Ladrilhos 2x03

Um conto erótico de Igor Alcântara
Categoria: Homossexual
Contém 2240 palavras
Data: 07/02/2016 00:53:05

[Victor]

Eu escutava risos. Muitos risos seguidos da passos apressados. Eram pessoas correndo e sorrindo. Uma luz forte veio nos meus olhos e aos poucos a cena foi se formando pois estava tudo embaçado. Aquele era eu? Eu e o Rômulo?

Nós corríamos no meio de um parque muito bonito e ríamos um para o outro. A risada grave e inconfundível do Rômulo ecoava por todos os lados. O sol entrava pelas frestas das folhas dando um efeito de entardecer tão bonito que pareciam cenas programadas de filmes. Nós continuávamos a correr lado a lado ainda rindo. Nós usávamos roupas de atividades físicas. Rômulo estava todo de preto com fones caindo dos ouvidos e eu de azul.

Em um determinado momento daquela brincadeira segurávamos as mãos um do outro e parávamos juntos. Eu observei nós dois por um tempo até que ele me beijou. Todo o entardecer sumiu. Toda a cena ficou branca. Eu agora não nos observava do lado de fora. Eu agora era eu mesmo, alí, segurando as mãos do Rômulo após o beijo. Seu rosto estava próximo ao meu.

- Rômulo?

Ele me olhava sem dizer nada.

- Eu não tô entendendo. – eu disse confuso.

- Não há o que entender.

- Cadê as árvores? – eu olhei pros lados e não havia mais nada. Era como se estivéssemos num local vazio. Apenas branco.

- Não há o que entender.

- Precisamos voltar pra casa.

- Não. Não precisamos.

- Cadê o César?Rômulo, cadê o César?

- ... O César?

Tentei soltar suas mãos mas estavam unidas quase petrificadas. Não conseguia separá-las.

- Rômulo me solta!

- Victor, não há o que entender.

- Do que você tá falando?

- Não há o que entender. Eu sinto muito...

- Rômulo! Me solta.

- Não Victor! Não há o que entender! Eu sinto muito Victor... Eu sinto muito... Eu sinto tanto... Tanto...

Ele então começou a chorar e de repente eu vi o mesmo rosto da noite no aeroporto.

Uma angústia foi tomando conta do meu peito. Eu comecei a sentir vontade de chorar apesar de não conseguir chorar de fato. Minhas mãos ainda estavam juntas as dele firmes e fortes. Rômulo rompia em lágrimas na minha frente e eu não conseguia encará-lo. Não queria vê-lo chorar. Até que veio um susto.

- Eeei!

César com o cabelo desgrenhado colocava uma mão no meu peito e segurava com a outra o meu ombro.

- O que tá havendo?

Eu respirava apressado tentando me recompor daquele sonho. Estava suado e precisava urgentemente tirar aquelas cobertas de cima de mim. Chutei os lençóis apressado e me recolhi à cabeceira de madeira da cama.

- Victor, fala comigo!

- Um pesadelo... – eu apertei o cenho.

- O que era?

- Nada... Só uma sensação ruim.

- Tá tudo bem... Eu tô aqui. – ele se aproximou e repousou a mão sobre minha coxa.

Eu o puxei pra um abraço e aos poucos deslizei de volta pra cama apertando o nariz contra seu pescoço. Naquele instante eu me sentia mais do César do que em qualquer outro momento antes.

Nós havíamos transado. E parece que isso abriu portas que estavam fechadas até então. Eu me sentia mais íntimo dele e o tinha como alguém mais íntimo. Eu sentia que a partir dalí nossa relação seria diferente e daria espaço a atos que antes não eram praticados.

Ainda me abraçando ele afagou meus cabelos me apertando mais forte contra o peito.

- Você tava angustiado. Eu fiquei preocupado. Principalmente um pesadelo logo após a noite de ontem. Foi tudo tão bom.

- Não teve nada a ver com ontem. Eu não sei o que aconteceu. Não vamos pensar nisso...

