Algo estranho aconteceu com a proximidade do Julgamento onde D. Maria Alice dos Santos seria a ré no processo acusatório por conta da morte de seu Ex-marido, José Carlos Torres, João Marco se torna-se um jovem retraído e em nada lembrava o garoto de alguns meses atrás. Com certeza a Promotoria lhe apontaria como pivô para o acontecimento e ele temia que o seu Nego, Guilermo Junior se decepcionasse profundamente com ele.
Naquele dia, João Marco acordou cedo, olhou o amado que dormia totalmente largado na cama do casal, seguiu para o banheiro da suíte e após a sua higiene pessoal resolveu preparar o café da manhã para os dois.
Assim que terminou de colocar a mesa e sobre a mesma tudo o que os dois gostavam de comer, retornou ao quarto e encontrou o amado já enrolado na toalha branca que ele havia deixado no cabide e seu olhar prendeu o olhar do seu Nego...
_ Bom dia, nego. Voltei aqui só pra te chamar pro café.
_ Bom dia, meu lindo. Por que você não me chamou logo cedo? Hoje lá na Empresa será um dia bem cheio e movimentado.
João Marco nada disse e pra ocupar seus pensamentos tratou de arrumar a cama. Guilermo estranhou o silêncio do seu amado e perguntou...
_ O que tá pegando, amor? Há pelo menos dois dias que venho te achando meio que disperso... Longe... Posso pelo menos saber o que esta acontecendo?
_ Quero falar uma coisa com você e tenho medo de como isso pode afetar a nossa vida...
Guilermo largou a toalha no chão e vestiu a cueca que seu amado havia separado pra ele e logo foi ao seu encontro...
_ Pode falar, amor... E levantou o queixo do amado até que o olhar dos dois voltaram a se encontrar.
_ Tem como você não ir no julgamento, hoje? Quer dizer... Eu serei uma das testemunhas principais da Defesa e não gostaria que você ouvisse certas coisas sobre o meu relacionamento com o...
_ Com o quem? O Cabo Torres? O cara por quem um dia você foi apaixonado e depois passou a sofrer? E isso, João Marco?
_ Eu quero esquecer certas coisas e com certeza muitas outras virão à tona...
_ Isso é sério, João? Depois de tudo o que a gente passou e infelizmente você viveu... Você acha justo me tirar da sua vida, agora?
_ Eu não estou te tirando da minha vida. Eu só tenho ...
_ Você tá me tirando da sua vida sim, cara. Eu nunca pensei que você fosse me fazer um pedido desses... Sabe o que dá pra pensar?
João Marco apenas o olhava já arrependido da bobagem que começara...
_ Que você só me quer por perto nos bons momentos. Talvez pelo fato de ainda ser um garoto, você não me ache com maturidade suficiente pra saber entender tudo o que puder vir à tona naquela Sala de Juri. Você me envolve na tua vida, me deixa dependente de você e do seu amor e de uma hora pra outra, quando a coisa fica mais séria, eu tenho que ser levado para longe para que não possa me magoar... É isso?
_ Não, Nego...
_ Então me deixa fazer parte do teu mundo, amor... Porque eu te amo, porra. Eu não consigo mais ficar de fora ou ser jogado de lado. Eu tenho um dever a cumprir em relação a você... Me deixa te proteger e te amar... Só não me manda mais sair de perto porque isso seria o mesmo que te ver em perigo e me tornar um impotente. Depois de tudo o que eu soube que você passava nas mãos daquele filho da puta do Torres, se ele não tivesse morrido eu mesmo o mataria com as próprias mãos...
João Marco agarrou o corpo do amado e chorou em seu peito. Seus soluços e lágrimas liberaram toda a dor de uma provável rejeição e angústia que ele tinha vivido nos últimos dias e quando conseguiu olhar seu Nego nos olhos novamente...
_ Nunca mais vou querer você longe de mim... Eu te amo muito, Nego.
Guilermo Junior permaneceu abraçado ao amado por mais alguns minutos e logo após se arrumar para o trabalho foi com o seu querido e amado João tomar o excelente café que ele sabia fazer.
_ Aproveita pra descansar um pouco mais e quando eu vier mais tarde iremos juntos para o Fórum, ok?
