Hugo> Bom dia vizinhos...
Olhei pra ele e o Gui apenas respondeu...
Guilherme> Bom dia, estamos ocupados...
O Hugo riu e me olhou...
Hugo> Só vim prestar solidariedade a você Gabriel. Soube pelo que passou...
Gabriel> Certo.
Falei seco. Mas algo me intrigou... e então como um raio me veio algo.
Gabriel> Posso te perguntar uma coisa?
Falei de supetão... o Gui me olhou sem entender, com cara de zanga...
Hugo> Pode...
Eu fiquei calado olhando pra ele.... o Gui me olha inquirindo-me. Eu estava calado...
Hugo> Pode falar...
Gabriel> Você me faz um favor?
Hugo> Pois não?
Aquele pois não! Era aquele o “pois não!” era sim... meu coração estava aos pulos... me levantei...
Gabriel> Já me fez o favor... Gui vamos, a gente come no caminho, no carro... tou apressado, a gincana...
E sai sem esperar o Gui... ele se levantou rápido e me seguiu com o seu lanche... primeiro passando pelo caixa e pagando o café. Quando ele chegou eu estava respirando fundo... muito fundo...
Guilherme> Que loucura foi essa Gabriel? Primeiro dar moral aquele idiota... depois sair desse jeito... o que deu (interrompi)
Gabriel> Gui eu posso ta enganado (falei se ar) mas era a mesma voz do celular... do celular... Gui!
Guilherme> Que celular?
Respirei fundo...
Gabriel> O número que respondeu a ligação do assaltante!
Gui olhava-me sem compreender no inicio. Depois com os olhos arregalados percebeu a gravidade daquilo que falei. E com um semblante duro me perguntou pausadamente...
Guilherme> Gabriel. Você tem certeza?
Gabriel> Você também ouviu! Não achou igual? Eu fiz até ele falar a mesma palavra que o cara falou no celular...
Guilherme> Eu não percebi porque simplesmente estava irritado...
Então minha respiração começou a ficar mais difícil... senti uma vertigem...
Guilherme> Vou lá dentro tomar satisfação agora com aquele idiota...
Eu baixei a cabeça... pus as mãos no joelho e procurei ar... estava iniciando uma crise... Gabriel> Gui...
Ele já estava indo quando virou pra trás e me viu... correu ao meu encontro.
Guilherme> Gabriel... para! O que tá sentindo...
Gabriel> Falta de ar...
Guilherme> Respira Biel... por favor... olha pra mim... olha pra mim! (eu olhei) estou aqui. Certo?
Balancei a cabeça afirmativamente... o Gui abriu a porta do carro e eu entrei. Ele entrou em seguida...
Guilherme> Depois me atenho com este ai... vamos meu amor... vamos agora...
Saímos dali o que me fez melhorar consideravelmente...
Gabriel> Gui temos que contar pra policia... (interrompido)
Guilherme> Não vamos falar agora sobre isso certo? Vamos esquecer um pouco. Eu resolvo este caso.
Era melhor. Ou meu dia estaria perdido! Chegamos na escola e o Gui estacionou no estacionamento da academia. Eu estava indisposto e nem comi nada... o Gui desceu do carro e abriu minha porta.
Guilherme> Biel me promete simplesmente não pensar nisso agora. Promete por essa informação em algum lugar aqui dessa cabecinha. Armazena. Depois a gente abre essa caixa e desvenda tudo certo?
Ele tinha razão. Respirei fundo e me recusei a pensar mais nesse assunto. Desci do carro e fomo juntos pra quadra. A Jú já estava lá.
Jú> Jumento! Cadê o meu jumento?
Gabriel> Você me chamou de jumento?
O Gui riu e olhou pra jú...
Guilherme> Mede as palavras viu...
Ela olhou pra ele e falou...
Jú> Não tenho mais medo de você senhor Guilherme... tenho o Bruno pra me defender...
Guilherme> Ah é? E cadê ele? Quebro ele ao meio e te envio por sedex...
Jú> Aff, que merda ter namorado desfavorecido... mas tem nada não... CADE O MEU JUMENTO?
Eu olhei pra ela com cara de culpa.
Gabriel> Como vou te dizer isso... ou Jú eu nem fui atraz... é um pedido por demais esdrúxulo! Por favor...
A Jú apenas me olhou... e falou dramática...
Jú> Tudo está acabado.
Gabriel> Por favor não diz isso... podemos ganhar de outra forma...
Jú> Fechou. Acabou. Tudo está selado. Não temos chance. Desculpa Gabi, mas não tou me sentindo bem... vou até ali...
Gabriel> Jú pera... por favor... não faz isso, tou me sentindo mal...
Jú> Fazer o que? Nem um pedido meu você mais atende... ta acabado. Perdemos....
Ela ia se encaminhando pra a saída do ginásio...
Jú> Vou lá no carro Gui, pegar as camisetas... o esforço foi legal, embora que pra nada né... já que perderemos feio...
Gabriel> Jú para!
Ela parou...
Gabriel> O que quer que eu faça? Pra ajudar a reverter a situação...
Ela respirou fundo e virou-se pra mim. Sua cara era de pura inocência...
Jú> Se pelo menos você aceitasse cantar...
E tudo se esclareceu! Respirei fundo. Não poderia cantar... não queria... Meu Deus que situação horrível... como poderia cantar? Como? Não estava preparado, odeio caraoquê, pois a musica parece robotizada... não tem arte nisso, não tem amor nisso... ODEIO. Alem do mais, duas escolas juntas... Jesus... não!
Gabriel> Ou Jú... estou abalado pelo fato do jumento, mas por favor não consigo Jú... eu não posso cantar... não me pede isso!
Estava desesperado...
Guilherme> Poxa Gabriel, não tem nada demais subir num palco e cantar... você canta tão bem...
Olhei assassino pro Gui e ele se calou assim que viu meu olhar... voltei-me pra Jú...
Gabriel> Jú não há necessidade... apenas uma prova agente não cumpriu... a do jumento, mas as outras a gente vai cumprir, e o karaokê nunca tem gente que canta bem... isso vai ser de ambos os lados... e vai terminar num empate... (suspirei desanimado) é só agente caprichar nas outras...
Jú> E contar com a sorte... é eu sei... contaremos com a sorte... (respirou fundo) Gui me da a chave do carro... vou pegar as camisetas, que espero sejam verdes. Verde esperança...
Fechei os olhos, aquilo se tornaria uma tortura...
Gabriel> Jú por favor...
Jú> Não se preocupa Gabi. Sei que não teve culpa de não ter encontrado o jumento. Que procurou pela cidade toda. Sei que deve ter se esforçando ao máximo pra achar esse animal... não se sinta culpado... a falha foi minha...
Eu quase morri com aquelas palavras...
Gabriel> Jú eu não procurei.
Falei num fio de voz. A Jú me olhou e vi seu rosto ficar absolutamente incrédulo.
Jú> Preciso ir (ela respirou fundo) não estou bem...
E saiu me deixando arrasado... ainda gritei incerto pra ela...
Gabriel> Deixa eu pensar certo?
