Eu mais uma vez me aproximei da boca de Beto para dar um beijo, dessa vez um pouco mais intenso que o primeiro.
Gustavo entrou no quarto, acelerado, e não deu tempo de disfarçar o beijo.
Guga - mano, você vai querer... que porra é essa ae cara, vocês viraram viados?
Eu me afastei mais do que apressadamente da boca de Beto, por pouco não caí no chão.
- É mano, acho que a febre ta passando. (falei passando a mão no pescoço do Beto).
Guga - precisa disfarçar não mano, eu vi vocês dois se beijando.
Berg - Ta doido? eu sou macho po.
Guga - Mano, deixa de mentir, eu vi pô, não foi ninguém quem me falou não, eu vi. (falava ele firmemente).
Berg - tu ta fazendo confusão velho, não rolou nada aqui não, tava só vendo se o Beto ainda esta febrio.
Guga - para de mentir cara, para de mentir, eu vi com esses olhos aqui óh! Voces sao viados?
Berg - Viado é teu pai, seu filho de uma puta. Fica imaginando coisa ae.
Beto - Guga, esculta aqui.- (falou Beto levantando-se meio fraco). - nós nos beijamos sim, e dai, qual é o po?
Guga- sabia velho, ja ta todo mundo comentando, e eu ainda perdi meu tempo, varias vezes, defendendo voces dois.
Berg - quem ta comentando? comentando o que? (falava eu atropelando as palavras).
Beto - não importa mano, quero que os incomodados se fodam. (falava Beto para mim)
Berg - importa sim mano, se estão falando da gente eu quero saber quem é.
Guga - geral ta comentando, la na faculdade.
Berg - sobre eu e o Beto?
Beto - Porra Berg, pra que tu quer perder tempo com isso? Em que isso ira mudar a nossa vida?
Berg - importa muito mano.
Guga - Qual é, então é verdade mesmo?
O Beto confirmou, e eu neguei. (ambos ao mesmo tempo).
Guga - é ou não?
Eu fiquei calado.
Beto - é cara. Ta satisfeito? Vai nos virar as costas agora?
Guga ficou um tempo assimilando aquela informação.
Guga - então aquela pegação com a mulherada era só fingimento.
Berg - Não conta isso pra ninguém vei.
Beto - deixa ele contar Berg, deixa ele fazer o que quiser.
Berg - não é assim nao mano. Como é que agente vai sair nas ruas? E como os outros vão ficar nos olhando?
Beto - pouco me importa. ( Beto falou fazendo cara de dor).
Berg - o que foi mano?
Guga - que tu tem brother?
Guga e eu perguntamos ao mesmo tempo.
Beto - tontura.
Berg - é que tu ta em pé ha muito tempo. (apoiei Beto em meus ombros, e voltei com ele pra cama).
Beto - Gustavo, deixa eu e o Berg sozinhos por favor. (falou Beto já deitado).
Guga - deixo, aproveita e pede pro Berg fazer tua carne, já que ele é tua putinha.
Berg - olha aqui seu filho de uma puta do caraleo. (Beto me segurou pela cintura, impedindo que eu avançasse no Gustavo).
Beto - deixa, deixa ele soltar as piadinha dele. Tenho certeza que a depois ele vai entender.
Guga - nunca que eu vou entender isso, nunca. Não tenho nada contra ser viado, mas vocês eram meus amigos.
Berg - eramos? Não somos mais? (falei sem acreditar no que eu estava ouvindo).
Beto - Berg, olha pra mim, deixa isso de mão. (falou Beto me encarando). Enquanto a ti Gustavo, procura o teu rumo, vaza, cai fora daqui.
Guga - Precisa nem pedir duas vezes. VIADINHOS! (Falou ele colocando enfase na voz, e saindo pela porta do quarto).
xXX
Desculpa mano, desculpa, não era pra eu ter te beijado. (falei lamentando o ocorrido).
-Hey, não fica grilado com isso não. (falou Beto tentando me acalmar).
Berg - Eu tou mais preocupado contigo. Tu entrou nessa por minha causa.
Beto - Fique preocupado comigo não. Não estamos fazendo nada de errado.
Berg - Mas os outros são preconceituosos, tenho medo de ser excluído. (falei choramingando).
Beto - tu quer seguir na mentira? quer parar por aqui? - seu tu quiser eu nego pra todo mundo.
Berg - eu não quero parar, eu quero continuar contigo, mas eu não quero que ninguém saiba da gente.
Beto - agora é tarde. Tu mesmo ouviu o Gustavo falando que a galera anda comentando.
