Um outro Adair

Um conto erótico de Stocker
Categoria: Homossexual
Contém 4180 palavras
Data: 14/03/2016 18:31:49
Última revisão: 15/03/2016 20:21:39

Esta é a continuação do conto “Adair, dono de mim” e de outros anteriores a ele.

***

Adair brincava com os dedos no meu cuzinho, enquanto conversávamos na cabine. Após frequentar a sauna por quase seis meses, eu havia aprimorado meus procedimentos; estava mais “profissa”. Deixara de lado o lubrificante à base d’água e adotara a gordura vegetal, como ele mesmo sugerira. Era graças a ela que Adair adquirira o hábito de me acarinhar assim, nas poucas vezes que ficávamos a sós sem estarmos trepando. Era uma novidade, algo bem recente, estes momentos em que ele parecia, por mais estranho que pareça, me namorar.

Os dedos ficavam acomodados ali, dentro de mim, em repouso. Alternava com movimentos brandos, carícias mesmo, divertindo-se então com os gemidos que de vez em quando eu deixava escapar. Mas também havia momentos nos quais agia com maior intensidade, alcançando a próstata para me estimular o gozo. Às vezes, conseguia; em outras, cessava quando percebia que um orgasmo se aproximava. Ele gostava de me provocar.

A primeira vez que ele falou em gordura vegetal eu, logicamente, estranhei. Achei que estava brincando ao me indicar um produto para (mau) uso culinário. Mas falava a sério. Depois, soube que era uma solução comumente utilizada pelos que curtem fisting, coisa que nunca me atraiu muito.

Logo na segunda-feira seguinte, ao voltar do trabalho, passei num supermercado, comprei e, depois de um banho, experimentei: uma massa esbranquiçada que, fora da refrigeração, se transformava num creme ralo, quase transparente. Acabei adotando. Demorava a ser absorvida pela pele e, diferentemente do lubrificante tradicional, não ficava grudenta. Era quase inodora e, após aplicá-la internamente, eu tirava qualquer resquício externo lavando bem a bundinha e, na dúvida, borrifando perfume. Como não tinha muito gosto, apenas levemente salgada, continuava imperceptível mesmo se algum restinho na pele fosse lambido: passava por um suorzinho.

Aplicada na quantidade certa, rendia horas de um cuzinho sedoso, que os cacetes podiam explorar com suavidade e aconchego. Nunca um cara a identificou, e tenho cá pra mim que achavam tanta maciez e conforto um predicado natural do meu organismo, hehehe.

Eu levava uma dose adicional num potinho de plástico transparente, bem pequeno, que comprara às dúzias numa loja de produtos descartáveis. Uma ou duas vezes, por mera precaução, ia ao lavabo e reaplicava uma pequena quantidade, penetrando com o dedo o mais fundo que podia e fazendo movimentos circulares. Quando chegava em casa, jogava fora o potinho com a sobra.

Assim, meu cuzinho estava sempre tenro e receptivo. Isso deixava os caras doidos só ao me dedar. O potinho eu levava na nécessaire, que agora também continha esfoliante corporal, hidratante, bucha – enfim, produtos diversos que eu aplicava no corpo mais pro fim do dia, dando uma função a mais à sauna a vapor. Além de umedecer a pele e abrir mais os poros, a névoa protegia minha nudez – já menos exposta pelo fato de que, a partir desse horário, os frequentadores começavam a rarear. E, quando Adair me pegava pra gozar antes de irmos embora, meu corpo estava ainda mais sedoso pra ele.

