu tinha vindo da festa e estava chateado com... com (como dizer que estava chateado com o que ele havia feito comigo) com tudo o que aconteceu, você sabe! (ele nem piscou) então... ao vives de entrar em casa, fui pra praia... e lá conheci o Paulo. (respirei fundo) trocamos celular e MSN... mainha me ligou e eu fui pra casa... no outro dia combinamos de ir ao cinema...
O Guilherme andou um pouco mais e se encostou de frente na escrivaninha...
Gabriel> Fui ao cinema e lá o encontrei... entramos na sessão... e, e...
Travei, andei de um lado pro outro nervoso... ele só me acompanhava com os olhos sem nem se mover!
Gabriel> Tá, vou dizer de uma vez... (respirei fundo) ele me beijou... foi o meu primeiro beijo, na vida!
Só percebi que ele havia se movido quando vi um globo de vidro se espatifar na parede do lado oposto a ele...
Meu susto foi tão grande que quase cai. Ficou o maio silêncio e o Guilherme estava transtornado... ele agora começava a andar de um lado para o outro. As mãos no cabelos... gente ele estava tão nervoso que eu imaginei que ele iria me matar...
Guilherme> E o que aconteceu depois... (seu dedo estava em minha face) me conte agora...
Eu estava em choque... não conseguia mais pronunciar nenhuma palavra... ele andava de um lado para o outro, quando parou de súbito!
Guilherme> Vamos seu desgraçado... fala PORRA! (berrava)
Gabriel> Nada aconteceu... nada... nada (já sentia lágrimas chegando) eu me assustei com tudo... nunca havia beijado na vida...
Guilherme> Que mentira! (com desprezo)
Gabriel> EU NUNCA BEIJEI NINGUEM NA VIDA ATE AQUELE MOMENTO! (falava cada palavra de vez, sem fôlego) nunca! E por isso me assustei... me levantei e sai correndo. (escondi o rosto com as mãos – falei) daí disse ele perguntou o que aconteceu e eu contei que era a primeira vez... ele, ele entendeu e fomos pra praça, encontramos a Jú e lanchamos... depois fui embora e combinamos de nos encontrar na terça a tarde, lá em casa pra assistir filmes... e ai (daí lembrei... me calei abruptamente).
O Guilherme venceu nossa distância com três passos apenas... pegou meus pulsos retirando de meu rosto as minhas mãos... e a poucos centímetros vociferou...
Guilherme> E aí o que? Me conta Gabriel... diga o que aconteceu naquela maldita tarde antes de te encontrar... ME FALA!
Eu apenas balançava a cabeça negativamente... não contaria por nada no mundo... não iria dizer pra o Guilherme que começamos a nos beijar... que o Paulo começou a me excitar... tocou-me a pele... beijou-me o corpo ardentemente... tocou-me intimamente... minhas pernas... meu peito... minha bunda... e eu sentindo seu pau encostado ao meu... sua excitação... ele se despir... tentar me despir... como diria aquilo... como? Eu balançava negativamente a cabeça... não... não... não poderia dizer...
Guilherme> Me conte Gabriel... me conte agora... (e vendo eu balançar a cabeça e nada falar ele me empurrou pra parede batendo fortemente minhas costas... senti uma dor aguda) você deu pra ele não foi seu verme depravado... você deu pra ele... NÃO FOI? (berrava enquanto me batia novamente contra a parede e a dor aumentava do lado esquerdo de minhas costas) deu esse cu nojento... fudeu com ele a tarde toda (via ódio no seu olhar) seu seu (ele estava descontrolado e eu chorei apavorado, só balançando negativamente a cabeça) diga, covarde... diga que deu pra ele antes de eu chegar... e pensar que abracei esse corpo imundo... nojento... que a pouco tempo tinha sido lascivamente invadido por outro vidado imundo... (chorava) gozado na sua boca que eu pensei ser limpa... (ele incrivelmente estava com os lábios trêmulos) ele deve ter fudido você e te largou como um trapo sujo e velho... que você é... um trapo imundo que qualquer um enfia o cacete... um nojento que nem pra comer serve... não foi Gabriel? Diga... DIGAAAA (gritou me jogando pela terceira vez na parede e eu senti a dor ali novamente, no mesmo lugar, o que me fez gritar de dor e revolta)...
