As aventuras de Romildo – Enrabado pelo patrão tarado
O recorte do anúncio do jornal estava no bolso de sua camisa, que ele definiu como sendo cafona demais. No entanto, acabou acatando o conselho da prima e da amiga para se vestir mais discretamente, uma vez que estava procurando um emprego e não um macho.
- Se vierem os dois no mesmo pacote vai ser um luxo! – exclamou, com sua voz de gralha, que logo após o despertar soava mais estridente.
Pegou o ônibus e rumou em direção ao bairro de Santo Amaro, um bairro antigo da cidade que, de aldeia indígena, passou a ser polo de imigrantes alemães, município independente, viu crescer inúmeras indústrias, voltou a ser distrito da cidade de São Paulo e, atualmente estava consolidado como um importante polo comercial atraindo tanto indústrias como comércio e serviços. Essas transformações e o aumento da população geravam uma demanda constante por mais comodidades. Foi isso também, que levou um casal de portugueses a montar uma padaria, na esquina de uma das movimentadas avenidas do bairro. Romildo havia mostrado o recorte de jornal com o endereço ao cobrador do ônibus, que afirmou conhecer o local, depois de haver lido quase todo o anúncio e, ter se disposto a avisá-lo quando a parada mais próxima à padaria estivesse chegando. Romildo sentou-se num banco no lado oposto do corredor do ônibus, bem em frente do cobrador. Safado como era, logo percebeu que o moreno tinha seus atrativos e examinava-o, pormenorizadamente, através de um olhar de soslaio. O sujeito fazia o tipo galã de periferia. Trazia um corte de cabelo modernoso, os três primeiros botões da camisa abertos expondo o peito, uma calça justa onde Romildo logo distinguiu o que mais lhe interessava, o volume expressivo que o pinto do sujeito fazia e, um par de botas de cano curto, bico fino e um pouco de salto. Romildo se penitenciava por ter aceitado o conselho da prima, estava se achando tão sem graça naquelas roupas comportadas e as culpou por não conseguir despertar o olhar do cobrador. Embora, sem que Romildo percebesse, por baixo dos óculos escuros comprados de um camelô e que, o camarada usava dentro do ônibus onde nem havia tanta claridade que o justificasse, não tirava os olhos daquele corpinho languido e dos trejeitos que aquele passageiro tinha. Talvez tenha sido isso que o motivou a abrir bem as pernas, apoiando os pés nos canos de sustentação do seu assento e dos corrimãos do ônibus, expondo sua masculinidade a quem quisesse admirar.
- Daqui a duas paradas você pode descer. A padaria fica do outro lado da avenida. – orientou o cobrador.
- Muito obrigado! Você é muito gentil. – revidou Romildo, quando passou pela catraca, empinando, o mais que pode, a bunda e, lançando um sorriso conquistador em direção ao sujeito, que não lhe cobrou a passagem.
- Vou torcer para que consiga o emprego! – exclamou o cobrador pela janela do ônibus, cativado pelo elogio, quando Romildo já estava na calçada.
- Você é um anjinho! – retrucou Romildo, mandando um beijo através do aceno de mão.
Quem estava atrás do balcão e o recepcionou foi a portuguesa que, assim que soube das intenções daquele rapaz de andar esquisito que se dirigiu a ela, berrou para dentro de uma porta de vaivém, com folhas duplas e um visor transparente, que dava para os fundos da padaria.
- Oh Manuel! Está cá um gajo a perguntar pela vaga! – berrou, num sotaque lusitano fortíssimo.
Minutos depois, surgiu pela porta um senhor de cinquenta e poucos anos, encorpado, cabelos e bigode fartos muito negros, um lápis enroscado atrás da orelha, e um jaleco curto sujo de farinha. Ambos entrevistaram Romildo ali mesmo, através do balcão. Não fizeram muitas perguntas, além das mais óbvias, mas ele percebeu que eles mais o examinavam do que ouviam as suas respostas. Por isso, tratou de se mostrar o mais discreto e comportado possível, embora isso já estivesse se tornando uma tarefa cada vez mais árdua. No entanto, seu jeito, digamos, expansivo, e o indefectível sotaque nordestino, acabaram por se mostrar seus aliados na conquista do casal, e da vaga. Os portugueses haviam percebido que um número cada vez maior de clientes que entravam em seu estabelecimento, tinha esse sotaque e, astuta como era, Amélia logo intuiu que isso faria bem aos negócios. Conquistada a vaga, Romildo tratou de procurar uma pensão, indicada pelo padeiro que trabalhava para os portugueses e, que não distava muito dali, nem comprometeria, demasiadamente, o seu salário. Três dias depois, ele estava instalado na pensão e, atrás do balcão.