A rotina da sauna também me levara a outro aperfeiçoamento – esse, aliás, que acho incompreensível não ser um hábito generalizado: eu prendia na toalha uma bolsa bem pequena (na verdade, um porta-níqueis) para acondicionar as camisinhas. Era quadrada, quase do mesmo formato dos envelopes de preservativos. Sóbria, feita de uma imitação de couro, marrom, com um zíper em cima, tinha no verso uma espécie de aba – originalmente, creio, para transpassar o cinto da calça. Eu usava essa aba para prendê-la na toalha, com dois alfinetes de fralda, na altura da cintura, de modo que não ficasse visível (sim, eu ainda queria ser discreto!). Assim, quando ficava nu – fosse para ser comido ou tomar banho –, não precisava me preocupar com o destino das três ou quatro camisinhas que costumava manter comigo. Francamente, achei essa ideia genial, e não consigo entender até hoje porque só eu a tivera e a adotava.

Eu me aperfeiçoava tanto para agradar Adair – e, por extensão, os demais – quanto para garantir que eu mesmo usufruísse ao máximo daquelas tardes, sem sobressaltos. Passara a ir sem cueca, pra eliminar as marcas na pele que o elástico sempre acabava esboçando, assim como elegera uma mesma bermuda, que tinha um cós justo, na medida, sem também marcar a cintura. A primeira foda era sempre de Adair: eu queria estar o melhor possível pra ele.

Passei a me penetrar com o consolo grosso no meio da semana, e não mais no próprio domingo. Sendo sodomizado tão continuamente, eu não precisava mais me dilatar, mas apenas manter a dilatação imposta por Adair. A esta altura, ele já moldara em mim a cuceta que tanto queria e que havia me prometido. Já no domingo mesmo, eu usava o consolo muito brevemente, como uma finalização para conferir se estava tudo certo com a higiene. E era uma higienização tão exagerada que estava perto de uma lavagem intestinal – ou até estomacal! Eu sabia que corria algum risco – de infecção, por exemplo –, mas não abria mão desse exagero. Era graças a ela que aguentava bem as metidas de Adair, podendo aproveitá-las sem preocupações. E era graças a ela, também, que podia deixá-lo divertir-se à vontade mantendo os dedos em meu cuzinho, como naquele fim de tarde.

No fim das contas, os encontros com Adair passaram a ser o centro da minha vida, estendendo-se por praticamente a semana inteira. Não que nos víssemos em outra ocasião, mas porque meu próprio dia-a-dia foi incorporado por sua presença, ainda que ele não estivesse fisicamente presente. No domingo, ao regressar da sauna, eu costumava me masturbar assim que chegava em casa, liberando o esperma acumulado por tantas horas de excitação. Normalmente, era muito mais um gozo protocolar, até mesmo um pouco doloroso, do que efetivamente prazeroso. Depois, finalmente me alimentava, separava a roupa para ir trabalhar no dia seguinte e me deitava. Aí, sim, mesmo cansado, me retornavam passagens do que vivera durante o dia e me masturbava cheio de tesão. Não raro, despertava de madrugada e me masturbava novamente. E, claro, era a primeira coisa que fazia após o despertador tocar.

Nada disso era planejado, mas espontâneo mesmo. A segunda e a terça-feira eram dedicadas a saborear estas lembranças do domingo. E o que não faltavam eram flashes que me excitavam quando vinham à mente. Havia as fodas propriamente ditas com Adair, que nunca eram repetitivas e sempre me deixavam doido, e as com outros caras – geralmente, com rendimento menor (mas houve algumas que renderam, sim, muitas masturbações). Mas também me voltavam à memória certos olhares que eu tinha flagrado nele, as frases muito tesudas que ele pronunciava com displicência e circunstâncias que evidenciavam sua virilidade em contraponto à minha sujeição.

Ambos nos excitávamos muito com essa nossa diferença. Uma vez, peguei ele me olhando, recostado na cama da cabine, com um sorriso tênue, enigmático. Ele tinha acabado de me comer e estávamos como que descansando. Parecia me observar com muita atenção, e estranhei.

– Que foi? – indaguei, retribuindo o sorriso.

Permaneceu calado, apenas me olhando, como se me estudando, ou talvez admirando.

– A tua passividade me fascina.

