Raimundo Nonato apertou a mão do jovem que parou a sua frente e disse:
_ O senhor então saberia dizer o que esta acontecendo aqui?
_ Sim. Pelo menos parte da história.
SS olhou para o querido Guilermo e perguntou:
_ Mas você não precisava ir, meu querido? Eu pensei que seu dia seria cheio...
_ Na verdade Sandra eu ia, só que lembrei que a Patricia havia ligado e algo na voz dela fez com que eu voltasse e parece que a intuição me fez fazer a coisa certa.
_ Oi moço, eu sou a mãe do joão Marco. O senhor então pode me dizer o que aconteceu para que meu filho acabasse em cima dessa cama com o rosto tão machucado?
Os pais de João Marco ficaram lado a lado e após Patricia sentar num lado da poltrona enquanto SS sentava no outro extremo, Guilermo começou a falar...
_ Eu conheci o João numa determinada festa em que a empresa onde ele trabalha era a encarregada da recepção. Uma pessoa conhecida estava noivando e por conta de um soco e um empurrão eu praticamente fui arremessado na direção dele e terminamos caindo no chão. O filho de vocês é um cara muito atencioso e após me ajudar a levantar, me levou numa sala onde a sujeira da minha roupa foi limpa. A partir desse acontecimento muita coisa na minha vida começou a mudar. Eu procurei saber tudo sobre o filho de vocês. Eu não posso esconder o quanto que fiquei interessado nele.
Ao dizer essas últimas palavras os pais de João Marco se olharam e a mulher baixou a cabeça enquanto o pai do rapaz perguntou:
_ Como interessado? O que o senhor quer dizer comisso?
_ O João não saiu mais do meu pensamento e foi através dele que muita coisa na minha vida passou a ter sentido. Nós nos tornamos amigos e com o passar do tempo essa amizade além de se fortalecer agregou um outro sentimento. Eu amo o filho de vocês como nunca amei ninguém na minha vida. E o melhor disso tudo é que eu sei que não estou sozinho nisso pois ele também me ama.
_ Como é que é, rapaz? Você ta querendo me dizer que é uma bicha e meu filho é igual a você? Perguntou Raimundo Nonato.
_ Não, senhor. Eu sou um homem que ama outro homem que no caso é o seu filho.
_ Bem que lhe disse mulher que essa história de Faculdade de Letras e trabalhar fazendo festa pra bacana era coisa de viado. Eu te disse que isso não ia acabar bem. E agora Margarida? O que a gente faz agora?
_ Depois a gente conversa em casa Raimundo. Moço, você pode continuar?
_ O que sentimos um pelo outro no momento ainda não responde a pergunta que me foi feita. O João conheceu no passado um Policial Militar, o mesmo que foi morto pela esposa, numa academia onde ele treinava. E pouco tempo depois os dois começaram a manter um relacionamento. Só que pelo que fiquei sabendo, as coisas passaram a ser bem diferentes do que o João imaginava que seriam. Ele sofreu nas mãos desse Policial. Por mais que ele tentasse sair do relacionamento, que mantinham em segredo, o Policial sempre o ameaçava com surras ou chantagem. O maior medo do filho de vocês era de que essa história toda um dia viesse à tona e que ele perdesse o amor de vocês.
_ Eu nem posso imaginar o que meu filho tenha sofrido nas mãos desse amigo dele. Ele devia ter me dito algo. Falou D. Margarida com os olhos cheios de lágrimas.
_ Já acabou D. Margarida. Ontem eu tomei posse definitivamente da minha herança e após a recepção combinei com o João da gente se ver. Só que tudo deu errado. Ele foi surpreendido pelo Policial morto e os dois acabaram em frente a casa desse homem. O que houve lá eu não sei. O que foi apurado é que houve uma conversa entre eles no portão de casa e em seguida o João passou a ser espancado pelo Policial e este acabou sendo morto pela esposa com três tiros.
Guilermo ao lembrar dos acontecimentos do dia anterior ficou visivelmente agitado e SS foi até ele e o abraçou. Ele se sentiu confortado e após alguns minutos prosseguiu...
_ Eu sinceramente daria tudo o que eu tenho para que ele não tivesse sofrido toda essa violência. O João é um cara único. Tenho certeza que sempre foi um bom filho, irmão, amigo... Como funcionário a Patricia pode atestar o quanto ele é responsável e dinâmico. Eu não sinto vergonha nenhuma quando eu digo que o amo. Amo muito... Ele tem medo de não ser aceito por vocês. E isso pra ele será o fim. O que eu sinto por ele não tem como acabar. Eu farei tudo o que tiver ao meu alcance para que o João seja feliz, só que sem vocês dois nada será completo.
