Louco Amor TP2 CP3 - Uns vem, outros vão (parte 2)

Um conto erótico de Lipe
Categoria: Homossexual
Contém 4327 palavras
Data: 30/03/2016 20:32:27
Última revisão: 31/03/2016 10:19:13

Oi gente bonita. Como estão? Espero que bem.

Antes de dá inicio a história eu queria esclarecer o motivo de eu ter mudado o subtítulo desse capítulo. É bem simples. O primeiro motivo é que ficaria muito longo e sei que muita gente não gosta rsrs e outra que eu demoraria a postar, então para o bem de todos, fiz cortes necessários, bem como sobre a revelação do assunto contido no envelope entregue por Teresa a Lucas no capítulo 34 (se n me engano rsrs) que ficará para o próximo capítulo.

Como quase todos expressaram o mesmo sentimento de tristeza eu digo a vocês que... Eu não sei responder rsrs, mas realmente é algo triste, até pensei bastante antes de colocar esse lado da história – morte de Teresa – porque sabia que seria algo bem comovente, mas foi necessário para as outras partes da história terem lógica.

Vi(c)tor: Não, não é, mas eu me envolvo tanto com a história que é como se fosse rsrs.

Enfim, boa leitura. Espero que gostem.

LOUCO AMOR TP2 CP3 – Uns vem outros vão (parte 2)

_ Acho que nem você mesmo sabe o que pensar ou sentir.

Ele tinha razão. Eu não sabia. Boa parte de mim também havia ido embora com ela.

Ouvi um barulho de porta se abrindo e então me virei pra trás para poder ver quem era. Era Caio, com toda aquela loucura nem havia me dado conta que só meu pai havia vindo atrás de mim. Ele saiu meio cabisbaixo e me abraçou assim que se aproximou de mim.

_ Também precisava me despedi dela.

Nós recompomos, bebemos um pouco de água e seguimos por outro corredor, dessa vez para ver um dos maiores motivos de alegria de Caio nesses últimos meses. Seu filho.

***

Paramos em frente a uma janela grande e retangular de vidro de onde era possível ver algumas crianças prematuras dentro de incubadoras aparentemente lutando pela vida. Dá visão que nós tínhamos não dava pra saber ao certo qual era o filho de Caio, poderia ser qualquer um.

_ Será que é aquele amor. – Caio perguntou apontando para um menino de pele clara.

_ Acho que não, está muito gordinho pra um bebê prematuro. Acho que logo, logo aquele deve sair daqui.

_ Hum. E aquele do outro lado? É moreninho. – ele disse voltando a apontar. Olhei novamente para a criança que ele indicava e minha impressão não foi das melhores. O bebê estava na mesma situação do anterior, a sensação que tive era que ele não estava cogitando a hipótese de seu filho – prematuro – ser um daqueles magrinhos, coberto por fios, cuja vida parecia se perder a cada suspiro. Ele estava sendo muito otimista e isso me preocupou. Estava com medo da sua reação caso suas expectativas não fossem correspondidas.

Olhei meio que de lado para meu pai e notei que pela sua expressão facial, ele estava pensando o mesmo que eu enquanto apenas nos observava.

Enfim, uma das duas médicas ou enfermeiras – não sei ao certo – que estavam lá dentro nós viu e veio até nós.

_ Temos autorização pra ver uma das crianças dessa uti. – meu pai disse entregando o mesmo papel de autorização que havia entregado ao médico legista.

_ Bem, só pode entrar um de cada vez. – a médica disse após analisar o papel. – Um vai ter que ficar no lado de fora.

_ Eles dois vão. – disse meu pai apontando para nós.

_ Então venham comigo. – pediu a médica de pele morena, gorducha, e mais ou menos da minha altura (1,70).

Sem contestar, Caio pegou na minha mão e a seguimos, deixando meu pai para trás que resolveu se sentar em uma cadeira enquanto esperava. Entramos em uma salinha ao lado da UTI pediátrica onde ela nós instruiu a vestir uma espécie de roupão transparente, a colocar uma toca e a lavar bem as mãos. No final com tudo pronto, entramos na UTI por uma porta que já dava direto na mesma, não precisando assim utilizar novamente o corredor. Passamos por algumas fileiras de incubadoras, algumas vazias e outras com crianças de diferentes tipos de raças, condições físicas e de saúde até chegar ao final da sala onde uma criança repousava.

A médica parou, virou para nós e disse: “É esse o guerreiro”.