Jamais vou me esquecer da imagem dele ao dizer isso, sublinhada por aquele sorriso cujo significado custei a entender. Ficou como uma fotografia marcada na minha memória.

Assim, esses dois primeiros dias da semana acabavam sendo dedicados àquele estado de graça misturado ao de excitação, que alongavam as seis horas que havíamos passado juntos. Nessa época, eu ainda não me dera conta de que, se lubrificasse meu pinto, evitaria o risco de me machucar. Então, na quarta-feira eu estava sempre machucado!

Isso era um problema sério para mim desde a adolescência. Levei um bom tempo, talvez até alguns anos, para atinar que, devido às dimensões do meu órgão, era mais apropriado eu usar apenas os dedos para manejá-lo, e não envolvê-lo com a mão, como faz a maioria dos homens. Quando caí na real e passei a me masturbar dessa forma, a situação melhorou muito, pois parei de viver com o pinto esfolado. Claro, não foi inicialmente uma coisa muito fácil de engolir; só depois é que passei a curtir essa, digamos, singularidade.

Mas, quando brincava um pouco mais com ele, não tinha jeito: surgiam assaduras, e até fissuras. Creio que isso se deva, provavelmente, à minha própria natureza: talvez a uma pele muito sensível, ou fina demais, não sei. Mas já pensei também que possa influir nisso a falta do uso em penetrações.

Uma trepada, normalmente, dura mais do que uma punheta, e durante esse tempo em que o membro entra e sai do cu ou da buceta é capaz de ele ir tornando a pele mais curtida e, assim, com esse uso constante, seja criada alguma “couraça” microscópica. Então, o fato de eu nunca ter penetrado poderia explicar esse problema, associado a um maior desgaste da pele na masturbação devido à extensão reduzida do pinto (ou seja, não há muito por onde os dedos se espalharem durante os movimentos, sobrecarregando, portanto, sempre as mesmas áreas). Mas nunca ouvi ninguém falar nisso; então, talvez seja uma grande besteira.

A solução mesmo só viria anos depois, quando fui experimentando vários produtos até chegar ao que para mim é o lubrificante ideal para o meu onanismo: a glicerina líquida (mas para a trepada mesmo ela não é indicada, não). Nesta época, porém, eu não sabia disso. Então, suspendia as masturbações a partir das quartas (às vezes, era um sacrifício!), que era quando começavam os preparativos para um novo encontro no domingo.

Enquanto na segunda e na terça eu não me preocupava com nada, a partir da quarta iniciava uma dieta para garantir um bom trato digestivo que não pusesse em risco a higiene quando fosse sodomizado. Feijão, lentilha e outros grãos eram abolidos, assim como alimentos que eu percebi que não digeria completamente (amendoim, nozes, ervilhas). Também nada de leite, por causa de gases, nem carne vermelha. No sábado, fazia refeições muito frugais, me enchendo de líquidos: caldos, sopas, sucos (mas refrigerantes, claro que não). Falando assim parece uma dedicação excessiva para simplesmente dar o cu, mas para mim era uma essa necessidade pra que eu ficasse totalmente tranquilo. Além do mais, era ótimo para manter a forma, e é justamente na casa dos 30 que aquela barriguinha vai se formando, né?

Na quarta, eu também começava a esfoliação com bucha na área acima do pinto, cujos pelos a esta altura ensaiavam renascer. O depilador se revelou a melhor solução pra mim, mas, como eu havia lido, ele tem uma desvantagem: o encravamento dos pelos. Como é arrancado pela raiz, o pelo demora a despontar em tempo suficientemente grande pra que a pele, reagindo ao trauma dessa extração, envolva aquele poro. Assim, ao voltar, o pelo nasce sob a pele, se encravando nela. E, aí, adeus maciez!

