Capítulo 2
- Tenho uma notícia para te dar, Senhor Müller! – Disse Lucy. Com certeza está me ligando apenas para me dizer o quão ridículo fui na entrevista e que seu chefe me mandou ir à merda.
Fiquei em silêncio enquanto ela dizia:
- O senhor foi selecionado para a vaga de estagiário!
- Obrigado Lucy, eu já sabia que o ogro ia me mandar pastar... – Espera aí!! – O-O quê?? C-Como assim fui aprovado?? Tem certeza disso Lucy??
- Sim, senhor. O senhor foi o único aprovado. Meus parabéns! – Caralho! Com essa eu não contava! Alguém me belisque! Essa mulher acabou de falar que fui o único aprovado?? Não é possível!
- O-Obrigado! – Respondi animado.
- O senhor começa amanhã ás 8hrs da manhã. Bem vindo à Stoch Enterprises Group! E mais importante: Não se atrase. – Tenho certeza que foi o ogro quem mandou ela me falar isso.
Desliguei o telefone e olhei atônito para Lana, que me olhava de volta em expectativa.
- Então? – Questionou.
- Fui selecionado!! – Gritei
- Caralho migooo! Tô tão feliz por você!!
- Obrigado Lana! Até agora a ficha ainda não caiu!
- Você não tinha dito que a entrevista foi horrível?
- E foi! O cara era um monstro! Deve ter me chamado porque eu era a última opção. – Afinal fui o último candidato a entrar então provavelmente ele deve ter escorraçado todos os outros antes de mim.
- Tá amigo, tanto eu quanto você sabemos que isso não é verdade. Se ele te chamou foi porque viu potencial em você ou... – Disse minha amiga sem completar o pensamento.
- Ou... ?? – Questionei.
- Ou ele te achou um gatinho! HAHAHAHA!
- HAHAHAHA! Amiga, não viaja!
- É sério! Se eu não soubesse que você não curte, eu já teria te dado uns pegas! – Minha melhor amiga é completamente maluca, isso é fato.
- Uma coisa é você outra é aquele deus grego, ele deve estar sempre com uma mulher diferente, tem a maior pinta de machão.
- Tá, e, por um acaso, você o viu com alguma mulher?
- Não, mas... – Fui interrompido antes de falar.
- Então você não sabe nada Gregory Snow! – Ok, ela tá assistindo muito Game Of Thrones. – Se não viu então não pode provar nada!
- Tá, e você o viu com algum homem? – Bingo!
- Não, mas há a possibilidade!
- Ok, vamos mudar de assunto. – Sei que quando Lana cisma com um assunto ela não para. - Tá afim de ir à praia depois do almoço? Tá o maior solão lá fora.
- Claro, mas desta vez sou eu quem vai te dar um caldo! – Oh querida vai sonhando!
- Feito!
***
Após passar toda à tarde de domingo na praia com a Lana (e ter levado uns dois bons caldos dela), cheguei em casa ás 7hrs da noite e fui arrumar a mochila para o meu primeiro dia de estágio. Dessa vez não daria motivo para aquele brutamonte queimar meu filme. Programei o alarme no celular e fui tomar banho.
Para a minha sorte, ou azar, a luz acaba bem no meio do banho e uma água gelada atinge minhas costas.
- AAAAAAHHHHHH! – Gritei em pânico. Sempre odiei água gelada, como algumas pessoas conseguem tomar banho assim?
Saí do box e peguei meu celular, liguei a lanterna, pus uma cueca e caí com tudo na cama. Eu estava exausto, porque diabos praias são tão cansativas?
***
As 7h30mins já estou na porta da SEG, agora quero ver esse babaca me encher.
- Bom dia Lucy! – Cumprimentei a secretária com um sorriso no rosto.
- Bom dia Senhor Müller!
- Não precisa ser tão formal Lucy. Pode me chamar de Greg.
- Ok Greg, pode esperar em frente a sala do senhor Stoch, ele vai explicar o que você tem que fazer.
- Ué, não era você quem deveria me explicar? – Perguntei estranhando.
- Sim, mas o senhor Stoch pediu para te explicar pessoalmente, para que nenhum erro seja cometido.
- Tudo bem. – Fui em direção ás cadeiras que ficavam perto do balcão da entrada e me sentei.
As 8hrs em ponto chega o senhor Stoch em seu terno azul marinho e... caramba além de lindo também é muito cheiroso. Seu perfume invade minhas narinas como uma espécie de afrodisíaco, que me deixa totalmente excitado. Calma Greg! Calma! Não queremos uma ereção quando formos falar com o chefe.
- Bom dia senhor Müller. – Disse seco.