_ Você devia ter vergonha de falar tudo isso, rapaz. Falou Raimundo Nonato já alterado.
_ Vergonha de quê? Por que eu deveria me envergonhar de amar um cara excepcional como o João Marco? è um privilégio tê-lo na minha vida. Vocês sabem disso porque o criaram. O fato de sermos dois garotos altera em que a vida de vocês ou a nossa?
_ Vamos ser motivo de vergonha na família e na vizinhança...
_ Então pro senhor será mais fácil ver o seu filho infeliz do que amando e sendo amado?
_ Não se trata disso, rapaz.
_ E se trata de quê?
_ De vergonha e imoralidade. Só Deus sabe o que vocês já fizeram em cima de uma cama... Ou o que ele já fez com o desgraçado que morreu... Meu filho é uma bicha e eu não vou poder fazer nada.
_ O fato do seu filho amar outro homem não faz dele uma aberração ou que seja motivo de vergonha.
_ Essa discussão não vai levar a nada, Raimundo. Falou D. Margarida.
Todos olharam pra ela nesse momento. Seu olhar para o filho era de pura ternura e compreensão...
_ Será que posso lhe pedir uma coisa, moço?
_ Claro. A senhora pode me pedir o que quiser. Só não me peça pra me afastara dele...
_ Jamais faria isso. É algo simples... Não deixa ele sofrer mais não, tá? Protege ele desse mundo, ok? O João é maravilhoso e acredito que ele já tenha sofrido até demais nessa vida.
_ Eu prometo pra senhora que ele jamais vai voltar a sofrer.
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Patricia Arraes, Raimundo Nonato e o próprio Guilermo saíram em seguida e João ficou aos cuidados da mãe e da querida SS. Cada um dos três tomou um rumo determinado e assim que Gui chegou a sede da Holding pediu para sua secretária Solange completar uma ligação.
_ Guilermo, o Dr. Alberto Colaço na linha quatro.
_ Obrigado Solange.
Assim que que ouviu a voz do homem, Guilermo disse...
_ Boa tarde Professor, Colaço. Guilermo Cipriani falando.
_ Boa tarde, Cipriani. Se ligou atrás da nota final do último seminário perdeu seu tempo, garoto.
_ Acredita que não estou nem preocupado com o dez que tirei? A razão da ligação é puramente profissional e confidencial.
_ Então Dr. Cipriani me deixe primeiro parabenizá-lo e sem mais delongas, em que posso te ajudar?
_ Simples, Colaço... Quero que seu escritório faça uma auditoria, na verdade eu quero uma verdadeira devassa aqui na Holding. Acabo de assumir o controle de tudo e chegou ao meu conhecimento uma série de desvios que já acontecem desde a morte do meu pai. Eu não quero que determinada pessoas saibam o que será feito e sua equipe terá que trabalhar depois do expediente. Quero um pente fino em todos os setores.
_ Pelo visto, meu jovem, a coisa é seria, certo?
_ Desconfio que seja, Professor.
_ E quando você quer que a gente comece o trabalho?
_ Ontem. E os dois sorriram.
Os dois combinaram todos os detalhes para que a auditoria fosse feita e assim que Guilermo Junmior desligou, Solange avisou...
_ Gui, Dr. Francisco Porto já chegou. Posso mandar entrar?
Assim que o Advogado entrou, Guilermo o cumprimentou e disse...
_ As engrenagens começaram a entrar em funcionamento. Você trouxe todos os documentos e o material que o pessoal da auditoria possa usar. Dr. Porto?
_ Esta tudo nessa pasta, Guilermo.
O jovem Presidente pegou a pasta das mãos do homem e rapidamente deu uma analisada em algumas folhas. Por já ter algum entendimento sobre o que lia, Guilermo soube ter tomado a decisão mais acertada quando pediu a ajuda do Professor Colaço e sua equipe.
_ Dr. Porto o próximo passo é a redação de uma procuração que lhe dará certos poderes de decisão enquanto eu estiver fora. Nem preciso dizer que isso vai gerar um certo desconforto, só que confio no senhor. Papai nunca elegeu um Vice Presidente e sim Diretores num total de oito pessoas. O curioso é que cinco delas fazem parte da lista que o senhor me deu. E desses cinco, três eram de máxima confiança dele.