Imigrantes, o casal de portugueses veio tentar a sorte além-mar, como tantos conterrâneos. Emergiram para o mundo, vindos de uma freguesia chamada Carva, no norte de Portugal. A aldeia agropastoril está perdida num planalto entre duas serras, seus dois maiores patrimônios talvez sejam a ignorância, já que quase toda a população é praticamente analfabeta, e a miséria, grande responsável pelo êxodo que se presenciou nos últimos anos. Foi entre essa gente, calçando tamancos, que Manuel e Amélia foram cagados no mundo, por entre as curvas das colinas onde pastam cabras, em casebres não muito distantes um do outro. Cresceram praticamente juntos, sentiram os hormônios encapelando os órgãos genitais quase simultaneamente, pela escassez de opções casaram-se, dentro das paredes de pedra da igreja matriz. Ante um futuro sem perspectivas, resolveram vir para a ex-colônia, onde patrícios pareciam estar se dando bem.
O casal deu duro para sair da venda de bananas, de porta em porta, para o primeiro estabelecimento. Um pardieiro que servia, durante o dia, pingado e os salgadinhos que Amélia começava a preparar às quatro horas da madrugada, sobre um balcão sebento frequentado por operários das indústrias da região e, o tempo todo, mas especialmente à noite, cachaça e cerveja para os desocupados que se juntavam para jogar conversa fora. Se havia um pouco de intelecto naquele casal, ele se concentrava em Amélia. Pois, o esposo, apesar de sempre andar com um lápis encaixado sobre a orelha, tinha dificuldade para juntar as letras e, os números, depois das dezenas, afiguravam-se praticamente como alienígenas. Para ser sincero, ele desenhava melhor o zero com o cu do que com o lápis. Portanto, sobravam para Amélia as tarefas com a contabilidade e, nisso, sua avareza era prodigiosa. Graças a esse dom, em poucos anos, estavam erguendo um predinho numa esquina de uma movimentada avenida do bairro. Padaria no térreo e, o que puderam chamar pela primeira vez de casa, no andar de cima, tudo próprio e novinho em folha. Foi ali que Romildo foi trabalhar, atraído pelo anúncio, quando a freguesia já estava consolidada e, os negócios indo de vento em popa. Mas, a ambição do casal não se contentou com isso. Bastava aparecer um terreno à venda nas redondezas e, Manoel corria a especular a possibilidade de agrega-lo a seu patrimônio. Uma vez adquirido, começava a construir casinhas sobre o lote e, quando prontas, as alugava.
Embora os moradores e os vizinhos chamassem o lugar onde Romildo foi morar, pela indicação do padeiro, de pensão, tratava-se, na realidade, de uma espécie de república de operários. O dono do imóvel, Baldoíno, uma casa antiga dentro de um terreno estreito e comprido, à qual foram sendo acrescentados alguns cômodos e, que pertencera aos pais, era um senhor aposentado que dedicara sua vida a um bufê de eventos, montando festas de casamento, batizado e debutantes. Assumiu sua condição de veado quando os cabelos, no centro do cocuruto, já haviam rareado e se tornado grisalhos. E, com ela também sua predileção por rapazes na flor da idade e do viço da juventude. Por isso, com a ociosidade proporcionada pela aposentadoria precoce, resolveu alugar os espaços de sua casa formando um reduto de machos e, dessa forma, unindo o útil ao agradável. As condições não eram muito diferentes da pensão da italiana do Bixiga, que Romildo fora convidado a abandonar. Talvez, um pouco piores, pois a falta de um toque feminino deixava o lugar com um aspecto de desleixo e desorganização. Mesmo com sua fisionomia afeminada, Romildo foi incorporado aos moradores, uma vez que tinha o requisito essencial para Baldoíno, o arrebatamento da mocidade. Em termos de preferências sexuais não via obstáculos, uma vez que para sua condição de faca de dois gumes, gilete, versátil que se satisfaz tanto com um cacete no rabo quanto com um cu moldado ao pinto, esse pormenor não tinha importância. Ali havia de tudo, embora a maioria fosse de migrantes de estados vizinhos aos de Romildo, desde trabalhadores da construção civil, operários de chão de fábrica sem grandes qualificações, seguranças e mascates ambulantes. Um harém de machos, onde os cômodos rescindiam a suores impregnantes e hormônios viris, onde a falta de bucetas deixava os ânimos acirrados e, onde o frescor da pele sempre perfumada de Romildo servia de alento para a caralhada faminta. Em poucas semanas, todos já tinham enfiado a pica no cuzinho insaciável da bichinha e, deixado lá dentro, uma quantidade de porra que dava para dobrar a população da cidade.
