MESA PRA TRÊS 2ª PARTE CAP - 9 TOM, LUCAS E RODRIGO.

Um conto erótico de Cookie
Categoria: Homossexual
Contém 7341 palavras
Data: 07/03/2016 00:05:03
Última revisão: 06/06/2016 11:52:35

2ª PARTE

CAPÍTULO 9

TOM, LUCAS E RODRIGO.

Desde que se mudou para a cidade, Tom viu em Jorge a possibilidade de uma grande amizade, e não estava errado. Tom não costumava se enganar com as pessoas, conseguia visualizar nelas defeitos e qualidades que outros demoravam para enxergar.

Foi numa noite estrelada, fria e gostosa que foi convidado, junto com sua esposa, para um jantar na casa de Jorge, dessa maneira pôde conhecer os vizinhos. Elaine tinha preparado um prato delicioso, ele não saberia dizer precisamente o que era, nem mesmo o nome daquilo, Elaine repetiu o nome do prato duas ou três vezes no jantar, com certeza levava batata e coentro, mas o que chamava sua atenção mesmo era Jorge. Era inegável a beleza de Elaine, ela conseguia ser inteligente sem falar nada, ser bela sem se esforçar para tal, mas Jorge trazia algo no olhar que parecia necessitado e completamente satisfeito ao mesmo tempo, para Tom, Jorge escondia algo que o fazia querer saber só por saber.

Tom, assim como Jorge, era forte e alto, mas diferentemente dele, cultivava uma barba grande e chamativa, que dava a impressão de ser rústico, de fato era, ele tinha a habilidade de fazer coisas com madeira, entortava, cortava e montava móveis que ninguém acreditaria se ele não fizesse na frente das pessoas. Devido a sua família, ele também adquiriu experiência com armas e qualidades relacionadas a caça, adorava se aventurar e testar seus limites, nunca teve um amigo parecido para dividir experiências e opiniões, entretanto nunca se incomodou, ele gostava de estar sozinho, pois foi com relutância que se mudou para a cidade, mas levando em consideração as necessidades de sua mulher, não via outra opção, demorou para se acostumar mas ficou feliz em ter feito isso.

Conforme o tempo foi se passando, Tom foi firmando uma amizade produtiva com Jorge, os dois conversavam sobre coisas inúteis, o mundo, a vida, e mulheres, confidencialmente o tópico mulheres era algo que não surgia muito entre os dois, Tom não se incomodava com isso, pois não tinha ou sabia muita coisa para se falar e Jorge era o primeiro rapaz que não forçava o assunto. De repente o silêncio entre os dois era confortável, eles bebiam, olhavam para o céu e falavam absolutamente nada, era um silêncio gostoso aquele que viviam.

Ele contava os dias ansioso no calendário para outra caça com Jorge, às vezes os dois não se falavam a semana toda e quase não trocavam palavras quando estavam juntos, mas aquele era um momento bom para ele. “Por que gosta de passar tempo com Jorge? O que fazem? Do que falam?” Ele ouvia essa pergunta várias vezes de sua esposa e dele mesmo, mas ele não mentia quando respondia para ela e si mesmo dizendo que não sabia, “ele é gente boa” respondia mal mexendo os lábios que se escondiam atrás de seu enorme bigode.

Os dois cortavam os peixes pela metade, mas Tom ficava com o tatu todo, Elaine não suportava esse tipo de animal em sua geladeira, a estranheza que Jorge tratava Tom era recíproca. Tom preferia passar um dia com Jorge que a semana toda com sua mulher, cuja qual com o tempo foi ficando mais silenciosa ao seu lado, ela saía com as amigas que o lançavam olhares maldosos quando estava em casa. Haviam comentários no ar que faziam com que Tom não gostasse das amigas da mulher. Ela e Elaine não se davam muito bem, mas se respeitavam, as duas mais de uma vez se uniram para discutir tamanha amizade de seus maridos, mas litros de chá iam embora e a nenhuma conclusão era chegada.

Jorge cortava um tatu pela metade sobre a mesa num dia ensolarado com um vento fresco, usava uma camisa sem manga, xadrez vermelha, aberta até o peito revelando seus pelos, uma jeans gasta azul que mostrava que tinha as pernas grossas, Tom acordou de repente no meio da noite fria e chuvosa, viu que sua mulher estava dormindo ao seu lado com seus bobs no cabelo e seus tapa olhos noturno, foi então até o banheiro mas percebeu que teve dificuldade para urinar devido ao seu pênis em posição ereta. Passou pela sua cabeça se masturbar, mas estava muito cansado, além do mais ele estava com medo das imagens que poderiam vir a mente enquanto o fazia. Se concentrou, mijou e enquanto ainda estava voltando para o quarto, viu que sua mulher já estava acordada, sentada na cama, olhando para ele com uma expressão vazia.

Na manhã seguinte, os dois foram até uma cabana dos sogros do Tom, a pedido de sua mulher a cabana ficava no meio de uma cidade pouco popularizada, era uma espécie de chácara, que estava quase no completo abandono, já que seus sogros haviam morrido a anos, seus cunhados passavam por lá para limpar e passar alguns finais de semana, mas o lugar não parecia vivo a muito tempo.

Elizabete, sua mulher, pegou uma chave enorme de sua bolsa minúscula, colocou na fechadura daquela porta de madeira grande e grossa e levou Tom para dentro. Assim que Tom entrou percebeu que ali dentro haviam várias armas e cabeças de animais, raposas, onças, bodes entre outros. Aquilo não o assustava, pois estava acostumado com o ambiente, mas para aquela situação era algo que o deixava extremamente desconfortável.

- Eu não sou uma mulher que passa vergonha – Começou Elizabete que com seu vestido verde claro e cabelo curto encaracolado olhava diretamente para tom, com uma afeição séria.

- Eu....

