Meu amigos, mais uma parte. E mais coisas novas. Nossa! Já é uma da manhã. Acabei só agora. Vocês são lindos, e eu escrevi pra vocês. Pois bem, acho que o Victor é um bom garoto, não senti a história pender para o lado da maldade. Como lucas deu um voto a ele, daremos nós também. Kkkkkkkkk.
Email para qualquer coisa: lucasrique10@hotmail.com
Ah, e se gostaram do beijo na bunda do conto anterior, só pra variar, nesse conto mando um beijo na orelha direita. Daqueles bem sequinhos e demorados. E aqueles que gostarem, aunciem-se.
@@@ Conto anterior
— Não tem problema, se quiser eu venho. E só pra você não ficar preocupado, venho o mais escondido possível. Vejo se tem gente na rua e tudo. Se quiser a gente marca até a hora. Aí você já abre o portão sem precisar que eu bata ou chame e faça barulho. Pode ser? Amanhã, seis da tarde?
Balancei a cabeça positivamente. Victor se levantou, falou um "xau aí" bem suave e saiu. Eu o acompanhei até ao portão. Antes de ir, entretanto, olhou o movimento da rua. Não tinha ninguém. Só aí foi embora de fato.
...
Cheguei da escola um pouco mais cedo e, sem demora, já corri para o portão. Ainda faltavam 15 minutos para a hora marcada. Era só esperar.
Uma parte de mim acreditava que Victor não viria. Que seria só mais uma graça que eu iria sofrer. Já uma outra parte tinha bastante fé, que, na verdade, estava mais para um anseio sem tamanho. Era como uma força que desejava muito que Victor comparecesse. Era quase natural, como se a minha própria alma precisasse daquela presença.
Quando o Victor chegou, estava em cima da hora. Abri o portão depressa e pedi que o garoto entrasse na mesma rapidez. Quando já estava do lado de dentro e eu o vi, a parte de mim que acreditava subjugou a outra na mesma hora. Eu achei bom sem deixar transparecer.
— Onde você quer ficar? — Perguntei.
— É melhor no quarto, ne? Mas você que sabe.
Olhei para ele mas não disse nada, fui entrando e o vi me seguir. E então depois de passado a sala, o banheiro e o quarto da minha irmã, finalmente chegamos ao meu. Entrei, e em seguida o Victor entrou. Depois fechei a porta e dei uma volta na chave. Sentei-me na cama. E o Victor também.
Eu estava meio confuso sobre o que aconteceria ali. Pensei que passaríamos o tempo só conversando, porque, afinal, a conversa do dia anterior me havia ajudado e muito. Achei até que podia ser como uma consulta dessas que vemos nos filmes, em que a pessoa se deita num sofá enquanto o profissional fica lhe fazendo perguntas. Pensei mesmo que seria assim. Entretanto, a conversa nunca começava, e eu achei foi muito estranho achei quando vi o Victor retirar do bolso um caderninho de capa dura e estampa xadrez. Estava envolvido numa embalagem transparente e brilhante. Era novo, percebi logo.
— Isto é pra você, Lucas — Victor estendeu-me o caderno.
Eu o tomei.
— Pra que isso? — Disse eu ja rasgando a embalagem.
— Pra você escrever. Pra fazer seu diário. Você já tem um diário?
— Não.
— Ufa, então não vai ser desperdiçado. Agora você tem um.
Folheei o caderno.
— Mas o que eu vou escrever?
Fiz uma cara de pensativo. Victor a viu e deu um sorriso. Esperou-me terminá-la e só então disse:
— Tudo de bom e ruim que acontecer com você. Todos os seus sentimentos. Na verdade, muitas pessoas escrevem como se conversassem mesmo com o diário; alguns dão até nome a ele. O que quero dizer é que você tem que manter uma relação fiel a esse caderno. Tipo, hoje aconteceu isso e isso de bom, então contarei a meu diário. Hoje aconteceu isso de ruim, contarei do mesmo jeito. É uma forma muito boa de desabafar.