_ Tudo bem, Nego. Você me perdoa pela bobagem que quase eu fiz lá no quarto?
_ E você acha que eu consigo ficar com raiva de você, amor? Os dois se beijaram com paixão e com muito custo Guilermo saiu do apartamento onde também morava com João Marco de vez em quando.
*
*
*
*
*
Quando o Excelentíssimo Juiz da Segunda Vara Criminal Alfredo Nobre de Castro Pires deu início ao julgamento, A Ré do processo cruzou as mãos sobre o colo.
_ Que a Ré Maria Alice dos Santos fique de pé... Falou o Juiz.
Ela então levantou-se prontamente e olhou para o representante do Ministério Público que passou a ler o motivo pelo qual ela estava sendo julgada a partir daquele momento. Seu olhar era assustado e cheio de vergonha. Quando o homem terminou a leitura inicial D. Maria Alice voltou a sentar e teve início o desfile das testemunhas de acusação.
O Promotor bateu na tecla da vingança como motivo principal do crime e zombou da Acusada quando disse que a maior das razões para o assassinato do Policial Militar foi o fato da Ré ter sido trocada por um outro homem que além de mais jovem era extremamente bonito. Nesse momento a sala veio abaixo fazendo com que o Juiz Castro Pires batesse o martelo várias vezes e pedisse silêncio na Sala. Após a retomada dos trabalhos, o primeiro dia do julgamento foi encerrado.
_ Os trabalhos serão retomados amanhã às 08:30 h. O martelo voltou a soar e rapidamente a sala foi esvaziada.
Assim que Maria Alice se viu sozinha com o amado Francisco Porto, seu Advogado, chorou abraçada ao homem enquanto dizia...
_ Todos eles mentiram lá dentro. E aquele Promotor foi o pior deles. Não fiz o que fiz por nenhum daqueles motivos que ele tanto fez questão de repetir...
_ Calma, meu amor... Você deve se manter firme. Você verá que amanhã as coisas serão devidamente esclarecidas. Não quero ver você assim. E enquanto o motorista os levava rapidamente para longe do Fórum, ele foi aos poucos conseguindo acalmar a mulher que amava.
*
*
*
*
*
Na carceragem da Polícia Federal, os três acusados Cid Filho, Ex-Senador Prado e Julieta Ferreira foram chamados a uma sala nas dependências do prédio da Superintendência e notificados pelo Delegado Luiz Roberto que os Advogados que os representavam se retiraram do caso...
_ Como? O senhor esta nos dizendo que nossos Advogados não mais nos representarão? Perguntou o Ex-Senador.
_ Isso mesmo, Sr. Gilberto.
_ E eles falaram pelo menos a razão para esta insanidade? Perguntou Julieta Ferreira.
_ O valor que haviam combinado com os Senhores para o pagamento de seus honorários não foi depositado em suas contas.
_ Desgraçados... Até meu irmão? falou Cid Filho.
Os três foram avisados que seriam representados por Advogados indicados pelo Estado.
*
*
*
*
*
Pontualmente os trabalhos foram retomados no horário determinado pelo Juiz Castro Pires e após o desfile das testemunhas de defesa que traçaram um perfil sofredor e nulo da ré, o Dr. Francisco Porto chamou o jovem João Marco para depor.
Após o ritual do juramento ele sentou no banco das testemunhas e falou pelas duas horas seguintes. Sua vida
na companhia do Cabo Torres foi então revelada diante de todos e o medo, a vergonha e as constantes ameaças que sofria foram minunciosamente relatadas por ele numa voz clara e firme.
Quando a testemunha foi passada para o Promotor Público, o mesmo se mostrou cruel e devassou a intimidade do casal formado pelo jovem João Marco e o Policial Militar Torres. Em nenhum momento a vista de João Marco baixou e a cada pergunta que lhe era feita, a resposta parecia agradar muito ao defensor da Ré, Maria Alice.
Quando o jovem João Paulo saiu da tribuna, o Juiz fez um recesso para o almoço e todos teriam que retornar pontualmente às 147:00 h.