Na padaria Romildo também fazia sucesso. Algumas semanas atrás do balcão foram suficientes para ele se tornar um destaque entre a freguesia. As donas de casa se sentiam atraídas pelos trejeitos espalhafatosos e a fala desengonçada, aludindo a besteiras e sacanagens que ele chegava quase a sussurrar nos ouvidos daquelas honradas senhoras e falsas pudicas. Entre os clientes homens não havia unanimidade, enquanto uns o abominavam, outros se divertiam às suas custas e, outros ainda, sentiam um formigamento se alastrando pela pelve, oriundo do membro arisco. Mas, o mais auspicioso foi ter caído nas graças de dona Amélia.
Amélia, uma campesina com pouca instrução e modos abrutalhados, progredira muito desde que deixou sua aldeia, e o apego excessivo ao dinheiro que via tilintar no caixa da padaria, impediam-na de gastar um centavo que fosse consigo mesma. Não tinha vaidades femininas, não lhe incomodava o buço, quase um bigode, de tão denso, que tinha no lábio superior e, muito menos as pernas grossas e cabeludas, por se acharem sonegadas aos olhares alheios. Até entre os seios cresciam-lhe pelos encarapitados e negros. Amélia era também uma mulher infecunda, seca. Apesar da virilidade e vitalidade, dos culhões profícuos e férteis, Manoel não conseguia colocar um herdeiro naquele ventre. Ela se afligia e se penitenciava lacrimosa e resignada com sua sina, trabalhando como um mouro para compensar sua incapacidade de gerar uma prole. Talvez tenha sido esse um dos fatores que a levou a tomar-se de amores por Romildo, um ser misto de filho e rapariga que ela própria não foi capaz de parir. Diante de toda essa desdita, tornara-se também uma mulher dura, nem ao marido concedia algum carinho durante os fortuitos encontros no leito nupcial. Tratava as pessoas com a mesma aridez que imperava em seu útero. Quando Romildo, depois de alguns meses, já afeiçoado a ela, começou ajeitar seus cabelos, sugerir-lhe trajes mais refinados e, a chama-la de ‘mainha’, a portuguesa comovida se debulhava em lágrimas. E, em pouco tempo, tratou de arrumar um dos quartos da nova casa para aquele filho que lhe caíra dos céus como uma dádiva de Nossa Senhora de Fátima; não mais aquela sobre o corre-corre da padaria, mas, a que haviam construído numa rua tranquila do bairro, cercada por residências mais opulentas. Foi assim que Romildo voltou a ter um quarto, uma casa e uma família. Muito embora, a luxúria o levasse a fazer visitas constantes à república de Baldoíno.
A mesma rudeza que, afastava as pessoas de Amélia, as atraia em Manoel, uma espécie de potro indomado que crescera sem nunca ter se fartado o suficiente para sentir seus desejos carnais satisfeitos. Pelo menos era essa a imagem que ele criava no imaginário de suas freguesas. E que, no entanto, também não se afastava muito da realidade. Foi ao aportar nas terras tupiniquins que ele se deslumbrou com o gingado malevolente das caboclas, a fartura de bundas femininas expostas como os pães na vitrine de sua padaria, a permissividade das mulheres da ex-colônia e, se deu conta do bagulho que trouxera consigo, cuja aliança de ouro em seu dedo não lhe permitia esquecer e, se atrelava ao ele como um fardo. Normalmente compenetrado e ciente de suas obrigações, surtava ante uma saia curta e umas coxas mais expostas e, se tornava um devasso tarado. Nenhuma daquelas moreninhas que Amélia contratava como diaristas para auxiliá-la com as tarefas domésticas, deixou de se render às investidas e ao crivo do caralhão esfomeado do português, fosse solteira ou casada, tentando com isso alçar status caso embarrigasse daquele lusitano depravado. Romildo logo percebeu essa falha no caráter de seu patrão, mas, como sua bunda também atraía a devassidão daquele macho xucro e vigoroso, optou por tirar algum proveito daquela situação.