Mas ela não me respondeu. Saiu abalada. Me deixando ainda pior. Olhei pro Gui e ele tava sorrindo no canto da boca. Tive raiva na hora... achei que estava debochando de mim...
Gabriel> Rindo de mim Gui?
Ele riu mais alto...
Guilherme> Não pequeno. Não tou rindo de você. Estou achando engraçado a encenação da Jú e sua preocupação incocente...
Gabriel> Ah Gui, a Jú não tá encenando... pisei na bola feio...
Guilherme> E porque você disse que nem procurou? Alimentou o drama dela...
Gabriel> Gui eu não ia mentir... de forma alguma...
Ele se aproximou de mim e falou...
Guilherme> Minha vontade é te beijar feito louco... meu anjo. Você é absolutamente incrível...
Fiquei vermelho... olhei pro lado, tinha muita gente organizando a gincana. É realmente não podia...
Bruno> E aí galerinha do mal...
Olhamos pro Bruno e ele só não tava mais engraçado porque era impossível ficar mais que aquilo... o Bruno estava de calção folgado verde com folhas grandes vermelhas, camisa apertada amarelo e tênis vermelho... há e um boné branco. Nossa, parecia um turista americano daltônico.
Guilherme> Quem fez o jogo de cores? O tiririca?
O Bruno olhou pra ele sem entender...
Bruno> Não sei, comprei assim. A Jú perguntou se fazia parte do mostruário das tintas GUACHE... (ele falava aquilo rindo)...
Gabriel> Bruno se você não existisse deveria ser inventado...
O Bruno me olhou assim desconcertado. Era muito engraçado a forma como ele reagia a elogios, ele fica rindo feito uma criança sem dono... sorri então... era o amigo maravilhoso o Bruno.
Guilherme> Vamos logo ajudar a organizar esta gincana... guri que deveria ser inventado...
Bruno> Guri? Mais não digo mesmo! (o Bruno ficou todo ouriçado)...
Gabriel> Tá vamos... cadê a Jú?
Ela ainda não tinha voltado do carro...
Bruno> Tá distribuindo as camisetas... ela tá com uma cara que tive medo de chegar perto...
Meu peito sofreu outra pontada... era culpa minha... nossa! Que saco! Queria que passasse o mais rápido possível aquele dia...
Gabriel> Vamos gente, vamos logo organizar tudo.
E saímos. O Gui apenas sorria. Tava me deixando zangado aquela atitude... ele ria demais de mim... que coisa chata! Fomos ajudar a montar o som... eu entendia mais deste assunto. E fiquei no palco. O caraoquê era muito bom, super moderno. Tinha várias entradas e saídas de áudio. Gostei, embora tenha sempre minhas reservas pra aquele tipo de equipamento. O Gui carregou caixas enormes de som junto com o Bruno. Eu olhava, o Bruno era forte, mas o Gui não tinha comparações... ele era enorme, muito enorme! E lindo de se ver. Cada dia que passava sentia mais e mais amor por ele. Eu o amava tanto, mas tanto que simplesmente me fazia ficar hipnotizado apenas com sua presença.
Ele me olhava de vez em quando e sorria me piscando o olho. Era incrível aquela sintonia... nos buscávamos o tempo todo. E o trabalho duro se tornava quase uma brincadeira entre nós... Os meninos de minha turma chegaram pra ajudar... uns seguiram o Gui e o Bruno no carrego das coisas pesadas e grandes, como mesas, cadeiras, lousas entre outras coisas. Já outros me ajudavam na arrumação e distribuição do palco e plenário.
Eu olhava ainda furtivamente pro Gui e via ele de vez em quando me olhando, fazia cara de bravo quando um menino chegava perto. Fazia gestos de que ia dar porrada... eu ria daquela brincadeira e me divertia em silencio com ele. Nos tínhamos uma ligação e uma comunicação definitiva. Sólida.
Colega> Gabriel onde ficam os balões? Gabriel?
Olhei desconcertado, tinha sacos e sacos de balões que deveriam esta pendurados pra nós soltarmos no fim de tudo...
Gabriel> Ah, desculpa, estava distraído, procura o (falei o nome de um dos zeladores) ele sabe onde fica a rede de proteção pra agente colocar as bolas dentro e suspendê-las em cima do palco.
Ele foi procurar e eu voltei pra o Gui... ele tava com o Bruno carregando uma enorme caixa. Era um cenário que a Jú conseguira... um cenário que fomos montar e passou-se a manha inteira nele... a Gincana tava marcada pra começar as 14:00 horas. Eram 11:40... tínhamos que acelerar... Corremos contra o tempo, mas as 12:35 tudo já estava pronto. Ficamos orgulhosos. Mesmo a Jú que estava com uma cara de enterro. Eu havia evitado ela a manha toda... e pretendia evitar o horário do almoço... Puxei o Gui pra um canto e falei...
Gabriel ?> Vamos almoçar... tou com muita fome... e queria sair agora, pra não ter que ir falar com a Jú...
Ele riu e concordou... nos despedimos da galera e saímos quase que escondidos. A francesa... Saímos pra almoçar e o Gui falou que ia almoçar perto de casa... num restaurante. Depois iríamos pra casa pra trocar de roupa e tomar banho. Foi o que fizermos; almoçamos rápido e fomos pro apartamento tomar banho. Depois nos vestimos e eu pus a camiseta da gincana. A do Gui ficou quase que uma segunda pele. Não gostei porque ele iria chamar atenção demais com aquela camiseta colada...
Gabriel> Porque tão colada Gui? Parece uma pintura no corpo!
Guilherme> Porque essa era a maior... GG... mas tá com ciúmes é meu pequeno?
Fiquei vermelho na hora...
Gabriel> Não é isso... (ele sorria abertamente) não é isso Gui... é que, que... (a cara de riso dele me irritava mais ainda) tá bom, vou por minha calça colada também...
Ele na mesma hora fechou a cara....
Guilherme> Se mete a besta comigo... se mete moleque... ouse por algo colado ai que você não sai de casa...
Ele falou bravo...
Gabriel> Ah mas você pode!
Guilherme . Não tenho outra escolha. E você tem inúmeras... nada de CALÇA COLADA E ACABOU...
Cruzei os braços... quando ele quer ele é muito irritante. Saímos de casa e fomos pra escola, no caminha mainha ligou dizendo que chegará na escola as 14:30. Quando o Guie estacionou o carro no estacionamento da academia, a escola tava tomada de pessoas, vário carros indo e vindo... muita gente! Eita, a gincana vai bombar... entramos no ginásio e este estava a metade preenchido. Procurei a Jú com o olho e a vi no palco... fomos pra lá. Assim que cheguei a Jú falou...
Jú> Gabi seria possível você olhar pra mim se o som ta funcionando?
Suspirei... embora estivesse me sentindo culpado pelo jumento, ainda me sentia desconfortável com a idéia de cantar. E já tinha pensado a manha toda sobre aquilo e decidi...
Gabriel> Jú eu não vou cantar viu...
Ela me olhou triste...
Jú> Já esperava...