- Ok... Tudo bem. A gente pode ir fazer algum passeio hoje.

- Temos dinheiro.

- Temos sim. Mas acho que esse será o último antes de irmos embora.

- Vamos procurar sua mãe amanhã?

César me soltou e sentou na lateral da cama. Ele usava uma boxer preta e eu fiquei observando as marcas do lençol em suas costas.

- Não sei... Não sei ainda.

- Não sabe? Você chegou tão decidido. Inclusive, eu não te vi pegando mais nos papéis sobre ela.

- É que agora, aqui, tão perto eu não sei mais se quero tanto encontrá-la.

- Como assim? Nós viemos até aqui. Você procurou por ela a sua vida toda.

- Eu sei... É que sinto que eu tô fazendo uma escolha que pode mudar tudo.

- Eu continuo sem entender.

- E se o Rômulo tiver certo? E se não valer a pena conhece-la?

- Se não valer a pena ao menos você vai ter suas respostasNão é isso que você quer? Respostas?

- Sinto que não tô mais certo de nada.

Ele levantou e foi em direção ao banheiro.

Eu catei o celular da cabeceira e liguei pro primeiro número da chamada rápida.

- Oi filho! Volta quando?

- Ainda não sabemos mãe... Pode me fazer um favor? É importante.

- Sim. O que foi?

- Mãe, a senhora pode ir na casa do Rômulo?

- Pra quê?

___________________xxx____________________

[Rômulo]

Eram meio dia. Exato meio dia. Quem anda nas casas dos outros àquela hora e naquele sol? Olhei da janela do quarto mas a árvore do jardim cresceu e estava bloqueando a minha visão de quem pudesse estar na calçada de casa.

Desci as escadas e o monitor que mostra as câmeras estava desligado. Tanto faz... Fui em direção à porta, jardim e finalmente portão. A campainha tocou mais uma vez.

- Quem é?

- Rômulo? Sou eu! Cláudia!

- Dona... Dona Cláudia? – eu me apressei em girar as chaves abrindo o portão.

- Olá! – ela disse simpática sorrindo com uma tupperware em mãos.

- Oi... O papai está no consultório.

- Ah... Tudo bem. Na verdade eu vim falar com você.

- Comigo? Ah... Me desculpe, entre... – eu dei passagem pra ela.

A levei até a sala.

- Fique à vontade. Do que se trata?

- Eu vim te trazer essa macarronada com orégano que eu sei que você gosta. Teve bastante no restaurante hoje e eu separei um pouco.

- Claro! – eu respondi sem entender. – Tudo bem! Obrigado! – eu peguei o depósito da mãos dela e sorri. Ela me devolveu o sorriso.

O silêncio pairou.

- Bom, é claro que eu tenho um ótimo motivo pra estar aqui. Não que só te trazer a macarronada já não seja, mas...

Ela procurava as palavra gesticulando as mãos.

- Dona Cláudia o que está havendo?

- Pra ser bem sincera? Vim saber como você está.

- Como eu estou?

- Sim. Os meninos ainda não voltaram... Você ficou sozinho... Só queria saber se está tudo bem.

- Está sim... Eles devem voltar logo e pronto. – tentei despistar.

- Você ficou bem triste naquela noite.

- É... Mas passou... – eu menti.

- Rômulo... Eu sei o que o César foi fazer em Fortaleza. Eu vim a pedido do Victor saber se você estava bem. Ele tá lá mas se preocupa com você aqui.

- Não tem com o que se preocupar. – ri e fugi para a cozinha com o depósito de macarronada.

- Você só precisa saber que independente do resultado vocês ainda são irmãos e um não vai abandonar o outro.

- Não se trata disso. Só não quero que o César traga alguém inútil pra vida dele. Ela não foi ninguém até hoje, porque precisa ser a partir de agora?

- Querer achar a mãe é uma coisa natural e que só ele sabe sentir porque...

