Alan
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Esta foi terceira e última tentativa de suicídio, se não deu certo é porque Deus tem algo muito bom pra mim, saindo desse hospital vou procurar ajuda e não lutarei mais contra minha natureza, nasci homem, serei homem e terei uma linda família. Mas não foi bem isso que aconteceu. Naqueles dias, a cidade andava agitada pois uma nova casa noturna havia inaugurado e nossa família arrendou o bar daquele local, mais um dos vários empreendimentos que mamãe acrescentava para ficar ainda mais rica.
Cheguei em casa ainda com as malas do hospital, os empregados me olhavam com cara de espanto, Janaina a mais atrevida disse que minha cara estava bem melhor e que estava feliz em me ver bem outra vez, agradeci as palavras e segui ao meu quarto. Quase não o reconheci, toda a mobília fora trocada, a decoração estava horrível, cor verde em todo lugar, minha cama toda azul, uma breguice sem fim, mas nem liguei, joguei a mala na poltrona e deitei na cama, dormindo o dia todo e apenas acordado por mamãe me chamando para jantar.
Este dia não seria fácil, em todos os meus aniversários, eu passava com alguém, mesmo escondido de minha família que não sabiam que eu fui gay um dia, e este ano eu estava completamente só, e além disso, completava 1 ano que Junior havia falecido, no mesmo dia do meu aniversário e isso doía muito, Junior faleceu viajando só para passar a noite do meu aniversário comigo, um acidente de carro terrível que destruiu não só seu carro mas a sua vida e a minha felicidade.
Chegando na sala de jantar, família toda reunida, todos com cara de bosta, mamãe tentando animar a noite e eu sem dar uma palavra, apenas soltava alguns sorrisos, mas os esforços de mamãe não foram suficientes, meus irmãos, cheios de testosterona começaram a me perguntar cade as gatinhas, que eu não apresentava minhas namoradas, que eu era um vacilão, a ovelha rosa da família (eles falavam sem saber que eu fui gay) entre outras provocações até que minha irmã, colérica como só ela, discutiu com ambos, tentando me defender, me colocou mais para baixo tipo "seus imbecis, ele acabou de voltar da recuperação de uma tentativa de suicídio, a vida dele já está um tanto ruim, vocês não sabem as merdas que passam na cabeça dele.... blá blá blá....." e quando procuro por mamãe, ela está sentada em seu trono (cadeira central da sala de estar) chorando disfarçadamente, mas foi o suficiente para ver que ela se decepcionava com os monstros que ela criou (claro, eu era um destes), me levantei, fui até ela, dei um longo beijo em sua testa, o que fez o choro dela ficar mais forte e subi para o meu quarto, sem dar uma palavra, sem comer nada, sem beber nada, deitei em minha cama novamente e dormi, incansáveis 30 dias. Meu psicologo se esforçava para me animar, confesso que era um bello ragazzo mas nem mesmo sua aparente e exuberante beleza era o suficiente para me animar.
Mamãe chegou em meu quarto e pediu que eu me vestisse, totalmente de preto, que iriamos sair e eu estranhei por ser 22hrs, mas atendi ao seu pedido. Depois de algumas curvas, o motorista estacionou em frente a um local muito iluminado, com uma grande fila e muita música rolando, chamado Diamonds e pensei em ser um cassino clandestino e aguardava a confissão de mamãe de algo errado, mas ela me surpreendeu, disse que este seria o meu local de trabalho, o gerente tinha pedido demissão e ela precisava alguém de confiança, e antes mesmo que eu recusasse, Nara, a proprietária do local chegou até o carro, e mamãe disse algo a ela que me surpreendeu "Nara, este é meu filho Alan. Ele me representará e tomará as decisões necessárias", então Nara apenas me pegou pela mão e me apresentou a casa. Diamonds é um club gay, o melhor da região, e por descuido do destino, vi alguns amigos de minha mãe, que nunca imaginei que eram homossexuais.
O local era agradável, boa música, pessoas bonitas, gays discretos, alguns mais depravados transando em publico, alguns mais velhos tentando xavecar a carne nova do pedaço, mas tudo muito bem organizado, e só Nara de mulher lugar, ela andava muito a vontade, como se aquilo que acontecia ali era absolutamente normal, como se ela tinha convivido com isso a vida toda, e os homens ali presente não se incomodavam com a presença dela, na verdade, ficavam excitados quando percebiam que ela estava prestando atenção neles, afinal a noite de Nárnia, onde as mulheres eram convidadas a ficar como Voyeur, já acontecera.