Berg - são só comentários, ninguém tem certeza.
Beto - Mas se me perguntarem eu vou falar a verdade. Tou cansado de esconder, no inicio deve ser ruim, mas quem quiser continuar sendo nossos amigos vao ser, quem não quiser, que va para o inferno.
Berg - eu tou te estranhando, achei que tu fosse o mais interessado em continuar no armário.
Beto - Mas eu sou, só que eu estou em uma vibe diferente. Não estou ligando para o que os outros vão pensar de mim, voce é tudo o que eu preciso.
Berg - Tu fala com sinceridade?
Beto - Não acredita?
Berg - É que ainda é tudo novo pra nós dois, eu não sei ate que ponto isso pode ser apenas empolgação da nossa parte.
Beto - da minha não é, e depois do que eu passei no hospital eu tive a confirmação. É de você mesmo que eu gosto... E gosto pra valer.
Meus olhos encheram-se de lágrimas.
Berg - Também gosto de tu velho, pra valer também.
Dei um beijo no Beto, mas não tão demorado, não precisávamos mais ser surpreendido por ninguém.
Desci para preparar a comida para o Beto, e o Gustavo, realmente havia ido embora.
Não demorou muito, e eu voltei com a comida ja pronta para o quarto.
xXX
Berg - mano, ta aqui, mas sera que não era bom algo mais leve?
Beto - Mais leve do que isso? (falou ele com cara de criança).
Berg - claro. Tipo uma fruta, um iorgute, sopa, sei la, essas comidas próprias de doente.
Beto riu.
Beto - ta doido mo? Ae eu morro de vez. Preciso de uma carninha para me recuperar logo.
Berg - tu que sabe.
Enquanto conversávamos, ajudei Beto a levantar e apoiar as costas na cabeceira da cama.
Eu servia a comida para ele enquanto proseávamos.
Berg - Tu acha que o Guga vai ficar sem falar com a gente?
Ele balançou a cabeça em negativa.
Beto - vamos dar um tempo pra ele.
Berg - tempo? Ele não precisa de tempo.
Beto - claro que precisa amor
Berg - tempo pra que? (falei, colocando comida em sua boca).
Beto - Pra ele se acostumar que não vamos mais ser os mesmos de antes. Agora não vamos mais sair pegando todas na balada, e leva um tempo pra ele se acostumar com isso.
Berg - acho isso frescura. Mas tu acha que ele vai guardar nosso segredo?
Beto - pelo que eu conheço dele, sim.
Berg - tomara velho, tomara.
Beto terminou de comer e dormiu, enquanto isso eu assistia alguma coisa na tv.
xXX
Assim que Beto acordou eu falei que teria que voltar a minha casa.
Beto - Mas ja?
Berg - ja ta escurecendo mo. E o Kadu acabou de chegar.
Beto fez bico.
Berg - bora comigo!
Beto - la pra tua casa?
Berg - é, ae tu dorme la.
Beto - acho melhor não. Quando eu tiver cem por centro recuperado, ae eu vou.
Berg - que besteira po, eu não quero te deixar só aqui.
Beto - mas eu não vou ficar só, tu não disse que o Kadu chegou?
Berg - ah po, mas eu falo de cuidados, tu ainda ta doente.
Beto - ja me sinto melhor, eu queria só que tu me fizesse um favor.
Berg - o que?
Beto - primeiro diz que sim, ae depois eu digo o que é.
Berg - Não. Primeiro tu diz o que é, e depois eu digo se sim.
Beto fez cara de menino senvergonha.
Beto - eu queria comer uma costelinha de porco.
Berg - vish mano, mas tem aqui?
Beto - tem nada, tem que comprar ainda, faz isso por mim mo.
Berg - eu faço, mas voce tem que ir comigo la pra casa.
Beto - ah não po, não quero dar trabalho pra tua mãe não.
Berg - o trabalho é meu, tu vai como minha responsabilidade.
Beto - não sei.
Berg - pensa bem po, tu vai ter quantas costelinhas quiser.
Beto - tudo bem mo, voce me venceu pelo bucho.
Rimos. Beto tomou um banho rápido pra tirar a inhaca de doente, colocou uma roupa limpa, e descemos.
Kadu estava na sala comendo um sanduiche e vendo tv.
xXXX
- Fala família. ( Disse Kadu assim que nos viu descer as escadas).
Berg - E ae Kadu, blza?
Kadu - Blza, e como ta o nosso doente?
Berg - Moribundo. (falei).