Eu e Caio nós entreolhamos rapidamente e então voltamos a observar aquele ser tão pequenino e frágil enrolado em alguns fios que iam até o nariz, peito e dedos. Era moreninho, não tinha quase nenhum cabelo e mesmo tão novo já mostrava a quem tinha puxado.

_ São o quê dele? – perguntou a médica que ainda estava ao nosso lado.

_ Eu sou o pai. – Caio respondeu em êxtase sem tirar os olhos do garoto. Sua expressão era neutra e eu não sabia o que aquilo significava.

_ Tão novinho. – ela comentou. – pode toca-lo se quiser.

_ Sério? Posso mesmo? – ele perguntou pela primeira vez tirando os olhos do garoto.

_ Claro. – a médica confirmou sorrindo.

Naquele momento vi um sorriso bobo aparecer no rosto dele. Ele se inclinou um pouco para frente e levou a mão direita até uma das aberturas circulares da incubadora, mas a deteve no ar.

_ Não vou machuca-lo? – ele perguntou receoso ao ver mais de perto o quanto aquela criança era frágil.

_ Não precisa se preocupar. Aproveite.

Assim ele o fez. Perdeu o medo e com dedo indicador tocou no braço da criança que pareceu responder ao sinal com um pequeno movimento que pela primeira vez evidenciava está vivo. O sorriso dele naquele momento foi ainda maior, ele se emocionou e deixou uma lágrima cair.

_ Olha só amor. – ele disse relanceando o olhar marejado, porém feliz em cima de mim.

Apoiei minha mão em seu ombro e o observei mais de perto fazendo agora movimento circulares na barriga da criança.

_ Parece contigo amor. – digo.

_ Acha mesmo? – perguntou orgulhoso.

_ Sim, eu acho. – disse sentindo a alegria que ele sentia aos poucos me contagiar.

_ Papai tá aqui meu anjo, é papai meu amor. – ele disse fazendo de alguma forma a criança se reconfortar e sorrir. Foi sutil, mas evidente. – Olha, ele sorriu. – ele disse sem saber pra quem direcionava o olhar alegre, se pra mim ou pra médica em pé ao seu lado. Estava totalmente atônito com o gesto que a criança acabara de fazer.

_ Parece que ele gostou de você. – digo.

_ Quê toca nele também? – perguntou, me animando com a ideia. – ele pode toca-lo também? – perguntou para medica.

_ Claro.

Ele então tirou a mão da abertura circular e fez um gesto com a cabeça para que eu fosse em frente. Assim que toquei naquele ser tão indefeso me emocionei quase que instantemente. Parecia algo bobo ou sem sentido, mas me fez lembrar de Teresa. Sua pele era macia e delicada, quase tão fina como uma folha de papel.

_ É adorável. – comentei. – Não podemos pega-lo no braço?

_ Infelizmente ainda não. – disse a médica.

– Pra quê servem esses fios? Ele ainda corre risco de vida? – Caio perguntou de forma preocupada.

_ Olha, ele nasceu prematuro e como todo prematuro ele precisa de muitos cuidados, a incubadora é uma delas. Ela vai auxilia-lo a entrar no peso e nas condições ideias para a sobrevivência dele no mundo exterior. Quanto ao risco de vida... Sim, infelizmente ele ainda corre esse risco.

O clima de felicidade acabou ali mesmo com aquela notícia.

_ Ele vai passar por alguma cirurgia? – perguntei.

_ Provavelmente sim. Iremos fazer alguns exames com ele ainda hoje para poder saber.

_ Vai ficar tudo bem. – disse ao nota-lo triste. Ele em nada se parecia com o Caio de alguns segundos atrás que sorria feito um bobo (no bom sentido).

_ O tempo da visita acabou gente. – anunciou a médica olhando o relógio de pulso.

_ Se despede dele. – disse para Caio que apenas balançou a cabeça. Tirei minha mão e logo em seguida ele voltou a colocar a dele que repousou sobre a pequena mãozinha da criança, ele também se agachou e falou cara a cara com ele como se pudesse ser entendido.

_ Papai vai ter que ir agora meu anjo, mas prometo que vou voltar todos os dias pra te ver... – Ele fez uma pausa e então levou a mão livre até o rosto para abafar o choro que se seguiu, rapidamente me agachei ao seu lado e fiz carinho em seu ombro. – Eu te amo muito, muito mesmo meu anjo. Vou sempre te amar, em breve vou te pegar no colo e te levar pra casa tá bom? Vou cuidar de você.

