Mark porter parou o carro em frente à da casa do ex-marido, ignorando a voz em sua consciência que o alertava para o perigo do terreno em que estava prestes a pisar. As amigas iriam matá-lo, quando soubessem! Talvez sua familia o deserdasse. O pai, em particular, o acusaria de ser o maior idiota do planeta. Mas, no fim, eles entenderiam... Isto é, desde que ele e Glenn se entendessem.
Tal detalhe, porém, não significava nada no momento. Ele tinha que dar o primeiro passo, era por isso que estava ali.
O coração martelava no peito, e a chave do carro quase escorregou das palmas úmidas de suas mãos quando a tirou da ignição.
Para se acalmar. Mark estudou a fachada do sobrado luxuoso em que ele e o ex-marido haviam morado por três anos, até se divorciarem. Ele ficara com a casa, e continuara no mesmo endereço depois de se casar pela segunda vez, numa união que havia durado pouco mais de um ano.
Ao menos, a segunda esposa de Glenn tivera algo que ele nunca lhe dera: um filho.
Mark suspirou. A recusa obstinada de ter filhos fora o principal motivo da separação. Ser pai era o maior de seus sonhos, e quando Glenn se negara a realizá-lo, el percebera que o amor pelo marido não superava a frustação. Não sabia como a segunda esposa conseguira convencê-lo a ser pai, mas suspeitava que o nascimento de Britney fora o pivô da separação.
De qualquer forma, Glenn estava disponível novamente, e talvez o fato de ter um filha o estimulasse a reconsiderar sua posição. Afinal, quem resistia uma adorável bebezinha de bochechas rosadas?
Glenn resistia, ele pensou com tristeza. Pelo que sabia através das amigas, ele se limitava a enviar uma generosa pensão para filha, preferindo passar os finais de semana jogando golfe a visitá-la.
Deixando as reflexões de lado, ele focalizou a atenção no sobrado. Apenas uma janela no primero andar refletia a luz do interior.
Armando-se de coragem, repetiu o discurso que havia praticando mentalmente: Glenn, eu estava passando aqui perto, vi as luzes acesas e pensei em parar. Não venho a esta casa há tanto tempo... Queria ve se você manteve os azulejos amarelos da cozinha...
Ele sorriu ao se lembrar de como haviam discutido sobre a cor dos azulejos. Glenn queria branco, mas a infância de mark fora passada numa cozinha amarela. Ele finalmente vencera a batalha ao dizer que aquela cor tinha um efeito mais tranquilizadordo que outras do espectro, e o marido lhe dera o benefício da duvida. Ele provara que estava certo quando a cozinha ficara pronta.
O sorriso se alargou em seus lábios. Aquela parte da sua vida de casado fora boa, ao menos no começo.
E se dependesse dele, voltaria ser, pensou com firmeza. Olhou resoluta para casa. Em primeiro lugar, precisava ter certeza de que Glenn não estava com companhia. Então, poria seu plano em ação.
Saltou do carro, fechou a porta com suavidade e caminhou para a entrada. A brisa fria agitava as folhas caídas,anunciando a chegada do outono.
As cortinas das janelas da frente estavam cerradas, mas havia uma fresta pela qual podia ver o interior da sala. Mark ajeitou a camisa e a calça com uma mão, enquanto afastava as folhas dos arbustos com a outra. Agradeceu à sorte pela escuridão, receando que algum vizinho a confundisse com um intruso, e espiou pela janela da sala. Glenn estava sozinho, sentado na poltrona reclinável, com o controle remoto da televisão sobre a perna.
Observou-o por um momento. Os cabelos encaracolados estavam despenteados, e ele usava calça social e camisa, com a gravata solta no pescoço. Na certa estava ali desde que chegara do escritório.
Mark se afastou com cuidado e tirou do bolso da calça as chaves da casa que ele se esquesera de devolver depois do divórcio. Mas suas mãos tremiam tanto que ele não conseguiu segurá-las.
Congelou quando ouviu o som metálico do impacto da chave no chão, e teve a impressão de que soava com força de mil decibéis. Ao dar o passo, as botas novas, compradas exclusivamente para a ocasião, esbarraram em lago sólido, e o alarme do carro disparou. O som estridente ecoou pela noite silencios, e el desejou que o chão se abrisse e o tragasse.
Aflito com o escândalo que estava produzindo, mark se abaixou e tateou o chão. Obviamente, havia esbarrado no botão do alarme acoplado ao chaveiro, e não havia como intereompê-lo até que o encontrasse.
