(Felicidade à vista)
As duas adormeceram exaustas, por duas horas inteiras, Anna-Lú foi a primeira a acordar, a sala estava à meia luz, abriu os olhos vagarosamente, olhou em volta e viu Carol que a abraçava carinhosamente, acariciou seu rosto e não pode evitar o sorriso que surgiu em seus lábios, uma espécie de felicidade repentina a invadiu e Anna-Lú desejou estar assim com Carol todos os dias, olhou o relógio de pulso que marcava 22h40min, assustou-se com as horas avançadas.
Acorde – chamou-a Anna-Lú. Ela não se moveu.
Carolina, acorde – chamou mais uma vez. Os olhos dela abriram-se.
Oi... – disse sorrindo. Olhando para o sorriso de Carol Anna-Lú não pode conter-se, beijou-a.
O que foi? – respondeu Carol sonolenta.
Hora de ir – disse Anna-Lú.
Já?! – perguntou zombeteira e agarrou-se ainda mais a Anna-Lú.
Achou pouco é?! – disse sorrindo no mesmo tom.
Achei, queria ficar assim pra sempre – respondeu Carol sem pensar e corou na mesma hora ao perceber o que dissera.
Não precisa se envergonhar, eu também queria, mas... Temos mesmo que ir, afinal não vais deixar sua filha sozinha na primeira noite dela fora daquele hospital não é?! – respondeu sorrindo.
Tens razão! Que horas são agora? – perguntou Carol.
São exatamente dez horas e quarenta e cinco minutos, horário de Brasília – respondeu brincalhona.
Dez e quarenta e cinco?! – alarmou-se Carol levantando-se bruscamente e passando as mãos pelos cabelos. Anna-Lú também se levantou, mas em vez de também começar a se vestir ficou apreciando Carol vestir seus trajes íntimos até que esta percebeu o olhar de Anna-Lú, e corando outra vez parou o que estava fazendo.
O que foi? – perguntou Carol sem graça, já prendendo os longos cabelos loiros em um coque um tanto atrapalhado ao pensar que poderiam estar mais bagunçados do que de um espantalho.
Você é linda Carolina, realmente muito linda – falou Anna-Lú sorrindo e enlaçando sua cintura. Carol que não esperava por aquilo apenas deixou-se levar e passando os braços ao redor de seu pescoço se entregou ao beijo que se seguiu “só mais um beijo” pensou Carol, demoram-se alguns poucos minutos naquele beijo que se tornaria cada vez mais ardente, se Carol não o parasse, e foi o que fez.
Espera... Pa..para Lú... – disse Carol entre os lábios de Anna-Lú com dificuldade.
Por quê? Está tão bom! – lamentou-se Anna-Lú deixando Carol desvencilhar-se de seus braços.
Eu sei, mas olha só – apontou para o relógio – já são onze horas da noite agora, eu deveria estar em casa há horas!! – disse abrindo os braços.
Tá bom! – assentiu Anna-Lú.
Depois de recompostas seguiram no carro de Anna-Lú para o apartamento de Carol, durante o trajeto o clima agradável de carinho e paixão tomava conta das duas, conversaram sobre banalidades e Carol pensou ser incrível que isto estivesse acontecendo, em outros tempos ela jamais imaginaria estar tão animada ao lado de Anna-Lú. Anna-Lú estacionou em frente a portaria de Carol e fez um grande esforço para deixar que ela se fosse.
Tem certeza que não quer que eu suba? – tentou Anna-Lú segurando a nuca de Carol.
Eu adoraria, mas não é o melhor momento, você sabe – respondeu.
Por quê? Tá com vergonha de mim? – indagou.
Claro que não Lú, mas que ideia absurda! – ralhou Carol – Eu apenas quero te preservar por enquanto, minha filha está aí e a namorada também, tenha paciência é só o que eu peço.
Está bem, mas vou morrer de saudades e a culpa vai ser sua! – falou sorrindo. "Morrer de saudades?!" "Mas do que eu estou falando?!", pensou Anna-Lú consigo "Tô ficando melosa demais pro meu próprio gosto!"
Sem problemas, amanhã pra me ver você ressuscita, tenho certeza – gargalhou Carol tirando Anna-Lú daqueles pensamentos.
Convencida! – retrucou Anna-Lú – Essa fala era pra ser minha.
Agora é minha! – disse selando seus lábios aos de Anna-Lú.
Boa noite!
Boa noite minha linda – respondeu Carol antes de sair do carro. Anna-Lú deixou que ela sumisse pela porta de vidro para só então partir.