- Deixa eu terminar! – Disse Elizabete com a voz tremida tentando se controlar – Eu não sou uma mulher que passa vergonha Tom, então pelo nosso bem e pelo bem desse nosso bebê – Elizabete passou a mão pela barriga enquanto encarava a reação de Tom que com os olhos arregalados demonstrava uma reação de surpresa positiva – Eu te peço que pare.

Tom tinha várias perguntas a se fazer, mas viu que Elizabete se esforçava demais para não fazer o assunto algo mais real do que realmente parecia ser. Abismado pelo que havia na barriga de Elizabete, Tom se concentrou e se limitou a pequenos movimentos, nenhuma palavra saiu de sua boca e ele concordou com a cabeça.

Anos se passaram, sua mulher deu a ele mais um filho anos depois do primeiro, sua casa era um ambiente aparentemente feliz. Tom amava seus filhos incondicionalmente, fazia tudo por eles, os dois mostraram a Tom o tipo de amor mais puro e rejuvenescedor que conheceu, isso ocupava o vazio deixado pelos fins de semana que, agora, Tom não saía.

Tudo aconteceu tão rápido.

Elaine faleceu e pareceu definhar até a morte. O velório de Elaine foi o único momento que Tom se permitiu falar com Jorge para passar uma mensagem de apoio, mas Jorge estava no hospital quando Elaine se foi, e depois disso ele deixou bem claro para todos que preferia passar seu tempo isolado. Tom entendia e se sentia completamente mal por isso.

A medida que seus filhos foram crescendo, Tom se viu preso com uma mulher amarga, ele fielmente acreditava que a família era mais que essencial para um ambiente enriquecedor e cheio de valores, mas Elizabete não tentava mais dar motivos para Tom, ele entendia a mulher, sabia o motivo de tanto desprezo, mas as palavras não ditas era o que o fazia dormir pela noite.

Tom olhava pela janela para a casa de Jorge para ver se o via chegar, mas ele nunca o via em casa, Jorge parecia sempre cansado e brabo com alguma coisa, tinha uma afeição que parecia não mudar independente de suas emoções. Se Tom visse Jorge chegar, sabia que iria até lá, e em sua imaginação os dois ririam de alguma coisa enquanto tomariam cerveja, talvez rissem novamente e achariam besteira de tudo o que tinha acontecido, mas Jorge nunca chegava e Tom sempre ia dormir.

Agora velho e gordo, Tom aparentava estar sempre sobrepujado, cansado, abatido, sua única semelhança com o antigo Tom, era seu bigode que cobria sua boca, não fosse ele, estaria irreconhecível a vista de todos. Tom estava voltando da peixaria em sua caminhonete azul, quando viu dois homens enormes tomando sorvete na praça, sua primeira reação foi achar aquilo inapropriado, mas demorou para notar a buzina do carro atrás que o apressava para ir em frente, pois ficou ali encarando aqueles dois homens por tempo demais. Chegou em casa, limpou o peixe, assou, fez um de seus pratos favoritos, mas propositalmente fez mais do que era suficiente. Ele sabia que aos sábados Elizabete dormia mais cedo por que ia à igreja aos domingos de manhã. Tom depositou cuidadosamente uma porção de peixe em uma vasilha de vidro marrom, tampou e a envolveu em um pano de prato seco, colocou sua camisa vermelha que o fazia parecer mais jovem, um boné que escondia sua calvície, se olhou no espelho, pegou o peixe e se dirigiu até a casa de Jorge. Tinha o plano de espera-lo chegar para dividir uma refeição. Mas conforme se aproximava viu que a luz da cozinha estava acesa, estranhou, mas continuou andando, era raro Jorge estar em casa tão cedo, mas achou bom, já que não teria que esperar, assim os dois poderiam comer o peixe ainda morno.

Tom já estava prestes a bater na porta quando se surpreendeu com a forma da pessoa que estava na cozinha de Jorge. Não era de se esperar que não fosse Jorge ali dentro, pois seu carro não estava na garagem, parecia óbvio que ainda não estivesse chegado, Tom parou para encarar o sujeito que passava pela cozinha e notou que era um jovem loiro, magro e de olhos bem azuis. Tom se entristeceu de repente, a chuva começou a cair lentamente, fazendo com que ele voltasse pra casa sem saber direito o que pensar.

No dia seguinte, enquanto assistia tv com sua mulher, alguém bate à porta. Elizabete se surpreende e automaticamente se irrita, pois odiava surpresas inconvenientes, ela abriu a porta e Tom momentaneamente reconheceu o jovem loiro em sua porta.

- Oi, meu nome é Mickey, eu tô na casa ao lado por um tempo e eu tô fazendo um bolo... eu queria saber se vocês têm um pouco de glacê?

Tom observou o garoto dos pés à cabeça e sem falar nada, percebeu o olhar torto de Elizabete virado para ele

- Jorge? – Perguntou ela, cinicamente – Como ele está?

- Bem – respondeu Mickey prontamente.

- Que bom... Tom, você poderia alcançar o glacê para o menino?

Tom pareceu acordar de um sonho numa falsa queda e estranhou a voz da mulher que pareceu tão doce se dirigindo à ele. Com o glacê na mão, Tom se aproximou do garoto e o entregou na mão, fechou a porta e pensou nele a noite toda.

