Enquanto eu trocava olhares com Gustavo discretamente, pelo menos era o que eu achava, Renato entra na classe no meio da explicação do professor, o qual faz uma pequena pausa o olhando e voltando rapidamente para o livro.
Renato era o mais baixo dos meus amigos, possuía cabelo curto e preto, a maioria dos meus amigos são assim, mas ao mesmo tempo são bem diferentes. Estava levemente bronzeado e um pouco mais malhado, parece que todos resolveram se exercitar naquele ano menos eu. Ele era o mais engraçado de todos, as vezes tínhamos nossos atritos, principalmente causados por mim, mas nada que tenha acabado com nossa amizade. Ele fora de todos o que mais presenciou os meus momentos mais baixos e conflitantes, e mesmo assim continuou amigo meu.
- Eae pessoalzinho? – disse ele se sentando duas carteiras a minha frente, logo depois de Peter.
- Atrasado como sempre hein – respondi fazendo cara de reprovação.
- Você não pode falar nada Yuri, se sempre chega atrasado também – disse Tamires com a aprovação de todos, o que me deixou irritado. Eu era bem temperamental e qualquer coisa me irritava, uma característica minha da qual não me orgulhava nem um pouco não sabendo controla-la.
Aula de história se passa lentamente com explicações chatas sobre a história do Brasil, a qual eu achava a mais tediante de todas. Meu tópico favorito era a Segunda Guerra Mundial, deixando claro que não sou antissemita, racista e nem quais forem as crenças e valores de Hitler.
Logo todos fomos aos vestiários trocar de roupa nos preparando para Educação Física, a qual era na maioria das vezes ficar sentado e conversando. Meninas e meninos se dirigiram para seus respectivos vestiários. Enquanto todos se trocavam na frente um dos outros, vestindo roupas brancas ou pretas com o emblema da escola, eu me afastava de todos e me escondia dentro do box onde se encontrava um chuveiro, tinha vergonha de expor meu corpo avantajado na frente dos outros, algo que me deixava muito inseguro, por isso nunca ficava seminu na frente de ninguém, só da minha Best que já me presenciou sem roupa enquanto me trocava.
Enquanto tinha problemas colocando a maldita bermuda, quase me desequilibrando, ouço passos diversos vindo em direção a onde estava, se distanciando do falatório.
- Então, finalmente comeu ela? – perguntou Roberto com curiosidade a alguém desconhecido.
- Cara, fudi tanto ela, tirei aquele cabaçinho maravilhoso, é a quarta na minha lista de cabaços que tiro – respondeu
Gustavo rindo e Roberto o parabenizando, ambos dando um toque com as mãos. Achei revoltante ouvir aquilo e curioso, quem será que era a garota... – E você Robertão, comeu alguma bucetinha nessas férias?
- Que nada cara, to com a Angelina, não to atrás de buceta mais – respondeu Roberto, mesmo ouvindo que ele ia a caça vaginal antes do namoro, ele agora estava comprometido e parecia honrar a namorada, me fazendo o admirar e ter ciúmes ao mesmo tempo.
- Cara, que namorar o que, o único motivo pra namorar é ter uma foda sempre que quiser quando outra não der certo, fodam-se elas – respondia rindo.
- Nossa, que cara repulsivo do caralho – pensei. Bom, pelo menos achei que pensei, mas na verdade essas palavras saíram da minha boca com um pequeno atraso mental até que eu notasse a merda que fiz. Um silêncio fúnebre pairou no ar, esperava ser engolido pelo chão de azulejo e levado para longe dali.
As cortinas azuis do box se abrem violentamente e Gustavo e Roberto olhavam pra mim mais confusos do que eu com aquela situação, dirigindo seus olhares para baixo, assim fiz eu, até que vi que eu não estava vestido ainda, minha batalha com os shorts havia sido interrompida pelos depoimentos de Gustavo, mais baixos que o próprio inferno. As subi rapidamente, ajeitando minha bermuda branca que ficara presa embaixo, até ser jogado contra a parede por Gustavo, logo depois me segurando o pescoço. A reação de Roberto foi de puro terror.
- Tava espionando seu viadinho de merda? – perguntou ele, mas fazendo uma afirmação, enquanto segurava meu pescoço mais e mais forte.
