Ítalo me puxa e me beija. Por um instante eu me entreguei.
Nem sempre é fácil se desapegar das bagagens que temos. Lembranças nem sempre são boas. Muitas vezes carregamos pesos demais. Eu comparo minha vida a de um navio. Eu estava ancorado a um misto de sentimentos ruins. Talvez eu precisasse ir em direção ao oceano. Mas para isso eu preciso levantar minha âncora. Uma tarefa difícil de ser executada.
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Me soltei do beijo dele e o empurrei.
- Você não deveria ter feito isso! Você é um idiota! Espero que não se repita...
- Vai dizer que não gostou?
- Chega!
Dei as costas e fui para o meu quarto. Minha casa ficava por trás da pousada. Era uma casa grande e confortável.
Eu comecei a pensar naquele beijo, na forma inusitada como tudo aconteceu.
Entrei no computador para verificar alguns emails. Encontrei um que me chamou muita atenção. Era um email do Álvaro. No email, ele me dizia que estava fazendo muito sucesso em São Paulo, que queria muito me ver e que em breve eu teria uma grande surpresa.
Fui dormir com a cabeça bem cheia. No outro dia eu ainda teria minha última prova.
O dia amanheceu...
Como todos os dias, eu acordei às seis da manhã e fui ajudar meu pai nos serviços da pousada.
Preparamos o café dos hóspedes, fizemos arrumações no quarto. Pela manhã tínhamos mais funcionários, obviamente, pela quantidade de serviço diário.
Vi o Ítalo no café da manhã, mas procurei passar bem longe dele. Ele percebendo minha distância veio logo saber o motivo da mesma. Ele já sabia.
- É por conta do beijo esse gelo todo?
- Ninguém tá dando gelo aqui. Eu não quero me machucar, só isso. Então, você é hóspede e eu sou filho do dono da pousada. Nada mais que isso.
- Esqueceu que sou fotógrafo também?
- Nunca esquecerei que quase ficou com fotos minhas... Enfim, para não termos problemas maiores, seremos apenas conhecidos. - Estava indo em direção à cozinha com alguns pratos. - Preciso continuar trabalhando, me dá licença?
- Claro...
A Clara tinha organizado um passeio de barco para alguns hóspedes. Temos uma ilha deserta bem próxima da cidade. O lugar é lindo e têm umas trilhas e umas cachoeiras bem legais.
- Lucas, preciso de você no passeio de barco!
- Nem vem, gata. Eu preciso revisar o meus últimos assuntos para a prova. Além do mais, o passeio pode demorar... Não quero perder minha prova e ter que fazer segunda chamada.
- Tô perdida! Seu pai foi ao banco, o Bruno ocupado com os fornecedores e você com seus estudos. Nenhum dos funcionários vai poder me acompanhar.
- Deu ruim... O Ivo não vai com você? (O Ivo é um dos guias da região).
- Vai, mas eu acho que tem gente demais para nós dois.
Ítalo interrompe nossa conversa: - Que horas é o passeio?
- Daqui vinte minutos.
- Se eu já não ia antes, com ele é que não vou mesmo.
- O porquê disso tudo? Posso saber?
- Pergunta para esse tarado. - Deixei os dois lá.
A conversa deles deve ter durado uns três minutos. Estava ajudando na cozinha quando a Clarinha chegou.
- Ele não fez nada demais...
- Isso porque não foi com você. - Falei quase assasinando uma cebola.
- Isso! Desconta a raiva na pobre da cebola! O que você tem muito é frescura!
- Não enche, Clarinha!
- Tá doido para deitar e rolar com esse gato, mas fica se fazendo de difícil. Já vi você pegando três na mesma noite.
- Isso foi logo após o Álvaro partir. Você sabe muito bem da história.
- Sei que ele te trocou pelo dinheiro, prazer imediato, mas e daí? Vai deixar de viver por causa disso?
- Saiam da minha cozinha! - Gritou a Neide, uma das cozinheiras.
Eu e a Clara saímos da cozinha e demos de cara com o meu pai. Ele havia voltado do banco.
- Seu Alexandre, os hóspedes estão eufóricos com o passeio de barco. Todos os lugares estão ocupados, mas eu preciso de mais uma pessoa e o Lucas não quer ir.
- Vai com ela, filho.
- Eu preciso estudar, pai!
- Você estudou a semana toda, vai tirar uma boa nota.
- Vai trocar de roupa! - A Clara falou olhando para mim.
- Isso é que dá colocar amigo para trabalhar com você! - Estava indo pra casa.
- Estou ouvindo tudo, patrãozinho! - Percebi a ironia na voz dela.
Troquei de roupa, passei bastante protetor solar. Devo ter demorado uns quinze minutos.
Cheguei na recepção e todo mundo estava lá fora me esperando no ônibus. Quando ia saindo, uma moça alta, magra, com belas curvas se aproxima.
- Bom dia! Você trabalha aqui?
- Sim, sim. Posso ajudar?
- É que meu namorado se hospedou aqui... Não tenho certeza, mas acho que foi aqui.
- Qual o nome dele?
- Ítalo.
- Você é n-namorada dele? - Estava surpreso.
- Estamos brigados, mas quero me reconciliar com ele. Eu o amo muito.
Convidei ela pra entrar e deixei ela acomodada em um dos sofás da recepção. Meu pai logo chegaria pra recebê-la. Estava tão entretido, que nem percebi o Ítalo entrando.
- Só falta você, Lu... - O Ítalo fica surpreso quando vê ela no sofá. - Você aqui?
Existem momentos em que por mais que a gente tente se dar bem, parece que tudo coopera contra. É como se uma onda viesse e começasse a derrubar o início da construção do seu castelinho de areia. Acho que a felicidade plena requer muito esforço - se é que existe felicidade plena.
Continua...
Gente, mais um capítulo. Espero que estejam gostando. Optei por escrever capítulos curtos, porque assim consigo postar todos os dias. Minhas férias acabaram. É hora de voltar a rotina de estudos. Desculpem os erros. Amo vocês!
Meu email: thonny_noroes@hotmail.com