Tempo depois, Tom recebeu o convite de casamento de Jorge e Mickey, ele achou muito formal ter recebido o convite pelo correio já que os dois moravam lado a lado. Ele abriu o envelope no banheiro e sentado no vaso chorou baixinho para que sua mulher não o ouvisseTom nunca havia ido em nenhuma espécie de balada, passava seus dias consertando e criando tudo que sabia de madeira. Sua mulher já não morava mais com ele, tinha ido para a casa de uma das filhas que precisava de ajuda com coisas do bebê, Tom já era avô e se sentia sozinho o tempo todo, por isso estava sempre bebendo; quando acordava, depois do almoço e antes de dormir, bebia tanto que ressaca para ele era muito difícil. Talvez fosse a festividade no ar, mas naquele dia ele começou a ter ideias normais para um bêbado, colocou sua calça mais nova, sua bota preta, o perfume que a anos não usava e em sua caminhonete azul, ele saiu. Anos atrás ele soube que um desses clubes gays havia inaugurado na cidade, claro que ele nunca tinha ido lá, nunca passado nem perto, mas hoje ele sentiu que seus pensamentos o haviam abandonado a muito tempo atrás. Ele saiu do carro e descobriu que a habilidade de andar normalmente não o pertencia mais, se ele estivesse um pouco mais sóbrio se sentiria mal pelas suas roupas, sentou num desses balcões, algumas pessoas olhavam para ele com espanto, outras pareciam gostar daquela sua aparência bruta. - Adoro ursos – Disse um rapaz que estava sentado ao se lado, mas Tom não entendeu o que aquilo significara e não deu atenção aquilo, ele estava muito ocupado distraído com a figura que estava ali sentado a duas pessoas de distância. Ele apertou a visão para ter certeza de que não estava enganado, pareceu voltar a sobriedade quase que instantaneamente, Jorge estava ali sentado próximo a ele com um olhar vago e aparentemente nervoso. Era sua chance, falaria com Jorge novamente, os dois se entenderiam e ele iria beber uma cerveja na casa dele, os dois ririam da vida e trocariam um beijo ou dois, aquela era a oportunidade que Tom tinha de se reparar dos erros covardes de anos atrás. Tom estava prestes a chamar a atenção de Jorge quando notou que sua roupa talvez não condissesse com a situação, resolveu ir ao banheiro, se olhar no espelho e disfarçar a calvície ajeitando o boné. Foi lá que ele percebeu que Rod Stewart estava cantando e então que teve certeza que estava pronto, inclusive já sabia como começar uma conversa, até o acaso estava colaborando, ele amava Rod Stewart e tinha certeza que ninguém mais sabia quem ele era naquele clube, quando saiu do banheiro animado para uma conversa, sentiu uma extrema decepção ao ver Jorge dançando sua música com um sujeito alto de pele negra.

Tom passou por ele sem ser visto, voltou para casa, se masturbou, gozou, chorou e dormiu.

LUCASLucas estava de olhos fechados conversando com Deus.

Agradecia a ele por tudo, pela família, namorada, amigos, as boas notas da escola, por tudo. Abriu os olhos ao som de um fervoroso amém e visualizou toda a sua família em volta da sala cantando parabéns a ele.

- Agora eu posso cortar o bolo – Gritou entusiasmado. O bolo em sua frente era branco e tinha vários pedaços de coco espalhados em sua borda, com os números um e sete em formato de velas, ele derrubou quando ofereceu o primeiro pedaço a sua namorada, Ana, que estava ao seu lado. Lucas era ruivo e tinha várias sardas espalhadas pelo rosto e corpo, usava aparelho de cor verde que combinavam perfeitamente com a cor de seus olhos. Ele era amado por toda sua família e estava ansioso para começar mais um ano letivo na sua escola.

Naquela noite ele ainda estava no seu quarto terminando de abrir as dezenas de presentes que havia ganhado aquele dia

- A maioria é roupa! – Disse desanimado.

- São dezessete anos – disse Ana em cima da cama rindo – O que você esperava ganhar? Carrinhos?

- Se o menos eu gostasse dessas roupas... olha isso! – Disse erguendo uma camisa listrada preta e branca – Quem usa isso hoje em dia?

- De quem é? – Perguntou Ana fazendo uma expressão horrenda no rosto.

- Da minha tia Selma!

- Então agradeça, ano passado ela deu um sutiã para sua irmã que nem peito tem.

- Argh – Lucas fez careta.

Ana olhou para ela mesma reparando dentro de sua camisa admirando seu corpo que já tinha evoluído bastante para seus catorze anos e começou a se perguntar se Lucas notava que ela não era mais criança. Se sentiu feia, ajeitou a longa cabeleira morena, deixou o pescoço a mostra. Se dirigiu a porta, sabia que os pais de Lucas não estavam em casa, trancou, olhou nos olhos do ruivo e afirmou:

- Hora de você abrir meu presente – Disse na tentativa de fazer o que pensava ser uma voz sensual.

Lucas que estava sentado no chão, viu Ana olhando para ele colocando as mãos para trás na tentativa de desabotoar o sutiã e falhando.

- Mas... Mas... Ana...

- Ai, me ajuda aqui com esse... Tá engatando na minha blusa...

- Es... Espera... – Dizia ele indo para trás e extremamente nervoso

- Que foi? – Perguntou ela assustada...

- É que... eu não.... Eu só.... Eu não acho que estou pronto para...

- Está nervoso? – Perguntou Ana com um olhar solidário – Tudo bem, eu sei como é que faz!

- E... Eu sei como é que faz também! – Disse Lucas numa voz orgulhosa

- Então me mostra! – Disse Ana finalmente desatando o sutiã e o jogando longe. Antes de se abaixar para alcançar Lucas, ela desligou a luz memorizando as partes do corpo dele para ter certeza que faria na ordem o que tinha planejado fazer. Lucas só se movia para trás com os olhos arregalados, o seu medo de falhar era avassalador.

- Mas... mas é que a igreja diz para...

- Foda-se a igreja Lucas! – Ouviu-se uma voz nervosa ali naquele quarto. Ana abriu o botão da bermuda de Lucas que já estavam quase desabotoados e o puxou rapidamente, pegando em seu pênis mediano e semi ereto com uma das mãos, dois segundos se passaram e ela ouviu de Lucas um grito extremamente agudo e sentiu sua mão se encharcar com um líquido quente e denso.

