2ª PARTE
CAPÍTULO 2
FRANGO E LARANJADe uns anos pra cá Mike tinha sofrido mudanças berrantes em seu corpo e personalidade, tinha dedicado anos na construção de seu corpo, sua profissão o ajudava, tinha a mente aberta e apesar de não ter concluído o Ensino Médio, com a ajuda de Jorge, havia concluído cursos nas mais variadas áreas, tais como culinária, informática avançada, engenharia, artes marciais e pintura. Possuía uma inteligência atípica, o tempo contribuiu com a elevação de seu sarcasmo, carregava arrogância e um certo ar cruel no olhar que contribuía para exalar seu charme. Havia pouco do Mike de 2004 nele.
- Jorge... - Disse Gabriel se levantando.
Jorge deu um passo para frente, agindo como se estivesse tudo sobre controle respirou fundo e começou a falar, intercalando olhares entre os olhos de Gabriel e o chão.
- Eu lamento que você saiba dessa forma, eu entendo se você estiver sentindo seja lá o que você estiver sentindo eu só...
- Tudo bem! – Disse Gabriel, com raiva e triste, lembrando que ainda tinha que esclarecer que estava indo embora e ainda não tinha o feito.
Eles eram mentirosos e isso é o que mentirosos fazem: mentem.
- Olha só... - Disse Mike voltando pro fogão - Ele perdoa fácil... não larga, não. – Disse Mike para Jorge, sarcasticamente. Jorge ignorou Mike, mas sabia que Gabriel não levaria a situação fácil assim e logo desconfiou que algo estivesse errado.
Gabriel não compreendia porque Mike, que até agora estava agindo como uma pessoa amigável, de repente começara a permitir uma certa quantidade exorbitante de sarcasmo fluir.
Um silêncio transgressor na cozinha e agora a mesa diferente se assemelhava a um tabuleiro. Gabriel não sabia se estava jogando, e se estivesse ,contra quem jogava.
- Vamos comer?! – Disse Mike com a panela na mão – Não você Gabriel, aparentemente, Jorge só te come quando eu não estou aqui, agora eu estou falando da comida. - Completou.
Gabriel parou para pensar se tinha entendido bem o que Mike acabara de falar com a maior naturalidade e decidiu participar daquela agressividade passiva.
- Ótimo! - Disse Gabriel. Jorge observava assustado os dois se movendo em sua frente.
Jorge olhava para Gabriel, achando que se faria necessário grande esforço para convencê-lo a ficar naquela cozinha, mas o mesmo foi o primeiro a ajeitar-se no canto da mesa, se equilibrando em cima da cadeira, estranhando ainda que havia algo estranho com a mesa.
- Essa mesa... – Começou Gabriel
- Não tem nada de errado com a mesa, Gabriel, se você já tivesse transado em cima dela, como eu fiz, saberia. – Disse Mike com a voz mais embravecida, colocando uma quantidade generosa de espinafre refogado sobre o prato branco quadrado que estava a sua frente. – Mike agora se movia para o meio da mesa colocando uma colherada de espinafre com violência sobre o prato de Jorge – Já coloco o frango na mesa.
- Quer ajuda? – Se ofereceu Jorge.
- Não, obrigado! Você já teve o suficiente – Mike se abaixou com dificuldade para tirar o frango do forno e o pôs sobre a mesa – Frango assado, acho que vocês já estão familiarizados com o nome.... Enfim, se sirvam crianças!
Entre pratos, garfos, rancor, laranjas, que deixavam a dúvidas se eram de ceras ou não, vegetais e animais, três rapazes jantavam tranquilamente, Jorge parecia estar reaprendendo os movimentos básicos de levar a colher até a boca e tentava olhar para Gabriel e Mike que pareciam estar tendo uma noite agradável.
- Tem algo para beber, eu preciso beber alguma coisa... – Perguntou Gabriel, sentindo um leve gosto de pimenta em sa boca.
- Claro – Respondeu Jorge se levantando e indo em direção a geladeira - O que você quer?
Mike observava a relação dos dois com certo desconforto e de boca cheia.
- Tem água, suco, vinagre e detergente em cima da pia – Disse Mike separando uma coxa do frango.
Jorge olhou para Mike com desaprovação e Gabriel sorriu agiu como se tivesse escutado uma piada sem graça..
E você quer tomar alguma coisa Mike? No cu por exemplo? – Perguntou Jorge.
Uuuuuuuuh – Disse Gabriel em voz alta, surpreso com a resposta de Jorge.
- Eu? Achei que alguém já estivesse tomando por mim... – Respondeu Mike rapidamente
- Gente – se pronunciou Gabriel – Eu não quero causar nenhum desconforto... - Disse rindo.
- Você não está causando desconforto nenhum – Comentou Jorge calmamente
- Água está ótimo... – Disse Gabriel baixinho
- Água então...
- Para mim suco – Disse Mike.
- Suco então!
Jorge sentou em sua cadeira no meio da mesa e ergueu os braços alcançando a frente de Mike e Gabriel sem esforço. Ele notou só agora que ainda estava de toalha, cogitou a possibilidade de voltar ao quarto e colocar alguma coisa, mas temia encontrar dois corpos ensanguentados quando voltasse a cozinha.
