Adriano> Ah por favor! Vou ficar com este estigma? Disse apenas uma brincadeira...
Guilherme> Então melhor não brincar com o que não tem conhecimento...
O Adriano olhou pra ele e o Gui o encarou... todos notamos o clima... mas um clima estranho pois até então o Adriano não tinha nada haver com nada! Nem sabia ao certo de mim e do Gui... ele nem tinha interesse em mim... e estava provocando, ou parecendo que provocava gratuitamente.
Mãe> Guilherme me conta... o que achou da apresentação do Gabriel?
O Gui demorou pra se virar pra mainha...
Guilherme> Meu Biel tem tudo de melhor sempre... melhor voz que conheço... melhor interpretação... melhores escolhas de música... tudo... perfeito...
Jú> Agora está na hora de você manezão (bateu no ombro do Bruno) babar com minha apresentação...
Eu duvidava que o Bruno fosse babar... pois pelo que conheço da Jú jogando imagem e ação... tava mais pra rir ou se envergonhar... A Jú foi pro palco e eu, o Gui, o Bruno, mainha e o Adriano... fomos sentar numa arquibancada... eu fiquei tímido porque ninguém chamou de certa forma o Adriano pra sentar conosco... mas EU O CHAMEI PRA GINCANA. Por isso ele tava ali... do lado... pelo menos a Patricia sumiu...
Gabriel> Só quero ver a Jú...
Guilherme> Ela é tão irreverente que vai se dar bem...
Mãe> O medo é essa irreverência toda...
Eu me sentei e o Gui se sentou do meu lado... do outro sentou mainha... o Adriano sentou-se na nossa frente ao lado do Bruno... a gincana tava pegado fogo... eu olhei pra o palco... estávamos bem perto... a menos de 10 metros... coisas de mainha... ela tinha moral...
Começou a prova... e a equipe da Jú era a primeira.... eles tinha que escolher entre fazer um desenho ou uma mímica... a Jú olhou o cartãzinho que eles entregaram e sorriu, disse que ira fazer mímica e então o apresentador virou a ampulheta... os meninos perguntaram se era filme, ator ou atriz, objeto, lugar... ai ela fez sim com o polegar... era um lugar... a Jú fez sinal que iria dividir a palavra em parte... e que a primeira parte era... A Jú ficou de pé de frente pra os meninos e com a mão circulou sua face... ela mostrava seu rosto... os meninos disseram...
Meninos> Face!
A Jú juntou os dedos mostrando que era similar...
Meninos> Rosto.. feição... cara...
Ela apontou pulando... era CARA...
Meninos> Cara?
Ela fez sim com a cabeça... e partiu pra próxima...
Então simplesmente ela fez um... JESUS AQUILO ERA O QUE EU PENSAVA?
Ela simplesmente pos a mão na frente... na pélvis... e com o dedo indicador ela levantava ele simulando... Jesus! Simulando uma ereção...
Meninos> Jú não vou falar isso... não é isso que tou pensando né?
Eu pensei em pênis... todo mundo veio a baixo... riam pra valer e a Jú se sentindo...
Bruno> Ela tá doida é?
A cara do Bruno era de bravo... nossa era a primeira vez que vi ele meio enciumando...
Daí a Jú olhou com cara feia pra ele e abanou as mãos dizendo que iria mudar... ela fez um gesto que tava segurando uma linha imaginária até o alto...
Meninos> Pipa!
A Jú bateu uma mão na palma da outra fazendo sinal de dividir ao meio...
Meninos> Pi?
Então era pica que ela pensou... fiquei vermelho! A Jú fez sim com a cabeça... daí fez o numeral 3 dizendo que iria fazer a terceira mímica... E ela então... CRISTO... a Jú ficou de quatro e apontou pra a bunda dela! O Bruno rosnou...
Meninos> Cú!
E a algazarra foi grande... era gritaria, assobio... tudo junto... não queria nem imaginar o quanto foi difícil controlar... até que um dos meninos gritou...
Meninos> CARA-PI-Cú... porraaaa! É Carapicuíba!
E a Jú gritou feito uma doida... ainda tinha metade da ampulheta...
Após esta apoteose da Juliana aconteceu, em seqüência, os fatos que incrivelmente se seguem...
No momento do CARAPI-CÚ-IBA... o Bruno, que estava tomando uma coca-cola engasgou ao ponto de derramar coca pelos cantos da boca, mainha se levantou absolutamente chocada e o Gui deu um tapa em minhas costas rindo abertamente (acredito que na hora, considerando-me um camarada) que me fez quase cair pra frente e perder a voz por alguns segundos... ao mesmo tempo em que dois meninos que estavam sentados abaixo de nós cuspiam fora o que bebiam inclusive porque bati nas costas deles com meus joelhos...
Gabriel> Desculpem (falei desajeitado, embora eles me olhassem todos babados mas sorridentes)...
Garotos> Sem problema (entre risos)...
O Gui me olhava rindo e meio que como se pedisse desculpas pelo tapa...
Mãe> Meu Deus! Dona Alba ta arrancando a Jú do palco!
Olhei pra o palco e ela tava sendo arrastada, literalmente, pela mãe... Virei do lado e o Bruno estava com cara de bravo... muito bravo, nunca o tinha visto assim... ele estava de braços cruzados, o rosto fechado e os olhos extremamente apertados... seu maxilar rangia... era perceptível a raiva e a tensão dele... lembrou-me o Gui.
Gabriel> Bruno! (chamei-o mas ele não desviava o olhar do palco) Bruno! (chamei mais alto, nada! Pus as duas mãos na boca fazendo um cone e gritei) BRUNO!!!
Ele me olhou como se visse através de mim...
Gabriel> Bruno... (agora fiquei tímido pra falar com ele)
Bruno> Eu não acredito no que ela fez Biel!
Eu queria dizer que aquilo era o jeito dela... que ela não tinha papas na língua... que era uma pessoa extrovertida e tal, mas simplesmente fiquei fitando ele sem dizer nada, travado! Ele estava muito bravo... provavelmente com muito ciúmes da Jú, pois tinha muita gente que zonava, até uns chamaram de gostosa, o que deixou ele realmente irritado... O Bruno se levantou sem tirar os olhos de mim... e balançou negativamente a cabeça... depois se dirigiu pra trás do palco...
Guilherme> Sinto que a Juliana vai escutar!
Eu me virei pro Gui e falei...
Gabriel> Sinto que o Bruno vai ficar frustrado, pois acho que ela não vai dar nem bola!
Mãe> Mas é só uma brincadeira! Claro que ela exagerou, mas era tudo um abrincadeira...
Mainha se levantou e falou...
Mãe> Vou lá atrás ver minha amiga...
Eu toquei-lhe o braço...
Gabriel> Qual das duas?
Ela me olhou com um brilho nos olhos... eu me referia se ela era amiga da mãe ou da filha...
Mãe> Como diria alguém... detalhes... são só detalhes...
E saiu.
Guilherme> Acho que a Juliana está encrencada mesmo!
Gabriel> Sabe o que eu realmente temo Gui?
Ele me olhou e sorrindo perguntou...
Guilherme> O que?
Gabriel> Temo que simplesmente todos estejam dando bronca nela e ela de boca aberta sem entender o motivo da bronca... porque na cabeça dela ela não fez nada demais, e certamente achará que todos estarem chocados é uma coisa sem sentido... porque por mais loucura que ela faça ela vai entender que aquilo é natural... e se perguntará o porquê de todos estarem tão chocados com uma coisa natural...
Guilherme> Jura?
Eu balancei afirmativamente a cabeça...
Guilherme> Quer dizer que ela não tem consciência?
Gabriel> Não é isso! (suspirei) tipo assim, a Jú é uma pessoa que possui o valores dela, próprios... e exprime eles... não por maldade... ou por tá se exibindo... ou porque é uma pessoa pornográfica, por exemplo... é porque simplesmente pra ela aquilo é natural. É como se ela tivesse em outra dimensão... (interrompido)
Guilherme> Com o se fosse mais evoluída que nós?
Gabriel> Não! (nossa, como explicar aquilo pra Gui? Eu mesmo passei anos pra entender) é tipo assim, escuta! Ela vive numas regras, éticas na ótica dela, e faz as coisas sem achar que é errado... apenas porque na mente dela, aquilo é natural... é como se nos fossemos tipo da Europa, com uma cultura e hábitos, e ela fosse do Japão, com outras culturas e hábitos diferentes... e por ser tão diferentes, a gente acha que é errado, e ela tem a convicção que é certo... só isso...
Guilherme> Como se ela fosse uma nova raça! Paciente zero...
Gabriel> Por ai...
O Gui ficou pensativo e depois falou...
Guilherme> Quer ir lá?
Gabriel> Não sei... temo pela Jú... penso que poderia ajudá-la em algo...
O Gui se levantou e falou...
Guilherme> Então vamos...
Descemos da arquibancada que estávamos e nos encaminhamos pra trás do palco.