Beto - teu cu.
Rimos.
Berg - Ta tudo bem mesmo? (insisti, pois queria ter certeza que o Kadu estava tranquilo conosco).
Kadu - Ta sim, por que?
Berg - nada não po, só pra saber mesmo.
Kadu - sei...
Explicamos para o Kadu que o Beto iria dormir la em casa, e depois disso pegamos a estrada.
xXX
Tu ta grilado com esse lance do Guga neh!? (perguntou Beto assim que chegamos a minha casa).
Berg - Mais ou menos.
Beto - eu percebi. Tu ficou tenso com o Kadu.
Berg - queria descobrir se ele estava sabendo algo da gente.
Beto - ja falei po, não esquenta com isso.
Subimos a escada e chegamos a meu quarto.
xXX
- Hey, vaza daí! (falei assim que abri a porta e vi o Bernardo no meu computador).
Beto - fala Bernardo.
Bernardo - E ae! (respondeu ele fisurado, no jogo).
Berg - bora Bernardo, tou falando serio, cai fora daí!
Bernardo saiu pisando firme, com raiva.
Berg - puta merda mano.
Beto - o que foi?
Berg - esquecemos de comprar as costelinhas.
O semblante de Beto ficou triste.
Beto - verdade po, deixa pra proxima neh!?
Berg - é.
Beto deitou na cama, e eu saí do quarto. Perguntei a minha mãe se havia costelinha de porco e se ela poderia fritar para o Beto. Ela explicou que o Beto estava doente e que seria bom algo mais leve, porem fritou assim mesmo.
xXX
Entrei no quarto com uma bandeja nas costas, tentando fazer uma surpresa para o Beto.
- O que tem ae? São minhas costelinhas? (falou ele abrindo um lindo sorriso, deitado na cama).
Berg - puta merda velho, tu é muito sem graça.
Beto - eu sabia que tu não ia me deixar na mão, sempre foi assim, desde que nos conhecemos.
Berg - e vei, não ia te deixar na mão mesmo.As costelas ja tinha no freezer, mas se não tivesse, eu iria atras ainda hoje.
Beto - e tu ainda acha que eu não sou capaz de enfrentar o mundo por tua causa. É voce que esta comigo em todos os momentos po, e é voce que eu quero, não tenho duvida nenhuma.
Berg - com costela ou sem costela?
Beto riu.
Beto - com costela é ainda melhor.
Berg - filho de uma puta.
Deitei por cima do Beto, com cuidado, para não machuca-lo, e comecei a beija-lo intensamente.
Berg - vou trancar a porta. (falei cochichando em seu ouvido).
Tranquei a porta e voltei ao encontro da boca do Beto.
xXXX
No dia seguinte acordei cedo, fiz minha higiene matinal, e fui a faculdade, deixando o Beto dormindo em minha cama.
xxXXX
Entrei na sala ja atrasado, e me direcionei ao fundão. Dei bom dia, e entre os amigos da sala, o Gustavo foi o único que não respondeu.
Sentei um pouco mais a frente, e comecei a prestar atenção na aula. Antes de sairmos para o intervalo o professor passou um trabalho em trio, e eu virei minha cadeira para formar grupo com Gustavo e Kadu, mas o Guga ja havia colocado um outro integrante em meu lugar.
- Não vou ter a paciência que o Beto esta tendo. (eu pensei pra mim mesmo).
Berg - professor. (falei, levantando a mão)
-Diga (respondeu ele)
Berg - é que o Roberto esta de atestado. O senhor se importa de eu colocar o nome dele em meu trabalho?
O professor pensou por um instante.
Professor - Não me importo, desde que voce e ele façam juntos.
Berg - Blza professor, vlw.
Disse isso e saí pra lanchar, não tinha tomado café ainda.
Quando ia chegando a praça de alimentação o Kadu me acompanhou.
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Kadu - fala bandido. Ta tirando a gente hen!? (falou ele colocando a mão em meu ombro por tras)
Berg - por que diz isso?
Kadu - O Guga disse que voce não ia querer fazer o trabalho conosco, ae resolvemos colocar o Mateus no teu lugar.
Berg - ele disse isso?
Kadu - disse sim.
Meu sangue subiu, dei a volta e retornei pra sala de aula, iria resolver essa historia com o Gustavo de uma vez por todas. Tantos anos de amizade, não é possível que ele tivesse aquela personalidade, e eu nunca havia percebido.
Kadu - vai aonde manin?
Berg - resolver uma parada com um filho de uma puta ali.
Continua...