- O frango está muito bom, Mike – Disse Gabriel tentando iniciar uma conversa em nome da paz.
- É.... por favor, para você é Mickey! - Cortou Mike rapidamente ignorando o elogio.
- Por favor, desculpe o comportamento do Mike – começou Jorge
- Não se desculpe por mim não... Quem faz um frango melhor? Eu ou ele? Não tô falando da comida. - Disse de boca cheia.
- Escuta aqui, por que essa agressividade toda? - Perguntou Gabriel exaltando a voz.
- Ah desculpa, o que o moço disse? – Perguntou Mike erguendo o ouvido em sua direção.
Gabriel olhou para Jorge que o observava com o semblante corado, respirou fundo e de alguma maneira encontrou-se dentro daquele ar desconfortável. Com faca e garfa nas mãos, disse mais alto que o normal – Mike, foi você que se foi...
Silêncio.
Mike se sentou calmamente e contrariado, agarrou a coxa de frango com a mão esquerda e atirou na testa de Gabriel.
Gabriel ainda não tinha acreditado no que havia acabado de aontecer, passou a mão sobre a testa, qu agora doía, sentindo o molho vermelho descer obre seu rosto.
- Mais respeito na minha casa! - Disse Mike nervoso - Você nem convidado é aqui, é só um lanchinho que Jorge resolveu comer enquanto eu não tava! – Disse demonstrando fúria em sua voz.
Jorge virou o rosto mais de três vezes olhando estagnado para os dois jovens em sua frente sem saber ao certo o que faria ou o que deveria fazer. Decidiu levantar para limpar parte do rosto de Gabriel, mas sua toalha prendeu na cadeira e agora ele estava completamente nu, mas nenhum dos dois rapazes na mesa percebeu, pois agora Gabriel havia arremessado outro pedaço de frango em direção a Mike, que na virou o rosto a tempo fazendo com que a sobrecoxa acertasse sua orelha esquerda.
Você não fez isso! – Disse Mike bufando.
Pelo amor de Deus! - Disse Jorge embaixo da mesa tentando desprender a toalha.
- Fiz! Fiz sim... E faço de novo! – Gabriel pegou a laranja que agora percebeu não ser de cera, se animou pelo peso e jogou em Mike, dessa vez acertando seu olho direito. - Gabriel estava feliz com sua pontaria.
Foi possível ouvir um gemido de dor grosso da parte de Mike, enquanto Jorge com a bunda de fora tentava inutilmente desprender a toalha debaixo da cadeira. Gabriel verificou o prato de Mike e sabia que não havia frango para tentar desviar, com a mão sobre o olho direito, Mike alcançara outra laranja e acertou o pescoço de Gabriel que tossiu, tentando xingar, mas sem sucesso.
Ao memso tempo, os dois olhavam para as incontáveis laranjas no centro da mesa e ao mesmo tempo se apoiaram por sobre a mesa para alcançar, a mesa que já estava torta sentiu um dos pilares abaixo desabar e agora se inclinava, caindo pesadamente sobre as duas coxas de Jorge, também pressionando a perna direita de Mike e a perna esquerda de Gabriel. O que restou do frango no centro da mesa cobria o pênis de Jorge que urrava de dor e tinha todo o seu peitoral coberto de molho e espinafre, várias laranjas rolavam espelhadamente pela sala.
- Algum de vocês dois, por favor, me ajuda... minhas pernas... elas estão... - Pediu Jorge agonizando.
- Aah! – Mike, mesmo preso, se esforçou para pegar a laranja do chão e jogou em direção a Gabriel que mal conseguia se defender, pois também estava com a perna presa, entretanto com mais laranjas a sua volta, esqueceu a dor que sentia e ignorou a situação ridícula em que se encontrava Jorge e lançou três laranjas em Mike, uma atrás da outra, com força acertou seu nariz, queixo e ombro. Agora sangrando pela narina esquerda, Mike conseguiu erguer a panela do arroz com uma só mão, mas não tinha forças o suficiente para arremessar em Gabriel, foi então que Jorge sentiu o peso da panela em sua testa, gritando tão alto que fez com que Aaron chegasse a cozinha latindo e lambesse o chão.
- Pelo amor de Deus... - Implorava Jorge – Mike! Gabriel! Aaron!
Mas nenhum dos três ouvia o que Jorge tinha a dizer, os dois estavam muito ocupados se ofendendo com pesados palavrões e ataques de laranjas.
- Aaron, vai pegar a arma do pai, vai... embaixo da cama, meu garoto... Vai lá! – Tentava Jorge forçando uma voz amigável. Porém o cachorro tentava entretido demais lambendo a gordura de sua cara.
Gabriel num esforço enorme conseguiu alcançar o prato que estava próximo e atirou em Mike, mas também atingiu Jorge, no queixo que tinha suas dores ignoradas pelos dois ali na cozinha.
Os quatro ali na sala foram interrompidos por uma voz feminina. Débora surgiu ali parecendo espantada.
- Que porra tá acontecendo aqui?