– Gustavo solta ele – dizia Roberto tentando acalma-lo.
- Vocês...que... chegaram...do nada – tentei responder, mas o ar fugia dos meus pulmões que não conseguiriam se encher tão rapidamente graças ao quase sufocamento que sofria , eu me debatia, tentando arrancar as mãos de Gustavo da minha garganta.
- Olha aqui, nunca tive nada contra você, mas nem pense em abrir essa sua bocona e fuder minha reputação – dizia ele olhando ameaçadoramente, fazendo pouco dos meus lábios grossos – Se eu não comer mais ninguém nessa escola, você que vai se fuder moleque, não irá nem conseguir andar depois – dizia ele soltando minha garganta e me socando na barriga brutalmente.
– Para com isso caralho! ele não vai falar nada, relaxa porra – dizia Roberto me defendendo após ser socado e estrangulado.
Ambos saíram de lá me deixando sentado sobre o azulejo frio, catatônico. Eu não chorava, não enraivecia, nenhuma emoção me dominava, tudo que pensava era: Que porra foi essa???
Levantei cambaleante ainda sem entender o que aconteceu. Fui até os armários do vestiário e ninguém mais estava lá, assim subi as escadas e me dirigi a quadra, onde todos estavam jogando Vôlei. Nosso professor Wilton era o juiz daquela partida, ele parecia demais com as criaturas azuis do filme Avatar, mas obviamente não era azul e alto pra caralho. Possuía a pele morena e estatura mediana, vestia jaqueta e calças o que não fazia sentido sendo que estava até calor, e usava um apito pendurado no pescoço.
- Tava onde Yuri? – Perguntou ele me olhando surpreso, acho que pensou que eu havia faltado.
- Eu...tive dor de barriga – disse abrindo um meio sorriso e esfregando a mão na cabeça – Desculpe.
- Bom, já levou falta nessa aula, agora vai joga! – disse ele olhando pros outros que jogavam.
- Pau no cu do caralho – foi o que pensei, e dessa vez ficou na minha mente e não vazou pela minha boca.
Ele apitou com todo seu folego, chamando a atenção de todos que estavam ali, até dos que estavam sentados na arquibancada conversando.
- Bom, o Yuri vai entrar, qual time tem menos jogadores? – perguntou o professor, olhando feio para os alunos na arquibancada que estavam pouco se fudendo para essa aula e a note vermelha em seu boletim futuro.
- Tem um a menos aqui – respondeu Polly, uma menina negra de cabelos cacheados preso em um rabo de cavalo. Ela jogava no time de Vôlei da escola em campeonatos da região e era super divertida, todos gostavam dela.
- Vai pra lá Yuri – Respondeu ele.
Enquanto caminhava para meu posto no meio; o qual Polly cobria assim jogando em duas posições; eu observava minha equipe, pessoas aleatórias da minha classe se encontravam lá, alguns com quem eu conversava ocasionalmente e outros que viviam com seus grupos. Logo tomei minha posição e logo vi do outro lado da rede, Gustavo, que atingia minha alma com seu olhador exorbitante e matador, o medo que não senti quando fora abusado no box caiu como granizo em mim, me fazendo tremer e sentir pancadas prematuras que talvez no futuro recebesse dele.
Recebi uma bolada no braço que me acordou do transe maligno que sofria e logo vi que todos olhavam pra mim esperando algo.
- Lança a bola – disse Polly que estava em frente a rede.
-Ah! Ok – peguei a bola e me preparei para sacar assim lembrando que nunca fui bom nisso, mas milagrosamente a bola voou de minhas mãos com soco bem dado, sendo pega pelo último membro do time e lançada a Gustavo. Ele com todas as suas forças lançou a bola para o outro lado como era o planejado, mas o intuito não era de marcar um ponto, e sim de ser lançada em mim com um gigantesco impacto.
A bola veio em uma velocidade enorme, e como seu destino era eu, resolvi tomar partido e fui atrás dela para lança-la para Polly. Mas o tiro saiu pela culatra e tudo que conseguiu foi tropeçar em mim mesmo e desarmar meus braços para lançar a bola, recebendo a bolada na cara.
Ela fora tão forte que me salvou de cair, mas me jogou para trás de cabeça no chão. Tudo depois se apagou.