Assim, de quarta a sábado eu fazia essa esfoliação cuidadosa durante o banho, pela manhã e à noite. O sábado também incluía outra providência: ir à praia pra renovar a marquinha da sunga, que era sempre elogiada. Era o único dia para me bronzear, já que durante a semana eu trabalhava e as manhãs de domingo eram dedicadas à etapa final – e mais trabalhosa e demorada – para a ida à sauna. Imagine o quanto eu não praguejava quando não havia sol...!

E, então, até a hora de eu sair para a sauna, o domingo era destinado a me preparar pra Adair: da unhas dos pés até os fios do cabelo, eu fazia uma faxina geral. Ficava limpinho, lisinho, macio e cheiroso para me entregar àquele homem – e, claro, fazer sucesso também com os outros que me quisessem.

Naquela tarde, Adair estava bem quieto – o que era atípico. Já tinha me dado a primeira foda e, como fazia parte de nossa rotina, me mandado “brincar”. Menos de meia-hora depois, abriu a porta da sauna seca, cumprimentou um conhecido e me acenou, sorrindo:

– O recreio hoje tá terminando antes da hora.

Estranhei, pois ainda era cedo para ele me dar a segunda foda. Mas não me levou para a cabine: fomos para o terraço, onde todas as mesas estavam ocupadas. De uma delas, alguns amigos o chamaram, mas ele não quis ficar com eles, sob o pretexto de que resultaria desconfortável colocar mais duas cadeiras para nós. Ficamos bebendo de pé, no balcão.

– Hoje eu quero descansar um pouco, meu doce.

Um sujeito passou e ostensivamente olhou o relevo que seu pau formava no tecido úmido da toalha. Adair fez uma expressão de enfado e tomou mais um gole.

– Sei não; acho que tô ficando velho.

Ambos rimos do absurdo da ideia. O que não lhe faltava era vigor. Eu que o diga!

Depositou a garrafinha no balcão e me olhou, muito sério. Restava ainda quase metade da cerveja.

– Quer saber? Quero descansar mesmo, e com você. Vamos lá pro primeiro andar.

O outro bar vendia, além das long neck, também cervejas em lata. Só elas eram permitidas em outras dependências da sauna; as garrafas, não.

– Se tivermos sorte – comentou, enquanto fazia um sinal ao atendente –, ainda tem caixinha.

“Caixinha” era um pequeno cooler que podia ser alugado pelos que estavam em cabines. Cabiam não mais do que oito latas em cada um deles. Havia poucos e, por isso, eram disputados. Tivemos sorte, porque um cliente acabara de devolver um. Adair pôs quatro latinhas e a “caixinha” na própria conta e subimos para a cabine.

– Quero ficar com você.

Claro, fiquei meio bobo de ouvi-lo dizer isso. Mas, como tudo que é bom dura pouco, ele deixou a porta aberta ao entrarmos. Mas, como nem tudo está perdido também, permaneceu enrolado na toalha.

Recostou-se na cama. Dei uma latinha pra ele e peguei outra pra mim, e ele deu aquelas batidinhas no colchão, indicando-me onde ficar. Quando fiz menção de ir, ele me interrompeu:

– Sem a toalha.

Deitei pelado ao lado dele, que me abraçou. Recostei a cabeça em seu peito.

– Por que você tá assim? – perguntei, lá pelas tantas, quando seu dedo já me acariciava por dentro.

– Nada. Só tô mais tranquilão hoje.

– Problemas?

Ele fez uma pausa. Depois, respondeu como se falasse para si mesmo:

– Não, acho que não.

– Alguma coisa com a sua mãe?

– Não, não. Tudo direito com ela. Aqueles sustos de sempre; nada demais.

– Adaílson?

– Não, meu doce. Tá tudo bem. Até falei com ele pelo celular na semana passada. O filho novo tá pra nascer. Tudo tranquilo. A gente não se vê faz tempo.

– Achei que vocês se vissem mais.

– Não, muito pouco.

– Você fala sempre dele...

– É meu filho.

Fez uma pausa.