-Bom dia senhor Stoch. Pode me chamar de Greg se preferir. – Falei tentando ser simpático.
- Te chamarei de senhor Müller e espero que me chame de senhor Stoch. Não gosto que pessoas fora do meu círculo de intimidade me chamem pelo primeiro nome. – Falou enquanto entrava em sua sala e batia a porta com força.
Mas que grosseiro! Porque tentei ser simpático com esse grande babaca? Fala sério Greg, essa você mereceu! Culpa sua por tentar ser amigável.
Cinco minutos depois de sua entrada triunfal ele aparece à porta de sua sala:
- Senhor Müller, entre logo para que eu explique suas funções. – Quanta arrogância.
Assenti com a cabeça e entrei na sala. Sentei em uma das duas cadeiras que ficavam a frente de sua mesa e esperei até que se sentasse em sua cadeira no outro lado da mesa.
Ele se sentou e me olhou com aqueles olhos penetrantes:
- Senhor Müller preste atenção no que irei te falar, pois não repetirei. – G-R-O-S-S-E-I-R-O. – A sua principal função e também mais importante aqui, é fazer o que eu mandar. Além de atender aos telefonemas e tirar algumas cópias na xerocadora.
Cada palavra que sai da boca desse cara me irrita em um nível que não consigo entender. Ele é tão arrogante!
- Tudo bem senhor Stoch. – Respondi em complacência.
Enquanto ele me passava uma lista detalhada de coisas a fazer, uma linda ruiva e de idade aparentemente igual à minha, entra com uma bandeja cheia de copos da Starbucks. Ela se dirige ao meu lado e diz:
- Bom dia! Aceita um café? – Pergunta educadamente.
- Não, obrigado. – Respondo. Sempre detestei café, não consigo entender o fascínio das pessoas por essa mistura amarga. Desde pequeno sempre preferi leite achocolatado. Sim é bebida de criancinha, eu sei, mas eu gosto.
Após minha recusa a menina se dirige ao lado do senhor Stoch para entregar-lhe seu café. Mas, inesperadamente, tropeça no assoalho de madeira, derrubando violentamente a bandeja sobe a mesa.
Naquele momento parece que a terra parou de girar. Olhei para a garota e depois para o olhar de ódio do Stoch.
- Desculpe senhor Stoch! – Falou em pânico, enquanto tentava salvar alguns dos papéis encharcados pelo café em cima da mesa.
- Qual é o seu nome garota? – Perguntou o senhor Stoch com um excesso de calma que achei estranho.
- A-Alice, senhor.- Respondeu a garota vermelha de vergonha.
- Alice, quero que pegue suas coisas e se mande da minha empresa! Você está demitida! Suma da minha vista, sua imbecil! – A garota pôs as mãos no rosto aos prantos e saiu da sala. Puta merda, coitada dela.
- Calma senhor Stoch! Não acha que exagerou um pouco tratando a garota desse jeito? Ela não fez por mal. – Tentei acalmar a situação.
- Não tolero erros na minha empresa senhor Müller. Essa garota é paga apenas para servir cafezinho e mesmo assim não consegue fazer isso com competência. Se é complacente com os erros dos outros então não precisa voltar amanhã. – Bem feito Greg! Porque foi se intrometer? Agora receba essa na cara!
- Desculpe senhor Stoch! – Tá, isso já está ficando repetitivo.
- Agora, retomando de onde paramos, quero que o senhor imprima e encaderne para mim os documentos que lhe enviarei por e-mail, já que a sua amiguinha detonou os que estavam sob a minha mesa. Quero que estejam prontos antes do almoço. Será que consegue executar essa simples tarefa senhor Müller? – Esse filho da puta continua a falar comigo como se eu fosse uma criancinha que pinta fora da margem! Ah será um prazer fazê-lo engolir suas palavras!
- É claro que consigo senhor Stoch. – Falei destilando ironia.
Saí de sua sala e fui diretamente á minha mesa, imprimi os documentos e fui correndo para a mecanografia da empresa. Assim que entrei avistei um garoto negro e bem alto, mas sua aparência era de um adolescente, chutei que ele deveria ter uns 19 anos.
- Com licença, eu sou o estagiário do senhor Stoch, Gregory.
- Oi Gregory, sou o Cary, mais conhecido como o garoto da xerox HAHAHA. Precisa de algo? – Já gostei dele de cara.
- Preciso que encaderne esses documentos pra mim Cary. E preciso que seja o mais rápido possível.
- Ok, vou ver o que posso fazer, pode por ali em cima da pilha de papéis escrito “lista de espera”. Assim que eu encadernar todos os outros documentos eu levo os seus.