A gritaria era escutada de longe... alias, a Jú gritando...
Jú> Eu quero continuar... (gritos)
Dona Alba> Continuar ao que sua louca? A envergonhar-me?
Quando cheguei a Jú andava de um lado pra o outro, mainha estava entre as duas e o Bruno não estava lá... onde estaria?
Jú> Só na cabeça caduca da senhora que acha que o que eu faço é vergonhoso... francamente mãe... a era da repressão já passou... estamos no século XXI, nem sexo, drogas e rock'n roll é mais moda... imagina!
Dona Alba> Juliana! Você passou de todos os limites... todos!
Mãe> Cama Alba...
Jú> Eu vou voltar lá... vou voltar...
Dona Alba> Vai pra casa! AGORA!
A Jú olhou pra ela e levantou a cabeça... encarou-a...
Jú> Não vou!
Eu nunca havia visto as duas daquela forma... dona Alba tava prestes a perder o controle, e a Jú estava parecendo um gato pronto pra briga...
Gabriel> Gente por favor... acalmem-se...
Jú> Gabe diga a mainha que jogamos imagem e ação desde pequenos e eu SEMPRE JOGUEI ASSIM E NUNCA FOI PRA ME EXIBIR...
Dona Alba veio até mim...
Dona Alba> Gabriel meu filho você tem que concordar comigo que jogar esse jogo em casa é uma história... aqui no meio de 4 escolas reunidas... é sem medidas...
Que situação me meti... as duas me olhavam com os braços na cintura... O Gui chegou ao meu ouvido...
Guilherme> Melhor sair de fininho...
Suspirei... e agora? Quando formulei uma resposta diplomática entre melhor você não desobedecer sua mãe ou ir com a promessa de se comportar e não levar para a baixaria... me assustei com uma voz que esbravejou...
Bruno> Você não vai voltar lá... não quero e não vai!
Todos nos olhamos pro lado e o Bruno estava lá...
Jú> Como assim? Ninguém manda em mim... eu vou sim... quem você pensa que é (interrompida)...
Bruno> Sou seu namorado porra! (ele deu dois passos e ficou perto dela) e enquanto eu for você fica sob minha proteção... ordens... o raio que for...
Ela piscou os olhos varias vezes tentando compreender e assimilar...
Bruno> E como namorado eu me sinto mal vendo minha menina lá em cima feito uma sem ninguém... (ele apertou o punho forte...) sou tosco... não sei falar bonito como o Gabriel... não tenho paciência... sou bruto mesmo... A Jú estava muda... eu também...
Bruno> Mas tem uma coisa que eu sei... não quero ver a minha mina novamente como se ela não tivesse ninguém que olhasse por ela... EU OLHO DROGA POR VOCÊ... E NÃO QUERO VOCÊ LÁ...
Ela piscou novamente os olhos...
Jú> Mas é só uma brincadeira (falou quase sem voz...)
Bruno> Não quero saber. Enquanto for seu namorado vai ser assim. Eu não quero e acabou... não me sinto bem... não me faz bem. Não sei dizer direito... mas eu gosto pra caralho (olhou pra dona Alba e mainha) desculpa senhoras, mas eu gosto demais de Jú pra aceitar ser humilhado assim... vem vamos sair daqui... vem...
E pegou o braço dela... e PARA A SURPRESA GERAL ela pulou no pescoço dele, abraçou ele forte e deu um beijo grande... Gente! Me emocionei... foi demais aquilo... a Jú beijou o Bruno e ele a enlaçou tanto protetor... tão carinhoso que eu fiquei com os olhos cheios lacrimejantes. O Gui pos uma mão nos meus ombros... olhei pra dona Alba e ela tava sorrindo com e mainha falando algo ao ouvido dela, que balançava a cabeça afirmativamente...
Foi incrível... a Jú saiu com o Bruno dali... nós saímos pra ver o fim da gincana e até hoje eu pergunto a Jú sobre o episódio porque algo ficou na minha cabeça... e foi culpa do Gui... pois, assim que saímos dos fundos do palco o Gui sussurrou ao meu ouvido...
Guilherme> Será que não foi mais uma armação dessa maluca pra o Bruno ficar enciumado e tomar uma posição mais firme?
Eu olhei pra ele com ar de reprovaçao... mas logo em seguida foi como se uma lâmpada acendesse em cima de minha cabeça... gente... era verdade... e se ela exagerou na interpretação com esse intuito? O fato é que, até hoje quando falo deste episódio e pergunto se foi armação ela não me responde... apenas levanta uma sobrancelha e diz...
“Jú> Você é peso mosca em relação a mim querido... não vou te dizer... usa a massa cinzenta... e descobre...”
Mas eu tenho que pra mim ela realmente planejou tudo... pelo menos se ele não ficasse enciumado ela ganharia a gincana... Voltamos pra arquibancada e o Gui tava empertigado... O Gui realmente tava entediado, percebi... ele deixou de prestar atenção na gincana e ficava o tempo todo olhando o relógio e depois pra mim... perguntando coisas fora do foco da disputa entre as escolas.
Guilherme> Biel teremos que viajar no outro fim de semana. Havíamos programado a viajem de presente da Jú lembra?
Realmente a gente tinha combinado de viajar num fim de semana, mas não sabia que tava tão próximo, alem do mais tinha as provas que teria que fazer...
Gabriel> Gui você já marcou o hotel?
Um a gritaria começou e ele não ouviu...
Guilherme> O quê?
Eu tentei falar mais alto.
Gabriel> Você já marcou o HOTEL (GRITEI)...
Guilherme> Não! Eu quero saber... (e não escutei mais nada pois a gritaria foi geral. Eu tava sentado em baixo e ele em cima)
Ele ficou exasperado e simplesmente se levantou e apontou a saída... o segui.
Guilherme> Ainda quer ficar até o fim? A própria Juliana abandonou!
Gabriel> Gui eu só tava lá pra ver a Jú... por mim agente já tinha saído... só acho que deveríamos ver os jogos do time de futebol...
Guilherme> Mas isso é só a tarde. Vem pequeno, vamos sair daqui...
Quando nos dirigíamos pra a praça perto da cantina ouvi um grito...
Jú> GABI!
Olhei pra trás, ela tava de braços dados com o Bruno, que love em!
Gabriel> Oi...
Eles se aproximaram... O Bruno tinha um sorriso engraçado no rosto. Ele tava bem melhor do que antes.
Gabriel> Que foi Jú?
Jú> Fugindo da gincana? Que coisa feia senhor Gabriel...
Eu fiquei vermelho na hora... o Gui se aproximou...
Guilherme> E você que fugiu da prova! Bem pior...
Ela sorriu e falou...
Jú> Eu só tava querendo saber pra onde vocês estavam fugindo pra a gente ir junto...
O Gui riu!
Guilherme> Tava pensando em levar o pequeno aqui pra praia que tal? Ainda não fomos juntos pra praia não é?
Eu adorei a idéia... A Jú quase deu pulos de alegria.
Jú> Combinado... mas temos que nos trocar... ou melhor que tal topless? Aiiiiiii (o Bruno havia beliscado ela)...
Ele fazia sinal de que ela era louca e ela com cara de brava ficava olhando o Bruno e massageando o braço. Rimos dos dois... quando ouvi...
Adriano> Gabriel?
Olhamos pra trás e vinha o Adriano. Nossa fiquei vermelho lembrando do que ele havia presenciado a pouco... olhei o Gui e ele fechou a cara... suspirei
Gabriel> Oi professor (achei melhor formalizar)
Adriano> Sem essa de professor... (rindo de canto a canto – nem queria ver a cara do Gui) Bom a gincana ta ótima... vocês ainda vão participar?
Guilherme> Estamos indo embora. Prazer em conhecer. Até mais. Vamos gente?
O Bruno olhou sem entender pro Gui depois pro Adriano, daí pra mim... depois olhou pro Gui e percebeu a cara feia. Ai acho que entendeu...
Bruno> É carinha, temos que ir mesmo. Valeu, vamos Jú?
Nunca vi tanta parceria como aquela do Bruno e do Gui. Francamente... Até hoje acontece isso. Quando o Gui não pode me buscar em algum lugar... ou quando não está na academia no fim do expediente sempre tem o grudento do Bruno pra ir me deixar em casa... eu não posso ir de ônibus? NÃO! O Gui não quer e tem o AVATAR DO GUI, que é o BRUNO, pra ir me deixar em casa como escolta armada... eu tenho tanta raiva que vez por outra fujo... principalmente porque o Bruno tem mania de tirar onda comigo... tipo ele tem o mal, péssimo... horrível gosto de levantar os vidros do carro, ligar o ar e soltar um pum... eu fico pra não viver... e ele fica rindo de minha cara...
Mas foi ali que percebi que a parceria dos dois era eterna... e que eu seria alvo desta parceria pra sempre. O coitado do Adriano ia pegar em peso...