Desde que haviam se mudado para a casa nova, os portugueses não partilhavam mais o mesmo quarto. Amélia queixava-se que o marido roncava o que era uma verdade, embora ela mesma tivesse um sono tão estrondoso que mais se assemelhava ao ruído de uma betoneira. E que, por isso, não conseguia dormir e que, portanto, o esposo não implicasse com seu humor. Por seu lado, Manoel lamuriava-se pelos gases que se acumulavam nos intestinos da mulher, acusando-a de emitir aqueles flatos fedidos na hora em que ele precisava dar descanso à sua carcaça. Por picuinhas dessa natureza, resolveram dormir em quartos separados, uma vez que os anos de casados também já haviam lixiviado todo o interesse que um macho tem pela fêmea e vice-versa. Espaço havia e, portanto, não valia a pena engalfinharem-se justamente no cômodo em que deveriam celebrar sua união.
À medida que ia envelhecendo, Amélia se tornava mais ranzinza, fosse pelo acúmulo de trabalho que já se fazia sentir sobre seu corpo alquebrado, fosse por aquela fase crítica em que as mulheres experimentam a cessação definitiva do catamênio e os fogachos a lhe incendiarem as carnes. Implicava com tudo e todos. Além do marido, dera para se apoquentar com as diaristas, nenhuma prestava nada do que faziam estava bom o suficiente para ela. Preconceituosa ao extremo queixava-se de todas serem preguiçosas e lerdas por serem ‘escuras’, como dizia. Nunca havia convivido com negros em sua aldeia perdida na miséria, vira-os, pela primeira vez, quando chegou ao Brasil, e não gostou deles. Nunca permitiu que Manoel contratasse um mulato, claro que fosse, para a padaria, com a desculpa de que ‘negro quando não caga na entrada, caga na saída’, expressão que ouvira de uma conterrânea e que, adotou como padrão de referência. O fato é que, todos os defeitos de sua personalidade iam se exteriorizando.
- Oh caralho, Manoel! O que estás a fazer com estas cuecas que estão engomadas de porra? A neguinha há de querer cobrar-nos uns extras para lavar esta merda. – esbravejou Amélia, que com a menopausa passou a ter enjoos com os cheiros do marido.
- Tenho culhões, tenho pica e tenho fluídos, o que queres que eu faça deles? Ora bolas! – revidou Manoel, sabendo que a mulatinha ficaria toda molhada entre as pernas ao sentir seu cheiro naquelas cuecas.
No dia em que Romildo ouviu esse diálogo doméstico, por obra do acaso, achou que havia chegado a hora de conversar com o português, conhecendo seu caráter e, que àquelas alturas já era um misto de patrão, pai e amigo.
- Não se zangue com ‘mainha’, está assoberbada com o trabalho! Posso eu mesmo lavar suas cuecas e, assim, não é preciso que estranhos conheçam a sua intimidade. – disse Romildo, quando os dois se encontravam a sós.
- És como se fosses meu filho. Vou-lhe confidenciar um segredo. A mulata não só conhece os meus cheiros como já os carregou nas entranhas. – confidenciou Manoel.
- Ah danadinho! Se ‘mainha’ descobre teremos uma tragédia nesta casa. – retrucou Romildo, com um risinho malicioso. – Mesmo assim, eu adoraria lavar suas cuecas. – emendou lançando uma piscadela reveladora para o patrão.
- Então, a partir de hoje, entrego-te eu mesmo as cuecas no quarto. – aquiesceu o português, intuindo que ali estava se abrindo mais um campo de possibilidades para o seu tesão reprimido.