Se ele tivesse falado mais uma palavra, ao invés de um, estaríamos todos nós, inclusive a médica, chorando. Ele estava sendo muito fofo.

Com muito custo ele se recompôs e se encaminhou para a salinha para poder tirar o roupão transparente e a toca. Agradeci a médica e fui logo atrás dele que perdido em pensamentos resolveu ficar em silêncio, ele parecia abatido e preocupado com o que ouviu da médica. Ao saímos avistamos meu pai sentado no mesmo lugar conversando com uma garota de cabelos ruivos que trajava um jaleco. Assim que me aproximei percebi que era Laura.

_ Olha eles aí. – disse meu pai se levantando juntamente com Laura que assim que me viu, me abraçou forte.

_ Fiquei sabendo do que aconteceu. Sinto muito. Estávamos desenvolvendo uma amizade também. Nem acreditei quando seu pai me falou.

_ Nem eu acreditei. – fui breve com as palavras na esperança em que ela mudasse de assunto.

_ Mas a vida é assim mesmo. Ela deve está em lugar bom, o gesto dela foi de infinita bondade.

Estava até mais tranquilo em relação a morte de minha amiga se comparado com alguns minutos antes, mas só foi Laura tocar naquele assunto que a dor me atingiu novamente com ainda mais intensidade. Baixei a cabeça e respirei fundo na tentativa de engolir o choro. Caio segurou em minha mão em sinal de apoio assim que percebeu que eu não estava bem.

_ Ah, desculpa Lucas, não...

_ Está tudo bem, não precisa se desculpar. – disse voltando a levantar a cabeça. – É que está tudo muito recente, qualquer coisa vai me fazer lembrar dela, principalmente esse gesto nobre dela, vai ser inevitável por alguns dias.

_ É, eu entendo.

_ Trabalha aqui Laura? – Caio perguntou para que não se instaurasse um silêncio chato.

_ Estou estagiando na verdade. – respondeu. – Vai se papai né. Deve está feliz.

_ Um pouco. – disse dando um sorriso tímido.

_ Um pouco? – repeti olhando pra ele. – Tinha que ver ele lá dentro Laura, só faltou saltar de alegria.

Laura e meu pai sorriram pra ele, que retribuiu – ficando vermelho de vergonha – se não fosse moreno.

_ Bem, Laura, tens falado com Caique? – perguntei.

_ Sim – ela disse sorrindo. – ele me disse que Fagner já tem um doador. Não é demais?

_ Pelo menos isso né. – digo.

_ Pois é.

Conversamos mais um pouco até que ela teve que ir trabalhar e Caio, meu pai e eu fomos até o quarto onde dona Anna estava e fizemos uma visita, ela estava dopada, já havia acordado, mais não tinha se dado muito bem com o fato da filha ter morrido e teve que ser contida novamente pelos enfermeiros.

O que eu sentia nem poderia ser comparado com ao que ela sentia. Mãe é mãe, ninguém no mundo vai sentir mais do que ela.

_ Vamos lá pra casa? – Caio me convidou com o queixo em cima de minha cabeça quando estávamos no carro do meu pai.

Abraçado meio que de lado com ele estava eu perdido em meus pensamentos, sem muito animo e com muita dor, não física, mas emocional. Eu iria desabar novamente a qualquer minuto e quanto menos gente presenciasse a cena, seria ótimo. O convite não poderia vir em hora melhor.

_ Ok.

Mais alguns quarteirões à frente e meu pai já estacionava em frente ao prédio de Caio. Preocupado fez várias perguntas a mim pra se certificar que eu ficaria bem, longe dos seus olhos. Só quando a confiança dele atingiu 1% foi quando pudemos sair do carro.

Andamos lado a lado, mas em silêncio, cada um perdido nos mesmos medos e pensamentos. Passamos por André, – porteiro – o cumprimentamos e seguimos até o elevador onde pude me recostar no corrimão frio próximo às paredes, ele me abraçou de lado e eu deitei minha cabeça em seu ombro. Repousei tanto ali que quando o elevador voltou a abrir, quase não tive forças para sair do lugar.

