Continuação...
Fazia uma semana que Valéria não me procurava. Ela devia estar com uma nova amante... E eu estava feliz com a ideia do convento, mesmo sabendo que só me formaria em três anos... Mas mesmo assim me enchia de esperanças de voltar a ser mesma garota pacata que sempre fora.
Parece que agora eu e Valéria finalmente nos desligaríamos.
Eu fiquei por lá, na casa de Júlia, almocei e tomei banho (Sim, eu tinha roupas na casa dela e na de Giovana). A tarde iria a missa, então vesti algo confortável e que cobria meu corpo.
Quando adentrei a igreja, senti como se eu estivesse sendo purificada... Fazia tempo que eu não ia na igreja, desde que conheci Valéria... Ela não era um empecilho pra isso... Só que eu me sentia fraca de mais pra fazer qualquer coisa que não fosse chorar ou dormir com Giovana, na tentativa inútil de magoá-la.
Cheguei cedo, quase meia hora antes da missa começar e por isso caminhei um pouco e me ajoelhei no altar, fechando os olhos e entrelaçando os dedos, pedi a incoparável imagem de Jesus, que me desse a chance de ser feliz novamente e que tirasse Valéria de meu caminho e agradeci por Giovana, por nossa relação não ter acabado em cinzas.
-O que vc tem menina? -Senti uma mão tocando meu ombro, enquanto de meus olhos, lágrimas corriam.
Virei e vi o padre Pedro, um senhor bem velhinho de uns oitenta e tantos anos. Eu enxuguei as lágrimas e falei com ele:
-Eu não to bem padre... Faz tempo que não venho a igreja e o senhor não sabe quanto mal isso me fez... -Novas lágrimas rolaram de meus olhos.
-Vc quer se confessar, filha? -Disse o padre me olhando com pena.
-Sim... -Falei enxugando as lágrimas novamente.
-Venha. -Falou o padre me levando até onde estava o confessário. Ele entrou e então perguntou:
-O que aconteceu minha filha?
-Padre eu acho que... Eu pequei... Pequei de mais... -Falei, eu estava virando em lágrimas novamente.
-Que pecado vc cometeu minha filha?
-Eu amei uma mulher, padre...
-Ta... Mas qual o pecado nisso? -Perguntou o padre em tom de confidente.
-Como assim padre? -Falei sem entender. -Isso é pecado, não é?
-Não, minha filha. Pecado é vc nunca conhecer o amor. Pecado é ter um coração tão mesquinha a ponto de jamais conseguir sentir amor pelo próximo ou viver uma grande paixão. Pecado é ter preconceito e não conseguir aceitar quando se está apaixonado. Minha filha, se vc amou seja uma mulher, ou um homem e soube adimitir, isso não é pecado. Vc precisa saber que se ainda a ama, tem que imacular esse amor...
-Como assim padre? -Perguntei confusa.
-Vc tem que casar com a sua amada, Helena. -Respondeu o padre. -Tem que oficializar este sentimento diante de Deus.
-Mas padre... Aí está o problema... Essa mulher, ela... -Desabei a chorar e passei a falar entrecortado. -Não quer... Saber de mim... Ela me usou... E agora eu... A amo... Mais eu não posso... Me dar ao luxo... De amá-la.
-Mas minha filha, se vc sente que ela ainda gosta de vc, deves lutar por esse amor...
-Não padre... Hoje eu vim falar com o senhor, por que quero entrar pro convento daqui a três anos, quando me formar... Enquanto isso, pretendo ajudar no que poder, pra acostumar...
-Helena, por que isso minha filha. Vc não vai curar um amor assim... Vc...-Eu o interrompi.
-Olha padre, eu vim te pedir ajuda, mas se o senhor vai me dizer que tenho que correr atrás da Valéria eu vou embora, vou em outra igreja, falo com outro padre e... -Agora eu fui interrompida pelo padre.
-Tudo bem, Helena. Se é isso o que vc quer, eu posso aceitar sua proposta e te indicar no convento da cidade mais próxima, já que não temos um aqui.
-Obrigada padre... -Falei sorrindo.
-Não me agradeça. Não ainda. Tenho condições pra isso. -Disse sério.
-Que condições, padre?
-Bom, vc me disse que se forma daqui a três anos e só então quer entrar pro convento, certo?
-Sim, padre, termino a faculdade daqui três anos sim, mas ainda não entendi.
-Bom, é simples. A minha condição é a seguinte: Se por algum instante dentro desses três anos vc perceber que não é isso o que vc quer, seja por amar a essa mulher ou a qualquer outra pessoa, seja por uma insatisfação pessoal, vc irá deixar de lado a ideia de entrar pro convento.
-Mas padre, eu... -Tentei contestar mais fui interrompida por ele.
-Mas nada. É isso ou nada. Vc não pode entrar pra um convento amando a alguém que não seja Jesus. E eu não quero que vc envelheça no convento e depois perceba que não era isso o que vc queria.
-Tudo bem padre. Eu concordo. -Falei um pouco mais feliz.
-Bom, mas não é só isso. -Falou o padre me deixando curiosa. -Pra que vc se purifique de quaisquer pecados, reze cinco pai nossos, e três Ave Marias.
-Tudo bem. -Falei, indo para o altar novamente. O padre saiu, me deixando sozinha.
Eu passei a rezar segurando em meu colar onde havia um pingente de crussifixo. Assim que terminei, passei a agradecer a Deus pelas novas oportunidades que eu teria... Logo, a igreja começou a encher, as pessoas começaram a chegar e eu fui sentar em um dos bancos.
Durante toda a missa eu prestei banstante atenção em tudo o que o padre dizia. Tudo o que ele falava parecia se encaixar na minha vida. Eu chorei várias vezes e tive a certeza de que precisava mudar.
Quando a missa terminou, eu esperei a igreja esvasiar um pouco e depois saí. Me sentia leve.
Estava indo pra casa em uma rua quase deserta. Cantarolando a canção do cordeiro de Deus, quando uma moto para do meu lado...
Continua...
Vamos lá leitoras! Saiam da moita e comentem... Beijos e até logo.
