- Surpreso, amor?
A vida é cheia de surpresas. Algumas são tão desagradáveis que mais parecem um soco no estômago. Ser feliz requer mesmo muito esforço. Nem sempre ser otimista é suficiente.
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- Álvaro? Que diabos veio fazer aqui? - Falei indo até a janela do carro.
- Entra aí... Precisamos conversar.
- Prefiro ir andando mesmo. Não temos nada para conversar. - Dei as costas para o carro.
- Por favor, Lucas, entra!
- Que inferno! - Falei abrindo a porta e entrando.
- Sempre resmungão e estressado! - Falou passando a mão em meus cabelos.
- Me solta e fala logo!
- Vamos até o píer.
- Tudo bem... Espero que seja rápido...
- Com pressa? - Estava manobrando o carro.
- Só desconfortável com sua presença.
Ele me olhou e fomos para o píer. Nós costumávamos vir aqui no tempo do nosso namoro. O Álvaro era filho de um barqueiro que foi embora de Solar. A vergonha de ter um filho garoto de programa foi demais para ele. Eu carreguei o peso de ser trocado pelo dinheiro por muito tempo. Quando eu assumi minha sexualidade para o meu pai, foi um choque para ele - acho que nenhum pai espera por isso -, mas ele me respeitou e aceitou. Nós lutamos muito contra o preconceito dessa cidade, afinal, Solar é uma cidade pequena.
Num belo dia, o Álvaro que sempre foi musculoso, bonito, me revelou o desejo dele de se prostituir. Eu fiquei chocado com essa revelação. Acho que é muito difícil alguém que você ama chegar e dizer: "Amor, vou ser garoto de programa". Isso foi um baque. Eu tinha tantos planos para nós dois. Ele preferiu escolher outro caminho. Eu respeitei a decisão dele, mas nunca poderia aceitar. E ele foi embora. Fazia um ano que não o via.
Saímos do carro e eu me sentei no capô. O céu estava lindo, cheio de estrelas.
- Por que você voltou? - Falei olhando para o céu.
Ele sentou no capô.
- Vim para te buscar. Quero que você venha morar comigo em São Paulo.
- O quê? Que maluquice é essa? - Olhava nos olhos dele agora.
- É amor. Eu te amo, Lucas! Eu estou rico. Quer dizer, estou ficando com um coroa muito rico. Ele me deu muito dinheiro.
- Você está explorando um senhor, Álvaro? Não tem vergonha? E ainda por cima quer me levar como amante? Era melhor que nem tivesse vindo...
- Tenta me entender, caramba! Eu passei minha vida inteira nessa cidade, passando necessidade, dependendo das viagens do meu pai - viagens que nem sempre aconteciam. Tenta me entender! Eu sou jovem, bonito, se estou fazendo tudo isso é por você, por nós dois. - Ele pegou no meu rosto com as duas mãos.
- Você está fazendo isso por você! Só por você! - Falei me soltando. - Você deveria trabalhar honestamente, ser um homem de verdade.
- E passar o resto do meus dias como meu pai? Poupe-me. Eu tenho beleza, o que mais posso querer?
- Beleza que um dia vai acabar. Álvaro, me responde uma coisa: você é feliz? É realmente feliz?
- Só fui feliz com você... Mas quem liga pra felicidadr quando se tem dinheiro?
- Eu ligo. Eu não concordo com essa vida que você leva. Você vive exposto a tantos perigos, doenças sexualmente transmissíveis... Você ainda pode se dar mal, Álvaro.
- Eu me previno, amor. A única pessoa com quem transei sem proteção foi você. Lembra dos nossos momentos?
- É só o que me resta de você. São lembranças de um alguém que não existe mais. E quem te garante que um acidente não pode acontecer?
- Dane-se. Eu quero ter dinheiro para viajar, fazer compras. O tempo das vacas magras acabou.
- Vou embora. Você pega seu rumo e desaparece da minha vida de uma vez por todas.
- Você tem outro?
- Não. E mesmo se tivesse isso é assunto meu. Você fez sua escolha, procurou seu próprio caminho. Estamos em caminhos diferentes, em outros caminhos.
- Não é possível que tenha me esquecido!
- Não é possível que você tenha se transformado nessa pessoa!
- Me dá uma chance?
- Vai abandonar tudo por mim?
- Eu não posso!
- Então, vai viver a sua vida longe de mim.
Eu saí correndo. As lágrimas escorriam do meu rosto. Eu odiava essa escolha do Álvaro.
O Álvaro estava mais bonito, mais forte. No seu braço direito tinha uma tatuagem tribal que ficou um charme em sua pele branca. Ele estava em uma BMW. Devia estar depenando o senhor que estava o bancando. Eu nem sei definir o sentimento daquele momento.
Estava muito atordoado. Saí correndo e parecia em vão. O Álvaro estava me seguindo em seu carro. Quando fui atravessar a rua vejo um clarão. Não consegui sair do caminho, mas algo me jogou no chão. Quase fui atropelado. Um anjo apareceu e me salvou.
O destino pode ser cruel quando quer. Se antes eu duvidava, agora eu tenho certeza: ser feliz custa caro. Nem sei se vale a pena pagar um preço tão alto. Desistir de ser feliz, nesse momento, parece ser a decisão mais sensata a se tomar.
Continua...
Mais um capítulo pra vocês, amores. Desculpem ter demorado a postar. Me desculpo pelos erros. Estou sem tempo pra revisar. Obrigado por tudo!
Meu email: thonny_noroes@hotmail.com