Em frente ao seu apartamento ele abriu a porta para que pudéssemos entrar, e enquanto ele fechava a mesma eu me dirigia até a sala onde alguns porta-retratos se encontravam em cima da mesinha de centro, três no total, sorri tímido e deixei uma lágrima cair quando percebi do que se tratavam; um era da viagem que fizemos para a ilha de Fernando de Noronha no recesso escolar de junho, nela estávamos deitados no quarto do hotel e nós beijávamos enquanto minha mão estendida para o alto registrava o momento. No segundo porta retrato registrado na última vez que estivemos na fazenda dos meus sogros estávamos eu, Caio, Fagner, Caique e Vinícius em frente ao casarão e o terceiro... Bem, o terceiro porta retrato destruiu com a pouca base que eu ainda tinha pra suportar aquele dia, nela estávamos eu, Caio e Teresa, em um tempo em que eu ainda não era apaixonado por ele e nem tão pouco ele por mim, em um tempo que nada dessa bagunça acontecia.

_ Então era essa a surpresa. – disse tentando segurar ao máximo o choro.

Ele estava atrás de mim a apenas alguns centímetros longe, me observando enquanto olhava as fotos.

_ Achei essa foto – a de que Teresa estava presente – perdida na memoria do meu celular, eu não sei o que foi que deu em mim, mas na hora achei legal dá um lugar a ela na mesinha já que ela é nossa amiga e mãe do meu filho... É até irônico porque quando namorávamos, ela me infernizava pra espalhar fotos dela pela casa, eu nunca fiz e quando ela fazia, eu dava um jeito de tirar – não vi, mas senti que ele sorriu ao lembrar o fato – Eu era terrível.

Por fim eu não consegui me segurar, transbordei igual a uma represa.

_ A culpa é toda minha.

_ Ei. – ele correu até mim e me virou pra encara-lo. Com força segurou em meus dois braços como se eu fosse fugir e começou a falar com uma expressão séria. – Que absurdo é esse agora? Pensei que já tivéssemos superado isso.

_ Mas é verdade, se eu não tivesse...

_ Cala a boca Lucas! Isso já está me irritando. A gente iria se relacionar de um jeito ou de outro...

_ Destino não existe! – gritei enquanto várias lágrimas desciam do meu rosto.

_ Então me prova! – gritou de volta com o rosto todo contraído, não em raiva, mas em estresse. – As vezes eu paro, penso em cada menina com quem já fiquei na vida e no como elas me tratavam bem, no quanto elas gostavam de mim e me pergunto porque não fui capaz de amar nenhuma delas. Você me tratou tão bem quanto elas e eu me apaixonei por ti. Porque ouve essa diferença? Porque não me apaixonei por nenhuma delas e sim por você?

_ Porque eu sou muito melhor do que elas. – brinquei com um sorrisinho em meio às lágrimas. Era bom saber que o meu bom humor estava intacto.

Ele por sua vez sorriu, atenuando assim as expressões faciais.

_ Disso eu não tenho dúvidas.

_ Desculpa. – disse baixando a cabeça enquanto deixava mais e mais lágrimas rolarem.

_ Ninguém teve culpa meu anjo. – ele disse ao me puxar para um abraço. – tudo isso um dia passa.

Naquele dia, mesmo estando preocupado com a situação do filho e triste por Teresa, ele permaneceu forte e cuidou de mim. Me fez companhia e não saiu sequer um minuto de perto de mim, respeitou o meu silencio chato quando eu só queria ficar na minha com meus pensamentos, me fez comer quando eu não queria, apesar de o dia todo não ter beliscado quase nada e até me suportou chorar por horas a fio antes de dormir e sonhar:

Nele eu entrava em uma igreja onde o caixão de Teresa se fazia presente enquanto várias pessoas olhavam em silêncio pra mim. Chorando muito eu depositava o buquê de flores vermelhas que havia comprado e me preparava pra rezar baixinho pela alma dela quando uma palavra proferida por alguém reverberou no ambiente:

“Culpado”

Atordoado eu olhei para todas as direções em busca do dono da voz sem obter muito sucesso.

“Culpado”

Ouvia de novo, agora dita em coral e repetida por várias e várias pessoas que apontavam o dedo pra mim e sustentavam um olhar julgador.

“Eu não fiz nada” – gritei aos prantos enquanto tentava entender o que acontecia.

“Culpado”

“Culpado”

“Culpado”

“Eu não queria” – gritei antes de correr em direção à saída, onde uma luz forte me segou por um estante até eu me perceber sentado em minha cama sem blusa e ofegando bastante envolto pela escuridão.