Na manhã seguinte Flávia saíra muito cedo para visitar a mãe. Carol, absorta, sorria e brincava com uma fatia de bolo. A noite havia sido agitada e Carol se lembrava de cada momento com Anna-Lú. Teria dormido mais um pouco e não teria sido nada ruim, mas já era dia e precisava trabalhar e de quebra “vê-la outra vez” pensava. Carol ria-se deste ultimo pensamento quando Alicia entrou bocejando na sala de jantar, pôs as muletas no encosto da cadeira e sentou-se à mesa encarando a mãe.
Hm, quanta felicidade, hein dona Carolina?! – perguntou zombeteira. Mas Carol nem se quer havia prestado atenção.
Ô mãe! Bom dia... Tá viajando é? Alôôô!!! Terra chamando!! – falou sacudindo o ombro de Carol.
Ãnh?! O quê? – assustou-se Carol.
Parece que alguém viu um passarinho verde, não é mãe? – perguntou novamente sorrindo bastante.
Como é que é?! Repete!! – disse Carol espantada.
Perguntei se você viu um passarinho verde? – disse pausadamente.
Não assim, a parte em que você me chama de mãe! – falou Carol e Alicia corou.
M-ã-e! – repetiu devagar ficando ainda mais vermelha, era estranho chama-la assim. Mas, para Carol foi um momento esplendido, sentiu uma avalanche de orgulho maternal diante da atitude de Alicia, mesmo com todo sofrimento e o peso desses últimos dias, era muito gratificante perceber a jovem mulher em que a filha havia se transformado.
Há uns dias atrás, as palavras lhes faltariam em momentos como este, porém, Carol decidiu liberar tudo que jamais deveria ter escondido para si.
Eu te amo minha filha! Me perdoa por todos esses anos de distância, sei que não fui a melhor mãe do mundo, mas sou eternamente grata por ter a oportunidade de ver agora, mesmo sem ter visto você crescer. Sou a mãe mais sortuda da face da terra por ter você como filha, além de linda...é inteligente, forte e decidida...enfrentou tudo como uma pessoa de atitude, é um orgulho pra mim ver a pessoa que você se tornou mesmo sem a minha ajuda - falou Carol acariciando a mão da filha.
Mesmo Alicia não tendo dito uma só palavra, o gesto que se seguiu foi o bastante para que Carol tivesse certeza que a filha também a amava. Os olhos de Alicia brilhavam, inundados de lágrimas não vertidas, no momento em que com muito esforço levantou-se e se jogou nos braços de Carol num abraço cheio de carinho, saudade... E Amor.
É... Faz muito tempo que não fazemos isso - disse Carol quando se desvencilharam do abraço ajudando-a a sentar novamente.
Faz... Faz sim... Mas não se acostuma não Carolina! - respondeu Alicia sorrindo.
Pode deixar filha! - retrucou dando uma piscadela.
Então, chegou tarde ontem! Não é? - perguntou como quem não quer nada.
Tá me vigiando é? - devolveu sorrindo.
Claro que não, mas é que você não chegou para o jantar! E....
E... O quê Alicia?!
E a Flávia viu a hora que você chegou, quase meia noite... E disse que você estava meio...
Meio o quê Alicia?!
Meio que descabelada, e sem os sapatos e com a blusa pra fora. Ai fiquei preocupada pensando que talvez você tivesse sido assaltada, sei lá, quase fui ao seu quarto, mas a Flávia não deixou. Sabe o que ela disse? Disse que você estava sorrindo feito boba e muito feliz pra alguém que tivesse sido assaltada - relatou Alicia e encarou Carol pra ver sua reação.
Parece que a Flávia é uma boa observadora. Mas, e você porque ainda estava acordada?
A Flávia me acordou pra tomar o remédio daquele horário, você não foi assaltada não, neh mãe?
Não filha, fiquei presa só isso e cheguei mesmo tarde, me desculpe pelo jantar e outro dia conto o que houve ok! - respondeu Carol corada e com o rosto queimando - Bom, tenho que ir trabalhar, qualquer coisa me liga, a qualquer hora está bem? Cuida-te bem e toma os remédios, não seja rebelde Alicia - terminou suas recomendações dando um beijo estalado em sua testa, fazendo Alicia sentir uma inundação de algo que lhe faltava a muito tempo... felicidade.
Tem um bom dia mãe! - desejou sem esconder o sorriso enorme.
Você também filha! - respondeu feliz antes de pegar a bolsa e sair.