Guilermo fez questão de levar todos para a sua Cobertura para um almoço leve e descontraído. SS mandou preparar pratos leves e uma sobremesa divina com cerejas e chocolates. O clima naquela casa era de total confiança e assim que Francisco Porto e seus dois assistentes terminaram a pequena reunião no escritório que Guilermo cedeu para tal proposito, todos voltaram ao Fórum Clóvis Beviláqua para a retomada do julgamento.
*
*
*
*
*
_ A Defesa chama a Senhora Maria Alice Santos.
D. Maria Alice Santos levantou tranquila e com passos curtos e firmes andou até a tribuna e prestou o juramento. Quando a mesma começou a falar, nenhum detalhe da vida miserável que levou junto com os três filhos ao lado do homem que um dia jurara lhe amar, respeitar e proteger foi esquecido. Era evidente o mal estar dentro daquela sala e ela com sua voz calma, pausada e firme não teve vergonha nenhuma de dizer o quanto que sua vida era sofrida. Quando o Dr. Francisco Porto terminou o seu interrogatório, a Promotoria fez uma única pergunta a ré...
_ Não esqueça que a senhora esta sob juramento e nos diga... Se não foi um ato de vingança ou o fato de ter sido trocada por um jovem, qual foi então a razão para que a senhora matasse a sangue frio seu marido e pai dos seus três filhos?
Ela apenas sustentou o olhar do homem que a via como uma cruel assassina e disse com a voz firme e controlada...
_ Doutor, eu apenas cansei de sofrer. Eu não pensei em mim de forma egoísta ou mesmo como uma assassina que é o que sou na sua visão... Eu protegi meus filhos e mesmo sem saber, eu protegi aquele rapaz e tantos outros que o José Carlos Torres fez sofrer.
O juri saiu da sala e após uma deliberação de apenas uma hora e meia o primeiro jurado foi interpelado pelo Juiz Castro Pires...
_ O juri chegou a algum veredito?
_ Sim Meritíssimo. O Juiz tomou conhecimento do resultado e pediu que a Ré se levantasse...
Maria Alice dos Santos, Dr. Francisco Porto e seus Assistentes levantaram junto com ela e o Primeiro Jurado leu o resultado das deliberações...
_ A Ré Maria Alice dos Santos é considerada INOCENTE da acusação pelo crime de morte do seu Ex-Companheiro José Carlos Torres.
*
*
*
*
*
Mabel Correia de Andrade e Marcelo Prado jamais casaram.
Cid Neto rompeu com sua familiares, amigos e tratou de cuidar da vida ao longo de sua jornada. Teve êxito com a ajuda da mãe em muitos negócios que passou a fazer e tornou-se um grande Comerciante Varejista. Nunca mais se aproximou do Ex-Amigo Guilermo Junior.
O Ex-Senador Prado foi condenado por todos os crimes que foi acusado e sua punição foi a máxima que a Lei do País permitia aplicar. Seu quase nulo patrimônio foi totalmente confiscado para algumas indenizações que ele teria que pagar. Ficou devendo muito...
Cid Filho perdeu praticamente tudo. Tentou uma tal de Delação Premiada. Não foi feito nenhum acordo pois alguns crimes de morte faziam parte de suas acusações. Ele também foi condenado a maior punição permitida pela Lei do País e também pagou algumas indenizações. Sua maior tristeza foi ter que aceitar o afastamento do filho que tanto amava.
Julieta Ferreira foi condenada a mais de cem anos em penas somadas. Seu patrimônio pessoal foi praticamente zerado depois que algumas famílias da Região Norte cujas filhas e filhos foram aliciados para a prostituição entraram com pedidos de indenização e ganharam as causas. Quando ela tentou fugir dois anos depois de ser presa juntamente com outras detentas num motim que ela ajudou a provocar, foi baleada e ficou paraplégica. Nunca mais soube do filho. Nunca mais voltou a ser a mulher que um dia havia sido.
*
*
*
*
*
Nos meses que se seguiram D. Maria Alice e o Dr. Porto casaram na mesma Cobertura em que moravam com os três filhos, numa festa íntima organizada por Patrícia Arraes e sua equipe. Essa festa inclusive foi a última a que João Marco tomou parte como funcionário da Empresa da amiga. Os dois ganharam de presente um cruzeiro pelas Ilhas Gregas e os filhos do casal foram juntos.