- Ai! Que nojo Lucas!! – Gritou a garota se levantando rapidamente para acender a luz. Lucas permanecia imóvel no chão do quarto assustado e confuso com tudo o que havia acontecido, pois não era assim que ele tinha visto com seus amigos Marcelo e Renato nos filmes. Não era tão rápido e não doía, ele gostava das bundas que via no computador, mas imaginou que sua primeira vez fosse numa lua de mel, numa cama bem grande e num país diferenteLucas retornou as aulas naquela segunda, a situação com sua namorada Ana, estava boa, mas não era a mesma. Os dois se falavam quase que como antes, mas ele não parava de pensar naquilo. Lucas era alto demais e incrivelmente magro, ele parecia ser mais velho, mas tinha atitudes infantis.

Todo mundo em sua sala já lhe era conhecido, afinal o Colégio não era tão grande e ele gostava de conversar com as pessoas, mas ele se surpreendeu em encontrar uma cabeça amarela no canto da sala.

- Quem é o novato? – Disse ele baixinho para Marcelo que estava ao seu lado esquerdo.

- Sei não – Disse Marcelo sem olhar pra Lucas – pergunta pro Renato.

- Quem é o loirinho ali? – Disse se virando para Renato que estava atrás de Marcelo.

- O nome dele é Mickey... – Disse Renato olhando para Mickey disfarçadamente – Ouvi dizer que ele é casado... com um cara!

- Um cara? – Lucas arregalou os olhos assustado – Como assim?

- Atenção! – Disse a professora de português que explicava alguma coisa lá na frente.

Lucas voltou a sentar-se corretamente na carteira e como se tivesse acabado de levar um choque ele permaneceu com os olhos arregalados e olhando para o nada. “Como assim casado? ” “Com um cara? ” “Eu devo ter ouvido mal” “Renato deve estar enganado! ” “Como assim com um cara? ” “Esse guri está pensando que isso é normal? ”, “Ele não conhece Deus? ”, “Por quê? ”. Lucas não sabia bem o motivo de todos aqueles autoquestionamentos, mas estava se sentindo extremamente furioso e ofendido por ter “uma pessoa assim” em sua sala.

Lucas não conseguiu tirar aquilo de sua cabeça, chegando em casa informou diretamente os pais, que ficaram barbarizados e ligaram para a escola. Lucas não tinha certeza do que queria, mas não estava chegando a lugar algum. “Como que eles fazem...? ” “Por que eles escolhem ser assim? ”. Lucas não ficaria satisfeito com nenhuma resposta que tivesse, ele sentia como se não quisesse entender, um homem casado com outro homem era contra a natureza, pois onde já se viu tal coisa? Que mundo era aquele que as pessoas estavam reagindo como se fosse algo normal.

No resto da semana Lucas e os amigos sentaram um pouco mais próximo do tal sujeito chamado Mickey. Os outros garotos não davam muita importância, mas Lucas sentia uma curiosidade doída por dentro em ouvir a voz dele, ou observar qualquer coisa que ele fazia, mas todo eu esforço foi em vão, Mickey não falava com absolutamente ninguém em sala de aula.

Já tinham passado das dez da noite quando Mickey estava saindo da escola e foi surpreendido por três rapazes encapuzados. Não havia ninguém na rua, o que dava aos rapazes uma liberdade maior para bater, socar e chutar Mickey, que para a profunda irritação de Lucas, não emitia som nenhum enquanto estava apanhando. Os três garotos juntos não causaram a Mickey grandes ferimentos, pois eram magros e fracos, mas eram cruéis o suficiente para pegar todos o seu material, rasgar as folhas do caderno em sua frente e quebrar os lápis e as canetas. Depois de caído, Marcelo e Renato mijaram em Mickey para finalizar a onda de violência que ocorria ali. Lucas estava extremamente enfurecido por não ouvir reação alguma da parte de Mickey e foi embora correndo com os garotos, observando de longe, Mickey se levantar e ir mancando para casa.

Na semana seguinte, ele notou que o garoto loiro não apareceu mais na escola e se surpreendeu se sentindo extremamente triste, a princípio ele não sabia bem o que era, “A culpa é da segunda” pensou, mas não poderia se dar esse motivo na terça, quarta, quinta ou sexta. Lucas estava extremamente triste e não sabia bem o porquêEra o final de dois mil e onze, Lucas, Renato e Marcelo voltavam para casa com suas vestes de formatura, as becas estavam na mochila, mas os três usavam uma peça na cabeça, se sentiam importantes e riam de algo engraçado que Lucas tinha contado. Eles já nem deram conta, mas já havia passado da meia noite, e as ruas estavam vazias, quando de repente se depararam com alguém vindo em direção a eles. Grande e loiro a figura parece ter um sorriso simpático.

- Oi! – Disse ele sorrindo.

- Quem é você? – Perguntou Lucas confuso

- Mickey! Lembram de mim?

Os sorrisos dos três garotos haviam se desmanchado na hora naquele momento.

- Olha cara... – Começou Renato e antes de terminar a frase Mickey dlhe acertou um soco com toda a força que tinha, em seu estômago. Renato se ajoelhou no chão sentindo uma extrema falta de ar – Mickey reagiu normalmente e andou em direção a Marcelo que tentou o atingir com um chute na orelha esquerda, mas Mickey tinha sido mais rápido e pegou o pé do garoto no ar e chutou seu queixo, vendo o sangue escorrer instantaneamente pelo seu nariz e boca. Agora só restava Lucas, que não seria estúpido o suficiente para tentar alguma coisa, então ele fechou os olhos esperando um soco, um chute, qualquer outro golpe que estava prestes a receber, ele saberia que seria justo e mesmo não doendo, ele sabia que iria chorar.