Adriano> Bom, também vou embora... olha Gabriel parabéns pelas interpretações lá no karaokê. Foi incrível.
O Gui bufou exasperado... O Bruno olhou carrancudo... a Jú, bem, ela queria ver o circo pegar fogo, eu acho!
Adriano> Nunca imaginei que cantasse daquela forma! Se soubesse tinha explorado mais um pouco de você quando bebezinho...
Jú> Eita (o Gui segurou meu braço forte e a Jú percebeu) você sabia que exploração infantil dá cadeia professor?
Adriano> Mas nós tínhamos uma ligação...
O Gui não aguentou e deu dois passos pra frente... ficando próximo ao Adriano. O Bruno já se armou. Meu coração ficou quase saindo pela boca... Deus!
Gabriel> Certo gente... anh, obrigado por ter vindo pra gincana Adriano. Boa sorte em sua vida aqui em Recife. (eu segurei o braço do Gui e o puxei) Vamos gente que quero chegar cedo na praia...
Ele não se moveu...
Gabriel> Por favor Gui... vamos! (eu supliquei)
Ele como se saísse de um transe me olhou sério e falou...
Guilherme> Vamos sim.
Ele olhou novamente nos olhos do Adriano que tolamente sustentou o olhar e nos afastamos...
Adriano> A gente se vê Gabriel...
Jú> Tchau professor... deveria ter feito natação quando pequena... aiiiiii (o Bruno, claro!)
Nos encaminhamos pros carros. A Jú foi com o Bruno e eu entrei na Troller.
Guilherme> Infeliz folgado!
Não comentei nada. Sabia o que era sentir ciúmes, eu mesmo senti naquela manha e fiz o que fiz...
Gabriel> Gui vamos primeiro em casa... tipo a casa de mainha, pra pegar um short de banho, protetor solar... essas coisas...
Ele apertou os olhos e me olhou cabreiro.
Guilherme> Gabriel... Gabriel!
Meu coração bateu mais forte...
Gabriel> Guilherme... Guilherme... nem vem que num tem...
Ele me olhou mais detidamente ainda depois sorriu e afagou meu cabelo desarrumando ele...
Guilherme> Moleque pra me dar trabalho...
Ligou o carro e saímos em disparada... pra variar! O Bruno e a Jú foram pra casa da Jú... ela havia me ligado combinando nos encontrarmos em 30 minutos em boa viagem numa barraca na praia, uma que logo se tornaria nosso point. O Gui dirigia rápido... eu adorava olhar ele dirigindo. Era agressivo. No inicio não gostava da velocidade exacerbada, mas vendo ele ali, percebi que ele dirigia muito bem, e que se andava veloz, sabia o que fazia. Não é apologia a velocidade. O transito do Recife é complicado. Se você não sabe andar rápido e se desenrolar no transito, capaz de você provocar um acidente.
Guilherme> O que você tá olhando?
Gabriel> Estou vendo você dirigir... desde quanto tempo você dirige?
Guilherme> Há nem lembro... faz tempo. Uns 10 anos acho!
Fiquei assustado!
Gabriel . Quer dizer que você tinha uns 13 anos quando aprendeu a dirigir?
Ele afirmou com a cabeça. Pegou minha mão e pos na coxa dele.
Guilherme> Você não sabe dirigir ainda não é?
Gabriel> Ainda tenho 16... quer dizer tou com quase 17, só ano que vem posso tirar a carteira...
Guilherme> Eu também só tirei com a maioridade. Mas não implica que você não pode aprender mais cedo... como eu...
Gabriel> Mas Gui é proibido!
Guilherme> Deixa de bobagem... não vai aprender no trânsito... vai ser na fazenda...
Eu o olhei assustado...
Gabriel> Gui você vai me ensinar?
Ele sorriu...
Guilherme> Vou... e seja um aluno aplicado... sou um professor exigente viu...
Nossa, senti um gelo no estomago... eu ia aprender a dirigir! Chegamos no meu prédio e gelei novamente, mas por outro motivo... o Gui me olhou...
Guilherme> Vou subir contigo.
Gabriel> Não, não precisa (falei meio hesitante... mas logo em seguida defini) Não Gui. Só temos 30 minutos pra chegarmos na praia. Você tem que ir trocar de roupa em casa ok.
Ele assentiu e eu desci do carro.
Guilherme> Qualquer coisa me avise...
Gabriel> Eu grito da varanda... ou pulo, sei lá...
Sorri e ele também...
Guilherme> Volto rápido. Cuidado pequeno...
Eu entrei no prédio e ele saiu em disparada. Subi e não vi ninguém no hall. Meu coração batia forte, eu não havia voltado pra o apartamento sozinho desde que havia acontecido o assalto. Quando sai do elevador meu celular tocou. Me assustei. Olhei e era mainha.
Gabriel> Oi mãe...
Mãe> Filho onde você está?
Gabriel> Mãe em casa, não fiquei pra o fim da gincana...
Mãe> Olha vou almoçar com Alba. Coma alguma coisa com o Guilherme. Mais tarde nos vemos. Beijos.
Mandei beijos pra ela e desliguei. Olhei pra porta fechada e suspirei. Vamos lá, vamos enfrentar os monstros de vez. Abri a porta... O pior de enfrentar o medo é ver que ele esta dentro dagente, nos comandando. Olhei e tinha muita coisa ainda estranha, fora do lugar. A faxina que fizemos e continuada por mainha ainda não tinha tirado o aspecto de desolação. Apenas o piano se mantinha imponente e como sempre, da forma linda que eu guardo na mente. Do lado da varanda, pra o som propagar...
Rumei pro quarto pra não ter que lembrar tanto do episódio. Meu quarto ainda estava uma bagunça, menos, mas tava! Não liguei. Abri logo a gaveta e procurei uma sunga. Droga, não achava a branca que eu adorava... encontrei várias, mas não achei a maldita sunga branca. E eu não tinha tempo pra procurar... peguei uma azul roial que eu gostava bastante. Daí pensei melhor, eu tava tão branco que se eu usasse uma sunga branca iria ficar feio... sorri. Há males que vem pra bem... corri pro banheiro e tomei um rápido banho, daí vesti a sunga e pus uma bermuda branca e uma camiseta vermelha sem mangas... peguei boné vermelho e sai do quarto vem no momento em que recebo uma mensagem do Gui... #estou aqui em baixo pequeno!#. corri e juntei protetor solar fator 50 e protetor de lábios... calcei havaianas, peguei os óculos escuros e desci.
No carro o Gui já me esperava... olhei e ele tava tão lindo. De bermuda branca e camiseta regata cinza... óculos escuros e sandálias. Nossa ele tava lindo demais...
Gabriel> Você ta lindo Gui (falei assim que entrei no carro e na mesma hora fiquei vermelho)...
Ele sorriu todo vaidoso...
Guilherme> Tenho que ficar a altura do meu bebê. É difícil ficar o tempo todo afugentando os malas que querem o que é meu... então, tenho que ficar bonito pra meu pequeno só ter olhos pra mim...
Gabriel> Mas só tenho olhos pra você...
Guilherme> E só terá olhos mesmo se eles só olharem pra mim viu... mas quem tá lindo é você meu pequeno...
Fiquei mais envergonhado ainda e ele ria de meu jeito bobo. Saímos pra o quiosque combinado com o Bruno e a Jú. Quando chegamos eles ainda não tinham chegado, pois a Jú mora bem mais longe e o Bruno também. Descemos e fomos logo procurar uma mesa. Sentamos e o Gui pediu um cardápio. Pedimos cerveja e fomos servidos. 10 minutos depois a Jú chegou com o Bruno. Ela tava com um vestido branco lindo e um biquine por baixo, amarelo.
O Bruno tava com uma bermuda preta, já sem camisa... a Jú era ligada nele como um carrapato, e ele sorria... pegou minha cerveja e tomou um gole grande... de olhos fechados quando abriu olhou pra o Gui, que tava com cara de bravo. O Bruno quase engasga e solta o copo... constrangido falou...
Bruno> Foi mal. Tava com sede...
Guilherme> Folgado!
Eles se sentaram e a Jú pos a bolsa dela em cima da mesa... nela tirou o UNO. Gente eu olhei pra Jú e disse...
Gabriel> Você não vai querer jogar UNO agora!
Jú> Agora não... mas quando eles estiverem bêbados, agente começa a jogar...
Gabriel> Vão quebrar nossas mãos Jú... olha o tamanho deles!
Bruno> Eu não sei jogar esse jogo...
Guilherme> Nem eu...
Jú> É fácil. Eu ensino a vocês... Garçom (gritou) copo e mais uma cerveja... (o garçom veio) quero ensopado de caranguejo... traz pimenta e limão...
Guilherme> Tá animada não é?
Jú> Você não viu nada...
Queria saber se ela continuaria com aquela animação depois que o Bruno falasse com ela sobre o episódio do shopping.