Nos primeiros tempos Romildo não dera muita atenção ao porte físico do português. Não que não houvesse reparado nele, pois isso dificilmente acontecia em se tratando de qualquer homem. No entanto, via-o apenas como um senhor que tinha idade para ser seu pai, para quem trabalhava e, portanto, não convinha subestimar as regras dessa relação. E ainda, seguindo a máxima de que, onde se ganha o pão não se come a carne, portou-se segundo o que se esperava de um empregado. Todavia, Romildo era uma bicha cheia de tesão e, aos poucos, inclusive o patrão passou a germinar em suas reflexões libidinosas. O contato que mantinha com a macharada da república de Baldoíno, começava a arrefecer, pois a rotatividade ali não era muito diferente daquela da pensão de dona Margherita. Iam-se uns, vinham outros. Como ele não morava mais lá, o entrosamento com os que vinham já não chegava ao ponto de terem intimidades desse nível. Seu corpo cheio de desejos e carecimentos padecia a ausência de um segurança, morenão parrudo que mais parecia um armário, que trabalhava numa empresa de informática no turno da noite e, que costumava chamar Romildo para tórridas sessões de sexo, em plena madrugada quando não havia ninguém na empresa, sobre a mesa de reuniões da firma e; de um mulato, carpinteiro numa construtora, cuja benga predadora tinha um tesão incontrolável pelo cuzinho de rapazolas afeminados como Romildo, que ele costumava arreganhar até que sua presa chorasse na pica. Ambos trocaram de emprego e se mudaram, deixando nas lembranças de Romildo a nostalgia de seus caralhos sagazes. Ele, então, saiu à caça.
Manoel, com a idade, ia ficando cada vez mais safado. Por conta disso, na primeira vez em que foi deixar a cueca no quarto de Romildo, dirigiu-se para o quarto do rapaz usando apenas a própria. Faltava pouco para a meia noite. Amélia dormia a sono solto em seu quarto e, peidava o ar que engolia durante o ronco. Romildo acabara de sair do banho e estava entretido com seu ritual de beleza. Tinha vestido uma de suas calcinhas, que acabaram por se tornar seu pijama, e espalhava uma generosa porção de hidratante pelo corpo quase nu. O português arregalou os olhos quando o viu diante do espelho, a calcinha parcialmente enfiada entre as nádegas carnudas e, uma expressão de aprazimento no rosto, que se admirava no espelho, enquanto untava a pele com a loção. Manoel sentiu a ereção vigorosa e imediata de seu pau. Ao entrar no campo de visão de Romildo, através do espelho, este se assustou e num faniquito, soltou um de seus gritinhos característicos.
- Não te alarmes, que não é para tanto! – exclamou o patrão.
- Ai ‘painho’ é que me assustastes! – retrucou Romildo, com seu risinho zombeteiro e, fazendo uso da segunda pessoa ao conjugar os verbos, à maneira do casal de portugueses, desde que isso os passou a fazer rir desse seu jeito de imitar a fala deles. – Ainda mais com esse monstro querendo sair aí! – emendou, focando a barraca armada entre as coxas peludas do velho.
- O que querias? Entro e me deparo com uma paisagem destas. Posso estar anoso, mas ainda me acendem as carnes! – revidou Manoel, abrindo um sorriso e, dando uma encoxada em Romildo.
Manoel tomou o frasco de hidratante das mãos de Romildo e começou a espalhar a loção em seus ombros. Foi o suficiente para Romildo sentir o tesão apossar-se de seu cu e, ele empinou a bunda fazendo pressão contra a virilha de Manoel. Soltou um gemido quando a vara do patrão saltou pela fenda escancarada da cueca samba-canção e se aninhou entre suas nádegas. Um assobio escapou dos lábios de Manoel, quando aquela carne rija e fresca travou sua rola dentro do reguinho. Por um instante, Romildo sentiu como se estivesse seduzindo o pai ou, ao menos um padrasto e, este pensamento incestuoso assanhou o tesão que seu corpo retesado vivenciava. O calor daquele macho que bufava em sua nuca, ardendo de desejo, cobiçando seu cuzinho, era a prova cabal disso. Tudo o que despertava o tesão de Manoel, o aroma de uma pele quente, a visão de um par coxas ou seios, uma bunda redonda e farta gingando diante de seus olhos, um reguinho liso e alvo como leite igual ao que estava aconchegando sua rola, o transformavam num animal, deixavam aflorar seus instintos mais primitivos e, guiavam suas ações no sentido de satisfazer sua masculinidade. Ele partia para o ataque, deixado de lado a moralidade e a decência, e predava, sem escrúpulos, o alvo de sua apetência. Enquanto a mão pesada e carinhosa de Manoel percorria seu corpo, Romildo comprimia as costas de encontro ao peito peludo e sedutor que se colava com mais intensidade a ele. A respiração