Fui passar o som... quando tava já terminando olhei pra procurar o Gui... onde estava ele? Não o vi... pensei. Deve ter ido ajudar em alguma coisa... dei de ombros. Continuei e terminei de organizar o som. Quando notei já estava lotado... e a gincana iria começar... eu desci e fui me juntar ao Bruno e a Jú...
Gabriel> Cadê o Gui?
Jú> Foi ali... eu pedi pra ele fazer uma coisa pra mim...
Fazer uma coisa pra ela? O que? Ia perguntar mas o Bruno, muito nervoso por sinal... mudou de assunto...
Bruno> Gabi me conta... gostasse do som?
Eu falei que sim... e ficamos um bom tempo comentando aquilo... dona Alba chegou e veio acompanhada por três mulheres. iniciou-se então um alvoroço e ambas subiram no palco... iria iniciar a gincana. Mas, cadê o Gui?
Os discursos começaram... gente era incrível que como do nada... absolutamente do nada tudo começa como se fosse uma locomotiva enorme que de repente se põem em movimento...
Dona Alba> É com imenso prazer que comunico a abertura dos jogos internos entre as escolas (falou os nomes das escolas envolvidas)...
E pra minha surpresa eram 4 escolas. Eu imaginava apenas duas, a nossa e outra.
O discurso prosseguia e as diretoras revezavam o microfone... tinha torcida organizada, como a nossa, com camisetas e tudo mais. Estava me contagiando pela energia daquele lugar. Mas algo me incomodava... cadê o Gui? ele deveria ta ali... suspirei...
Jú> Vai já começar e a primeira prova é justamente a do karaokê... vou ter que inscrever o pessoal na hora... quando será escolhido pela nossa equipe. Posso colocar seu nome?
Ele me perguntou tão lindamente que eu fiquei com pena. Meu coração tava doido... poxa... me matava em responder que NÃO, QUE NÃO PODERIA POR MEU NOME...
Suspirei... e então eu vi algo que mudaria meu humor drasticamente... O Gui vinha com o semblante constrangido, com as sobrancelhas arqueadas em suplica. Ele vinha claramente dizendo que não tinha culpa... não tinha como evitar... Pois ele tava de braços dados com a PATRÍCIA.
Meu estomago deu uma pontada tão forte que julguei me dobrar em algum momento. Era um frio que fazia minha garganta dar espasmos de náusea... nunca me senti tão desconfortável em toda minha vida. Era uma situação constrangedora. A Patrícia sorria e estava grudada no braço do Gui.
Patrícia> Ola pessoas lindas...
Senti nova pontada.
Bruno> Oi Patrícia beleza?
A voz do Bruno era forçada...
Patrícia> E vocês tão animados pra perder?
Eu olhei agora com ódio. Como assim perder... olhei pra o Gui e ele não conseguia me encarar... olhava o chão o tempo todo.
Jú> Como assim perder? Tá sabendo do que?
E a Jú me olhou... Senti-me acusado. Acuado... além dos enormes sentimentos de ciúmes e raiva que sentia.
Jú> Bom vamos lutar até o fim... mesmo tendo alguns contratempos...
Fechei os olhos...
Patrícia> Estou feliz demais, pois minha escola está aEu olhei pra ela...
Gabriel> Você concorre com uma escola?
Patrícia> Serei professora da escola (e falou o nome da escola)...
Mais uma vez eu fechei os olhos... respirei fundo.
Patrícia> E o melhor é que o Gui vai torcer comigo, nao é?
Olhei pra ele e ele continuava de cabeça baixa...
Gabriel> Você é professor daqui Gui. Da academia daqui... (falei meio suplicante)
O Gui continuava calado.
Patrícia> Ele fica comigo... torcendo em silencio, nao é querido?
Respirei fundo... que pesadelo! O Gui não levantava o rosto pra mim.
Bruno> Ah corta essa Patrícia... o Gui... (e foi interrompido pela Jú).
Jú> Guilherme decida...
Guilherme> Bom eu... eu (ele gaguejava).
Não acreditei no que tava acontecendo... porque ele tava agindo daquela forma?
E aí a Patrícia falou...
Patrícia> Ah gente, chega de drama... vamos Gui vamos sentar ali na frente. Perto da torcida de minha escola...
E praticamente arrastou ele pra lá. Sentaram-se juntos. Ele numa cadeira e ela na do lado. Ela passou as mãos pela cintura do Gui. ele estava todo tenso. E eu estava absolutamente processo. Só tinha duas coisas a ser feitas... ou eu ia embora arrasado e chorando, a beira do que eu estava, ou eu ia provar pra todos que sou especial, mais do que a idiota da Patrícia e seu jeito afetado... Fechei os olhos e respirei fundo. O que eu faria? O que? DEUS... Senti tanto ciúmes... tanto... Abri os olhos e o Gui estava agora conversando com ela... ela ria alto e aquilo me dava uma angustia...
Jú> Gabi estou sem ação. Se quiser eu trago o Gui pra aqui agora, eu invento algo...
Olhei pra Jú e falei simplesmente....
Gabriel> Ele foi pra lá porque quis. Olha o tamanho dele. Poderia apenas dizer, não... minha torcida é outra... é a do meu... (ia falar namorado).
Mas não consegui.
Jú> O que vai fazer... deixar ele com ela lá?
Eu olhei pra Jú...
Gabriel> O que acha que devo fazer?
A Jú me olhou e falou simplesmente...
Jú> Mostre pra ele o que ele pode vir a perder... tipo, não tou dizendo que ele ta te perdendo... mas mostre o que ele tem em casa.... a jóia rara... o quanto é precioso. Mostra pra ele Gabriel...
Eu entendi.
Gabriel> Põem meu nome lá. Vou cantar!
A Jú me olhou sorrindo... seu semblante era completamente diferente do que eu havia isto até então... Eu tinha um vislumbre de que poderia estar sendo manipulado, mas eu mesmo não estou com consciência pra isso... só tinha na minha mente a fulaninha e o Gui.
Jú> Eu já havia colocado...
Olhei pra ela sem entender... a Jú estava totalmente diferente de tudo que apresentou naquele dia...
Gabriel> Quando?
Jú> Semana passada...
Fui protestar, mas ela apontou pra frente do palco... olhei a Patrícia por as mãos nos ombros do Gui. DO MEU GUI. DEIXEI PRA PENSAR NA JÚ DEPOIS. TINHA COISAS MAIS IMPORTANTES PRA PENSAR...
Fui direto pra os bastidores... meu ultimo olhar para o Gui revelou que ele estava tenso... mas a Patricia investia tudo nele. Era tão dolorido aquilo, tão absurdamente dolorido, que nao sei como encontrei forças para decidir enfrentar a platéia de quatro escolas unidas... gritando... mas eu queria mostrar pro Gui o que ele estava deixando dela.
Sei que era um pensamento infantil achar que ele estava me deixando de lado... poderia até ser uma situação em que ele nao conseguia escapar... não conseguia se posicionar de outra forma, mas era algo que tinha que decidir... que ele tinha que entender... que estar junto de uma ex-namorada, e deixar o atual NAMORADO sozinho, inseguro era algo que ele poderia sim evitar..