Bruno> É a primeira vez que saímos pra praia... juntos...
Gabriel> E olha que eu amo praia...
Guilherme> Eu realmente amo também... mas ultimamente em... moramos na praia e não estamos tendo tempo pra curti-la.
Jú> Tempo é prioridade. Eu amo praia... e vou todo fim de semana... eu amo piscina, e vou todo dia...
Gabriel> Sua casa tem piscina!
Jú> Detalhes... detalhes... (tomou um bom gole da cerveja) vamos marcar pra tomar um banho de piscina lá em casa né?
Guilherme> Ah mas eu e o Biel temos piscina. Lá no nosso prédio...
Ele disse aquilo tão natural que até eu me assustei. Poxa... que lindo dizer que o apartamento era nosso. Do casal.
Jú> Mas é diferente. Lá em casa é só nossa a piscina... só a gente que vai mijar... no de vocês terão que conviver com o mijo de um condomínio.
Gabriel> Jú! Você faz xixi na piscina?
Ela me olhou como se fosse um ET.
Jú> Ô lord inglês... príncipe... deixa de ser besta... aproveita a vida... peida mais!
Todos riam, menos eu... francamente. A Jú ninguém merece.
Jú> Vamos fazer um brinde!
Gabriel> Com cerveja?...
Jú> Ah claro que sim... (a Jú se serviu... e pos um copo pro Bruno) vamos brindar a saúde... e aos casais mais bonitos de Recife... (brindamos) que seja eterno enquanto estiver duro...
Gabriel> JÚ! (repreensivo).
Ela sorriu.
Jú> Nem vem que não tem Gabi. Você já deixou de ser purinho há muito tempo...
Guilherme> Eu quem o diga... como sofro com esse furacão...
Gabriel> GUILHERME! (eu estava rubro... sentia a pele da face queimar incontrolavelmente).
Eles riram de mim... e muito. Fiquei meio chateado. A Jú não perde a viajem...
Bruno> Ah mas o Gabriel não deixa de ser esse menininho não... acho que vai ficar assim pra sempre. Com essa aparência de guri...
Olhei frustrado pra ele e falei...
Gabriel> Valeu pela parte que me toca Bruno. Não sei o que é pior... ser um amante de alcova ou um guri buxudo...
Guilherme> Prefiro que seja um guri de alcova... mas só da minha...
Ele piscou o olho. Senti que aquele papo tava o ó pra mim. Melhor seria mudar de assunto. Pra mudar de assunto eu falei de um que poderia interessar e desviar a atenção da Jú...
Gabriel> Quem será que ganhou a gincana?
Jú> Claro que foi a escola de maninha... ora! Só entro pra ganhar... aprende! (e sorveu outro grande gole da cerveija)
O mar tava agitado... mas estava já secando a maré. Olhei pro Gui e falei...
Gabriel> Gui quero tomar banho de mar, mas quando tiver menos agitado...
Guilherme> Acho que daqui a 1 hora vai virar a maré (ele falou pensativo e olhando o mar).
Jú> Se a gente fosse agora poderíamos ver um tubarãozinho de leve...
Bruno> Que tubarão o que! Ta parecendo o povo do Rio-São Paulo que só pensa que as praias daqui tem tubarão...
Jú> Tem tubarão em cardume! Pra ser exata...
Gabriel> Ah Jú! Deixa de coisa... não tem muito tubarão não... e os casos que ocorreram são pontuais...
Jú> Depois de Suape (o porto novo) os bixinhos simpáticos e vegetarianos vieram todos pra boa viajem...
Fiquei exasperado, mas foi o Gui que comentou...
Guilherme> Gente se for assim a gente não toma nem água com medo do que pode acontecer...
Gabriel> Isso mesmo. E deixa de coisa... vamos tomar banho sim... tou branco demais...
Jú> E quando você não foi branco neve?... ariranha do brejo!
O Bruno quase cospe a cerveja e ri de mim...
Bruno> KKKK. Melhor nem tirar a camiseta... pra não ofuscar a gente...
Gabriel> Há- há Haaaaaa! Que engraçado... (olhei pra o Gui e falei) e você nem me defende desta duplinha não é?
O Gui apenas deu de ombros e retirou a própria camiseta. Nossa ele tem um corpo magnífico. Forte... muito forte. Barriga toda definida. Já disse isso aqui, claro, mas sempre que eu o vejo me surpreendo o quanto ele é forte. É incrível este sentimento. Por mais que eu o veja sem roupa. Por mais intimidade que eu tenha... ainda não se perdeu aquele ar de mistério, de novidade.
Jú> Ai, ai... como é bom ter o top estirpe masculina do lado... imagino as piriguetes cortando os pulsos pois não estão aqui nesta mesa...
Gabriel> Ah Jú... não estamos aqui pra fazer média com ninguém...
Jú> E quem disse que é média que tou fazendo... ora Gabi... eu tou do lado de dois machos-alfa-testosteronados, e uma beleza-rara cara de anjo perdido... você quer o quê... sou a única femea desta mesa... me sinto a rainha do Nilo... venham cobrinhas me morder...
Fiquei vermelho na hora... a Jú se levantou e tirou o vestidinho branco. Ela tava só de biquíni amarelo minúsculo...
Bruno> E precisa expor seu corpo assim Juliana! Esse biquine só cobre... os, os...
Jú> Bicos do peito e o capú do fusca?
O Gui virou o rosto e eu quis esconder o meu em algum lugar... o Bruno ficou mudo... virou o copo da cerveja e olhou serio pra Jú...
Bruno> Se eu não soubesse realmente quem você é guria... eu nem sei o que diria agora...
Jú> Que sou uma puta? Ah bem, fica frio... isso não me atinge! Só não me chama de freira... isso sim seria um insulto.
Gabriel> Juliana menos! Quem não te conhece vai acreditar que você ano é uma pessoa séria...
Jú> Ah Gabi, que graça tem na seriedade?
Bruno> De vez em quando queria te ver normal...
Guilherme> Normal?
Eu dei um chute na canela do Gui por baixo da mesa e ele me olhou com cara de bobo... sorriso no canto da boca...
Gabriel> Bruno quando vai ser sua outra luta? (tentei mais uma vez mudar de assunto)
Bruno> Em janeiro volto as competições... já estou bem do braço... mas tá em fim de temporada e agora eu preciso apenas me prepaaaaaaaaaaaar (Bruno olhou pra Jú que tava de pé).
E ela tava de fio dental!
Bruno> você não está pensando que... (ele tava tão nervoso e falava de forma entrecortada que engasgou com a própria saliva)... vai (tossiu) Juliana! Vista este vestido... agora...
Ele pegou o vestido e esticou pra ela, que chocada olhava sem entender... eu achei o fio dental demais... realmente, o Gui apenas bebia a cerveja sem falar nada... com cara de quem iria cair na gargalhada a qualquer momento. Eu sei quando aqueles olhos negros estão disfarçando uma vontade imensa de rir.
Eu nem podia dizer como eu próprio estava... já vi a Jú de fio dental várias vezes... alias, só a vi uma vez com biquíni normal.. e na época ela justificou, constrangida, “estou mandacaru... não depilei”
Jú> Ah Bruno! Francamente, estamos no século XXI... e eu me sinto bem assim... não se preocupa que eu estou sem pelos...
Bruno> Tá fora de cogitação!
Ele olhou ao redor e tinha pelo menos dois caras olhando pra ela... e mais outros um pouco distantes, mas que visivelmente olhava pra ela...
Jú> Tenho que competir com artilharia pesada... veja... aquela ruivinha ali... (e apontou) tá olhando pro Guilherme desde que ele tirou a camiseta, e olha que o Gui é uma vela... imagina quando você tirar a sua... ficar de sunga! Esse morenão! (ela se sentou pegou a cerveja, arrancou o vestido da mão dele e pôs na bolsa) Tenho que mostrar pra todos... inclusive pra você que eu tou podendo!
E tomou calmamente a cerveja... enquanto eu dava uma conferida na bendita ruiva que o Gui, agora, olhava de rabo de olho pra lá, meio curioso. Apertei os olhos... ele se virou pra mim e desconfiado sorriu amarelo... Então eu me levantei decidido. Tirei a camiseta... depois o short veio abaixo. E foi a vez de ver os eu sorriso desaparecer ante minha sunga azul royal.
Guilherme> Que porra é essa?
Gabriel> Roupa de praia... não sabia que suga de banho é roupa de praia Gui?
Ele me olhou bravo...
Guilherme> Veste o short Gabriel! (ele falava baixo e entre os dentes) agora!
O garçom chegou e eu me virei pra ele...
Gabriel> Quero uma caipiroska pode ser?
O Garçom me olhou serio e falou...
Garçom> Claro senhor...
O Gui ficou calado me fuzilando com o olhar... ele não falava nada por causa do garçom ali...
Garçom> Alguem quer fazer mais um pedido?
Guilherme> Não!