– A gente é muito... como é que eu vou dizer... a gente tem uma coisa com o outro de muita...

– Amizade?

– Mais do que isso.

– Cumplicidade?

– Isso. Camaradagem, parceria. Mas, é engraçado... É como se não acontecesse direito. É muito forte, mas a gente só se vê de vez em quando; então é como se não acontecesse de verdade; só quando a gente tá junto. E isso é só de quando em vez.

Ficou alguns minutos em silêncio.

– Acho que a última vez que a gente se viu, eu e ele, eu não tinha te conhecido ainda.

– Pô, faz tempo.

– Quando foi?

– Ah, uns seis meses, já.

– Qual o dia?

– De quê?

– O dia que a gente se conheceu. Eu não sei.

– Sei lá, Adair.

– A gente devia ter anotado.

Fiz uma careta de surpresa. Mas, como continuava sobre seu peito, ele não viu. Era um comentário estranho.

– Acho que depois que te conheci ainda não estive com ele. Às vezes, ele me liga.

– E você não?

– Não muito. É um lance meio sinistro.

– Por que?

Fez um sinal para que eu pegasse outra lata no cooler. Estiquei-me e consegui pegar, sem fazer desencaixar seu dedo em mim. Ele suspirou, como quem anuncia uma história longa.

– Depois que eu me separei, a mãe dele fazia de tudo pra que eu não chegasse perto. Vi o Adaílson muito pouco, até lá pelos 14, 15 anos dele.

– Sério?

– É. E eu dava pensão, hein! Tinha direito a passar fim de semana com ele, e tal. Mas a mãe não deixava. E também... Porra, eu passei muito tempo querendo só curtir a vida, ficar na porralouquice; então, não fazia muita questão, não.

Bebeu um gole da cerveja.

– Mas aí caí na real quando ele já era adolescente. Quis me aproximar. Difícil... Eu era um pai ausente, que não tava nem aí pra ele. E, o pior, a mãe tinha feito a minha caveira pra ele. Que eu era um viado, um viciado em drogas, que vivia na esbórnia, tava com aids e o caralho.

– Porra...

– Pois é. Ameacei ir à justiça. Daí, comecei a ter mais contato com ele. Mas era uma merda. A gente vivia tendo uns climas ruins; ele me dava umas patadas e eu fazia pouco. Deixava passar. Ficamos nisso por uns bons dois ou três anos. Um dia, ele nunca tinha feito isso, um dia ele me chamou de viado, disse que tinha vergonha de mim.

– Ele sabia das tuas transas?

– Sabia, claro que sabia. Primeiro, pela mãe, que me pintou como o capeta. E, depois, por mim mesmo. Mas aí ele já era grande. Mas falei tudo pra ele, mesmo. Sou o pai dele; sou um cara legal; ele tinha que me conhecer como eu sou.

– Mas e aí? Ele falou que tinha vergonha de você?

– Falou. Numa discussão, dessas que ele inventava pra brigar. E eu disse, na hora: “Vergonha porque teu pai é viado? Devia ter vergonha é de ter uma mãe que é puta, porque ser viado não é falta de caráter”.

Ficamos em silêncio.

– Ele sabia que a mãe era uma puta. Puta que eu digo não é puta de verdade; é puta de quando a gente diz que uma mulher não tem caráter, que usa os homens, que é traíra. Ele sabia como ele tinha sido feito, e todo o resto. Mas de mãe não se fala, né...?

Concordei.

– Ele veio pra cima de mim, como se fosse me dar porrada. Eu segurei ele e ficamos nos encarando. Os olhos dele estavam cheios d’água, Flavinho. Então, ele me olhou bem firme e disse, com cara de raiva: “Eu não gosto de você”.

– Porra, Adair...

– Disse isso, com uma puta cara de macho pra mim.

Fez uma pausa.

– Só que as lágrimas vazaram.

Ele pareceu sorrir.

– Como assim?