de ambos ia se acelerando, à medida que as barreiras pudicícias eram superadas. Agora, a mão de Manoel puxava a calcinha como se fosse um cabresto, fazendo-a penetrar ainda mais fundo naquele rego oferecido. Fez tanta força que ela se rompeu e ficou entre seus dedos. Romildo deu um sorriso voluptuoso e convidativo, virando-se de frente para Manoel e, passando seus braços finos pelo pescoço largo e peludo do português. Manoel puxou o rosto do empregado para junto de sua boca e começou a beijá-lo bestialmente. Romildo retribuía, lambendo a língua ávida que penetrara sua boca, saboreando-a, ao mesmo tempo em que gemia. Foi fácil para Manoel transportar aquele corpinho languido e nu, quase tão leve quanto uma saca de farinha, até a cama. Lambeu e chupou os peitinhos que se exibiam com os biquinhos duros e excitados. Pegou o próprio caralho e o esfregou ao redor dos mamilos, molhando-os com o pré-gozo que minava da cabeçorra arroxeada. Romildo aproveitou para abrir os dois botões de pressão que seguravam a cueca ao redor da cintura de Manoel, e a descerrou. Entre o vigoroso par de coxas peludas, uma cabeleira negra e densa forrava a pelve daquele macho, adornando o sacão enorme, que pendia pesadamente, logo abaixo do cacetão circundado por grossas veias sinuosas. A mão delicada de Romildo fechou-se ao redor da pica e, ele sentiu toda a vivacidade dela pulsando entre seus dedos. Levou-a, à boca, lambendo sedutoramente um fio translúcido e viscoso que acabava de aflorar do vultoso orifício uretral. Manoel bramiu feito um animal, sentindo aquela boquinha aveludada lambendo e chupando sua chapeleta com maestria. Quanto mais se empenhava, mais abundante o pré-gozo, levemente salgado e cheiroso, escorria para sua boca, permitindo que Romildo saboreasse os eflúvios daquele macho.
- Ai porra!! Que nunca me fizeram um broche como tu! – exclamou Manoel, usando a expressão que a molecada em sua terra usava para se referir a um boquete. Seja lá qual fosse o significado daquilo, Romildo se deliciava mamando aquele caralho, certo de que o português também sentia o mesmo.
Como uma cadela no cio, que empina o rabo para os machos para que lhe funguem o estro, Romildo se posicionou de quatro sobre a cama. Manoel enfiou sua cara gorducha entre as nádegas que se apartaram ligeiramente e, ensandecido, começou a linguar aquele cuzinho rosado, cujas pregas que o circundavam se contorciam em agonia. A barba hirsuta pinicava a pele delicada de Romildo e ele gania de tesão. Manoel sentia na ponta de sua língua o frenesi que se apoderava daquelas preguinhas, prontas para chuchar o que se entremeasse nelas.
- Vou dar uma queca neste rabo faminto, como nunca dei noutro. – murmurou Manoel baixinho, verbalizando seus pensamentos.
Guiando a pica com uma das mãos, ele a forçou contra o buraquinho piscante. E, embora Romildo já tivesse abrigado naquele orifício, uma centena de cacetes, parecia que isso só tinha feito aumentar a potência de seus esfíncteres anais e, ao invés de lacerá-los, tornou-os mais apertados e constritores. Por isso, foram necessárias algumas investidas antes da cabeçorra vencer aquela resistência e, se alojar no cuzinho de Romildo, que soltou um gritinho quando sentiu as pregas se rasgando pela passagem daquele membro calibroso. Sem dó nem piedade Manoel deixou sua sanha ditar o ritmo das estocadas brutas e cadenciadas naquele cu que o agasalhava. Ambos gemiam. Romildo de dor e prazer, e Manoel só de prazer, pois era isso que cabia a cada um. O ardor que se espalhava pela pelve de Romildo já era premonitório do estado em que ia ficar sua mucosa anal, enquanto o português socava o peio sentindo uma comichão se formando ao longo e, bem no centro de sua rola, provocando um retesamento que se concentrava na sua virilha e chegava ao sacão, instigando-o a despejar seu conteúdo para amainar aquela quentura dentro de sua pica. Os testículos dentro do escroto foram se ingurgitando, deixando o sacão, antes flácido, que batia contra o rego de Romildo, mais globoso. Urrando de tão regozijado, Manoel esporrou aquele cuzinho como um touro, inoculando os jatos de esperma leitoso o mais profundamente que podia, fazendo Romildo gritar, mais de dor do que de prazer. Só depois de, aquela dor aguda começar a abrandar, ele começou a se punhetar e, com a jeba de Manoel ainda cravada em suas entranhas, liberou os jatos de porra que sossegaram seu tesão. Apenas então, seus pensamentos readquiriram a racionalidade e, ele se deu conta de que havia traído Amélia. Por uns instantes, isso arrancou dele todo o prazer que havia experimentado, e sua expressão tornou-se anuviada.