- Abaixa! – Ouviu ele

- O... Oi? – Perguntou Lucas amedrontado.

- Você tá surdo? Eu disse abaixa! – Gritou Mickey

Lucas se ajoelhou ainda de olhos fechados, ouvindo a expressão de dor de Renato e Marcelo que ainda estavam jogados no chão.

- Abre a boca! – Mandou Mickey!

Lucas obedeceu, abrindo a boca, mas permanecendo de olhos fechados. Ouviu um barulho conhecido e sentiu um líquido quente pela sua boca. Mickey estava mijando nele e enquanto o fazia, notou que um volume apareceu na calça de Lucas, achou aquilo estranho, achou que poderia ser um celular ou qualquer outra coisa, mas continuou mijando, e teve certeza de que sobraria um pouco de urina para Renato e Marcelo que não tinham forças ou coragem para tentarem desviar.

Lucas começou a chorar enquanto via Mickey colocar o pênis de volta na calça e se afastarQuase um mês depois, Lucas bateu na porta e esperou alguém atender.

- O que você quer aqui? – Respondeu Mickey surpreso pela visita.

- Eu vim pedir desculpas por tudo o que eu te fiz! – Respondeu automaticamente.

- Enfia essa desculpa no meio do seu cu! – E bateu a porta da cara de Lucas.

Lucas bateu na porta da casa de Mike novamente.

- Eu não vou sair daqui enquanto você não aceitar minhas desculpas. - Insistiu Lucas.

Mickey abriu a porta zangado e confuso.

- Você quer que eu te desculpa?

- Sim! - Concluiu Lucas com um aeno de cabeça.

- Tudo bem, está desculpado, agora pode ir embora!

- Ótimo, mas... eu não vou embora ainda – Continuou.

- Por que não? - Perguntou Mike virando os olhos.

- Porque eu quero que você me peça desculpas também...

- Como é que é? - Disse Mike olhando para ele confuso e zangado.

- Você só me agrediu porque eu te agredi, não é? Então eu já fiz minha parte... agora só falta você fazer a sua.

- Eu não vou pedir desculpa porra nenhuma!- Disse Mike grosseiramente.

- Entendo, demorou muito, mas eu achei a resposta porque eu tenho Deus no meu coração... Deus me iluminou e me fez chegar até aqui... Se você não está pronto... Bom, minha parte já foi feita. – Disse Lucas virando as costas.

- Deus disse para você ter uma ereção enquanto eu mijava em você? - Perguntou Mike cruzando os braços.

Um silêncio socou Lucas dolorosamente.

- E... Eu não sei do que você está falando... - Disse tropeçando nas palavras.

- Eu vi... - Mike afirmou com um pequeno sorriso no canto do rosto.

- O... o quê? - Lucas agora suava frio.

- O volume na sua calça... Se sentiu bem não é? Gostou?

- Vai tomar no seu c... - Lucas se censurou ao soltar aquela palavra.

- Você já falou para sua namorada que gosta de homem? - Mike pareceu se divertir com aquelas perguntas.

- Heim? - Continuou - Já comentou com ela que...

- Para! - Gritou Lucas na varanda de Mike.

Lucas fez cara de quem começaria a chorar a qualquer momento o que fez Mike se sentir horrível e naturalmente como se nada tivesse acontecido, disse:

- Chega de drama, entra aí, tem cerveja na geladeira! - Disse Mike dando as costas para Lucas e deixando a porta aberta para que ele entrasse.

Lucas ficou parado a porta da casa de Mike enquanto o observou dar as costas e sentar no sofá de frente para a televisão onde ele assistia luta.

- Se não for entrar fecha a porta, tem um ventinho frio vindo aí de fora. - Disse Mike se ajeitando no sofá.

Lucas não entendeu direito o que estava acontecendo ou o que estava sentindo, mas a velocidade de sentimentos que Mike demonstrava era rápida demais para o metabolismo de Lucas ou qualquer outro ser humano. Com todas as células de seu corpo dizendo para correr para casa, Lucas olhou para os lados, entrou, pegou uma cerveja e sentou ao lado de Mike.

- Então.... Mijar na cara! – Disse Mike - ...fetiche estranho não?

Lucas riu e disse:

- É...

Depois daquele dia, os dois começaram a se ver todas as semanas, ninguém além de Lucas mesmo achava aquela amizade estranha. Da primeira vez que ele vira Mike, Lucas não tinha mudado muito, mas havia engordado um pouco, estava mais bonito e charmoso, mantinha o relacionamento com a namorada que nunca desconfiou das preferências de Lucas, mesmo estranhando às vezes ver os dois juntos, Mike era o único garoto com quem ele conversava sobre essas coisas e se sentia bem em conversar com ele, Mike achava a estranheza de Lucas normal e gostava de ouvi-lo. Conforme o tempo foi passando, os três: Lucas, Mike e Ana, já haviam chegado a sair juntos diversas vezes.

Mike aconselhou Lucas intermináveis vezes no intuito de fazê-lo assumir a homossexualidade, que negou várias vezes dizendo que aquela não era uma opção. Mike concluiu que aquele segredo os unia e depois de algumas tentativas, Mike o entendeu, tendo a própria experiência como exemplo, os dois não pararam de conversar conforme o tempo passou. Aquela era a única amizade de Mike e de certa forma a única para Lucas também, que não conseguia ser sincero com mais ninguémMike chegou aos prantos para Lucas que imediatamente quis saber o motivo. Mike explicou a situação sobre o seu casamento com Jorge.

Lucas que não estava num mar de rosas com a namorada, deu a ideia de viajar por um tempo para Mike, que inicialmente relutou, mas depois não conseguiu ver outra opção melhor, pois não conseguia se ver voltando para casa sobre aquelas circunstâncias. Lucas contou a Mike que sua tia tinha uma casa legal no norte do país e que um tempo lá seria tranquilo para colocar a cabeça em ordem e que a cidade tinha suas vantagens.

