Cap.11
Nos dias que se seguiram, ele continuou fazendo a mesma coisa... Todo fim de turno, ele passava no Call Center e fazia eu aceitar a carona que ele queria dar.
- Não precisa Enzo, é um incômodo para você.
- Não é incômodo nenhum, é caminho para o meu apartamento...
- Aliás, você nunca disse aonde mora...
- No Leblon...
- Ah... Devia ter imaginado - falei. Ele seguiu-me até a porta do passageiro do carro dele.
- Entra... - ele me olhou com uma cara tão séria, e eu sabia que de forma alguma ele aceitaria um não. Então acabei entrando - você não percebe que eu amo dar carona para você ? - falou, entrando no banco do motorista.
- Ama ? Duvido.
- Eu juro ! - falou, chamando a minha atenção. Ele saiu com o carro, e enquanto isso eu o olhei. Eu não conseguia acreditar que aquele garoto era aquele que eu tanto maltratei quando adolescente.
MINUTOS MAIS TARDE
Continuavamos andando pelas ruas da Zona Sul quando ouvi a voz dele.
- Você está com fome ? - perguntou, dirigindo.
- Um pouco, porquê ?
- Gostaria de comer alguma coisa ?
- Vou comer quando chegar em casa...
- Não prefere experimentar os meus dotes culinários ?
- Melhor não, já está ficando tarde, creio que você prefere descansar.
- Bem... Eu vou cozinhar de qualquer forma quando chegar em casa...
- Tem certeza ?
- Sim... Vamos logo...
MINUTOS MAIS TARDE
O apartamento dele, como já era de se esperar, não era nenhum pouco humilde.
- Bem vindo a minha casa Daniel - Não nego, entrei meio que envergonhado naquele lugar. Lembrava muito tudo o que eu tive um dia e não mais tinha. E eu não podia negar. Me sentia culpado por estar o enganando, e ele estar sendo uma ótima pessoa para mim.
- Um casarão você quer dizer ! - ele riu.
- Deixe as suas coisas em qualquer lugar, não há problema - vi uma mesa num canto e lá coloquei a minha mochila - muita gente diz que o meu apartamento é luxuoso demais... Mas eu acho que posso usufruir desse luxo, afinal trabalho para isso.. - falou, virando para mim.
- Você tem razão... O que não pode acontecer é deixar esse luxo subir a cabeça, como eu deixei... De repente você perde tudo, nota que foi um idiota com muita gente e que não é fácil se redimir... - ele ficou me olhando durante alguns segundos.
- Você nunca me contou a sua história direito, não é ? - falou, sentando no sofá - Senta aqui também e me conta... Claro, se sentir-se a vontade - Achei que ele merecia ouvir a verdade sobre mim, e então fui até ele para conversar.
- Fui uma pessoa ruim - não toda a verdade, é claro - na verdade, nem sei se merecia realmente o que você fez por mim. Eu não nasci aqui no Rio, nasci no interior. Sempre tive tudo, dinheiro, carros, casas, empregados. Acho que isso me estragou um pouco, não me fez ver a vida de verdade. Porém, nem sempre eu fui assim. Lembro-me que era uma criança muito alegre e amorosa, porém minha família nunca me deu muita atenção. Por isso acabei crescendo meio solitário e estragado pelo dinheiro. Era o típico mauricinho, achava que tinha tudo porque tinha dinheiro, mas na verdade eu não tinha tudo. Sabia que não tinha amor, que as pessoas não me amavam realmente, me amavam pelo dinheiro. Talvez por isso me tornei rude com as pessoas, com qualquer pessoa que tentava demonstrar gentileza comigo. Mesmo depois que o tempo passou, nada mudou. Na adolescência, maltratei muita gente... Me formei, não me preocupei em ter uma profissão. Fiquei apenas curtindo a vida, como um verdadeiro vagabundo. Porém, de repente, tudo isso foi tirado de mim. Eu perdi aquilo que me sustentava, o dinheiro. A vida me deu uma rasteira. E apesar de tudo o que eu passei, hoje eu Entendo que eu mereci. Que nem mesmo a má criação que eu tive justifica eu ter humilhado muitas pessoas, maltratado outras, apenas para me sentir melhor quando na verdade, eu estava me deteriorando por dentro - durante aqueles momentos que eu contava a minha história, eu lagrimei. Sim, apesar de tudo o que eu fiz, eu tinha sentimentos... E doía dentro de mim não ter tido amores de verdade na minha vida - por isso não quero que tenha pena de mim. Eu não mereço...