- Ela não é a mãe dele! – eu me exaltei sem querer. Minha voz falhou e ela se calou. – Desculpe.

- Seja qual for a dor, se isolar não vai resolver. Eu sei que você não tem saído de casa, os meninos estão preocupados. Tente manter contato com eles, ok? Eu preciso ir.

- Me desculpe... Eu não queria...

- Não tem do que se desculpar. Fique tranquilo.

Naquele dia, apesar de ainda passar em casa como os demais, eu vi que estava sim sofrendo demais. Me afundando numa melancolia toda sem necessidade. Eu só não conseguia evitar o medo, a repulsa, a ansiedade de saber o que o César encontrou. Aquilo me consumia e logo ia acabar.

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[César]

- Credo moço! – Victor disse.

- Não tem desconto de jeito nenhum?

- Ou paga os duzentos ou sinto muito. – o senhor do barco disse.

- Tudo bem César... Vamos procurar outra coisa pra fazer...

- Se forem entrar é melhor se apressarem. Eu já vou sair.

- Não. A gente vai! – eu disse tirando o dinheiro da carteira e entregando na mão do senhor do barco.

Entramos na embarcação e colocamos o colete de imediato. Íamos fazer um pequeno passeio pelas praias ao redor de Fortaleza. Apenas passar rapidamente e admirar a beleza daquele litoral. Haveria uma parada pra mergulho porém bem rápida.

Ventava muito e o barco não era dos mais velozes. Passamos por três praias lindas até chegar no local da parada. Haviam mais casais no barco, inclusive gays. Todos tiravam fotos encantados com tudo. Eu não poderia desejar conhecer o mar de forma melhor.

Entramos na água ao lado do barco e passamos um tempo relaxando. A água tinha uma temperatura muito agradável além de ser tão azul e ao mesmo tempo cristalina que tudo parecia uma imensidão. Era lindo. Enquanto olhava pro fundo tentando ver até onde minha visão conseguia ir fui surpreendido com César se aproximando. Ele pegou na minha mão e me trouxe pra perto. Era difícil beijar com coletes salva vidas, mas ainda assim ficamos abraçados como podíamos. Não conhecíamos ninguém alí e eu não sabia quando poderia fazer tudo aquilo de novo então aproveitei junto dele.

A manhã como já se imagina numa situação como essa passou correndo e quando voltamos à costa de Fortaleza já era mais de uma da tarde. Minha fome era justificável. Almoçamos num restaurante bem pequeno na orla mas muito agradável. Deveria ser novo pra ser tão simples e pequeno. Mas fomos tão bem atendidos e a comida estava tão boa que deixamos gorjeta.

À tarde ficamos logo pela praia e sem mais dinheiro pra gastar com as mais diversas excursões decidimos que nosso turismo acabaria por alí mesmo. A partir do dia seguinte iríamos procurar pela mãe do César.

- Ainda está nervoso? – eu perguntei ao seu lado na areia tomando água de coco.

As luzes iam se acendendo. Estávamos na areia há uns 3 metros de onde a água da praia vinha. Era um fim de tarde maravilhoso na praia de Iracema.

- Sim. Mas eu tenho que encarar.

- Sabe que eu vou estar do seu lado.

-Não sei como abordá-la.

- Você vai achar um jeito.

- Eu sei que vou... Só preciso pensar... – ele pós a cabeça em meu ombro.

- São mais de seis da tarde. Acho melhor voltarmos pro hotel.

- Sim.

Levantamos e sacudimos a areia. Nossas camisas estavam nos ombros. Íamos saindo da areia em direção ao calçadão quando meu celular tocou. César continuou caminhando e eu diminui o passo ainda com o coco na outra mão.

- Oi mãe! Você fez o que pedi? – eu fui direto ao ponto.

- Fiz... E acho que temos um problema...

Ao ouvir isso eu parei na areia e enquanto via o César se distanciar em direção ao calçadão parte daquela sensação no meu peito sobre o Rômulo voltou. Respirei fundo e respondi ao telefone.