Mike não pensou muito, só queria sumir. A viagem até lá foi essencial para o autoconhecimento e as prioridades que os dois teriam dali em diante. Os dois foram a festas, cinema, restaurantes e passaram quase um mês longe. Jorge sempre soube quando Mike iria voltar. Até que após um tempo, quase um mês depois da fuga, Mike pareceu estar mais quieto, misterioso, parecia que planejava algo em sua cabeça loura. Lucas não poderia dizer se era algo bom ou não, mas devido ao nível de amizade que eles tinham, ele sabia que se era algo que não lhe foi dito era algo grande, que nem entendesse talvez.

- Chega? – Perguntou Lucas iniciando uma conversa e achando que os motivos dos pensamentos vagos estivessem diretamente relacionados ao retorno.

- Quase... – Disse Mike numa voz rouca e cansada.

- Quer ficar mais um tempo?

- Não.... Eu tô indo... Existe algo que eu preciso fazer antes...

- Posso ir contigo?

- Não... acho que isso é algo que eu preciso fazer sozinho...

RODRIGO

Desde que Gabriel o disse que iria embora, Rodrigo nunca mais foi o mesmo. Ele se deparara com uma versão sua mais chata, egoísta, necessitada de atenção e desesperada. Ele não estava se suportando, não lhe admirou Gabriel ter o deixando e se aventurado Brasil afora a busca de algo que valesse a pena dizer Adeus. Rodrigo era muito alto, era tão branco que suas veias se mostravam azuis e verdes pelas suas mãos e braços, pescoço e coxas, não comia carne, achava maconha e outros produtos da natureza essenciais para a saúde, qualquer manifesto que houvesse na cidade ele estava lá e às vezes até fora dela. Rodrigo não gostava de criar raízes.

Aos seis anos ele chorou porque seu cachorro morreu, aos sete ele jurou que nunca mais queria cachorro, aos doze ele tinha seis cães, dois gatos e um papagaio chamado Onório. Ele falava alemão fluentemente e tinha feito teste para várias universidades pelo Brasil, mas quatro ou cinco anos se dedicando a alguma coisa lhe parecia loucura. Ele fazia vestibulares para se testar e conseguia fazer isso bem.

Aos dezesseis ele era um adolescente emancipado, não conseguia depender de ninguém além dele mesmo. Passava o dia todo descalço e enterrado em livros, ganhava um bom dinheiro com tradução para tudo quanto é tipo de documentos, não recusava trabalho, contanto que ele pudesse fazer em casa. Pagava aluguel, pois para sempre não era com ele. Sua barba era enorme, ele se assumira antissocial a tempos, transava com homens e mulheres, mas não dormia com ninguém, era algo do tipo “oi, tudo bem?” e “tchau, até mais”, achava a vida ótima apesar de se deprimir fácil às vezes.

Conheceu Gabriel e sua vida mudou completamente. Não que Gabriel fosse responsável por mudanças nele, mas ele se auto percebeu diferente perto de Gabriel. Ele se auto flagelava mentalmente diversas vezes ao dia depois que Gabriel o deixou, questionava ele mesmo, o mundo ao seu redor e a existência de todos os seus princípios. Em uma semana de profunda neurose chegou a considerar se internar, porque aquilo não era normal.

Rodrigo iniciou seu ciclo de terapia e aos poucos foi se achando, se encontrando, se entendendo. Nunca mais se sentiu cem por cento bem, mas estava de bem com o resultado. Ele era muito amigo da família de Gabriel e constantemente passava na casa dele para tomar um chá com sua mãe. Os dois falavam sobre as mais diversas coisas, Deus, o futuro, a internet e a novela, enfim, diversificavam e poderiam falar, falar e falar por horas.

Ele já tinha aceitado o fato de Gabriel ir embora e tinha a consciência de que não pertencia a sua natureza fazer algo para impedir, mas foi quando o carteiro bateu a porta da casa da Dona Lu, mãe de Gabriel, que ele sentiu sua neurose subir à cabeça novamente.

No período de tempo entre a notícia da mudança para Europa e o término do relacionamento, Gabriel numa empolgação cega, havia se inscrito para diversos cursos afora, mas devido algumas dificuldades nunca tinha tido sucesso em nenhuma resposta. Gabriel já tinha perdido as esperanças de que a única Universidade que ainda não tinha lhe respondido, o daria uma resposta positiva, mas deu. Rodrigo tinha em suas mãos uma chance de fazer as pazes com Gabriel, de vê-lo novamente, de presenciar aquele sorriso gostoso e aquela bunda bonita, de lamber a cor e ouvir o som do seu gemido, lhe fazer café e ouvir seu coração. Depois que dona Lu teve a tentativa falha de fazer uma ligação ao seu filho, ele insistiu em entrega-la pessoalmente e como conversa com dona Lu era algo que ele era muito bom, não foi com muito esforço que ele a convenceu. Gabriel aparentemente não presenciava muito o apartamente que se dizia estar, o desafio agora era saber exatamente onde Gabriel estava, o que não foi difícil, pois o ego de Gabriel em relação a redes sociais o ajudara, em todos os cantos que Gabriel tinha orgulho de mostrar que estava, ele fazia um check in nas redes sociais, uma confirmação de presença que também acusava com quem estava. Rodrigo entrou em contato com várias de suas companhias e por meio de disse que disse, ele já tinha alguns locais em mente, agora era só ir. Só tinha um pequeno problema no seu plano maravilhoso: teria que contar a sua namorada que estava indo atrás do seu ex namorado.