Embora tenha pensado naquilo tudo, eu só tinha uma coisa na cabeça... mostra pra ele o que eu podia fazer. E mostrar pra ela que eu estava no páreo... pra vencer...
Foi aí que tive a idéia de aceitar a cantar... mas tinha que me paresentar melhor. Lembrei que tinha deixado no carro as compras do dia anterior... e a calça que eu amara estava lá...
Gabriel> Jú tú ainda tá com a chave do carro de Gui?
Jú> Estou... mas nao pense que vai fugir... tive tanto trabalho...
Gabriel> Não é nada disso! tenho que pegar algo lá. Me passa a chave!
Ela me deu e eu fui pro carro. Peguei a sacola de compras e fui ao banheiro. vesti a calça... ela colou nas coxas e bunda... sei que ele nao gosta daquele tipo de roupa, e eu comprei apenas pra usar com o Gui em reunioes intimas... mas, devido aos fatos atuais... tive que apelar! Saí do banheiro e fui pra o ginásio. Lá chegando a Jú tava doida me procurando...
Jú> Cadê você? Já vai começar...
Gabriel> Estou aqui...
Ela me olhou e sorriu...
Jú> Tinha que por esse furico a amostra...
Naturalmente eu a mandaria pastar... mas naquele momento eu só queria subir ao palco... e cantar! Eu nao quis nem ir aonde o Gui estava... eu passei diretamente para os bastidores do palco... e de lá encontrei uma brecha pra olhar a multidão de alunos que gritavam os jingles de suas escolas... entao vi o Gui. Notei que ele tava apreensivo.. olhava pra todos os lados... será que estava me procurando?
Não importava naquele momento se ele estava apreensivo com o que eu pensava sobre ele e a Patricia... pois estava determinado a mostrar uma apresentação show. E como ele devia estar procurando eu iria fazê-lo me encontrar. E em grande estilo... A gincana foi iniciada. Os apresentadores fizeram brincadeira com o publico e depois falou as regras da gincana. Fiquei um pouco apreensivo... nao havia ensaiado... mas se bem que caraokê nao tem necessidade de ensaio...
Gabriel> Jú pra onde vou...
Jú> Pra o lado do palco... vai anunciar agora a primeira prova... a de nota máxima pra quem cantar melhor; A máquina tem um sistema que emite nota... Gabi preste atenção no que eu vou falar...
Olhei pra ela... Jú tava incrivelmente séria...
Jú> Você sabe a manha do caraokê né?
Afirmei...
Gabriel> Tenho que cantar igual a interpretação do cantor de origem...
Jú> Isso garoto... no resto, arrase...
Jú> Vai lá...
Eu subi até a coxia... e entao ouvi...
Apresentador> Para defender a escola (falou o nome da escola) chamamos Gabriel...
E os gritos deixaram todos ensurdecidos... e era agora.Entrei no palco. E o Gui foi o primeiro que vi. Seu semblante era de total surpresa... Percebi ali que ele nao tinha nada haver com aquele plano... Respirei Fundo. Menos mal. mas ele ainda estava do lado daquelazinha... Me retesei. se eu sabia o que era canto, ali eu iria mostrar com toda a força e garra. Os tres outros foram anunciados e ficaram do meu lado. HAVIA CHEGADO A HORA...
O Apresentador fez ainda algumas piadinhas sem graça e rimos sem necessidade, mais por educação... um menino de uma escola rival puxou assunto comigo e eu falei normalmente, ele estava nervoso e disse que nãos sabia cantar. Mas que iria se esforçar bastante... quando eu ira responder a ele olhei pro Gui e sua cara era séria... ele nem dava bola pra Patrícia. Percebi que ele não tirava os olhos de uma coisa. Da calça...
Bom... pelo menos ele só tinha olhos pra mim agora...
Apresentador> As regras são as seguintes. Cada um tem que escolher músicas um pra o outro. São quatro então cada um cantará três musicas escolhidas pelos adversários. Depois cantara uma escolhida pelo júri. E por fim uma escolhida por si próprio... entendido? (afirmamos positivamente) começaremos agora... primeiro com a escola... (e apontou pra mim falando o nome de minha escola)... CHEGOU A HORA... E EU ESTAVA ANCIANDO POR AQUILO...
O primeiro a cantar seria eu e a escola era... brincadeira... só poderia ser brincadeira. Era a ESCOLA DA IDIOTA DA PATRICIA... E o imbecil escolheu... mentira!
Apresentador> Ele escolheu pra o Gabriel cantar... “Suga Mama” Beyoncé...
Cristo! Filho da mãe! Era uma das músicas mais difíceis... mas olhei pra plateia e vi o Gui... Me imbuí de coragem... ele ia ver o que era um vocal e um agudo de arrepiar...
Recebi um microfone sem fio... todos começaram a gritar ao mesmo tempo... era ensurdecedor... o palco era todo preenchido pelo equipamento de som... tinha um telão atrás de mim... ficaria atrás de todos nós que cantaríamos, passando a letra da música. Tínhamos um monitor que passava a letra na frente dagente... eu olhei de lado e vi o aparelho de caraoquê conectado a um computador... nossa, tudo era muito profissional...
Apresentador> Gabriel você sabe a dinâmica... vale 100 cada música... quem melhor cantar chegará próximo ou fará os 100 pontos. Todos os pontos serão computados. Se fizer 73, 73 pontos serão computados... o que é muito. Portanto é uma prova decisiva pra por na dianteira uma equipe... as músicas foram paresentadas aos concorrentes que escolheram esta música pra você. Foi a escola (colocarei números pra facilitar) número 1.
Era uma escola pública.
Apresentador> Eles não escolhem aleatoriamente. Na realidade quando se inscreveu os participantes cada um apresentou o seu repertorio. E dentro dele, eles retiraram as músicas...
Olhei pra Jú.. ela havia falado de quem eu gosto... malvada... tinha planejado tudo...
Apresentador> Vamos começar... você canta... “Suga Mama”. Beyoncé.
Fiz um sim com a cabeça...
Apresentador> Por favor. Silencio. Preparado?
Fiz que sim...
Apresentador> Podemos começar.
E então todos se calaram. Dei minha ultima olhada pro Gui. Continuava sério. Suspirei. Vamos que vamos...
Os primeiros acordes da música começou... e eu me preparei... aquela música poderia pegar muita gente, pois tem muito coro e não devemos cantar no coro, só a voz principal, só que começa com uma conversa... e eu tinha que cantar esta conversa porque era a voz principal que fazia a Beyoncé...
Gabriel> Damn, that was so good I wanna buy him a short set (falei com voz rouca e arrastada olhando direto pro Gui… queria mesmo impressioná-lo)...
Gabriel + Vocal> Hey, hey
Gabriel> I'ma be like a jolly rancher that you get from the corner store
(dei dois passos pra frente…)
Gabriel> I'ma be like a waffle cone that's dripping down to the floor
(eu tremia mas me concentrei, era uma das poucas músicas da Beyoncé que tenho decorado e nem precisava olhar pro monitor.)