Passado os dias, acabei me apaixonando por aquele lugar, mas minha idéia de ser hétero e ter uma família não saia da minha cabeça. Resisti a várias investidas de vários caras que frequentavam aquele lugar. Outros achavam que eu era pobre e deixavam gorjetas gordas pra mim, e eu dava para os garçons. comecei a frequentar lugares héteros em meus dias de folga, tentava me aproximar das meninas, mas me via sempre cercado por homens, e as mulheres fugiam, mas eu não ia desistir do que eu queria.
Aqueles dias estavam longos, minha busca pela heterossexualidade estava me cansando, em meses, nenhuma mulher se interessou em me namorar, ao contrário dos meus irmãos que tinham filas de espera. Dia após dia, recusava as propostas, tinham homens bonitos, homens feios, homens gostosos, homens nada gostosos, homens de todos os tipos, assim é Diamonds, um lugar para todos.
Um belo dia, Diamonds inaugurou dois espaços no mesmo dia, Diamonds GOLD, uma área VIP que o cliente tem o direito de consumir o quanto quiser, já incluso no pagamento da sua pulseira, e o espaço Sex In Love, um espaço com vários itens eróticos, de todos os tipos, jeitos, tamanhos e cores, coisas que eu nunca havia visto e a noite prometia, caprichei na roupa preta e fui convicto a resistir mais um dia aos encantos dos machos daquele lugar.
Noite tranquila, nada demais acontecendo, até que chegou o primeiro cliente GOLD, que depois eu descobrira que era o fornecedor dos produtos eróticos, convidado por Nara para a inauguração e era notável que o cara me engolia com os olhos, mas fiquei em dúvida quando ele olhava para Nara, ele aparentava perder o ar perto dela, e achei que era coisa da minha cabeça que ele estava atraído por mim, fiz questão de atendê-lo e o provoquei, nem sei porque fiz isso, pois sou tímido até e outra, eu sou hétero, não quero mais homens em minha vida! Ele me levou até a área dos produtos eróticos, e eu fui morrendo de vergonha e ele me perguntava se eu conhecia isso ou aquilo e eu não conhecia nada, parecia um menininho virgem e logo o deixei por lá. Passados alguns minutos, ele me chama em sua mesa e mostra vários produtos eróticos e eis que ele diz "escolhe um destes produtos para usarmos hoje a noite juntos..." e eu sem reação fui me afastando aos poucos, andando para trás, sem palavras e muito sem graça, retornei ao meu humilde balcão e fiquei só observando.
A noite passou tranquila, tirando uma desequilibrada que tive ao servir o cara e acabei esbarrando nele, esfregando meu pau na cara dele, mas ele parece que nem se importou, se mostrou indiferente e isso me tranquilizou, mas logo meu jogo de sedução acabou, pois Nara apresentou ao cara um outro cara, muito boa pinta, loiro, olhos azuis, trinta e poucos anos, e vi que eu perdi totalmente a chance de fisgar aquele cara.... Opa, peraí, eu queria fisgar aquele cara, como assim???
Passou quase a noite toda de conversa com o cara e eu ardendo de ódio por dentro, o cara até a poucas horas queria usar produtos eróticos comigo e já estava com outro cara, ele era um safado, melhor a fazer era focar de novo em me manter hétero! Poucos minutos depois, o cara me chama em sua mesa de novo, e agradece o bom atendimento, e eu sem graça, agradeci o elogio e me virei, nisso ele me puxou pelo ombro e eu meio desengonçado acabei caindo praticamente no colo dele e fiquei face a face, recebendo em seguida um longo e delicioso beijo, meu corpo tremia como nunca tremeu com ninguém, sua boca invadia a minha, nossas línguas cruzavam em um beijo molhado, havia uma sincronia rara em nosso beijo, de primeira nossa boca se encaixou certinho e nisso já sentia suas mãos passeando pelas minhas costas, me causando arrepios enormes, aquele perfume entrou em minhas narinas e ficou em minha cabeça e durante esse beijo eu já poderia imaginar nós dois longe dali, curtindo um ao outro, até que nosso beijo foi interrompido por Nara, que me humilhou diante dele e me fez voltar ao meu lugar, mas pude ouvir os argumentos dele me defendendo, o que durou segundos, pois logo ele saiu com o loiro e tinha certeza que nunca mais o veria, a não ser pelo papel que coloquei em seu bolso com meu numero de celular, morrendo de vontade de receber uma mensagem dele.
Minha noite terminara incrível, como era bom sentir o gosto de um bom beijo barbado, mas me preocupou um pouco, pois Nara ameaçou contar para minha mãe o que acontecera ali e me repreendeu, dizendo que eu poderia investir em qualquer homem daquele lugar, menos no fornecedor.