- O que tens? Não lhe apeteceu meu desempenho? – perguntou Manoel, vendo aquela expressão taciturna no rosto que antes resplandecia de prazer.
- Pelo contrário, você é maravilhoso! É que me sinto um traidor, um Judas sem alma. Dona Amélia não merece o que estamos fazendo. – retrucou Romildo, aninhando-se no peito do patrão, depois desse se recostar na cabeceira da cama e puxá-lo para junto de si.
- Amélia e eu já não temos sexo há muito tempo. Quando ficou evidente que não seria capaz de me dar um filho, sepultou as necessidades da buceta, e se esquivava quando a procurava para aplacar meus desejos. Não é a toa sua implicância com as mulatinhas que trabalharam aqui em casa. No íntimo ela sabia que eu as procurava para saciar minha carne. Portanto, não se atormente. No fundo estás a fazer-lhe um favor, cuidando do macho que ela há tempos deixou na mão. – sentenciou Manoel, sem remorsos.
- Ela sempre foi tão boa comigo. Não quero fazer nada que a magoe. – disse Romildo.
- Havemos de ser discretos. Agora que tenho dentro de casa aquilo que me satisfaz, ela há de perceber que não corro mais atrás dos rabos de saia. E isso, certamente, haverá de aquietar seu coração. – ponderou Manoel.
- E eu te satisfaço? Não tenho os mesmos atributos que uma mulher. Não sou capaz de gerar um filho. – considerou Romildo.
- Isso é um alento. Cada vez que metia esse meu caralho insaciável numa buceta, ficava preocupado com as consequências, temia ter que colocar diante de Amélia o fruto do meu pecado, e isso me mortificava. – retorquiu, acrescentando. – Esse gozo que está a lhe umedecer as entranhas foi o mais libertador que já ejaculei, ele tão somente é pleno de prazer, sem nenhuma culpa ou dúvida.
- Não estou apenas úmido, estou encharcado. Ainda sinto o íntimo formigando com sua porra viril. – confidenciou Romildo, beijando a boca que já esperava por seus lábios.
Um verão quente e muito chuvoso assinalou o oitavo ano em que Romildo veio trabalhar com o casal de portugueses. Durante esse tempo, viu o patrimônio dos patrões mais do que quadruplicar e, ao mesmo tempo, a saúde de Amélia se deteriorar. Tinha pressão alta, não conseguia controlar as altas taxas de colesterol que minavam seu sangue e, tinha sido diagnosticada uma diabetes reticente aos medicamentos e ajudada pela negligência de Amélia em trata-la. Quanto mais se debilitava, mais procurava o carinho de Romildo. Por isso, foi tão doloroso para ele, quando num domingo, enquanto estavam sentados diante da televisão, com Amélia segurando a mão de Romildo entre as suas e, o apresentador e dono da emissora estar lambendo os dentes artificiais e estalando os lábios, enquanto gaguejava, repetidas vezes, a mesma frase anunciando seus carnês e perfumes destinados aos mesmos espectadores de baixa renda e, aos providos de pouco intelecto que seguiam seus programas, Amélia deu seu último suspiro, morrendo tão calmamente como um passarinho. Sem dar um aviso, sem soltar um pio, apenas cerrando os olhos cansados, para sempre.
Para Manoel foi como se lhe tirassem o chão, o esteio sobre o qual construíra toda a sua vida e, não fosse pelo acalanto de Romildo, teria enlouquecido. Depois de deixar a companheira de tantos anos, de tanta penúria em comum, de tantos revesses e glórias no cemitério, transferiu para Romildo o amor que aquele seu coração bruto ainda era capaz de dar. Passaram a viver como cônjuges, partilhando o cotidiano e o leito onde se tornavam um só, satisfazendo sua densa paixão carnal. A partir daí, Romildo assumiu as tarefas que Amélia fazia, tornando-se o braço direito de Manoel para todos os assuntos.