- O que? Cary eu preciso desses documentos pra tipo agora. Não tem nada que eu possa fazer pra você encadernar isso logo? Te dou vintão, se me quebrar esse galho! – Sim, eu vou subornar o estagiário da Xerox. Soa como desespero? Sim! Se eu me importo? Nem um pouco.
- HAHAHAHA! Você não vai conseguir me comprar com dinheiro cara. – Disse Cary com um tom brincalhão.
- Qual é cara! Por favor?! – Falei implorando. Cadê a minha dignidade?
- Tá bem, eu faço isso por você com uma condição.
- E qual é? – Perguntei curioso.
- Que você me pague um almoço hoje, que tal?
- Hhmmm. – Pensei. – Tá legal, fechado!
Graças ao Cary consegui os documentos prontos em vinte minutos. Mas vi que não estavam assinados, já que é assim, não vou esperar pela ordem daquele calhorda. Levei os documentos até a sala da Deanna, a sócia do senhor Stoch, pedi que ela assinasse e fui ao encontro do brutamonte, feliz por ter feito tudo em apenas meia hora.
- Os documentos estão aí. – Disse jogando com certa brutalidade os papéis sobre a mesa. Me virei e fui saindo quando...
- Senhor Müller, preciso que leve-os para que a Deanna autentique, afinal achou que sua função era só imprimir uns papéis? - Perguntou petulante.
- Senhor Stoch, talvez precise ir ao oftalmologista, os documentos já estão assinados. - Respondi audacioso.
Assisti enquanto ele me olhava com um olhar de descrença e conferia folha por folha do documento. Quando me olhou novamente dei um sorrisinho perverso e fui saindo da sala, ao fechar a porta também pude ver a sombra de um sorriso em seu lindo rosto, quase imperceptível. Com certeza foi algum delírio meu.
***
O resto da manhã ocorreu tranquilamente. Ao meio dia saí do escritório com Cary para o almoço. Ele tinha um certo
dom para comédia, me fez rir tanto que cuspi toda a minha Coca-Cola sobre a mesa. As pessoas me olhavam como se falassem mentalmente: “Esse com certeza é pirado”. Como se eu ligasse para o que pensam.
Agora sei por que Cary preferiu o almoço ao dinheiro, aquele garoto era um triturador humano, como alguém consegue comer tanto? Só o prato dele me deu um prejuízo de noventa reais. Se bem que é um preço baixo para fazer o maldito do meu chefe calar a boca HAHAHA.
Quando voltei para o escritório vi uma lista de mais ou menos vinte e três outras tarefas a fazer sobre minha mesa. Então você quer jogar não é Stoch? Manda a ver!
***
Ao fim da tarde o senhor Stoch pediu para que eu esperasse antes de ir embora. O que diabos ele quer comigo? Como se já não bastasse ter me dado problemas o dia inteiro.
Bati em sua porta e esperei até que dissesse:
- Entre.
Entrei e parei em pé na frente de sua mesa.
- Pode se sentar. – Disse, ou melhor, ordenou.
- Não, obrigado senhor Stoch. – Desafiei.
Foi aí que ele se levantou e chegou ao meu lado. Tão perto que sentia sua respiração colidir contra minha face. Olhou-me nos olhos. Depois para minha boca.
- Quero parabeniza-lo pelo seu primeiro dia senhor Müller, devo admitir que o senhor me surpreendeu. – O-O que?
- Eu... não esperava por isso. – Disse meio sem jeito.
- Foi o primeiro estagiário que conseguiu aguentar a barra pesada no primeiro dia. – Falou novamente encarando meus lábios.
Deu um passo a frente e ficou ainda mais perto de mim. Podia sentir o cheiro do seu perfume importado. Fiquei excitado na hora.
Eu o encarei. Olho no olho. Foi aí que percebi que ele estava se inclinando, parecia que ia me beijar. Não, isso parece errado, eu o odeio! Porque estou com tanta vontade de retribuir o gesto?
- T-Tá na minha hora! Acho melhor eu ir indo, não quero perder o ônibus. – Disse-lhe afobado.
- Se quiser posso te dar uma carona. – Como assim? Cadê o filho da puta que me perturbou o dia inteiro?
- N-Não é necessário senhor Stoch. A-Até amanhã! – Pude ver aquela sombra de um sorriso novamente em seu semblante. Mas dessa vez eu sei! Não era nenhum delírio.
Continua...
Olá galerinha, aqui está o segundo capítulo.
TheQueenShaniqua que bom que gostou, espero que goste dos próximos capítulos tbm, as coisas logo começarão a esquentar hehe.