Gabriel> The way you do if for me I can't lie
About to be up in the mall all night
Whatever I get you putting it on
Don't give me no lip let mama do it all
(Tinha que fazer alguma coisa, música dançante... tinha que ter postura dançante, embora não fosse dançar... olhei com ferocidade pra platéia e pus o pé direito na frente... arqueei as costas, e em posição de ataque... forcei a voz)
Gabriel + Vocal> Let me be, I wants to be, gots to be
Your suga give mama some suga mama
Suga ma-ma-mama
I'm your suga mama, suga mama
Vocal> Let me be, I wants to be, gots to be
New whip, new heavy on the wrist
Cause I'm a suga ma-ma-mama
I'm your suga mama, suga mama
(enquanto o vocal fazia sozinho a segunda parte eu fixei o olhar em um ponto... iria cantar como nunca)...
Vocal> Hey, hey
Gabriel> Sit on mama lap (apontei pra o Gui)
Vocal> Hey, hey
Gabriel> Come sit on mama lap
Vocal> Hey
Gabriel> Come sit on mama lap
Vocal> Hey, hey
Gabriel> Come sit on mama lap
Vocal> Hey
(comecei a caminhar no palco... era uma música agitada e eu impressionaria não apenas cantando... queria que fosse uma apresentação mesmo)
Gabriel> It's so good to the point that I'd
Do anything to keep you home
Baby what you want me to buy
My accountant's waiting on the phone
Vocal> on the phone…
(alguem me jogou uma coisa no palco… era um lenço… eu o chutei pra for a numa attitude pop star que nem ta ai pros fans… todos gritaram enlouquecidos)
Gabriel> Just the thought of making love to you
Dropping everything that's what I'll do
Whatever I get you putting it on
Now take it off while I watch you perform
(olhei pros meus concorrentes e sinceramente eles estavam aterrorizados... falavam entre si... tinha até um com a mao na boca... senti vontade de rir, mas me concentrei... o show era pra um certo lutador de jiu jitsu que iria levar uma tapa com luva de pelica...)
Gabriel + Vocal> Let me be, I wants to be, gots to be
Your suga give mama some suga mama
Suga ma-ma-mama
I'm your suga mama, suga mama
(eu voltei pra o centro do palco, bem a frente do Gui com a Patrícia... me virei de costas...)
Vocal> Let me be, I wants to be, gots to be
New whip, new heavy on the wrist
Cause I'm a suga ma-ma-mama
I'm your suga mama, suga mama
(senti minhas costas queimarem... sabia que o Gui me olhava... não só ele... mas todos... e então virei apenas o rosto, e cantei o mais alto que alcançava)...
Gabriel> Cause I'm a suga ma-ma-mama
I'm your suga mama, suga mama
Vocal> Hey, hey
Gabriel> Sit on mama lap (olhei nos olhos do Gui ele tava hipnotizado… mas bravo)
Vocal> Hey, hey
Gabriel> Come sit on mama lap
Vocal> Hey
Gabriel> Come sit on mama lap (de costas apenas com o rosto virado pra ele, pisquei)
Vocal> Hey, hey
Gabriel> Come sit on mama lap
Vocal> Hey
(E então me virei… foi até a ponta e me agachei, pondo um joelho no chão e a outra perna levantada com uma mão displicentemente apoiada nela e os olhos na Patrícia... estava com vontade de mostrar o quanto eu era melhor que ela... e iria!)
(Me preparei pra os agudos...)
Gabriel> And I've always been the type to take care of mine
(rasguei um pouco a voz e de forma canastrona interpretei aquela parte… como se estivesse mesmo nem aí para a Patricia... mas que simplesmente me fazia sentir-me tão bem...)
Vocal> I know just what I'm doing
Don't you worry it's cool and everything is steady
Puttin' you on my taxes already, yeah, yeah, yeah, yeah
Gabriel> I promise I won't let no bills get behind (eu começava a cantar no meio do Yeah, Yeah, senao podeira perder pontos… era dificil, mas eu sabia…)
Vocal> Cause every touch, every kiss and hug
Gabriel . Best believe it'll be on time (altissimo)
Suga mama mama mama yeah yeah yeah
(o vocal entra no final do verso anterior...)
Vocal> Let me be, I wants to be, gots to be
Your suga give mama some suga mama
Suga ma-ma-mama
I'm your suga mama, suga mama
Vocal> Let me be, I wants to be, gots to be
Gabriel> New whip, new heavy on the wrist (quase grintanto)
Vocal> Cause I'm a suga ma-ma-mama
Gabriel> I'm your suga mama, suga mama
Gabriel> Hey, hey
Vocal> Sit on mama lap
Gabriel> Hey, hey
Vocal> Come sit on mama lap
Gabriel> Hey (tinha que imprimir um grave)
Vocal> Come sit on mama lap
Gabriel> Hey, hey (me ajoelhei e gritei a plenos pulmões de olhos fechados)
Vocal> Come sit on mama lap
Gabriel> Hey… (tentei atingir o mais alto póssivel)...
(E os acordes finais, com o baixo...) (Abri os olhos. Fui aplaudido de pé... senti-me queimar o rosto... o Gui me olhava ainda sério, mas percebi que estava impressionado. Sorri pra ele. Ele sorriu de volta.)
A Patrícia já era! Suspirei. Tinha acabado o primeiro round. Vinham os próximos... fui me aproximar do apresentador e dos outros concorrentes... O apresentador pegou meu microfone e desligou e olhando-me falou...
Apresentador> Você é profissional... não pode cantar aqui...
Eu olhei pra ele e falei...
Gabriel> Sou aluno desta escola. Nunca cantei profissionalmente. Nunca cantei na noite. Nunca!
Eles me olhavam incrédulos...
Gabriel> Tenho 16 anos, como poderia ser profissional? E alias... mesmo que eu fosse profissional, sou aluno e a regra é para ser aluno... francamente, isto é uma brincadeira entre escolas e esta música que voces escolheram é ruim de cantar até pra um profissional... imagine pra mim que NÃO SOU...
Jú> Algum problema?
Competidor 2> Ele canta demais... é injusto!
Jú> Injusto? Carinha a tua escola fez seleção Alá Raul Gil pra escolher quem cantaria aqui. Isso que é injusto. Enfia o microfone na boca pra não por noutro canto... e canta calado...
Os outros olharam pra ela e ficaram calados...
Apresentador> Tem razão. Vamos ver a nota afinal...
E ligou o microfone.
Apresentador> A nota do Gabriel foi...
E o computador rodou o programa...
Apresentador> 98! Caraça!
Todos ficaram assustados. Inclusive eu! Genteera o máximo! Como eu havia cantado, deveria escolher a música pra o outro participante cantar... e eu tinha uma em mente. Olhei a cartela referente a ele... vi que ele pôs Elis Regina. Então pensei numa música que nem eu me atrevia a cantar porque mudava de ritmo várias vezes, uma música do João Bosco. E gente, cantar o João Bosco era algo dificílimo. Como eles me deram uma difícil eu teria que contra-atacar. E acho que fui cruel.