Jú> Eu quero! (ela se levantou e me abraçou) quero uma caipiroska também... vai que essa bebida seja a responsável pela “grande saúde” do meu amigo aqui...
O garçom anotou o pedido e pediu licença... eu estava vermelho com o trocadilho da Jú e o Gui estava colérico... Bruno me olhou e tentou entender o que era a “grande saúde” até que ele olhou pro local certo...
Bruno> Caralho! Que coisa mais... (e se calou – porque o olhar o Gui era de total morte).
Gabriel> Vamos nos sentar Jú... (eu já estava um tanto receoso quanto aquela sunga, mas não podia voltar atrás)...
Guilherme> Veste a bermuda Gabriel... estou te dizendo... (ele tentava falar devagar, respirando fundo e meio que contando as palavras)
Gabriel> Gui por favor... não estou fazendo nada demais... não estou desfilando por aí... e você mesmo pode tirar o seu short e ficar de sunga... é natural isso Gui...
Guilherme> Não estou de sunga!
Jú> Ah Gui... o Gabi ta sentado... poxa... deixa só um pouco... deixa a gente curtir a praia...
Ele não falou nada, apenas tomou a cerveja e ficou me olhando feio... depois falou...
Guilherme> Senta perto de mim... aqui (ele meio que grosseiramente puxou a minha cadeira pra perto dele – fiquei lado a lado com ele... antes eu tava na ponta da mesa... ele na lateral e na outra lateral a Ju e o Bruno - agora eu tava lado a lado como o Bruno tava com a Jú... ele pos o braço dele no encosto de minha cadeira... era um tanto protetor demais. Fiquei vermelho imaginando o que os outros pensavam)...
Jú> Viu... não tá doendo nada... já já tomamos banho de mar e sem problema...
Guilherme> Nada de banho de mar hoje!
Era uma sentença. E eu tinha que acatar... A caipiroska veio pra me ajudar na situação que eu próprio me meti, com ajuda da Juliana, mas que, sinceramente, eu estava adorando, pois o Gui, pro bem ou pro mal, tava vidrado em mim... em não deixar os supostos “gaviões” olharem pra mim... A caipiroska tava deliciosa e eu ofereci pra ele...
Gabriel> Gui tá uma delicia... quer provar?
Guilherme> Não! (seco – mas depois suavisou) melhor não... tem que alguém ficar sóbrio aqui.
Bruno> Gabriel na boa como é que pode ser tão...
Guilherme> O que mesmo você vai perguntar?
Bruno> Nada não... nada não! (falou meio desconfiado) aiii (foi a Jú e sua cutuvelada).
Sorri. Aqueles dois são inigualáveis...
Jú> Pelo visto tenho que lutar contra os amigos?
Bruno> Ei tá me estranhando é? Ora...
E abraçou ela e deu um beijo...
Bruno> Bom isso vocês não podem fazer não é?
O Gui apertou os olhos e falou...
Guilherme> Quem disse que não!
E do nada ele me puxa o rosto e me dá um beijo rápido... mas o suficiente pra eu tomar conhecimento da loucura... FUI BEIJADO EM PÚBLICO.
Meu coração parou por alguns segundos. Foram poucos, mas o suficiente pra sentir um grande desconforto aliado a uma emoção sem medidas. Era como estar nu no meio da multidão. Era como se várias estivessem me vendo em um momento intimo... mas ao mesmo tempo eu sentia tanto amor... tanto carinho e um imenso orgulho... nossa, segurança, era um turbilhão de sentimentos que naquele momento me causou. Nos poucos segundos... no beijo rápido, que só não foi apenas um selinho porque senti sua língua urgente e dominadora dentro de minha boca... sua mão na minha nuca, e sua característica habitual de proteção... era como se tudo tivesse parado. Todo o som sumido. Apenas aquele instante mágico. Onde eu não queria sair por dois grandes motivos: um porque era maravilhoso aquele beijo que eu estava vivendo... e outro porque não queria enfrentar o mundo e os olhos que me cercavam...
Mas aconteceu. Nos separamos e eu baixei a cabeça. O Gui apenas pegou a cerveja e mais forte me apertou o ombro... eu, vermelho sangue, apenas fitei a mesa sem ter coragem de olhar ao redor... quando ouvi...
Bruno> Levanta a cabeça Gabi...
Eu não tinha coragem... minhas faces queimavam...
Bruno> Gabi? Olha... por favor...
Eu lentamente levantei o olhar, ainda meio hesitante...
Bruno> Olha a sua volta.
Olhei com o coração a mil... e vi, as pessoas da mesa vizinha sorrindo e falando uns com os outros assuntos deles. O Garçom correndo pra anotar um pedido... uma criança tomando um sorvete e se lambuzando toda... mais adiante um vendedor rippie tentando convencer um turista a comprar um gafanhoto feito de palha de milho... dei a volta em mim e vi atrás as pessoas das outras barracas absortas em suas conversas... umas falando ao celular, outras comendo, bebendo... simplesmente indiferentes ao que aconteceu ali... não sei se não viram ou se não deram tanta importância...
Jú> Nem sempre será assim Gabi. Vai ter momentos em que muitos comentarão... mas vai ter momentos como este que ninguém saberá o que realmente ocorreu, ou se virão não têm muita importância porque realmente é natural... (sorriu tomou um gole e falou) apenas não façam disso uma rotina ta... vocês têm que se preservar...
Guilherme> Minha vida somente diz respeito apenas a mim e ao Gabriel. Sempre que sentir vontade de beijá-lo, pergar na mão... abraçar, fazer carinho o CARALHO QUE FOR! Eu farei...
Respirei fundo. Eu entendia. O Gui queria demonstrar pra alguém, não sei quem, que ele era meu namorado... dono, proprietário... em fim que eu era dele! Olhei em volta e percebi um rapaz na praia me olhando fixamente. Provavelmente ele viu o beijo ou, ele foi o motivo do beijo. Não sei... olhei pra o Gui e pela sua cara a resposta era... ELE ERA O MOTIVO DO BEIJO.
Gabriel> Eu entendo Gui. Realmente entendo. E fiquei lisonjeado. Mas, tem alguns pormenores...
Guilherme> Qual os pormenores... qual? Você não gostou? O que houve? Olha Gabriel... (ele se exaltou e eu fiquei apreensivo dele não ter entendido o que eu queria falar...)
Gabriel> Não é isso (me apressei a dizer) tipo... (suspirei) eu sou de menor. E isso implica em algumas coisas...
Baixei a cabeça... ficamos em silencio. Todos. Até que foi quebrado o silencio...
Guilherme> Desculpe ter me alterado. Você tem razão. Mas olha Biel... (ele puxou meu rosto pra ele e falou olhando meus olhos) mesmo sabendo das implicações que possa dar... por ser de menor... eu nunca deixarei de fazer o que estiver com vontade, contigo. Claro, prometo nos resguardar, ao máximo, Ok?
Eu balancei a cabeça afirmativamente.
Jú> Pronto, agora que o macho alfa mijou na cria demarcando território... será que podemos tomar um banhozinho de mar?
Guilherme + Bruno> NÃO!
Eu a a Jú nos olhamos e cruzamos os braços emburrados...
Jú> Que saco!
Gabriel> Caretas!
Eles riram e fizeram um cumprimento de camaradagem...
Jú> Quem disse que o pessoal da luta livre era cabeça aberta... nem quando lascam uma cabeça ela se abre...
Gabriel> Ah Jú...
Guilherme> O Gabriel tem regras Juliana... e ele tem que obedecê-las...
Gabriel> Ah não... eu tenho natureza anarquista... sou do contra e não obedeço nada não!
Ele riu e falou na buxa...
Guilherme> Se vai ser anarquista, arque com as conseqüências... a tortura é um meio de repelir o anarquismo.
Jú> Eita que eu tou adorando a conversa... adoro ser torturada... grampos no bico do peito... hummm que delicia...
A Jú se levantou e o Bruno puxou ela pra baixo fazendo-a se sentar novamente. Ela olhou fio pra ele e continuou...
Bruno> Opa! Não mesmo... sou paz e amor...
Sorri. O Bruno piscou o olho pra mim... e eu apenas percebi que ele tava do meu lado... contra os dois... adorei aquilo.
Jú> Ah banana. (ela suspirou e cruzou os braços)... Acho que estes casais estão trocados...
Como assim casais trocados?
Gabriel> Nem vem Jú... não troco o Gui por nada...
O Gui me deu um abraço e eu fiquei mais vermelho ainda...
Guilherme> Nem eu troco meu pequeno por garota nenhuma no mundo...
Jú> Não seria nenhum garoto?
Guilherme> Não me interesso por garotos...
A Jú olhou confusa pra ele...
Jú> E o Gabriel o que é? Já o viu nu por acaso?... Garanto que tem uma rolinha sapeca com dois ovinhos de codorna e um ninho dourado aí...