Um click ao meu lado fez com que o abajur acendesse, iluminando um pouco o quarto.

_ O que foi? – Caio disse se pondo sentado ao meu lado. Ele me olhava com compaixão a medida que eu retribuía um olhar confuso e temoroso enquanto entendia aos poucos que havia sido apenas um pesadelo.

Sem dizer nada, o abracei forte em busca de me sentir protegido, de me sentir bem.

_ Só foi um pesadelo. – ele respondeu pra mim enquanto fazia carinho em minha cabeça.

_ Parecia tão real... Aquelas pessoas me culpando... Senti tanto medo e você não estava lá.

_ Aquelas pessoas era um reflexo de si mesmo te julgando. É só a sua mente exteriorizando seus pensamentos.

Ele tinha razão. Eu por dentro ainda me sentia culpado por tudo que havia acontecido.

Quanto a mim, eu sempre estarei com você, mesmo que não consiga me ver. Basta apenas fechar os olhos e você me verá. – ele disse saindo do abraço e indo em direção a porta do quarto onde desapareceu de minha vista corredor adentro.

Rapidamente abracei meus joelhos contra o peito, fechei meus olhos e vi sua imagem em minha cabeça dizendo que eu não ficaria sozinho.

Porque aquilo agora?

Até que ponto aquela morte me faria tão mal?

Parecia que não teria fim nunca mais.

Um pequeno barulho na porta me fez abrir os olhos e ver Caio com um copo de água em uma mão e na outra algo pequeno que parecia ser remédio.

_ Bebe isso, vai te ajudar a dormir melhor. – ele disse me entregando a água junto com o remédio enquanto se sentava ao meu lado.

_ Eu não quero dormir. – disse com medo de sonhar tudo de novo.

_ Foi só um pesadelo.

_ Se quiser ir dormir, pode ir. Sério, eu vou ficar bem. – disse me levantando da cama para ir pra sala, quando ele segurou em meu braço e me fez sentar.

_ Nada disso. Pode se sentar aí. – ele disse colocando a água e o remédio em cima do criado mudo.

Em seguida se levantou, pegou o controle da tevê do quarto e a ligou em um programa qualquer.

_ Adoro esse programa. – ele disse enquanto se deitava meio que inclinado por causa do travesseiro em suas costas e colocava o braço direito atrás da cabeça, destacando ainda mais seus músculos – Quer assistir comigo? – me perguntou sorrindo.

O encarei por alguns segundos e pude constatar:

_ Eu não te mereço.

_ Merece sim. Agora vem cá. – disse me puxando para que eu me deitasse em seu peito.

Sem reclamar, assim o fiz.

Meus olhos capitavam as imagens e meus ouvidos os sons, mas eu não entendia o que se passava, pois minha mente ocupada não me deixava prestar atenção.

Minha mente havia virado uma fita de recordações com função automática em replay, pois não parava de trabalhar sequer um minuto. A dor vinha quando eu percebia que jamais aquilo se repetiria, que aquelas lembranças não teriam continuação e que todos os meus planos de vida na companhia dela tinham ido pro agua abaixo, haviam chegado ao fim.

_ Lucas? – Caio chamou minutos depois quando alguns raios de sol começavam a entra no quarto pela janela.

_ Sim?

_ Nada, pensei que estivesse dormindo.

_ Eu não consigo.

_ Confesso que cochilei um pouco aqui.

_ Foi? Não percebi.

_ O dia já tá nascendo. – ele constatou. – Precisa dormir um pouco, faz duas horas que estás acordado cara.

_ Não faz tanto tempo assim.

Ele se esticou até o criado mudo onde olhou a hora. Eram exatamente cinco e meia da manhã.

_ Eram três e meia quando acordou ofegando.

Eu me levantei do seu peito e fiquei sentado de frente pra ele, o olhando com a cabeça baixa vi ele se ajeitando pra também ficar sentado.

_ Tem algo que eu possa fazer? – ele perguntou.

_ Só fica do meu lado.

Ele sorriu de lado e levou a mão até a minha que estava sobre a cama e apertou de leve.

_ Sabe que provavelmente o enterro é hoje né.

_ Eu não vou.

Esperei ele fazer a pergunta mais obvia do mundo naquele momento, mas não o fez, apenas ficou em silencio me observando enquanto com o dedo mindinho fazia carinho em minha mão.

_ Não vai me perguntar porque?