Apresentador> Qual música a escola 1 irá cantar? Escolheu Gabriel?
Gabriel> Sim. Escolho “Corsário” de João Bosco. Na interpretação de Elis Regina.
E o Competidor 1 me olhou como se fosse me matar... Sorri. Era uma guerra. Então... tinha que contra-atacar. A música é linda. Eu gosto. Mas, ele não iria gostar não! Sorri intimamente.
Ele começou a cantar... a voz dele era anazalada...
Competidor 1> Meu coração tropical está coberto de neve,
mas ferve em seu cofre gelado,
a voz vibra e a mão escreve mar
bendita lâmina grave que fere a parede e traz
as febres loucas e breves que mancham o silêncio e o cais.
(Percebi pela primeira estrofe que ele semitonou o tempo todo, sorri... a letra supre difícil complicava, pois quando não a entendemos, não interpretamos...)
Ele estava plantado no meio do palco... Os outros competidores olharam as cartelas de todos... acho que estavam procurando alguma música difícil pra indicar pro outro. Rezei pra que a Jú tivesse posto realmente apenas o que eu escuto, pois ia fiar difícil se tivesse uma musica que eu nem conhecia...
Competidor 1> Roseirais, nova Granada de Espanha, por você eu, teu corsário preso,
(olhei pra Jú e esta estava com as mãos juntas extasiada de alegria, ela me viu e mandou um beijo... pensei, que menina má, usou-me o tempo todo. Mas não consigo deixar de adorar essa guria!).
Competidor 1> Vou partir a geleira azul da solidão e buscar a mão do mar me arrastar até o mar, procurar o mar. (ele desafinou – oba mais pontos).
(O Gui estava sem olhar para a Patricia... a menina estava estranhamente feliz... como assim? O Gui nem dava bola mais pra ela, e mesmo assim ela tava feliz)
Competidor 1> Mesmo que eu mande em garrafas mensagens por todo o mar...
meu coração tropical partirá esse gelo e irá...
como as garrafas de náufrago e as rosas partindo o ar...
nova Granada de Espanha e as rosas partindo o ar...
(Foi vergonhoso. Fiquei com vergonha por ele. Meu deus... coitado. Me senti mal... fora que o povo tava desanimado com a interpretação...)
Competidor> Vou partir a geleira azul da solidão e buscar a mão do mar me arrastar até o mar, procurar o mar.
(Percebi que ele não conseguia entrar no tempo certo. Poxa, eu estava morto de vergonha por ele... mas fazer o que... eles iriam com força em mim... tentei não me preocupar... eu queria mesmo era voltar a cantar... precisava. Queria cantar o que fosse. Mas pela primeira vez em muito tempo, eu queria canta... até cansar)
Competidor> Mesmo que eu mande em garrafas mensagens por todo o mar meu coração tropical partirá esse gelo e irá como as garrafas de náufrago e as rosas partindo o ar nova Granada de Espanha e as rosas partindo o ar.
Mesmo que eu mande em garrafas mensagens por todo o mar meu coração tropical partirá esse gelo e irá.
(E ele finalizou a música... sorri. Foi ruim, certamente tiraria nota baixa)...
Apresentador> Bom vamos aplaudir amigos a música bomba que o Gabriel escolheu.
Percebi uma ironia? Olhei direito pra aquele apresentador. Quem era? O tinha visto no colégio mas não sabia quem era... Fiquei na minha. Fazer o que? Ainda dois cantariam pra eu voltar a cantar outra musica escolhida por outro competidor. Ainda cantaria 3 vezes. 2 musicas ainda seriam escolhidas pelos competidores, e outra escolhida por mim...
Estava ansioso. Queria que chegasse logo minha vez...
Apresentador> A nota foiele me olhou azedo – que coisa estranha. Ele era da minha escola!) próximo... quem escolhe é você (falou com o competidor 1 que escolhia pra o 2).
Estranho mesmo aquele apresentador...As músicas que seguiram foram difíceis. E as apresentações risíveis. O competidor 2 cantou bem “olhar 43” do RPM mas tirou 61 de pontos. O competidor 3 cantou uma música da Maryah Carie “My All” e tirou 33. Claro... música difícil. E entao chegaria minha vez...
Gabriel> Pega leve pessoal...
Eu falei pra eles sorrindo, e o ultimo que cantou me olhou com cara de bravo. O 33 era duro. Suspirei. Teria que enfrentar mesmo algo difícil. Espero que ele não tenha conhecimento musical suficiente...
Apresentador> Vamos escolher qual?
O competidor falou ao ouvido do apresentador. Este riu com quase escário... Foi aí que me lembrei de onde o conhecia...
Apresentador> O grande Gabriel (sarcasmo) irá cantar uma música que ele deve dominar bem... já que é um cantor nato...
Eu fiquei apreensivo com aquele suspense... vamos ver...
Apresentador> “Stairway To Heaven”!
Meu Deus! Led Zeppeling! E Satairway to Heaven! Teria que me transformar num cantor de rock... pelo menos no fim da música. Respirei fundo... olhei pro Gui. Ele estava de braços cruzados e lábios apertados... E o que ele falou somente com os lábios me deu a força que precisava.
Guilherme> Acredito em você. Te amo! (apenas com os lábios)...
A música começa com uma melodia triste de violão de seis cordas e flautas em estilo medieval. É lindo... me inspirei. No mesmo momento eu me arrepiei todo... era uma introdução linda mesmo. A quadra estava num silencio sepulcral... respirei fundo enquanto escutava as flautas harmonicamente irem com o violão...
Gabriel> There's a lady who's sure
(a voz era triste… Robert Plant cantava triste nesta parte, e tentei imprimir tristeza…)
Gabriel> all that glitters is gold And she's buying a stairway to heaven
(olhei para a platéia e ela estava em silencio… era como um canto de alento… senti-me emocionado. Amo esta música... e fazia tempo que não a cantava)
Gabriel> When she gets there she knows
(fechei os olhos e pus a mão fechada no peito… como se falasse do fundo de meu coração, sobre a linda historia da mulher que queria comprar uma escada para o paraíso...)
Gabriel> if the stores are all closed (senti uma lágrima correr no meu rosto… estava vivendo as lojas fechadas onde a mulher não conseguiria comprar a escada…)
Gabriel> With a word she can get what she came for (Mas uma única palavra e ela consegue compra o seu intent… lembrei o que Gui me falou…)
Gabriel> And she's buying a stairway to heaven (ele me falou que me amava… ele era meu Paraíso)…
Minha lágrima correu, eu de olhos fechados... muito emocionado.
Abri os olhos e vi todos sérios olhando-me quase que hipnotizados... a música continuava linda.. lenta... emocionante.
Gabriel> There's a sign on the wall, but she wants to be sure (levantei o braço e apontei pra platia… eles eram a parede que a música falava… e eu tinha que ter certeza do que era ditto pelo Gui…)
Olhei pro Gui…
Gabriel> Cause you know sometimes words have two meanings (porque as vezes as palavras tem duplo sentido… e em alguns momentos eu queria ter certeza de que o nosso amor era verdadeiro…)
(Ele me sorriu, e seu sorriso confirmou que eu queria...)