Gabriel> JULIANA! (gritei)
O Garçom passou na mesma hora e ele olhou diretamente pra minha sunga... eu não tinha onde enfiar a cara... o Gui percebeu e olhou feio pra o Garçom que disfarçou e saiu de fininho. Eu queria jogar na cara da Jú aquele copo de cerveja...
Jú> Tou falando a verdade...
Gabriel> Tá falando bobagem... cala essa boca...
O Gui me interrompeu...
Guilherme> O Biel é diferente. Especial. Meu! Não o vejo desta forma...
Jú> E de que forma você o vê?
Guilherme> Como a pessoa que amo. Independente do sexo.
Jú> Como se o Gabril não fosse nem homem nem mulher... apenas um ser inanimado... um borrão num papel em branco... uma ninfa celestial que veio a Terra agraciar sua cama com uma performance de ciciolina...
Gabriel> Querem parar de falar de mim? Como se não estivesse aqui! (olhei pra Jú) quer calar esta maldita matraca... Bruno faz alguma coisa...
Bruno> Vai continua... quero entender esse rolo de vocês faz tempo!
Recostei-me na cadeira exasperado... era sem jeito... quando eles se uniam eu era o tema, sem ter opinião pra nada... sempre é assim... sempre se juntam e falam de mim ou de meu relacionamento como se eu não tivesse ali... alem da Jú sempre potencializar, pro mal, todo assunto que venha a surgir.
Guilherme> Bruno não há rolo... (ele suspirou exasperado) Juliana não há garoto ou garota que possa destruir o amor que eu e o Biel temos. Ponto final.
Jú> Preciso dar minha mãe a palmatória. Quando o Biel conheceu você eu disse que ele se afastasse que você era cruzeta... problema... que ele ia sofrer e que era melhor ficar com o Paulo que ele é mais tranqüilo...
Guilherme> Que porra de Paulo!
O Gui virou o copo de cerveja todo abusado...
Jú> Mas hoje vejo que eu não tava completamente certa...
Gabriel> Como assim não tava completamente certa... você tava era totalmente errada...
Jú> Não! Você ainda sofre uma série de problemas... mas garanto que vale a pena...
Guilherme> Juliana eu não estou entendendo aonde quer chegar. Ta dizendo que eu faço mal ao Gabriel?
E a Jú olhou pra ele tentando concertar o que disse...
Jú> Não. Entenda. O Gabriel se mete em encrencas desde que conheço ele. É natural dele. Parece que tem um dom para catástrofes. E depois que ele te conheceu, eu apenas achei que devido sua vida ele teria mais acesso a situações que possam simplesmente deixá-lo sem problema, já que isso é atração natural dele... (respirou fundo) AH VÁ A PUTA QUE PARIU TUDO... TOU FILOSOFANDO... QUE MERDA!
Rimos... mas o Gui retrucou...
Guilherme> Tentarei fazer com que o Biel não tenha mais nenhum problema, enquanto eu puder evitar.
E pela terceira vez eu falei...
Gabriel> Gente... vamos MUDAR DE ASSUNTO?
Bebemos muito e o Gui falou que ia ao banheiro que fica atrás da barraca. Ele se levantou e eu o segui com os olhos... era um homem enorme... muita gente o observou pois ele chama naturalmente atenção... suspirei...
Jú> Como é bonitinho quando ele fica babando...
Gabriel> Jú vai se... (interrompido)
Jú> Olha o que vai dizer que solto meu pit bull...
O Bruno começou a grunhir
Gabriel> Sentado totó... rola, morto!
Rimos...
Bruno> Gabriel agora que o Gui foi no banheiro me diz uma coisa... tu põem algo na bunda pra ela ficar desse tamanho?
Jú> Epa! Era isso que você tava pensando quando o Gui te calou com o olhar 43? Ah seu safado, nem tente ficar fissurado por essa melancia do Gabriel...
Gabriel> PELO AMOR DE DEUS... PAREM!
Ficamos um pouco em silencio. Eu tentando diminuir minha vergonha e o Bruno apenas calado, bebendo e me olhando... ate que eu falo... já não agüentava mais...
Gabriel> É minha mesmo... não ponho nada pra aumentar... e só Deus sabe o quanto eu queria diminuir... VAMOS MUDAR DE ASSUNTO (Porra era a quarta vez!)
Bruno> Tá... Gabi me fala quando é teu niver... este mês né?
Estávamos no inicio de dezembro e eu me peguei pensado na promessa do Gui que eu o fiz quebrar... de fazermos amor apenas no dia de meu aniversário... fiquei vermelho com os pensamentos...
Gabriel> No dia 30 deste mês...
Bruno> Vai ter festão?
Jú> A gente pode organizar uma festa surpresa que tal Gabi?
Eu olhei exasperado...
Gabriel> Legal... se quiser eu ajudo na festa surpresa pra mim... e garanto que não fala nada pra mim... ok.
A Jú ia retrucar quando escuto uma voz...
Voz> Gabriel? É você mesmo?
Eu me virei e não acreditei naquilo... Me levantei e corri pra os braços daquele homem que me abraçou e me levantou girando-me no ar... Era incrível aquilo... eu estava emocionado... senti vontade de chorar... os braços dele estava em volta do meu corpo e eu suspenso no ar... ele ria alto e me começou a me beijar o rosto. Eu fiquei tão feliz que esqueci onde estava. Como estava (apenas de sunga) e principalmente... com quem estava... mas foi somente por algum pouco tempo. Porque naquele instante pude relembrar com QUEM ESTAVA...
Guilherme> GABRIEL! (esbravejou)...
Eu tremi todo e dei-me de conta da situação que eu estava... Fui posto no chão e olhei pro Gui. Era aquele rosto terrível que eu havia visto algumas vezes... como no meu sequestro na moto-taxi...
Gabriel> Gui...
Guilherme> É só eu dar as costas...
Não deixei ele falar nada... não podia a situação era terrível... impossível de ser contornada... ele apenas tinha que ficar calado... mudo... sem nada a falar... por favor... e foi por isso que eu o interrompi... era grave demais ele demonstrar o seu ciúmes na frete de...
Gabriel> ELE É MEU TIO. (Gritei assustado) meu tio Albert.
E o semblante do Gui passeou da cólera pra incredulidade... e por fim a vergonha geral.
Tio Albert> Gabriel quem são eles? Seus amigos?
A Jú fui a primeira a sair do transe... e correu pro meu lado...
Jú> Prazer em conhecer... o senhor é Albert... o Tio do Gabriel... mas tio como... tio tipo, tio mesmo... ou tiozinho por carinho...
Tio Albert> Sou irmão mais novo de Julian, pai o Gabriel.
O Gui baixou a cabeça... eu que estava apreensivo com o tio descobrir que o Gui era meu namorado fiquei de repente com dó dele... da explosão que ele deu...
Jú> Ah isso explica as piruetas com um garoto semi-nú no ar...
Gabriel> Juliana... me ajude, por favor (supliquei)...
O Bruno veio depois...
Bruno> Prazer senhor... sou Bruno, amigo do Gabriel e namorado da Juliana.
O tio Albert o cumprimentou e depois faltou apenas o Gui falar com ele... Ele veio arrasado, com um olhar suplicando o meu perdão...
Guilherme> Eu sou o Guilherme...
Tio Albert o cumprimentou também, um pouco formal até...
Guilherme> Eu sou... amigo intimo do Gabriel...
O intimo foi sem malicia ou sem tom irônico. Apenas o gui queria dar uma conotação mais pessoal a nossa relação de “amizade”...
Tio Albert> Faz uns aninhos que não vejo o meu sobrinho mais talentoso... (e olhou pro Gui) Júlia falou que você ta trabalhando na academia de um rapaz aqui do Recife... é você Guilherme?
Tio Albert olhava o Gui de cima a baixo... fiquei curioso com aquilo... o que ele tava fazendo no Recife? Como ele já sabia que eu tava trabalhando numa academia? Mainha não me disse nada... quando ele chegou? Gente... quanta coisa estava estranha na visita de tio Albert...
Jú> Quer sentar-se conosco?
E ele sorriu... nos sentamos... eu do lado do Gui. Ele se sentou na cabeceira da mesa... a Jú do lado do Bruno na minha frente... e eu do lado do Gui. Gente... ele me olhava estranho. O Tio Albert sempre foi o tio mais brincalhão... alias só tenho ele de tio homem. Ele é bastante novo... tem apenas 38 anos... parecia com meu pai, era loiro também, embora o cabelo fosse mais escuro que o meu, e tinha os olhos azuis-esverdeados... Seu olhar queria me perguntar uma coisa, mas o que a boca falava era outra...
Tio Albert> Meu sobrinho deveria ter vindo visitar vocês antes... mas não deu... você sabe como é lá no Rio Grande do Sul... temos que cuidar da lavoura o ano todo...
Gabriel> Eu sei, tio, mainha sabe que o senhor veio pra Recife? E como me achou? Onde o senhor tá?