- Eu sabia...

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Oi gente! Desculpem qualquer desorganização na estrutura do capítulo. Se estiver feio, eu vou explicar. Kaio e eu passamos o ano novo separados então decidimos viajar no carnaval juntos. A família dele não curte muito ir pular carnaval, pra minha sorte, então decidiram juntar todos e ir para a casa de campo tirar o “feriado” de folga de tudo e ficar dias e dias por aqui. Falo “aqui” porque Kaio e eu entramos no carro e viemos pra cá.

Até aí tudo bem. Todo mundo junto, muita comida, muita comida mesmo (meu Deus, muita comida!) e bebida, música e tal... Quero frisar a comida porque especialmente vocês que trocam e-mails comigo sabem da importância de ter comida nos lugares em que estou, principalmente às 11h da manhã quando eu tô quase desmaiando e o Bernardo me compra lanche lá na empresa. Se ele lesse os contos, aqui seria uma boa hora pra agradecer publicamente. Fica sub entendido. Ah! Ele e Lucas vieram com a conosco e estão aqui mas só até amanhã quando eles voltam pra cidade. Lucas manda um abraço. Se você não sabe quem é Bernardo ou Lucas, leia meu conto “Um estranho” e irá entender.

Mas enfim, não vim aqui falar de comida e eu sei que tô tagarela. Agora eu vou explicar mesmo. Seguinte, estamos na casa de campo dos pais do Kaio, um lugar relativamente isolado, sem internet e sem celular até terça feira que vem. Eu digo isolado porque um lugar em que o celular pega por momentos e a internet as vezes passa dias sem dar sinal é um lugar isolado, vamos combinar. Por isso, eu estou tentando postar pelo celular. Copiei o texto do jeito que estava no Word e colei. Espero que fique bonito porque se não ficar bom eu só volto na terça pra corrigir.

Até lá minha comunicação é super restrita. Então desculpem por não responder comentário por comentário mas pelo celular isso é muito difícil! Portanto, no próximo capítulo tem respostas em dobro aos comentários. As desculpas também pela demora de sempre, mas estas vocês já estão saturados de me ouvir pedir. É só que esses últimos dias eu trabalhei feito um sei lá o que pra poder me livrar de tudo e viajar com meu namorado o quanto antes. Deu certo!

Finalizo aqui desejando um bom carnaval pra todos vocês, que brinquemos com responsabilidade e cuidado. Agora eu preciso ir.

Abraço.

Igor.

kazevedocdc@gmail.com

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Comentários

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Sou alucinado por este conto, é sério. Que bom que está voltando a todo vapor.

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Vamos ver no que dá esse encontro com a "mãe" do Cezar. Já quanto ao Rômulo, espero que seja só tristeza e passe logo.

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Muito bom, teve nada de bagunçado. To preocupado com o Rômulo, e ansioso pra saber sobre a mãe biológica do Cèsar. Abraço Igão, tu é o cara!

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O Romulo ta com cara q ta mechendo com drogas affff por isso essas suas sensacoes estranhas

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Ótimo Carnaval, que seja com bastante comida... Abraços para todos, Kaio, Lucas e Bernado... O conto esta primoroso! A historia é envolvente, muito bem construida.

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acho que o romildo esta sofrendo duplamente não é só prq cezar foi atras da mãe mas tbm prq elese descobriu apaixonado pelo victor!! e sinceramente sofrer assim ninguem merece.mande um abraco pro bêh e pro lucas .e otimo feriado.beijo seu lindo.

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Otimo adorei so quero que o romulo melhore pois ficar triste ninguém merece

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Aaaaaahhhhhhhh igor vou te mandar a conta do meu cardiologista pq to quase enfartando aqui n para assim n!!! Um grande abraço pra ti e pro kaio e um ótimo carnaval pra vcs!!!!

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Ótimo, ainda estou em dúvidas sobre esse tal encotro com a 'mãe' do César. Abarcos man...

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