– Ele falou isso e na hora um olho chorou. Depois, o outro.

– Ele tava mentindo – deduzi.

– Foi. Era garoto; não conseguiu manter posição. Daí, nos abraçamos e ele chorou muito. Eu mesmo fiquei emocionado.

– Não era pra menos.

Era estranho ouvir Adair falando daquele modo, naquele tom. Por incrível que pareça, sua voz era serena. Ele parecia falar com o coração – coisa que, aliás, fazia sempre, mas dessa vez não com o coração da alegria, da extroversão, daquele sorriso largo que eu adorava nele. Era um outro coração, não sofrido nem triste, mas terno. Ele só falara naquele tom comigo quando queria ser atencioso ou, em menos vezes, especialmente carinhoso. Agora, usava este tom para falar de si mesmo – e comigo. Era bizarro.

– A gente tava na casa de um coleguinha dele. Ele que tinha marcado lá, porque tava jogando totó, ping pong, sei que porra era. Pra você ver a importância que ele me dava. Então, a gente ficou abraçado um tempo, depois sentei lá com ele, fiquei tentando acalmar. Ele parava de chorar, voltava de novo, olhava pra mim; nem dizia nada. Chamei o amigo, que tinha saído no meio da confusão toda, e ele trouxe uma água com açúcar pra ele. Então ele começou a me beijar, a dizer que gostava de mim, que queria ficar mais comigo, que queria saber mais de mim, e tal.

– Que bonito.

– Levei ele lá pra casa. Eu já morava com a minha mãe, e não levo ninguém pra lá porque é pequeno; ela tem as manias dela. Nem ele eu levava. Aí ficamos lá, conversamos. Ele dormiu. No dia seguinte, faltei ao trabalho, ele não foi ao colégio. Logo depois ele começou a trabalhar, mas nessa época só estudava. Passamos o dia juntos. Falei um monte de coisa da minha vida pra ele; ele me contou da dele.

Deu um suspiro.

– E foi assim. Achei que a gente fosse ficar mais próximos. Na verdade, ficamos. Somos muito íntimos, muito mesmo. Mas a gente se vê pouco. Entende o que eu quis dizer, de ser uma coisa que parece que não acontece à vera? O Adaílson sabe de coisas minhas, coisas que eu contei pra ele, que me abri, que quase ninguém sabe. E eu dele, também. Mas, sei lá, acho que os dois têm preguiça de se ver. A gente não mora perto; eu tenho as minhas sacanagens, ele tem as dele. Sei lá...

– Você... Você fala disso aqui pra ele?

– Que eu venho à sauna e como um monte de viado? Claro. E eu sei das putarias dele, também. E dos amores, das paixões... Ele é puto feito o pai, mas é muito romântico também. Só não te levei pra ele conhecer porque a gente não se viu mais mesmo.

Eu me calei. Adair não tinha nada de romântico; não entendi de onde ele tirou essa ideia. E eu não tinha nada a ver com isso.

– Como levei outros amigos, também – completou. – Ele conhece alguns amigos meus. Não muitos, tudo muito rápido, mas os que são viados ele sabe que são viados. Bom, quase todo mundo que eu conheço é viado...! Mas, com ele, não tem rolo por causa disso.

Continuei calado. Ele notou:

– Que foi? Minha história te deixou triste?

– Não – fiz uma pausa. – É que não to entendendo por que você tá me contando isso tudo; essas coisas suas.

– Êêêê, playboy, desencana. Tem que pensar no porquê de tudo, é? – ele voltava agora a ser como sempre era.

Aumentou o volume da voz, levantando a cabeça em direção à porta:

– Ei! Garcia!

Fiz menção de me reacomodar para receber o amigo. Adair me reteve, mantendo os dedos firmemente no meu cuzinho e espalmando a mão na minha bunda. Obedeci.