_ Não precisa, eu sei que é difícil ver alguém que gostamos dentro de um caixão parecendo uma vela de tão branca, entupida de algodoes sendo levada para dois palmas de terra abaixo de nós para ser devorada pela terra.

O olhei pasmo e com lágrimas nos olhos quando ele descreveu todo o meu receio, como se estivesse na minha mente.

_ Gostava muito do meu avô e assim como você eu não quis presenciar a cena.

_ Sente saudades dela? – perguntei me referindo a Teresa.

_ Ah, eu sinto né, querendo ou não já fomos namorados e já tivemos um laço afetivo. É impossível não sentir a perda.

_ E como consegue se manter tão bem?

_ Meu filho e você. Eu penso nele sempre que bate essa tristeza e penso o quanto você precisa de mim forte, vocês são minhas ancoras. A minha vida.

Ao falar no filho, seus olhos se encheram de lágrimas que foram rapidamente enxugadas.

Quanto a mim eu deixei lágrimas cair em abundancia antes de me aproximar dele, sentei no meio das suas pernas e fiquei cara a cara com ele que me beijou de forma suave.

_ Estou sendo egoísta. Você não precisa se manter forte o tempo todo.

_ É por mim também. Se eu me deixar desmoronar, eu não me recomponho mais.

_ Chorar alivia.

Ele balançou a cabeça.

_ Estou bem assim. Juro.

_ Você que sabe. – disse voltando a beija-lo.

_ Vamos começar o dia? – ele propôs com os lábios levemente colados no meu.

_ Como?

Ele afastou um pouco a cabeça pra trás e fez uma cara pensativa.

_ Que tal uma caminhada pra espairecer a mente?

_ Passo. – disse sem animo.

_ Nada disso. Vamos, vai ser bom pra você. – ele disse me puxando pra sair da cama.

A muito custo eu me levantei.

Belisquei algo na cozinha por exigência de Caio já que eu não sentia forme. Só angustia.

Caminhamos por mais ou menos 1 hora e voltamos para casa onde tomei um banho sozinho contra a vontade de Caio já que ele queria está comigo. Eu não me sentia bem – só pra variar – e não queria que ele me visse chorar mais uma vez. Administrar meus pensamentos e sentimentos nunca foi tão difícil como agora.

Ao sair do banheiro deitei direto na cama onde só sair por que três dias depois meu pai exigia para que eu fosse pra casa onde estaria no alcance dos seus olhos.

O velório passou e eu não tinha presenciado e nem tão pouco ouvido comentários a respeito.

As visitas de Caio ao filho também tinham se passado e eu também não havia presenciado.

Estava entrando em uma depressão em que eu custaria pra sair.

_ Não gosta mais de mim? – ele perguntou.

_ Claro que eu gosto. Pergunta besta.

_ Então come isso aqui, por mim. – ele disse com uma colher de sopa na mão.

Chantageando emocionalmente por uma boa causa acabei cedendo ao abrir a boca.

A sopa por sua vez desceu parecendo espinho por minha garganta.

_ Seus pais estão pensando em contratar um psicólogo pra você. Eu apoiei.

_ Você me prometeu que seria contra isso.

_ Em troca de você fazer um esforço pra melhorar. – rebateu. – você não cumpriu sua parte, porque eu cumpriria a minha?

_ Porque me ama.

_ É exatamente por isso que eu apoie essa ideia... Olha o que esse teu estado está fazendo com a gente amor, a gente tá distante, mal conversamos e mal pergunta a mim como esta o meu filho, se bem ou mal.

Fiquei sem argumentos naquela hora. Ele estava certo, estava deixando aquela depressão acabar não só comigo, mas também com o meu relacionamento. Por quanto tempo ele ainda vai me aturar se eu continuar daquele jeito?

Foi pensando naquilo que peguei a bandeja de sua mão e me pus a comer com vontade. Ele sorriu e assim ficou me olhando até eu raspar a ultima gota de sopa do prato.

_ Como tá seu filho? – perguntei lhe entregando a bandeja vazia que por sua vez colocou ao seu lado sobre a cama.

_ Ele vai sobreviver. – disse com uma expressão séria.

_ E porque essa cara?

_ Os pais de Teresa são os representantes legais da criança.

_ Isso significa...

_ Que eu não vou poder sair com ele nos braços quando ele receber alta.

Continua...

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Comentários

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WHAT? Como assim? Não tendeu 🙁🙁. Volta logo cara 👌

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