Num gesto de desespero, ele se agachou e correu a mão pela grama. Nada! Aflito, passou as plamas pelo chão. O chaveiro havia desaparecido!
No instante seguinte, o pior aconteceu. Da posição em que estava, no gramado, ele viu a luz se acender na varanda... e Glenn abriu a porta.
Apavorado, mark se abaixou até que o rosto encontrasse a grama, e prendeu a respiração. Ele não a veria... mas veria o mercedes prateado parado diante da casa.
Claro, poderia pensar que pertencia a outra pessoa, especialmente se ele conseguisse encontrar a chave e desligar o maldito alarme.
Continuou a tatear os dedos na grama enquando, com o canto os olhos, viu Glenn descer os dregraus e olhar para rua.
Deveria se levantar e confessar, ou seria melhor esperar que ele entrasse? E se ele saísse para investigar de onde vinha aquele alarme estridente?
Tentando se acalmar, ele se lembrou que alarmes de carro disparavam o tempo todo. Quando ele não avistasse ninguém nos arredores, perderia o interesse e entraria.
Por outro lado, algum vizinho intolerante poderia chamar a polícia. Como explicar o que estava fazendo ali, naquela posição ridícula, se fosse flagrado por algum policial?.
Então, ele teria de se revelar. Mas que razão plausível haveria para estar de quatro no gramado, escondido atrás dos arbustos?
- mark?
A voz de Glenn soou incrédula... e alta. Mas não tinha como ser diferente, já que ele teve de gritar acima do alarme do carro.
Respirando fundo, ele se levantou e ajeitou a camisa com uma naturalidade forçada.
- oh... olá, Glenn - mark procurou exibir seu mais brilante sorriso, mesmo sabendo que ele não poderia vee no escuro.
- Que diabos você está fazendo? - Glenn tapou os ouvidos com as mãos. - pelo amor de Deus, desligue esse maldito alarme!
Aquele não fora o mehor começo, mas nem tudo estava perdido, ele pensou. Ajeitou a gravata com os dedos e tentou permanecer calmo.
- Não posso. Estava a ponto de bater na porta quando minha chave caiu, e o impacto deve ter acionado o botão - ele fez um gesto na direção do carro com um risinho nervoso.
- E como você derrubou as chaves no meio dos arbustos?
Mark riu mais alto, consciente de que estava à beira da histeria.
- Não é incrível? Você sabe... às vezes, os objetos parecem ter vida própria!
Glenn desceu os degraus e se moveu ao redor dele, olhando para o chão. No instante seguinte, encontrou a chave e estendeu-a para mark como se fosse uma peça de roupa suja que ele havia esquecido.
Disfarçando o tremor das mãos, ele desligou o alarme e guardou a chave no bolso.
- Sinto muito. Eu não queria invadir sua privacidade.
Glenn o encarou com suspeita e correu a mão pelos cabelos.
- O que está fazendo aqui?
- Eu... bem, eu estava passando aquo perto e decidi parar - repetiu o discurso que havia decorado. - vi luzes acesas e... Estou interronpendo alguma coisa?
- Não, mas provavelmete você já saiba disso.
Ele pensou em improvisar e perguntar se ele estava procuranco companhia, mas achou que soaria ousado demais.
- Eu nao vejo a casa há tanto tempo... - Ele percorreu o olhar pela fachada, sorrindo com toda a confiança que conseguiu reunir. - Está ótima! A cozinha ainda é amarela?
- A cozinha? - Glenn o encarou como se ele estivesse maluco. - Não,é branca. Por que?
- Oh... - O sorriso se dissolveu. - Por nada. Posso entrar? Só um minuto? - insistiu, quando Glenn hesitou.
- Não sei se é o melhor momento, Mark. A casa está uma bagunça.
Ele espiou pela porta entreaberta e pestanejou. Sempre se orgulhara do bom gosto dos móveis da casa quando morava com Glenn.
De repente, ele não queria mais ver a cozinha.
- Glenn, eu estava pensando... - Ele forçou um sorriso certa de que conseguira apenas uma careta. - Eu esperava que nós pudéssemos... que talvez você quisesse... oh, eu estou estragando tudo...
- O que, exatamente, você está estragando?
Glenn cruzou os braços, com expressão séria, e mark notou que a barriga dele estava mais protuberante. Ouvira dizer que ele havia se inscrito na maratona da corrida de inverno, e o imaginou chegando em último lugar, exausto e ofegante. Pensamento quase a fez rir, mas ela conseguiu refrear o ímpeto a tempo.