Garcia estava animado. Adair convidou-o a sentar-se. Perguntou-me se ainda havia alguma lata de cerveja e, após eu constatar que ainda sobrava uma, ofereceu a ele. Os dois conversavam com naturalidade, comigo ali repousado ao longo do corpo de Adair, com a cabeça descansada em seu peito e o cuzinho sendo acariciado com suavidade.

Era a primeira vez que Garcia nos via numa situação tão íntima: apesar dos oferecimentos de Adair, ele nunca quisera assistir a uma foda nossa – obviamente, porque deduzia tratar-se de armadilhas do amigo para tentar ajudá-lo no problema da ereção. Aliás, pensando bem, acho que foi a primeira vez que alguém me testemunhou tendo um momento tão íntimo com um homem, que não fosse efetivamente uma trepada. Eu não trocava carinhos nem mesmo nas poucas boates gay que havia ido com algum namorado.

– Tive que ficar fora. Minha filha fez uma festança de aniversário pra minha neta e passei uns dias na casa deles, lá em Saquarema. Te falei que eles estão morando lá, não?

– Fiquei preocupado. Achei que pudesse ser algum problema de saúde.

– Teve isso também. Nada demais. Mas a pressão resolveu encher o saco e achei melhor não vir; evitar sauna. Altera a pressão.

– Mas era só você não entrar na sauna, né, Garcia. O que você mais faz é circular mesmo.

Eu me limitava a ouvir a conversa. Estava gostoso: eu me sentia acalentado pelo meu macho, sem que isso interferisse no assunto dos dois. É bom estar protegido. Sua respiração branda acariciava meu cabelo, sua pele me afagava por dentro, seu cacete grosso desenhado pela toalha úmida, ali tão perto da minha coxa, me dava segurança.

– Ah, acho que tem uns dois meses que não te vejo! – arriscou Adair.

– Exagero... Bom, é capaz. Mas não fiquei esse tempo todo sem vir, não. A gente deve ter se desencontrado.

– Pode ser...

Garcia assumiu um tom animado:

– Mas, então, você encontrou mesmo sua cara-metade! – e pôs uma mão na minha perna, próxima ao joelho.

– Meu playboy? – riu e beijou minha cabeça. – Essa é a melhor foda do mundo!

– Ele tem tudo pra ser mesmo.

A mão de Garcia permaneceu sobre a minha perna, apoiada delicadamente.

– Ele é mesmo uma graça – emendou.

A mão agora me acariciava timidamente.

– E como é lisinho...

Senti Adair aumentar levemente a pressão dos dedos no meu cuzinho. E senti também a maciez da mão de Garcia percorrendo suavemente a minha pele.

***

Este conto teve início com o texto “Admirando o calibre de Adair”.

Entre os dois, a história se desenrola, em ordem cronológica, nos seguintes textos:

- “No hotel, com Adair”.

- “O preço para ter Adair”

- “Guiado por Adair”

- “O desafio de Adair”

- “Exposto por Adair”

- “Sob o teste de Adair”

- “Entendendo Adair”

- “Entregue a Adair”

- “Presença de Adair”

- “Além de Adair”

- “Adair, dono de mim”

Os links para cada um dos textos estão na página do meu perfil de autor, em

http://www.casadoscontos.com.br/perfil/160138

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Comentários

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Passivos como Flavinho enfeitiçam a gente...

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Muito bonito o diálogo sobre a história com o filho. Parabéns!

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nao acho q ele tá apaixonado, nao entendi assim, so acho q ta nascendo uma amizade mas forte entre os dois, ninguem eh sacana 24h p dia

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Adair apaixonado? ? Será? Essa eu não esperava. Ccontinue logo mano, abração

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E agora? Rolou sentimento... será que Adair ainda vai querer dividir???

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Eu também entendi isso: q o Adair está querendo algo mais. É isso mesmo, ele acabou se apaixonando? Acho q agora estou entendendo pq você está contando essa história, se ela for mesmo verdadeira. Ele se apaixonou?

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