Claro que eu já havia escutado algo sobre esse tal de diário, mas nunca passou pela minha cabeça ter um. E nem sobre o que nele se escreve. Só sei que não é bom ler o diário dos outros.
— Entndi. Você tem um? — Perguntei.
— Claro que tenho. Na verdade, tenho dois, um já todo escrito e um que comecei há pouco tempo. É muito bom.
A curiosidade do conteúdo dos diários do Victor foi inevitável. Pela minha cabeça passou milhões de coisas. Dentre elas o tal episódio que no dia anterior me havia contado, sobre gostar do seu amigo até ele lhe bater. Nessa escrita suas palavras devam ter sido bem fortes e severas em relação ao covarde. E em relação a ele próprio, talvez apenas lamentos e lágrimas pesadas. Lembrei de mim mesmo.
— Acho que já sei por onde vou começar.
Victor me entregou uma expressão de compadecimento, sentou-se mais perto de mim e disse:
— Eu também comecei por um momento mal. Na verdade, só iniciei o primeiro diário por isso. E me fez bem. Aí pensei em trazer um pra você. Esse daí estava na fila para ser o meu terceiro, mas achei que você iria precisar.
— Obrigado.
Levantei-me depressa e fui à mochila, jogada aos pés da cama, atrás do Victor. Abri o estojo e tomei a lapiseira. Voltei e me sentei onde eu estava. Peguei o caderninho e, na primeira página branca, escrevi "Diário". Fui para a segunda e pousei a lapiseira na primeira linha. Qual será o título? Pensei. E também pensei se esse tipo de escrita carecia mesmo de título. Decidi que sim.
Mas qual seria? Já sei. Na primeira linha da segunda folha escrevi "O vizinho", porque estava disposto a contar ao meu diário esse momento ruim ao qual passei.
Victor me olhava fitado. E eu até achei que ele havia lido o que eu escrevi. Então resolvi contar logo, sem qualquer receio, até porque ele já sabia sobre o acontecido.
— Vou escrever sobre o Pedro. Tenho que começar com ele.
Victor balançou a cabeça positivamente.
— Também acho justo — Falou — E como já disse, vai ser uma boa forma de você desabafar.
Então sorrimos inocentemente.
— Quer saber? Já estou me sentindo bem melhor. Você me ajudou muito, Victor. Obrigado mesmo.
— Não foi nada. É sempre bom ajudar quem precisa. Além do mais somos amigos. E é isso que os amigos fazem.
Concordei com a cabeça.
— Mas tem uma coisa — Continuou Victor —, quero que você saia um pouco. No começo pode ser difícil, mas ir um pouco à rua também é sempre bom.
Nessa hora fechei um pouco o cenho.
— Por enquanto acho que não vai dar. Ver aqueles meninos de novo acho muito difícil. Eles vão continuar rindo e tudo vai começar de novo. Principalmente o Pedro. Ele vai caçoar ainda mais.
— E você acha que vai ser fácil encarar o mundo agora? Digo...— A pausa me assustou um pouco. Victor ficou sem jeito de continuar, eu percebi. — Digo...Você sabe...
E de fato eu começava a saber a quê Victor se referia.
— Por eu ser gay? — Disse logo.
— Me desculpe, Lucas, não quero insinuar nada. Mas, olha, comigo começou assim também — Fez uma pausa. — Eu vou te contar uma história e se ela se parecer um pouco com a sua, tente não forçar que seja só coincidência. Ok? Assim, tudo foi muito rápido e sem pensar, eu simplesmente comecei a gostar da voz do meu colega de classe. E o gosto era até inconsciente. Quando eu percebia, já estava meio que admirando aquele tom de voz. Parece bobo, mas é verdade. Era tanto que quando eu voltava para casa, forçava na memória a lembrança da voz do meu colega. Mas não para por aí. Depois de um tempo, fui percebendo que estar do lado dele também me fazia sentir bem. E então foi só aumentando e aumentando meus sentimentos por ele. Até que um dia eu o pressionei contra a parece numa festa junina da escola e lhe beijei à força. Eu gostei muito, muito mesmo, mas meu colega não. Sorte foi que eu não tomei um soco.