Gabriel> NÃOOOOOOOOOO (gritei) nãooo... ele não me tocou... tentou mas não me tocou... eu não transei (senti minha cabeça zonza – e mais uma vez o cheiro de sangue... meu nariz! Tenho que controlar... mas o choro vinha) eu não quis... eu não quis... eu não poderia... não poderia...
Guilherme> Mentira (gritou) é mentira... (interrompi).
Gabriel> Eu não transei com ele, pois não poderia... (gritei, pra em segui falar com voz rouca e baixa) não poderia me entregar a ele...
Guilherme> E porque seu mentiroso? (afrouxou um pouco os meus pulsos)
Respirei fundo, engolindo o soluço e com os olhos lacrimejantes sussurrei...
Gabriel> Porque queria que fosse com alguém especial a minha primeira vez... com um homem que me tivesse para sempre... (seus olhos se arregalaram e suas mãos me soltaram instantaneamente, recuou dois passos) eu sou virgem (com voz embargada) e embora seja careta... (aos trôpegos de voz...) eu só quero perdê-la com aquele que me terá pra... pra... sempre!
O Guilherme me olhou incrédulo. Eu estava esgotado. Exposto... torturado... invadido. Me sentia tão mal que eu me encostei na parede, sentido as costas terrivelmente doloridas... e fui descendo, escorregando até o chão... onde me sentei exausto. Derrotado. Muito, mas muito ferido. Era um pássaro que havia levado um tiro e que, alquebrado caía ao chão... esperando apenas que o seu agressor fosse lá recolher a presa e levá-la como um troféu. Chorei baixinho, cada palavra dura que não saia de minha mente... acabou. Simplesmente acabou... fechei os olhos e esperei o golpe de morte.
Quando percebi uma mão tocar minha face, tirando meus cabelos que ali estavam caídos, pondo-os atrás das orelhas. Senti o Guilherme sentar-se ao meu lado e me puxar para o seu peito com muito carinho. Com uma delicadeza impossível para um homem enorme, cheio de músculos rígidos... me puxou, e eu sem hesitação me deixei levar. Me colocou em seu colo e eu repousei minha cabeça em seu peito... ele me abraçou tão forte que parecia que seu corpo queria se fundir ao meu... como que arrependido de ter atropelado um cão, o coloca no braço e faz carinho pra que a dor passasse... mas não passava... estava muito ferido... muito magoado... e me doía a alma ser tão humilhado... contudo, ele me abraçava como se abraçava a coisa mais preciosa do mundo... eu estava envolvido pelos seus braços, no chão de seu escritório sentindo ele me abraçar tão forte que tudo ao redor caía no esquecimento.
Então, após algum tempo assim... ele levantou minha cabeça e olhando fundo nos meus olhos, com semblante de visível desespero e culpa, aproximou-se e disse...
Guilherme> Eu não sou digno de você... mas quero que esse beijo seja digno de nós dois... E me beijou...
Seus lábios pousaram-se aos meus como se fosse um rio, um turbilhão. Ele beijou-me de forma forte... seus lábio procuraram os meus de forma doce mas forte decidida... ele beijava-me profundamente... sua língua invadindo-me e buscando totalmente a minha.. numa urgência... louca... desmedida... suas mãos seguravam minha nuca, me conduzindo... sentia-me empurrado pra trás enquanto ele avançava pra mim... como que fosse capturar o que era seu... sentia sua língua explorar minha boca enquanto seus lábios cobriam os meus... eu mal conseguia corresponder... mas ele avançava... mais e mais... pois era uma urgência uma fome como ele me beijava... e do nada ficava doce... lento... saboroso, como se estivesse degustando uma comida deliciosa... com muita ternura e lentidão... conhecendo cada parte de minha boca... lambendo minha língua... procurando por ela de forma carinhosa... acariciando-a... dando mordidinhas nos meus lábios, me forçando a tentar beijá-lo mais profundamente... e ele a morder levemente minha boca, recuando quando tentava avançar e voltar a ter a boca explorada por ele... e ele a sorris levemente me provocando... pra depois cair novamente em mim e me beijar com volúpia, paixão... gemendo dentro de minha boca, fazendo com que eu entrasse num processo de transe... dormência... quase uma droga me atordoando... próximo de que seria um orgasmo... me beijando profundamente, com os braços em volta de mim e a sua boca ferozmente sugando toda a minha alma... tudo... fazendo sentir a maior sensação de minha vida... e ele a delirar e me beijar com urgência e desespero... como estivesse um imã que nos grudava... fazendo-nos quase ir à beira da dor física... da loucura que era não querer parar nunca de sentir os lábios macios e famintos do Guilherme em minha boca e a profundidade com sua voz rouca fazia quando gemia cada vez mais... era um êxtase supremo... era magnífica, a avidez com que acontecia o maior beijo de minha vida.