Sempre que perguntado sobre sua orientação sexual, Rodrigo não escondia seu descontentamento com o questionamento pobre. “Pessoas” respondia ele. “Minha ereção é nas histórias”, insistia, ele sem nem mesmo dar atenção a reação das pessoas e com essa filosofia ele foi seguindo a vida, comendo quem ele queria, até que Tamara apareceu.

Ele estava a mais de três horas preso num livro de Biologia quando a conheceu algo envolvido com um trabalho que deveria traduzir e ela não tirava os olhos dele.

- Olá! – Disse ela aparentando meio nervosa.

- Olá! – Disse ele se sentindo ofendido pela leitura interrompida.

- Eu vi você lendo por um bom tempo, e quis te olhar diretamente nos olhos para você perceber que eu estava te olhando, mas você estava lendo esse livro que eu acabei desistindo e vim logo aqui para chamar sua atenção.

Rodrigo achou que fosse amor à primeira ouvida, se surpreendeu com as palavras repetidas e inteligentemente colocadas em ordem para expressar a confusão interna daquela pessoa que estava a sua frente.

Tamara tinha a voz de um moleque que tentava imitar uma garota, era suave, mas parecia forçada, tinha um cabelo curto e preto, usava óculos grande e preto, que deixavam seus olhos azuis maiores do que era, não era gorda nem magra, tinha as pernas grossas e as bochechas alaranjadas.

Rodrigo apreciou a situação em que estava e então decidiu entrar de cabeça no seu tipo favorito de conversa, uma desconhecida.

- Eu acho um fato interessante na sua personalidade o fato de não esperar que eu te note e vim me fazer te notar antes, isso é bonito da sua parte. – Disse ele tão rápido que pensou que a faria se perder.

- É, eu sei que se eu pensasse demais ia acabar pensando que eu ia fazer besteira, então eu vim aqui mesmo assim, sem pensar em pensar demais.

- E seus pensamentos estão em ordem agora?

- Não, eles estão sempre bagunçados, mas eu gosto deles assim.

- Eu estou começando a gostar da sua desordem de pensamentos.

Os dois falavam tão rápido que qualquer pessoa que os olhasse exteriormente acharia que os dois eram esquisitos e de fato eram, dois esquisitos lindos.

Tamara e Rodrigo, olharam discretamente para a bibliotecária para ver se ela não tinha se incomodado com os cochichos dos dois ali no canto, mas aparentemente ela tinha sumido de vista.

- Eu achei que alguém que estivesse interessado em biologia marinha fosse uma pessoa legal de se trocar uma ideia. - Disse Tamar o encarando sem piscar.

- Sim, espero que você esteja certa... - Comentou Rodrigo sério... deixando explícita a reticências na espera que ela se introduzisse.

- Tamara! - Disse animada.

- Tamara? Que nome lindo! Me lembra de tamarindo! Eu adoro tamarindo... Mas eu tenho a impressão que te conheço de algum lugar Tamara...

- Sim, você já me viu algumas vezes na sala de espera da doutora Sofia. – Disse Tamara rapidamente baixando cada vez mais a sua voz.

Rodrigo começava a se lembrar do formato do rosto de Tamara, mas parecia não estar chegando a lugar algum.

- Doutora Sofia... Psicóloga e terapeuta?

- Exatamente! - Concordou aflita.

- Você está ficando cada vez mais interessante a cada minuto que passa...

Tamara soltou um riso tão alto que fez a bibliotecária aparecer atrás deles como um fantasma e expulsá-los usando seus olhos arregalados e sua veia pulsante na testa.

Os dois não se demoraram para sair e pelos corredores da saída começaram a conversar usando uma tonalidade de voz normal para Rodrigo, mas para Tamara parecia que sua voz tinha sido alterada.

- Eu vou ver a Dra. Sofia duas vezes por semana porque eu estava ficando louco... e você?

- Que maneira legal de se fazer amizade com alguém. – Disse séria.

- É, eu sempre apreciei a sinceridade como um dom nas pessoas. – Completou Rodrigo.

- Bom, eu a vejo uma vez só por semana, estou passando por um processo de aceitação com meu novo corpo... – Disse Tamara com a voz mais baixa e grave.

- Aceitação, que tipo de aceitação... Oh pera... Você era o David! – Rodrigo de repente se lembrou do garoto gordinho que conheceu a alguns anos atrás no mesmo protesto em que conheceu Gabriel. – Você era um garoto.

- É... Tipo isso! - Disse mexendo os ombros.

- Caralho! Que foda isso cara! – Disse Rodrigo olhando para Tamara com os olhos enormes e arregalados.

- Foda!? – Repetiu Tamara – Foda do tipo bom ou foda do tipo ruim!? – Tamara estava nervosa, e acabou deixando de lado um pouco o esforço para mudar sua voz.

- Foda do tipo mais fodasticamente foda de todos – Se expressou Rodrigo rindo.

Tamara não entendeu, mas ria também.

A conversa a partir dali foi criada de Rodrigo fazendo perguntas e Tamara respondendo.

- Por quê?

- Desde quando?

- Como?

- Onde?

- Como é que foi?

- O que que muda?

- Ter peitos... é...?

- Você já... ?

- Você ainda tem...?

- Como é que foi contar a seus pais?

- Como assim?

- Você mija sentada?

- Doeu?

- Aqui dói? E aqui? E aqui?

- Posso ver?

- Posso pegar?

- Meu caralho!

- Tá tarde né?

- Você gosta de café?

- Gostou?

- Eu tenho uns filmes aqui, quer ver?

- Eu não acredito que você disse isso!

- Teu cu!

- Sério?

- Trans o quê?

- Jura?

- Teu cu!

- Onde você leu isso?

- Quem?

- Quando?

- Onde?

- Tá com frio...?

- Eu tenho um cobertor aqui... Você quer?

- Eu que fiz.

- Será que...?

- Posso?

- Você já fez com mais alguém?

- Posso colocar?

- Se machucar você me avisa?