Eu refleti.
— Não sei bem ao certo. Sabe o que é? Com o Pedro foi diferente, acho que foi um desejo muito estranho, foi mais curiosidade. Quando eu...— Agora eu que fiquei sem jeito — Quando eu...Peguei...Eu gostei daquilo. Pensando bem, acho que quem não é gay é você. A sua história foi tão mais bonita que a minha. A sua teve mais sentimentos. A minha não, eu logo quis pegar no pau do Pedro e bater punheta pra ele — Quando percebi o que eu tinha dito, arregalei os olhos grandemente. Droga.
Victor riu, e pareceu não se importar muito com o que escutou.
— Acontece que nossos desejos são bem difíceis de ser decifrados, Lucas. E o fato de você já querer começar... pegando, não significa que você é mais gay ou menos gay. Na verdade, o que conta é aquela força interna. É a voz que fica dentro de nós. Outra coisa que me marcou foi uma batalha muito grande que aconteceu dentro de mim. Uma parte que queria que eu negasse meus desejos e outra parte dizendo para eu não reprimí-los — Nessa hora encontrei a relação. Lembrei da minha própria batalha. — No fim eu deixei que meus sentimentos ficassem livres.
— Então você é mesmo gay? Seus pais sabem?
— Gay eu sou, eu sinto, mas meus pais não sabem. Eu fico com medo de contar e eles surtarem. A mãe é sempre mais fácil de aceitar, porque mãe é mãe, mas pai já é outra história. Eu penso em falar só quando eu sair de casa. Quando eu tiver minha própria vida, entende?
Balancei a cabeça.
— Mas fora esse da festa junina você já beijou outros garotos?
A resposta veio veloz.
— Sim, muitos — Na mesma hora Victor engoliu em seco. Depois completou: — Tem curiosidade?
Então fizemos um silêncio tremendo quando de repente minha mãe bateu na porta:
— Lucas, tem alguém aí com você?
Admirei ela não saber. Mas achei bom.
— Tem não, mãe. To só fazendo tarefa, aí eu leio em voz alta.
— Ok, então — Disse ela. E eu ouvi seus passos se distanciarem da porta.
Foi quando Victor repetiu sua última pergunta:
— Você tem curiosidade sobre beijo?
Eu também engoli em seco. E disse:
— Um pouco, mas só queria saber como era, sabe?
— Sei.
E então caiu sobre nós aquele silêncio que anuncia algo. Eu já sabia o que era, mas estava com receio de imaginar, ao contrário do Victor, que não teve receio algum.
— Posso te dar um beijo, então?
Eu fiquei mais uma vez confuso, mas desta vez com menos desejo daquilo. No fundo eu até queria, mas não era um desejo tão forte como foi com o Pedro. Ainda assim resolvi-me. E disse sim ao Victor.
Então ele se aproximou mais de mim, e foi chegando cada vez mais perto. Quando estava com o rosto colado no meu, perguntou, bem baixinho:
— Você quer mesmo?
Voltei a dizer sim.
E então o beijo chegou. Boca na boca. Mas não foi um beijo tão orquestrado, como de cinema. Foi simples e singelo; acreditei que foi de proprósito, para eu não me assustar. Ainda assim, a primeira impressão foi estranha. A pele dos lábios do Victor estava fria e quente ao mesmo tempo. E o movimento, que era quase nenhum, fazia nossos rostos se moverem bem pouco. Eu não via nada, estava de olhos fechados, mas sentia tudo. E, no fundo, até gostei.