Gabriel> In a tree by the brook there's a songbird who sings (toquei em meu próprio peito, eu era o rouxinol que cantava pra ele)...
Gabriel> Sometimes all of our thoughts are misgiven (eu sabia que as vezes meu julgamentos estavam errados, como dizia a música... as vezes sabemos que nossos pensamentos estão errados... eu pensei que o Gui tava com ela... mas ali eu percebi que não... era era apenas o meu GUI)...
(E a lentidão da música começa a trocar de gradação... vindo uma sessão intermediária elétrica, ainda que lenta... mas linda... entra o piano elétrico... pra mudança da música... lindo demais)...
Gabriel> Oh, it makes me Wonder
Gabriel> Oh, it makes me wonder
(e realmente aquele música me fazia pensar… em mim e em Gui).
(Eu lembrei como uma avalanche de sentimentos no quanto o amor que sentia pelo gui me impulsionava a ser melhor... a querer ser melhor... o quanto o amor é uma chama que alimenta a honra...).
Gabriel> There's a feeling I get when I look to the west (a música dizia que havia algo que sentia quando ele olhava pro oeste… meu oeste era a distancia que aquela menina poderia me por do Gui)...
(senti as lágrimas aumentarem, porque...)
Gabriel> And my spirit is crying for leaving (eu também meu espírito chorar quando eu o vi com ela… como na música diz que o meu espírito chora ao partir)
Gabriel> In my thoughts I have seen rings of smoke through the trees
(senti que estava partindo deixando o Gui quando vi ele com ela…).
Gabriel> And the voices of those who stand looking (Eu então chorei… cantando para ele…)
Gabriel> Oh, it makes me wonder
(Olhei pra o Gui, e o vi entre os borrões que eram meus olhos… vi que ele tava preocupado… é linda essa preocupação... esse carinho e este cuidado... como sou bobo em pensar coisas tolas que podem me afastar deste grande amor)
Gabriel> Oh, really makes me wonder…
(tentei pensar em outras coisas… senão iria desafinar… estava apenas melancolicamente chorando aquilo tudo)...
(Fechei novamente os olhos... tinha que me concentrar... olhei o monitor… era uma parte da música que eu precisava acompanhar porque nao estava lembrando no momento por causa da emoção...)
Gabriel> And it's whispered that soon, if we all call the tune
Then the piper will lead us to reason (Lembrei do carinho que o Gui me fez naquela manha, no momento em que o Hugo esteve comigo e simplesmente quis me tirar dali… são razões pra eu ser o que era...)
Gabriel> And a new day will dawn for those who stand long (me arrepiei muito naquele momento… e mais lágrimas… deveria ser um mico aquilo tudo… eu chorar daquele jeito na frente de todos… mas o silencio era respeitoso)
Gabriel> And the forests will echo with laughter (fechei os olhos)
(Senti uma brisa soprar)
Gabriel> Oh, ou ou ou ou
Gabriel> If there's a bustle in your hedgerow, don't be alarmed now (e a bacteria entra… e a música fica mais agitada… quase um pop rock…)
Gabriel> It's just a spring clean for the may queen (Era como uma mudança em minha vida… em meu humor… em meu momento…)
Gabriel> Yes, there are two paths you can go by, but in the long run (e como a música dizia que tinha dois caminhos pra a gente seguir, mas que eram longos… eu teria que escolher um… senti que o meu caminho era o que me levava a Gui…)
(Me aproximei da beira do palco... queria ir pra perto do público... era agora mais rock)
Gabriel> There's still time to change the road you're on (escolhi está ali cantando. Pra impressionar o homem que eu amo, que eu choro, que eu vivo)
Gabriel> And it makes me wonder
(Senti uma energia tomar conta de mim… e com atitude, mudei meu caminho… limpei aquelas melancólicas lágrimas... era o meu homem que me via)...
(Imbuído pela mudança da música, até então sendo acrescentada com camadas de guitarras, complementando a melancolia da introdução e neste momento com a bateria e o baixo entrando lentamente... até que a bateria explode... era revigorante... era como se quisesse nos tirar daquele torpor...)
Gabriel> Ohhh
(Com a voz mais postada e alta... cantei aquela parte que já era forte)
Gabriel> Your head is humming and it won't go (apontei pra minha mente – estava absolutamtente envolvido pela musica…)
Gabriel> In case you don't know, the piper's calling you to join him () Gabriel> Dear lady, can you hear the wind blow And did you know your stairway lies on the whispering wind (e apontei pra o Gui… sim a escadaria estava ali no vento… no sopro da vida que era o Gui. Ele era o caminho que eu seguia pro paraíso. Ele é meu paraíso)...
(e nos acordes finais fechei os olhos, a bateria dramaticamente afirmava a próxima fase... era como se eu tivesse descoberto que simplesmente meu mundo estava ali... e isso era uma revolução na vida... em mim, na minha cabeça... no meu coração...)
(e vem o solo magnífico de guitarra, e o todos se levantaram e gritaram ao som do mais puro rock, do hard rock)
Me preparei para rasgar a voz... iria cantar com agudos impossíveis! Respirei fundo e esperei a deixa... que era a Guitarra no mais alto agudo possível...
Gabriel> And as we wind on down the road (minha voz ficou irreconhecível – o Gui me olhou assustado…)
(Me virei envergonhado pra tras e olhei o apresentador... ele tava de queixo caído... puxei mais... raguei a voz... e cantei...)
Gabriel> Our shadows taller than our soul, there walks a lady we all know (Era puro have metal… e eu estava adorando… tem um poder… uma força…)
(as pessoas começaram a assoviar... e o clima era geral)
Gabriel> Who shines white light and wants to show (Me sentia radiante… forte… brilhante, como a mulher que era revestida de luz que a música falava)
Gabriel> How everything still turns to gold and if you listen very hard (era uma redenção… senti-me abençoado… realmente motivado… forte)..
(ví lá no fundo do palco minha mãe sorrindo, e era um sorriso lindo… alegre… feliz… ela tava do lado de dona Alba… acenei pra elas que me devolveram o aceno…)
(e me virando para o público olhei pra todos, sem medo e sem vergonha nenhuma... era o poder que o rock proporciona. A revolução. Era uma revolução dentro de mim...)
Gabriel> The tune will come to you at last When all are one and one is all, yeah To be a rock and not to roll (e gritei ao máximo)
(e a música vai se desacelerando, onde tudo volta a lentidão até que todos os instrumentos somem cada um por sua vez ficando apenas a voz pra a capela falar…)
Gabriel> And she's buying a stairway to heaven (quase um sussuro)
Era o extreme de uma música cheia de extremos que naquele momento fiz um paralelo com minha vida também tão cheia de mudanças...
Terminei sem fôlego... mas ovacionado... não acreditei que eu consegui cantar aquela musica em público... e ter chorado... e ter quase que me declarado pro Gui... em ter simplesmente passado por uma grande emoção em um simples karaoquê.
