CAPITULO 19: ALEXIA
Como prometido segui a minha vida. Eu estava sofrendo, sofrendo muito, mas é o preço que eu estava pagando por ser tão orgulhosa. Evitava ao máximo falar com a Julia. Eu precisava ser forte, manter a distância. Muitas vezes, ela me olhava com aquela cara de cachorro abandonado que eu particularmente detesto, pois me fazia ceder.
Um certo dia, eu estava conversando com uma amiga da faculdade. A Mayara. Ela era uma negra muito bonita, com um cabelo cacheado longo, um corpo bem definido e o melhor de tudo, era hetero. Estávamos a conversar sobre o meu estado "fossa", quando ela me aconselhou a me matricular na academia pra ocupar a mente. No começo achei que fosse brincadeira dela, mas não era não. Ela falava sério. Me levou para a academia onde malhava, onde me matriculei. Ela passava todos os dias em minha casa para me buscar. Tinha dias que eu ia praticamente obrigada. Mas com o tempo comecei a pegar gosto pela coisa, ainda mais que a Mayara sempre estava comigo. Ela sempre me ouvia falar por horas da Julia. Me dava concelhos e me fazia rir. Uma ótima amiga e uma ótima companhia.
Era uma quinta feira quando a Kamille chegou a minha casa. Estranhei ela ter viajado sozinha, mas preferi não dizer nada. Não pude fazer companhia a ela, pois estava no trabalho. Pra dizer a verdade, só pude dar atenção para ela no sábado, pois estava livre. Não tinha faculdade, academia e nem trabalho.
- Tem notícias da Julia? -- Perguntou-me Kamille.
- Não, não tenho. E quer saber prefiro não saber. Eu estou bem, estou feliz, estou seguindo em frente. -- Falei tentando parecer natural, verdadeira...
- Está feliz?
- Estou.
- Ah Alexia. Você não me engana. Você vive falando que odeia mentira. Mas o que você está fazendo agora é o que senhora verdade? Está mentindo para mim.
- Porra Kamille! Porque você decidiu tocar nesse assunto?
- Porque eu sou a única pessoa que pode abrir os seus olhos. Fazer você acordar! Ontem eu fui a uma sorveteria e sabe quem eu encontrei? A Janaína.
- E?
- E ela me disse que a Julia está em depressão. Ela não come e vive trancada dentro do quarto. Parece que voltou a andar com os viciados. Ta voltando a estaca zero. Não ouve ninguém, não conversa com ninguém. Parece que eles vão manda-la para uma clínica fora do país.
- Você ta falando sério?
- Você acha que eu brincaria como uma coisa dessa?
- Que merda! O que você quer que eu faça?
- É tão óbvio Alexia. Vai atrás dela! Eu sei que é isso que você quer. Para de ser tão orgulhosa.
- Eu não sou orgulhosa!
- É sim. E você sabe disso. Mas escuta um conselho de irmã. Quem vive de orgulho, morre de saudade. Vai perder a mulher que ama por besteira?
- Você acha besteira o que ela fez comigo? -- Perguntei séria.
- Esse assunto ainda Alexia? Isso ja ta chato e repetitivo. As pessoas erram, sabia?! Acho que vocês duas já sofreram o suficiente. Você deve ir atrás dela. Vai atrás do seu amor, sua boba.
- Eu vou pensar, ta ok?
- Não, não tem nada "ok". Você vai colocar uma roupa descente e vai até a casa da Julia conversar com ela. Agora!
- Mas...
- Mas nada. Anda logo.
Pedindo assim, né?! Fui para casa da Julia meio desorientada. Eu estava preocupada com ela. Saber que ela estava mal me deixou... Triste.
Toquei a campainha. Ouvi passos e então a porta se abriu. Uma Julia simplesmente espetacular apareceu. Minha vontade era agarra-lá ali mesmo. Ela abriu espaço para mim entrar na casa. Entrei calada, meus pensamentos estavam voltados para a Kamille. Na mentira descarada que ela me contou. Avistei uma mesa composta para duas pessoas e então entendi o plano. Ainda bem que iria ter um jantar eu estava morta de fome. No fim das contas, a conversa com a Julia foi agradável demais e o jantar também. Ela fez strogonoff, meu prato favorito. Ganhou uns pontos comigo.
- E então Alexia? Como a gente fica? -- Foi o que ela me perguntou no fim do jantar. O que dizer? Eu não sabia que resposta dá. Eu não queria apressar nada.
- Pra ser sincera, eu não sei. Vamos com calma, ta ok?! -- Respondi.
- Como você preferir. Mas posso te pedir uma coisa?
- Depende...
- Me da um beijo?
Não tive nem tempo para processar a pergunta. Me pegou totalmente de surpresa. Foi um beijo bom, muito bom mesmo.
Fui pra casa toda sorridente. A Julia me deixava assim: Estonteante. Quando eu vi a Kamille a primeira coisa que eu fiz foi abraça-la e dizer obrigada. Nem comentei nada sobre a mentira dela. Eu estava agradecida demais por ela ter aberto os meus olhos.
No dia seguinte a Ju me levou ao cinema. O que eu achei uma péssima idéia, pois pagamos as entradas e não assistimos ao filme. Ficamos nos beijando durante todo o filme. Saí da sala toda amassada. Estava gostando da nossa reconciliação.
Aos poucos fomos nos aproximando cada vez mais. Tudo estava se encaixando novamente. Não demorou muito para voltarmos com o namoro. A Julia dormia lá em casa todas as noites. Estava sendo bom ter ela tão perto. Reduzi os dias de academia para ter mais tempo para ela. Com o tempo consegui assumir que eu tinha sido muito dura com a Ju, mas o tempo que passamos separadas serviu para amadurecermos. Enfim, estava tudo muito bem entre nós. Porém, tinha uma coisa que eu precisava fazer por mim e por ela. Eu tinha acabado de chegar da academia, já era tarde da noite. A Julia cochilava no sofá como um anjinho. Provavelmente tinha cansado de me esperar. Tomei um banho rápido e quando retornei ela estava no mesmo lugar. Passei minha mão em seu rosto prendendo uma mexa de cabelo atrás de sua orelha. Linda, muito linda. Toquei seus lábios com os meus e a observei por mais alguns minutos. A balancei levemente na tentativa de acorda-la. Quando ela abriu os olhos e sorriu pra mim não pensei duas vezes, a frase saiu automaticamente da minha boca.
- Eu te amo!
- O que?
- Eu te amo!
Ela chorou. A Julia é muito emotiva.
- Também te amo. -- Falou entre lágrimas.
Me beijou, me abraçou e fizemos amor de uma forma diferente de todas as outras.
Até que um dia...
Durante o café da manhã a Julia me fez a pergunta que mudaria minha vida.
- Quer casar comigo?