Foi a maior emoção que havia sentido na vida... parecia que era o que sempre havia esperado... e senti o Guilherme diferente... relaxado... e muito, mais muito faminto... não queria parar de beijar... queria perdurara aquele momento... mas parou... e com beijinhos lentos... olhou para mim e sorriu... seus olhos estavam livres de qualquer sombra de raiva que havia a pouco ali...
Guilherme> Você está com o olho azul claro... (riu) nunca o vi nesta cor... (olhava-me admirado) ele muda?
Gabriel> Só quando fico feliz ele fica assim...
Daí o Guilherme sorriu e me abraçou me beijando ternamente... até que o beijo começou novamente a se intensificar... ele parou...
Guilherme> Nunca senti isso na vida! (tocava meu rosto com as mãos) Biel... seus lábios são incríveis... dá vontade de mais e mais... quanto mais beijo mais vontade dá... (e olhando pra os meus lábios) olha como estão tentadores... vermelhinhos... entreabertos (respirou fundo e me abraçou) nossa... nem nos meus maiores sonhos pensei que poderia beijar alguém e sentir essa sensação... (e de repente – mudou o tom e falou) não sei por onde começar... mas... é difícil pra mim... nunca senti isso ante... por ninguém... nem por mulher... imagina homem... isso nem passava pela minha cabeça! (me abraçou mais forte) eu não sei o que ta acontecendo e pedi que me esperasse... quero que me espere (e suplicante falou) me espera? Por favor, tou pedindo... me espera?
Gabriel> Sim... já disse... mas, não tá bravo comigo... pelo que disse que sou (senti ele se retesar e praguejar baixinho... depois me beijou na cabeça demoradamente)
Guilherme> Não tenho o direito de pedir perdão pelo que disse... só posso dizer que eu queria te magoar... e por isso não tem perdão! Queria que sofresse... sofresse a mesma dor que eu estava sofrendo naquele momento... (e pigarreando) não sou bom nisso... não entendo esse sentimento, e por isso preciso que me espere entender... mas eu quase enlouqueci só de pensar que alguém te tocou... foi uma dor tão forte que quase... quase... (e me abraçou forte) não tenho direito ao seu perdão... só me compreende um pouco, por favor... eu realmente quis te magoar... e não mereço perdão... mas quero que me ajude a ser melhor contigo... quero que me compreenda...
Guilherme> Agora eu te vejo como você realmente é... e tudo o que eu havia dito a ti não é nem de longe um pingo de verdade. Eu que não tenho o direito... nem a honradez de falar de você Biel. Nossa, você é a coisa mais linda que já vi na vida... me deixou confuso desde a primeira vez que te vi... quando disse aquilo ao microfone... quer saber o que senti?
Gabriel> Sim... (falei num sussurro)
Guilherme> Biel, quando te vi pela primeira vez, foi difícil... você não tem noção de como você é... é como um anjo. Você não tem noção Biel... não tem! (ele me olhava admirado) vi você assustado com o microfone na mão e percebi que foi sem querer... e naquele momento, em segundos, eu queria te proteger... fiquei tão puto com aquilo que se passou pela minha cabeça que logo em seguida só queria te quebrar em dois... pra afastar aquilo de mim... (Ele começou a fazer carinho nos meus cabelos...)
Guilherme> Depois você esbarrou em mim me molhando de refrigerante... quando te levantei estava decidido a dar um murro em você... mas ai quando vi seus olhos... nossa um azul tão intenso... com a carinha de medo que fez... mais uma vez quis te proteger... graças a Deus a sua amiga...