Tio Albert> Cama Gabriel! Calma... um de cada vez...
Eu sorri. Era que na realidade eu estava muito apreensivo com aquela visita...
Tio Albert> Ela não sabe... eu falei que viria pro natal, mas surgiu esta viagem antes e aproveitei e vim... daí quis fazer surpresa... cheguei faz uma hora... e estou hospedado naquele hotel ali... (e apontou pra o hotel na orla). Te encontrar foi pura coincidência...
Jú> Ou providência... dependendo do anglo que se vê!
Tio Albert> Realmente
Gabriel> Tio eu não acredito que o senhor se hospedou em um hotel e não nos falou nada... (dei um beliscão no braço dele – eu sempre beliscava ele e ele ria daquilo) vai fechar a conta do hotel e vai lá pra casa...
Tio Albert> e morrer com a comida da tua mãe? Nem pensar! (rimos) não é isso meu filho... é que estou com uma turma... viemos pra o encontro de motoqueiros que começa esta fim de semana...
Guilherme> Ah eu soube... o senhor anda de moto? Gosta das motos exibição?
Tio Albert> sim gosto... das estilo chopper.
Guilherme> Tenho uma...
Ele olhou o Gui como se tivesse passando um scanner... interferi.
Gabriel> Vou ligar pra mainha. E dizer que o tio traidor veio pra Recife na calada da noite...
Ele riu alto... Olhou meu copo de cerveja e falou serio...
Tio Albert> Você está bebendo Gabriel? Na praia... sem ninguém da família... você não pode beber...
Gabriel> Corta essa tio... foi você que me deu o primeiro gole de cerveja quando tinha 13 lembra?
Ele sorriu matreiro...
Tio Albert> Deixa eu fazer a vez de responsável pra seus amigos...
Gabriel> Nem vem tio... ah cadê a esposa? E os meus primos?
Tio Albert> Todos em casa lavrando... (e riu alto) alguém tem que trabalhar pra pagar a passagem de avião...
Jú> Esse é dos meus... nossa sou sua fã...
O Gui olhava ele com receio e ao mesmo tempo queria me dizer algo... acho que se desculpar pelo destempero... mas ali, naquele momento, não havia chance praquilo...
Tio Albert> Vejo que aprendeu direitinho né... esse drink é seu?
Eu lembrei da primeira vez que eu bebi... foi cerveja num clube... e foi ele quem me deu... lembrei da primeira vez que bebi com o Gui, em São Paulo, onde ele não queria que eu bebesse e eu o chantageei dizendo que só cantava se ele me deixasse beber...
Gabriel> Sim...
Guilherme> Aceita alguma coisa? Quer beber algo?
Tio Albert> O mesmo que vocês...
O Gui chamou o garçom e pediu outra taça... encheu-a e entregou a tio Albert. Brindamos...
Tio Albert> Ao meu sobrinho querido... sem idade pra algumas coisinhas...
E eu quase engasguei... seria uma mensagem subliminar? Pra disfarçar liguei pra mainha...
Gabriel> Mãe adivinha quem tá aqui?
Mãe> Gretchen?
Sorri.
Gabriel> Ah mãe para de lezeira... (respirei fundo) você não imagina... o tio Albert...
E ela ficou muda... e segundos depois, segundos consideráveis falou...
Mãe> Onde vocês estão?
Gabriel> Porque?
Mãe> Me responda Gabriel. Onde vocês estão?
Eu falei o local da barraca em boa viagem...
Mãe> Indo pra ai agora... Espero que haja tempo...
E desligou o celular... eu olhei pra tio Albert e pela primeira vez senti um calafrio.
Tio Albert> Então estamos aqui com os amigos de meu sobrinho... único filho de Julian, vocês sabem não é?
Ele olhava pro Bruno e depois pra o Gui...
Tio Albert> Que o Gabriel é o único filho de meu irmão mais velho que faleceu quando ele ainda era pequenino... não devem entender que é difícil ser filho único não é...
Guilherme> Eu entendo. Sou filho único... e meu pai e minha mãe morreram em acidente de carro. Eu sou sozinho... sem pai e mãe. (será que o Gui tava percebendo alguma coisa?)...
Tio Albert> Então deve entender que a linhagem de meu irmão morre no Gabriel se ele não tiver filhos, por exemplo...
E bebeu um gole da cerveja...
Tio Albert> Como os seus pais morrem em você se não tiver filhos...
Jú> Gente que sinistro isso... eu mesma não quero esse carma de ter que procriar pra passar os genes de meu pai pra frente... eu acho isso muito... pesado pra uma mesa de bar... melhor falarmos sobre a imigração inglesa... todo mundo tem olho azul no sul?
O Gui coçou a garganta. Parecia que ele tava meio engasgado... Eu estava imaginando já que ele desconfiava que eu estava vivendo uma relação homossexual... só que não sabia com quem... apenas estava... MEU DEUS... ELE TAVA INVESTIGANDO COM QUEM!
Tio Albert> Mas mocinha linda... o assunto está tão interessante... bom, espero que você meu filho possa dar logo um neto pra sua mãe...
Guilherme> ele tem apenas 16 anos. Tem que estudar... passar em um vestibular. Fazer universidade. Se formar... procurar uma profissão adequada... se firmar no mercado de trabalho... fazer carreira e só aí penso que deveria investir num filho...
O tio Albert sorveu mais um gole da cerveja e falou lentamente...
Tio Albert> Engraçado. Em nenhum momento você falou que ele tem que namorar... noivar, casar e ter o filho. Com a mulher que ele escolher no namoro...
E neste momento tive a certeza... ele olhava fixamente pra Gui... percebi que sua busca havia terminado... ELE ACHOU O GUI. Cadê mainha?
Guilherme> São coisas que quem deve decidir é o Gabriel. Quando, onde e com quem... o que eu posso dizer... (interrompi)
Gabriel> Gui é... o tio apenas se preocupa com o futuro... tio um dia eu penso em ter filhos... hoje eu penso apenas em uma coisa... ser feliz... e hoje eu sou feliz... DO JEITO QUE ESTOU...
Ele me olhou serio...
Tio Albert> Você só tem 16 anos...
Jú> E uma sabedoria de um monge budista em fim de carreira! Claro sem atear fogo no corpo em protesto pela paz!
Guilherme> Ele é maduro.
Tio Albert> Pelo visto você conhece bem ele...
E eu pensei que fosse enfartar...
Guilherme> Muito, em tão pouco tempo... não pouco em muito tempo como alguns que parecem achar que o conhece...
E senti o clima esquentar... CADE MAINHA? A situação estava ficando incontrolável. Era declarada a situação de que tio Albert sabia de mim, e que naquele momento ele sabia que o Gui era o meu namorado. O que eu faria? Me senti nu naquele momento.
Gabriel> Bem é... gente, vamos (eu não sabia o que dizer, estava gaguejando)...
Jú> Tiozinho querido (a ironia era perceptível) o senhor que comer alguma coisa pra se ocupar?
Todos olharam pra Jú... o Bruno deu uma leve cotovelada nela... mas não adiantava... era a Jú...
Tio Albert> Como assim? Parece que você se cercou de grandes defensores... além de apoiadores... (ele me olhava com o semblante serio...) por isso tá como tá...
Guilherme> O que o senhor que insinuar que tá como tá? O que? Como assim apoio... o Gabriel não está fazendo nada de errado e...
Tio Albert> Nada de errado?
Gabriel> Tio não estou entendendo o que o senhor quer me dizer com meias palavras (falei serio... estava já me irritando... não sei como encontrei coragem, mas disse o que disse) seja claro...
Tio Albert> Bom... sendo claro...
Mãe> Albert! Querido!
Todos nós nos viramos quando mainha chega, quase correndo e arquejante, por trás do tio sorrindo, mas com os olhos demonstrando imensa preocupação...
Tio Albert> Olá... (se levantou e a abraçou forte...) que coisa... você não muda nada, não envelhece... a mesma menina do Julian...
Mãe> Claro que não envelheço... melhoro é diferente!
Jú> É isso aí mamãe...
Mainha sorriu pra Jú...
Mãe> Será que posso me sentar a mesa com vocês?
Tio Albert puxou uma cadeira pra mainha e ela se sentou do lado dele... a mesa era a seguinte... em U a Jú e o Bruno do lado direito, mainha e tio Albert na cabeceira e eu e o Gui do outro lado...
Tio Albert> Que bom que você chegou... estamos tendo uma conversa agradável sobre a vida do Gabriel... falávamos que ele é um menino bom e que precisa semmpre trilhar o caminho correto... pra deixar descendentes do Julian...
Mãe> Tinhar o caminho correto?
Mainha olhou pra mim e viu minha cara... viu a do Gui e da Jú... o Bruno estava uma calamidade, acuado... e na medida que ela olhava pra nós ela endurecia sua cara cada vez mais até que falou...
Mãe> Garçom! Traga um copo...