- Não devia se martirizar tanto... Você disse para mim que seus pais nunca foram realmente presentes. Eles também tem culpa. Claro que isso não justifica tudo o que você já fez... Mas... Eu acredito que todo mundo merece uma segunda chance... E você pode sim, um dia pedir perdão as pessoas que maltratou, se realmente quiser - falou, se levantando e indo em direção a um outro cômodo - e... Eu não tenho pena de você Daniel... Apesar de tudo o que você fez... Eu quero muito que consiga se recuperar. Dessa vez com suas próprias pernas - me arrepiei naquele momento... Ele falou como se soubesse tudo o que eu tinha feito. Meu coração até acelerou. Mas não pode ser. Ele não lembrava de mim...
MINUTOS MAIS TARDE
Sentado naquele sala, meio que desvirtuado, fiquei mexendo no meu celular quando de repente um ótimo cheiro chamou a minha atenção. Me levantei e tomei a liberdade de ir até onde ele estava.
- Que cheiro bom... - ele estava cortando uma cebola na hora que cheguei e imediatamente me olhou.
- Estou assando um filé no forno...
- Pelo cheiro que está, você cozinha a muito tempo, não é ? - ele riu.
- Desde a adolescência... E como não tenho empregados além dos seguranças, continuo cozinhando.
- Entendo... E vai demorar ?
- Alguns minutos ainda. Mas não se preocupe... Se ficar muito tarde você pode dormir no quarto de hóspedes, aí não corre risco nenhum.
- Jura que vai deixar um estranho na sua casa ?
- Você não é estranho... Você é meu funcionário favorito...
- Eu... Mas eu mal começei...
- Mas pelo menos você é verdadeiro... Não mentiu em nenhum momento. A maioria dos meus funcionários contaram mil mentiras para serem contratados, mas você não... - aquilo foi como uma facada no meu peito. A maior prova de que eu havia feito errado mentindo para ele. E que quando ele descobrisse, perderia completamente a confiança em mim... Mais uma vez eu havia errado na minha vida. E com a mesma pessoa - o que foi ? Você fechou a cara de repente ?
- Não... É que eu lembrei de um erro que eu cometi... Com uma pessoa e estou com medo de ter errado de novo.
- Qual erro ?
- Bem... Quando eu era adolescente tinha raiva de um garoto. Não sei bem se era raiva. Acho mais que era inveja. Ele era tão bom... Mesmo não tendo tanto dinheiro, e conquistava as pessoas de forma fácil. Enquanto eu tinha que subornar elas para ter amigos... Talvez por isso tinha inveja dele... Passou muito tempo, eu o revi de novo e menti pra ele. Acho que ele vai me odiar mais ainda depois que descobrir... - ele continuou cortando os tomates.
- Engraçado... Eu olho para você e não consigo imaginar essas coisas... Você me parece ser tão bom... Só... Incompreendido e magoado...
- Você acha isso ?
- Eu acho... - fiquei pensando naquilo - mas acho também que... Se você mentiu para alguém, deve dizer logo a verdade...
- É... Você tem razão...
MINUTOS MAIS TARDE
Preparamos tudo na sala de jantar e logo estávamos preparados para comer.
- Espera ! - falou correndo para a Sala. Logo ele voltou - vamos tirar uma selfie ! - ele se aproximou de mim rapidamente e logo tiramos. Pude sentir o perfume dele, que para a minha alegria era muito bom - Olha, não ficou bonita ? - ele me mostrou o celular e eu vi. E pela primeira vez percebi...
- É, ficou - ... Ficamos lindos juntos
Continua
E aí ?? Gostaram ??? Comentem e votem por favor. Beijos :)