Apresentador> Gabriel... não temos palavras... parabéns...
Olhei pra ele e esperei uma ponta de sarcasmo ou ironia... não veio... aquele menino era o que ultimamente eu tinha visto com a menina que foi “estuprada” na escada pelo Danilo... ele parecia que estava namorando ela... mas não sabia. Apenas o que eu sabia era que ele demonstrava hostilizar-me...
Apresentador> Vamos ver a nota do Gabriel... pra nossa escola... caraça mano!
Eu olhei pra onde ele estava direcionado e me assustei..
Apresentador> 100! Meu, nota máxima... cara!
Todo mundo começou a gritar e um grupo de minha escola correu pra me abraçar... eu estava feliz demais... feliz mesmo...
Apresentador> Ninguem segura esse menino...
Eu voltei a ficar tímido...
Apresentador> Você tem que escolher a próxima pro seu adversário...
Suspirei. Peguei a cartela e escolhi... já tinha em mente...
Eu queria escolher uma música em específico, a Hallowed Be Thy Name, do Iron Maiden, que tem um vocal impossível... mas não estava na cartela... então fiquei frustrado... olhei as possibilidades e vi Marisa Monte... Bem que se Quis é difícil... poderia ser ela... pensei... quem sabe...
Apresentador> Qual você escolhe...
Olhei pra platéia e o Gui tava sorrindo pra mim... ele sabia que eu ia escolher uma pauleira... nossa, ele já estava me conhecendo até intimamente... até a alma...
Gabriel> Não posso escolher Non, Je Ne Regrette Rien da Edith Piaf. Eu escolho Panis et Circences da Marisa Monte.
E o olhar de morte fez com que eu soubesse. Era a pauleira... pois queria ver como ela iria cantar a parte inicial... com aqueles vocais dificílimos...
Fazer o que? Eu pedi pra ver o meu catalogo... ia ver o que a Jú pos ali! Suspirei aliviado. Era tudo o que eu gostava. Realmente a Jú me conhece...
Me preparei para ver a apresentação enquanto esperava a minha próxima vez... ainda teriam duas musicas... suspirei. Ficaria nervoso novamente? Foi quando algo me chamou a atenção... olhei pra o lado direito do palco... lá estava uma pessoa que eu não esperava em ver. Nossa... eu vi... era simplesmente... meu Deus! O Danilo. Mas o que me chocou não foi ver o Danilo. Foi ver com quem ele estava! O Danilo estava de papinho com o Adriano! Fiquei tão assustado que não percebi a Jú me abraçar...
Jú> Tá arrebentando... mas deixa de contar uma coisa... esses idiotas estão de complô... tipo, você ta na onda, cantando muito bem, interpretando pra ganhar, tanto que tá escolhendo músicas difíceis pra eles cantarem... só que esses desonestos estão escolhendo músicas difíceis pra você e fáceis pra eles... não notou?
Eu me virei pra Jú e tentei entender o que ela dizia... estava distraído ante o choque que tive...
Gabriel> Você acha que...
Jú> Ah Gabriel! O cara escolher esta ultima música pra ti... e escolher olariê da Xuxa pro outro! Francamente! Eles vão tentar tirar nota alta com musica fácil... e fazer você tirar nota baixa com música difícil...
QUE DROGA! PORQUE NÃO PENSEI NISSO ANTES? Sorri pra Jú... quando ela entra numa disputa entra pra vencer mesmo! Depois que ele terminou a música da Marisa Monte, o outro competidor cantou Aquarela do toquinho. Realmente havia complô ali.
O outro cantou também uma música fácil, que agora não me recordo... e foi aí que percebi o quanto eu estava sendo perseguido... Me virei pra ver o Adriano com o Danilo, mas o Danilo não estava lá... olhei pra ele e ele acenou sorrindo... fez sinal positivo me parabenizando... desviei o olhar... e me virei pra o Gui. Ele tava olhando pra o Adriano... levantei uma sobrancelha... o que ele tava pensando?
Apresentador> Agora o Gabriel irá cantar uma música escolhida por você (apontou para o ultimo competidor)...
Competidor 4> Escolho “Faroeste Caboclo” do Legião!
E eu percebi que estava sendo totalmente boicotado! Não que eu tivesse sendo um santo com eles, mas eles estavam escolhendo músicas fáceis e pra mim difíceis... isso era desonesto!
Mas não podia fazer nada, porque eu não tinha como naquele momento nada provar... era tudo muito subjetivo. Dei de ombros... olhei pro Gui e ele tava inda olhando o lado onde o Adriano estava, mas se virou e me encarou... ele tava com o semblante preocupado. Daí percebi que ele só estava olhando pra aquele lado por causa do Danilo. Suspirei... bom, não queria me preocupar com isso, tinha uma Bíblia pra cantar...
Apresentador> Podemos começar?
Gabriel> Posso tomar um copo com água?
Ele assentiu.
Gabriel> Natural... por favor... (ele me olhou feio) por causa do gelo pra voz... (falei timidamente).
Pediu pra alguém trazer a água... tomei sem pressa...
Apresentador> Podemos agora? (a velha ironia...)
Gabriel> Claro!
E ele olhou pra o rapaz no computador e falou...
Apresentador> Pode rodar garoto!
Olhei pra o Gui e ele fez sinal positivo... a Patrícia estava em pé também mandando-me sinal positivo. Achei engraçado uma rival me dando apoio... dei de ombros, quando estamos na chuva... é pra se molhar! Então... meu coração deu uma acelerada, e o estomago ficou gelado...
A música começou... As pessoas começaram a gritar apoio e gritavam Gabi... Gabi... Gabi... era ensurdecedor... tinha até gente de outras escolas torcendo pra mim... fiquei vermelho... A introdução da música começou e eu me aproximei do monitor... que estava na beira do palco, o que me fazia ficar bem perto do público... outro fator que me deixava apavorado... Olhei detidamente o monitor... e escutei a melodia com atenção... comecei...
Gabriel> Não tinha medo o tal João de Santo Cristo Era o que todos diziam quando ele se perdeu (Tentei o mais grave possível... forte)
Gabriel> Deixou pra trás todo o marasmo da fazenda Só pra sentir no seu sangue o ódio que Jesus lhe deu (eu tinha que me concentrar...)
Gabriel> Quando criança só pensava em ser bandido Ainda mais quando com um tiro de soldado o pai morreu
Gabriel> Era o terror da sertania onde morava E na escola até o professor com ele aprendeu (era meio malandra a forma de cantar)
(O Gui chegou junto ao palco... eu o olhei e ele sorriu... senti-me mais forte...)
Gabriel> Ia pra igreja só pra roubar o dinheiro Que as velhinhas colocavam na caixinha do altar
Gabriel> Sentia mesmo que era mesmo diferente Sentia que aquilo ali não era o seu lugar (ele tinha timbre alto, mesmo com voz grave... eu tinha que me lembrar).
(Olhei a platéia e ví o Danilo... tá ai... era uma música pra ele!)