Ele trouxe e ela se serviu de cerveja, bebeu um grande gole e falou... todos estavam em silencio esperando sua resposta... eu tava meio apavorado.
Mãe> Você já está vendo a descendência do Julian... ele ta aqui na sua frete. É loiro e tem olhos azuis como o pai. Portanto a descendência do Julian já se efetivou a quase 17 anos.
Tio Albert> Mas... (interrompido).
Mãe> Quanto a escolhas certas. Eu nunca vi meu filho fazer uma escolha errada na vida... nem quando ele teve problemas sério com pessoas perseguindo ele... nem quando ele teve em situação de extremo perigo... ele sempre foi pelo lado humano, do coração...
Tio Julian> Não é disso que falo (interrompido)...
Mãe> Gabriel sempre fez a melhor escolha da vida. A única escolha que ele não pode fazer é a de ser gay.
Todos nós olhamos abismados pra ela. Eu não conseguia desviar o olhar... tio Albert baixou a cabeça...
Mãe> Pois ser gay não é uma escolha querido cunhado. Ser gay é uma dádiva. Hoje eu sei. Nunca perderei meu filho. Sou a única mulher na vida dele. Ele não teve opção em ser gay... não houve escolha. Não houve alternativa pra preencher um X. Simplesmente ele nasceu assim. E quem primeiro descobriu isso foi seu irmão... e ele nunca sofreu por isso. Ele nunca teve dúvidas quanto a isso. E ele nunca chorou arrependido ou seja lá o que for... nunca chorou pelo filho ser como é... natural. Ele passou a amar o Gabriel mais ainda...
Eu comecei a chorar... era algo que me faz chorar ate hoje...
Mãe> O Julian sempre soube... e a única coisa que ele falou sobre esse assunto foi. “Vamos proteger nosso filho de qualquer preconceito. Ele vai ser criado como o homem que é... e escolherá pra amar quem quiser”... e o Gabriel fez a sua escolha... e mais uma vez escolheu acertadamente.
E se virou pra o gui que estava de olhos abertos... emocionado.
Mãe> O Guilherme. Que é o homem mais lindo e puro do mundo. Homem de verdade. Homem, amigo, amante e principalmente, a figura masculina que o Gabriel perdeu com a morte do pai. Portanto o Guilherme é tudo na vida dele. TUDO.
Todos nós ficamos em silencio... o próprio tio Albert.
Mãe> Não tem como falar que isso é errado. Porque não é Albert. E você soube porque eu quero que nossa família saiba como o Gabriel é por inteiro. Sem mentiras, pois ele odeia mentira. Sem esconder isso ou aquilo, porque ele não é de esconder nada. Se você continuar a questionar se isso é certo ou errado, apenas uma coisa irá acontecer. Você vai perder seu sobrinho. Não vai ter contato com ele. Não vai falar com ele. Não vai o ver em festas de família... não virá pra formatura dele... não virá pra o casamento dele com o Guilherme... não saberá onde ele está... pois ele ira sumir de sua vida... não porque ele queria, mas porque você o afastou... e principalmente, porque o Guilherme não permitirá que o Gabriel fique perto de pessoas que não o amam, ou que o julgam... não será eu Albert que dirá que meu filho não deve se relacionar com você ou com qualquer outro da família que o discrimine. Será o Guilherme. Ele... (apontou pro Gui) é ele quem cuida agora do Gabriel. É ele quem toma conta... quem ama, quem é responsável. E como o conheço eu sei plenamente que o Guilherme não permitirá quem ninguém faça o seu Gabriel sofrer.
Todos nós ficamos abismados com o que mainha falou. O Gui sorriu pra ela. Era realmente aquilo que o Gui pensava, e estava se segurando até o momento por respeito.
Mãe> Então é você que decide... some da vida do Gabriel ou se dispõem a conhecer o mundo dele. Mas o mundo verdadeiro... onde entra o Guilherme como companheiro, assim como o Julian foi meu companheiro. Ou você prefere se afastar dele?
Tio Albert> Me afasto.
Foi um baque pra mim... senti meu estomago doer... ele se levantou e mainha ficou impassível...
Tio Albert> Por enquanto. Vou pra o hotel. Preciso compeender essas coisas Julia. Mas garanto uma coisa... não quero o Gabriel fora de minha vida. Ele é a melhor parte de meu irmão. E se ele é assim e se meu irmão entendia, procurarei entender. Não agora. Mas quem sabe com o tempo. Ate mais...
E deu um beijo em mainha e se virou pra me cumprimentar... estendeu a mão me chamando pra um abraço foi quando o Gui puxou minha mão...
Guilherme> Quando o tempo curar sua cegueira ele te abraçará como um sobrinho. Por enquanto você não o vê. Não tem como vê-lo. E pra cumprimentar e abraçar precisa enchergar. De agora em diante senhor Albert. O Gabriel só fala contigo através de mim. E no momento ele ta indisponível. Boa sorte na sua busca pelo entendimento.
Tio Albert o olhou nos olhos e apenas balançou a cabeça... deu as costas e olhou pra Jú e o Bruno...
Tio Albert> Foi um prazer conhecer vocês...
Bruno> Igual...
Jú> Pra mim foi punk mas beleza... ah, só uma dica no lance da busca pelo entendimento... a caminhada de Santiago de Compostela ajuda na elevação do espírito... fica na Espanha e é baratinho... divide em 10 a CVC.
Ela sorria pra ele e ele deu um meio sorriso... e saiu sem dizer adeus.. Quando o tio Albert saiu eu, que ainda chorava senti o Gui passar seu dedos pelas lágrimas que corriam no meu rosto...
Mãe> Desculpa Gabriel se eu falei pra ele... e pra sua tia sobre você e o Guilherme. Mas eu previa a vinda deles pra o natal e não queria vocês dois simplesmente fingindo nada. E chega de esconder o que é certo. Poxa... eles que se fodam (ele virou o copo de cerveja)
Gabriel> MÃE! (fiquei chocado com ela)...
Jú> É isso aí minha mãe de espírito... tou contigo e num abro...
Gabriel> Não tou chateado mãe, por a senhora ter dito a ele isso... apenas queria que tivesse me comunicado...
Mãe> Não deu tempo te falar entre um enfarto e um assalto...
Era verdade... a gente ficou distante estes dias pelos acontecimentos...
Guilherme> Bom agora está tudo ok... só falta vovó saber de tudo...
Gabriel> Vamos esperar o ano novo ok?
Guilherme> Pode ser... vamos ver...
O Gui tava pensativo... só que eu não queria passar por outro estresse daqueles...
Mãe> Pra tudo tem seu tempo... terá pra dona Aída também.
Sorri... era verdade...
Mãe> O importante é vocês dois estarem bem. Serem o pilar um do outro.
Guilherme> Desde que ele não use mais sunga, pra mim tá tudo bem...
Mãe> Como assim?
Jú> O Gabriel não tem noção que esta bunda dele são dois air bags disparados...
Gabriel> Jú vai a merda...
Mãe> Mas e o que tem?
O Gui falou...
Guilherme> 90% da praia esta olhando pra ele...
Jú> Os outros 10% são cegos...
Sorrimos todos...
Mãe> Bom vamos almoçar? Depois disso tudo estou com fome...
Pedimos o cardápio e almoçamos... depois o Gui pediu a conta, pagou e fomos todos pra casa de mainha... o Gui a Jú e o Bruno foram pra casa trocar de roupa e eu e mainha tomamos banho e nos vestimos... ainda íamos pra o jogo de futebol... seria uma tarde agitada!
Tivemos que usar o uniforme do time... menos o Gui que disse que: NÃO VOU PAGAR MICO. Eu entendi ele, eu era aluno e o time era da minha sala... ele, embora tenha patrocinado, não conhecia ninguém e ficaria meio forçado usar uma camiseta como torcedor nato.
Gabriel> Sem pro Gui. Não precisa ser torcedor nato...
Ele riu... estávamos em minha casa, Gui já tinha trocado de roupa e veio nos buscar... estávamos no quarto.
Guilherme> Certo... mas fui eu quem patrocinou... será que não vão achar deselegante...
Gabriel> Ninguém vai pensar nisso... a adrenalina vai ser tamanha...
Fui procurar uma bermuda no guarda-roupas baguça... enquanto isso o gui entrou no MSN... no meu!
Guilherme> O carinha MATADOR nunca mais entrou?
Gabriel> Gui eu nunca mais entrei... se ele entrou não sei...
Guilherme> Também não tive tempo...
Ele ficou olhando o MSN e tava tudo off... desligou o PC... eu já me arrumei e fomos chamar mainha... ela tava pronta e descemos...Não encontramos ninguém... ninguém digo... o Paulo ou o Hugo... fomos direto pro carro e seguimos pra escola... Quando chegamos na escola a Jú estava já nos esperando...
Jú> Cade a camiseta Guilherme? E você Gabi... cadê a roupa de líder de torcida?