Gabriel> A Jú...
Guilherme> Sim, a Jú... graças a Deus que ela apareceu... foi a deixa pra te largar e sair dali, senão eu iria te abraçar... quase fiz isso... (riu) foi quando você entrou na festa e soube que era filho de minha amiga Julia... nossa isso sim foi o fim... eu teria que conviver contigo... e você ainda trabalharia comigo... enlouqueci... (eu lembrava bemmm!) fiz o que fiz no vestiário... e que cada palavra daquela era pra mim mesmo... eu tentava me convencer que você era ruim... deplorável... tentei manchar essa imagem pura que você sempre foi pra mim... quando sai dali me arrependi do que te disse... e quis voltar pra falar contigo, mas não te encontrei... Apenas ouvia calado...
Guilherme> Mas naquela noite não dormi... pensava em você sempre... o tempo todo... e não entendo isso! Porra sou homem... não sou gay não... sou homem, você me entende... nunca pensei em beijar outro homem... e ainda não penso... mas beijar você não é como beijar um homem... é como... como... é como te beijar somente... rs não sei... rs
Ele estava nervoso com aquilo tudo... continuei calado... queria ouvir tudo...
Guilherme> Aí eu tinha que ir te encontrar e pedir que me massageasse, pois era a única forma de tirar você de perto de mim... você deveria ter sido horrível... péssimo... ai ia te demitir... mas poxa... nossa. Como você foi incrível... profissional... nossa... maravilhoso... (e sorrindo) Biel eu fiquei enlouquecido com o seu toque... mordi minha bochecha por dentro pra não ter uma ereção quando deitado de costas... pensava em coisas horríveis... em pessoas mutiladas... sangue... carne crua... tudo que me levasse pra longe dali... quando você pediu para eu me virar... agradecia Deus. Pois daquela forma poderia relaxar e me excitar sem você perceber... e como eu me excitei... fui torturado... louco de desejo... desespero... nossa, ninguém fez aquilo comigo antes... nossa.. Biel eu quase gozei. Estava tão excitado que senti as contrações do orgasmo... quando gritei e pedi pra você sair... Ele me beijou mais ainda na cabeça... eu estava morto de vergonha!
Guilherme> Quando o vi nu... procurando a toalha... nossa. Você não tem noção do corpo que tem... nunca desejei tanto quanto naquele momento... queria te possuir ali... uma, duas, três quantas vezes quisesse até cair esgotado... e que não pudesse sentir mais nada por você... e parti pra isso... mas você tão assustado me trouxe a realidade... você é de menor... (ele riu) eu quase estuprei um menino de 16 anos... meu menininho... me senti um merda! (eu afundei o rosto no peito dele – ele riu e pôs as mãos em mim) olha, eu não sei o que vai acontecer, mas acho que um dia eu irei fazer o que quis naquele momento, certo? E não vou me importar se tem 16 anos... só preciso de tempo, certo?
Balancei a cabeça positivamente...
Guilherme> Sabia que quando você foi tomar banho eu fiquei olhando... você não me viu mas eu te vi... eu me masturbei e gozei tão rápido que me assustei, pois demoro (afundei o rosto novamente – ele riu alto) verdade, mas o pau não baixou... sente ele aqui agora! (eu disse naaaaooo, no peito dele – ele riu mais ainda) seu bobo... vai perder a vergonha viu...
Guilherme> Daí fomos almoçar... e aconteceu o que aconteceu... (senti o corpo dele se retesar e o abraço dele ficar mais forte) aquele cara... nossa... fico revoltado... ele estava te bolinando... (respirou fundo) Gabriel eu não sei se saberei lidar com essa situação... eu não sei... (ele parecia desesperado) quando eu vi aquele cara... só pensei em matar ele e mais uma vez pus a culpa a quem não pertencia... você... foi quando teve aquela crise.. (ele levantou meu rosto com as duas mãos) sabia que chorei quando você desmaiou? Passei uns 5 segundos desesperado... mas ai me acalmei... e percebi que era uma crise nervosa... então... (respirou fundo) procurei te acalmar... te dar espaço... fazer você respirar...
Gabriel> Desculpa se te preocupei...
Ele me olhou admirado e....