Meia hora após finalizar a reunião com o Dr. Porto e os dois dicarem conversando, Solange avisou...
_ Guilermo, o Dr. Cid Filho já chegou. Posso mandar entrar?
_ Me dá apenas cinco minutos e depois libera a porta pro homem. O homem acabou de chegar. Pronto pro embate?
_ Claro Guilermo. Manda o homem entrar.
O Advogado voltou a sentar no amplo sofá dentro da sala e Gui o acompanhou. A porta abriu e com certa surpresa Cid Filho olhou o outro homem que estava na sala da Presidência.
_ Pensei que a nossa reunião fosse particular, Dr Guilermo Junior.
Gui quis rir por conta do tratamento de Cid Filho.
_ Posso garantir Dr. Cid que será uma reunião totalmente particular r que não vai tomar muito do nosso tempo. Quieira sentar, por favor.
O homem sentou numa das cadeiras de apoio e esperou que alguém dissesse alguma coisa. Gui finalmente falou:
_ A partir de hoje o senhor não é mais o Diretor Jurídico do Grupo Cipriani. O Dr. Francisco Porto assumirá o seu lugar tão logo terminemos essa reunião.
_ Você não pode fazer isso, Guilermo Junior. Isso só pode ser uma brincadeira idiota.
_ O senhor esta vendo alguém sorrir? Posso e já fiz. O Dr. Porto acabou de aceitar meu convite e assumirá imediatamente suas funções.
_ Você esquece garoto que detenho 2% das ações do Grupo Cipriani?
_ E você esquece que pelo estatuto do Grupo isso não garante lugar cativo para nenhum dos Diretores do mesmo? Não torne isso mais constrangedor, por favor. Muitas coisas precisam mudar aqui dentro e vou procurar me cercar de pessoas em que possa confiar.
_ Seu maldito, Bicha. Quem você pensa que é pra agir desse jeito? Eu sou um homem honrado, sério e que sempre dei o meu suor e sangue por este Grupo. Seu pai me tinha como um irmão e é assim que você me trata?
_ Em nenhum momento lhe destratei, Dr. Cid Filho e tenho testemunha que fui ofendido verbalmente pelo senhor. Já disse, não torne as coisas mais difíceis. A partir de agora o senhor terá uma semana para desocupar o apartamento funcional em que mora com sua família e que pertence ao Grupo já que não faz mais parte da Diretoria. Quero as chaves dos carros e o Cartão Corporativo de todos os membros de sua família. O senhor não esta mais autorizado a exercer suas funções como nosso Advogado. Garanto que os dividendos continuarão a serem pagos mensalmente o que lhe darão ainda uma boa grana pra viver pois nosso Grupo é bem sólido e farei de tudo para que continue a sê-lo. Como prometi, a reunião acabou. Pegue seus pertences e assim que tiver de saída chame um táxi.
O homem estava perplexo e soube de imediato que Guilermo Junior estava seguro e totalmente amparado pelo estatuto do grupo.
_ Isso não terminou aqui, garoto.
_ Temo que o senhor esteja com razão ao falar isso. Agora saía pois suas coisas já foram tiradas da sua ex-sala e os seguranças o acompanharão até a saída.
Com a saída do ex-Advogado, os dois falaram mais alguns minutos e cada um continuou a sua rotina.
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Três dias depois outros dois Diretores, Francisco Gervásio Correia de Andrade ( Financeiro ) e Jose Pedro de Santana (Administrativo), também foram afastados de suas funções e tiveram que fazer o mesmo que Cid Filho fizera ao sair do Grupo. Guilermo analisou a lista dos cinco nomes e os dois últimos, o Senador Gilberto da Fonseca Prado, e Julieta dos Santos Ferreira em breve teriam uma conversa com ele. Essa conversa também seria particular.
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Quinze dias após a cirurgia e consequentemente a alta hospitalar, João Marco e Guilermo Amadeo C. Junior partiram para uma propriedade serrana que Gui também herdara e o amor entre os dois só aumentou...
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Meus queridos mais um capítulo dessa verdadeira saga que cada um me ajudou a escrever. O bom e velho agradecimento cheio de orgulho e emoção. Devo muito a cada um de vcs. Sigamos em frente. Beijo do Nando Mota.