- Tá doendo?

- Tudo bem?

- Vamos tomar banho?

- Adorei te conhecer, sabia?

- Ah, que horas você vai Dra. Sofia amanhã?

- Boa noite!

- Bom dia!

- Dormiu bem?

- Te vejo amanhã?

- Beleza!

- Passa aqui!

- Tá!

- Beijo!

Tchau!

Tamara estava numa fase frágil da vida, se Rodrigo pensasse muito sabia que não conseguiria dizer o que tinha que dizer para ela. Os dois estavam juntos a quase dois meses e a relação era um reino de uma mistura de sinceridades desnecessárias e necessárias, os dois eram completamente justos e verdadeiros um com o outro. Ele não poderia mentir para ela, não conseguiria. Logo ela, que o suportou e o apoiou quando ele tinha confessado a ela o sofrimento que passou com a partida de Gabriel. Ele não poderia dizer estou indo e simplesmente ir. Isso seria cruel, ele não era cruel, não sabia como ser e também não tinha ambição em se tornar um.

Tamara agora chorava escandalosamente sobre a cama de Rodrigo, parecendo inconsolável, um choro tão alto e tão sofrido que Rodrigo se sentiu horrível em ser o responsável por ele.

- Ele te deixou! – Gritava Tamara! – Ele te deixou! E você vai atrás dele!

- Mas Tamara, nós não namoramos, mas eu ainda me importo com ele – Rodrigo tentava se explicar, mas quase que não conseguia se fazer ouvir entre o escândalo de Tamara.

- Você ainda ama ele! Você mentiu para mim! Você está correndo atrás dele! – O rosto de Tamara se inundava em lágrimas, catarro e saliva que soltava em meio de seus gritos.

- Não Tamara, eu só estou indo lá porque quero dar uma boa notícia para ele... ó aqui, uma carta, uma carta de aceitação de uma universidade que ele queria... Só isso eu juro!

- Não.... Você vai me deixar.... Assim que você ver.... Ver.... O Gabriel, você vai voltar com ele! – Tamara começava a se perder no meio de seus argumentos e se confundia em suas razões.

- Ele está indo embora do país, para sempre Tamara.

Tamara aos poucos ia se acalmando e com o queixo ainda tremendo tentava formar uma frase em que era necessário o contato visual para ser feita. Depois de um tempo tentando se acalmar, ela concentrou seus olhos azuis parcialmente vermelhos nos olhos de Rodrigo e perguntou:

- Se.... ele disser que fica, você prefere ficar comigo?

- Claaro que sim meu amor, ele me deixou, lembra? Eu só amo você! - Disse Rodrigo encaixando o roste de Tamara na palma de suas mãos.

- Você não mente para mim, né? - Perguntou Tamara com o rosto ainda umedecido.

- Claro que não, você sabe disso! – Mentiu Rodrigo. - Quer um café? - Desconversou botando um ponto final no assunto.

- Não... mas.... Eu quero, eu quero ir com você! - Rodrigo se surpreendeu com o pedido de Tamara, mas sabia que se negasse aquela condição, teria que enfrentar mais gritos e desesperos e tudo que ele sentia naquele momento era preguiça de lidar com tudo aquilo:

- Claro, na verdade eu quero que você venha comigo.

- Jura? – Tamara perguntou baixinho.

Juro. – Confirmou RodrigoTamara estava sentada sobre sua enorme mala verme musgo quando Rodrigo saiu do banheiro com uma toalha enrolada no cabelo e outra toalha enrolada na cintura, ela parecia perdida no meio de suas ideias, Rodrigo sabia que ela não aparentava estar bem já fazia um tempo e foi por medo que decidiu não perguntar nada.

- Rô! – Anunciou Tamara.

- Sim? – Disse Rodrigo olhando diretamente para ela.

- Eu não quero ser..... Eu não quero parecer incompreensível, mas eu decidi que eu não quero ir...

Rodrigo sentiu um alívio que decidiu não demonstrar

- Tudo bem, meu amor...

- Eu também não quero que você vá – Disse Tamara o cortando.

- Como? – Perguntou Rodrigo esperando ter ouvido errado.

- Eu não vô e não quero que você vá! Eu quero que você fique por mim, eu quero que você me escolha, eu quero me sentir importante, eu quero saber que eu significo alguma coisa para você, eu quero que você me ame mais do que você ama ele! – Tamara respirou aliviada depois dessa frase, como se tivesse acabado de tirar quilos de suas costas.

- Mas amor... - Começou Rodrigo mais sério que o normal.

- Eu não quero, “mas...” Eu quero você aqui – Disse Tamara escorregando no grave de sua voz e caindo no choro novamente – Aqui, comigo... – seu rosto começou a corar novamente, seus olhos marejaram em lágrimas. Ela observou Rodrigo perplexo sem dizer nada e começou a ficar eufórica novamente – Rô... – implorou ela - ...por favor... – suas mãos se uniram uma a outra e ela começou a tremer.

Rodrigo se aproximou dela, a abraçou

Eu tenho que ir... - Deu um beijo em sua testa - Desculpa Tá!?Agora ele estava dentro de um apartamento com paredes brancas, Gabriel acabara de entrar parecendo desesperado, ele quase se emudece com a situação e num alívio supremo ele diz em voz alta:

- Finalmente! – E repara Gabriel se assustar com sua presença ali.

Rodrigo?! – Diz Gabriel pasmo.

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Comentários

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Nuss... Espero q Gabriel fique e com mikey e Jorge... Tava tão bom... Tom q se exploda, foi covarde no passado e agora q se ferre... E esse Lucas hein... Até q é legalzinho... Tomara q o Mickey tenha dado uma surra no pai e irmão dele... E Rodrigo tem q ficar com Tamara e esqcer Gabriel, já q ele já tem sua própria vida...

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