- Bem, eu queria perguntar se nós poderíamos nos encontrar, alguma hora... só para... você sabe, pôr a conversa em dia.
Os olhos dele se moveram do horizonte para o rosto de mark.
- Mar, da última vez que nós conversamos, você disse que eu fui o maior erro da sua vida e que estava feliz por termos nos separados.
- Eu sei, mas...
- E eu acho que não quero repetir. Já entendi. Eu faço mal para você. Arruinei sua vida. - ele clareou a garganta e acrescentou : - Então, tem outra coisa que você queira me falar, ou isso é tudo?
Mark baixou os olhos. Ele estava certo.
Glenn fora procurá-lo logo que o segundo homem o abandonara. E era verdade. Ele dissera tudo aquilo, e fora logo depois de ouvi-lo declarar que o amava e que jamais deixaria de amar.
O problema era que ele não estava pronto para ouvir aquilo. Não naquela ocasião. Ainda não havia superado a mágoa. Como Glenn fora capaz de se casar apenas três mese depois do divórcio?! E, como se não bastasse, ele concordara em ter um filho com Mike!
- Na verdade, tenho um assunto para tratar com você. - Ele se empertigou. - Gostaria de me desculpar por ter sido tão rude no nosso último encontro. Eu tinha minhas razões. Não estava pronto para ouvi-lo. Fui surpreendido por você e por tudo o que disse. Acho que senti exatamente como você está se sentindo agora.
Glenn permaneceu em silêncio, mas sua expressão se suavisou.
- Aprecio sua solidariedade, mar - disse finalmente, e então mark respirou, aliviado.
- Então, podemos nos entender? -suas mãos tremiam. Ele o as pertou fechando os punhos. E ele se obrigou a relaxar. - O que acha de sairmos para jantar?
- Mark, estamos juntos agora. Porque não me diz por que veio aqui?
Com um suspiro, Glenn sentou-se na cadeira de vime da varanda, a mesma que mark comprara no começo do casamento. Mark tentou recuperar o equilíbrio, mas não conseguiu superar a humilhação de não ter sido convidado para se sentar.
- Mar, eu conheço você muito bem. Sei como você é. Não precisamos tentar ser amigos, se é o que você está pretendendo. Portanto, não se culpe por ser responsável pelo fim do casamento.
- Eu não me sinto responsável! Não estou aqui porque me sinto culpado. Estava apenas pensando no nosso último encontro. Sinto muito por ter falado tudo aquilo e por ter batido a porta com força no seu nariz... Eu gostaria de conversar, mas não aqui.
Glenn franziu a testa e o encarou com olhar cético.
- Está se referindo à noite em que o procurei na sua casa e coloquei o meu coração a seus pés, e você fez com que eu o engolisse?
- Certo, eu mereço isso - ele resmungou, apoiando-se na amurada. - estou falando do encontro em que você disse que não ter superado completamente nossa história.
Pronto. Havia dito. Talvez tudo fosse diferente daquela vez, porque ele estava diferente. Estava mais forte emocionalmente.
Aliviado, Mark sorriu e procurou os olhos de Glenn.
- E você? - Ele inclinou o corpo para frente e o encarou com expressão de desafio. - Já superou a mágoa?
- Creio que sim - Mark se esforçou para manter o contato visual. - E então? Gostaria de ir jantar na minha casa?
O convite o tomou de surpresa.
- Jantar? Na sua casa?
- Isso mesmo. Eu cozinho.
- Quando?
A pergunta soou como se Mark tivesse informando sobre um assassinato que ele desconhecia.
- Que tal na sexta-feira?
Inexplicavelmente, a confiança de mark retornou. Pegá-lo de surpresa havia sido uma boa tática. Não havia planejado o convite para jantar, mas a improvisação fora um excelente ideia. Além do mais, ele era ótimo na cozinha.
- Bem, eu não sei... - Glenn desviou o olhar. - Talvez eu tenha de ficar com a bebê no final de semana. Telefonarei amanhã para confirmar, está bem?
Mark ignorou a carga emocional provocada pela informação e sorriu.
- Está bem. Espero sua ligação.
Mark virou-se e deu alguns passos na direção da escada, consciente de que seu corpo ficava fabuloso naquela calça justa.
- Então, nos falamos amanhã - disse por sobre o ombro, com um aceno de despedida.
- Vitória! - mark se congratulou, erguendo as mãos em punhos, eufórico, depois de entrar no carro.
Agora, tudo o que tinha que a fazer era planejar o cardápio perfeito e Glenn estaria em suas mãos.
Continua...
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