Margarida e Raimundo Nonato Lacerda saíram finalmente do subúrbio e foram morar após uma grande reforma no apartamento que o filho comprara e havia sido imensamente feliz quando lá morou.
SS jamais saiu de perto do querido Guilermo Junior e seu trabalho nunca teve fim...
*
*
*
*
*
Quatro anos haviam passado...
Os dois estavam se arrumando no amplo closet quando duas leves batidas na porta foram ouvidas e logo em seguida outras duas batidas mais fortes. Guilermo Junior sorriu para o jovem e lindo Marido João Marco e foi até o quarto. Duas cabecinhas apareceram no vão da porta e ele perguntou:
_ Quem dos dois bateu mais forte? E se agachou para sentir o abraço dos filhos.
Os garotos correram para o pai e após lhe beijar ambas as faces deram a resposta...
_ Foi o Gui Neto, papai. Falou um.
_ Como você mente mal J M Junior. Disse o outro. Foi ele pai.
Os dois haviam sido adotados há dois anos atrás e tinham sete e oito anos. Eram irmãos.
João Marco saiu do closet e os filhos correram pra ele...
_ Pai, eu juro que quem bateu mais forte na porta foi ele... Ambos falam ao mesmo tempo e cada um apontou o dedo para o outro também ao mesmo tempo.
Gui e João Marco se olharam e num leve sinal de cabeça já combinado...
_ Como não foi nenhum dos dois anjinhos o responsável pelas fortes batidas na porta, disse Gui Junior, eu e seu pai resolvemos não mais viajar para a casa da serra neste final de semana.
Os dois garotos eram alucinados pelo lugar e assim que entenderam que não sairiam de casa por estarem de castigo resolveram se entregar...
_ Papai... Gui Neto falou para Guilermo Junior... Na verdade fomos nós dois. Eu bati primeiro e o JM bateu depois.
_ Isso é verdade JM? Perguntou João Marco olhando para o filho.
- É sim, papai. Foi sem querer. A gente só queria ver vocês antes de ir dormir. A vovó mandou a gente vir aqui pra dar um beijo e parabenizar vocês pela formatura na Faculdade. E se a gente não tivesse vindo aqui, a gente ia ficar com saudade de vocês...
Isso foi o suficiente para que os dois filhos do casal fossem paparicados por muito tempo antes deles saírem para o baile de formatura onde João Marco Lacerda Cipriani estava se formando em Letras pela UFC e Guilermo Amadeo Cipriani Junior também concluíra seu curso de Administração de Empresas.
Sempre houve amor na jornada da Família Cipriani e a vida lhes mostrou caminhos simplesmente maravilhosos através dos anos. Guilermo jamais saiu do lado do seu amado João Marco e este sempre quis seu Nego por perto pois era ótimo deixá-lo fazer parte do seu mundo que também era dele.
FIM
xzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxzxz...
Meus queridos...
Aqui estamos novamente em mais um final. Não tem como esquecer ou ignorar a relação de camaradagem existente entre nós.
Cada um de nós é um elo por demais importante nessa jornada. Somos opostos que se atraem. Somos o complemento e o suporte um do outro. Mesmo distantes fazemos questão de nos aproximar e tudo fica mais completo quando todos se aproximam ao mesmo tempo...
Meu querido Povo do Lado Esquerdo quero apenas que saibam do meu sincero e emocionado agradecimento e que mesmo distante de cada um de vocês os sinto bem mais próximos a mim do que possam imaginar.
Deixo esse pequeno poema anônimo que um dia me mandaram e que agora fará parte das nossas páginas...
" Pode ser que um dia deixemos de nos falar...
Mas, enquanto houver amizade,
Faremos as pazes de novo.
Pode ser que um dia o tempo passe...
Mas, se a amizade permanecer,
Um de outro se há-de lembrar.
Pode ser que um dia nos afastemos...
Mas, se formos amigos de verdade,
A amizade nos reaproximará.
Pode ser que um dia não mais existamos...
Mas, se ainda sobrar amizade,
Nasceremos de novo, um para o outro.
Pode ser que um dia tudo acabe...
Mas, com a amizade construiremos tudo novamente,
Cada vez de forma diferente.
Sendo único e inesquecível cada momento
Que juntos viveremos e nos lembraremos para sempre ".
Um beijo em seus corações... Nando Mota.