Guerreiro - Capitulo 5 (último)

Um conto erótico de Jader Scrind
Categoria: Homossexual
Contém 8109 palavras
Data: 19/03/2016 10:09:04
Assuntos: Gay, Homossexual

QUINTA PARTE – OS HOMENS DA BEIRA DO ABISMO

Nos primeiros três dias ninguém recebeu noticia alguma de como estava indo a guerra do outro lado do estreito mar, um pouco porque os navios não vinham com mensageiros para cá, e sim soldados inimigos, e um pouco porque ninguém do lado de cá estava sentado esperando por noticias, os muros da capital vinham sendo atacados dia após dia, e alguns canhões inimigos conseguiam lançar balas dos navios acima desses muros e alcançavam o castelo, que vivia eternamente a beira de um incêndio ou de desmoronar.

Mas Romulo ainda assim esperava por noticias. E todo dia perguntava aos guerreiros do outro lado da porta se eles souberam de alguma coisa, se algum mensageiro chegara para avisar que o rei inimigo foi morto e a guerra findara, e se no começo eles não respondiam, depois de dias começaram a se comover com o jovem conde, que parecia tão preocupado com o que estava acontecendo, como se tivesse alguém lutando na guerra que ele queria bem, e os guerreiros a dizer as novidades, não era muita coisa, apenas a quantidade de guerreiros que o rei ainda mandava, falavam sobre os três navios inimigos atracados perto do porto e que estavam bombardeando os muros da capital, e as novas ordens que o sábio sugeria ao rei e ele obedecia sem nem discutir. Entre essas ordens, havia uma sobre Romulo, o rei ordenara que se marcasse uma data para o casamento de sua filha com o conde, mesmo naquela guerra, e que assim que estivessem desposados, fossem mandados para as terras distantes do conde, onde viveriam longe dessa guerra.

– Mas ele não pode fazer isso! Eu não vou me casar com a princesa!

– Boa sorte pra dizer isso ao rei. Ele não anda nada calmo.

Romulo não podia, não depois de tudo, não depois de ter conseguido fazer as pazes com Arthur, não podia se casar, não podia entrar nesse compromisso, porque ele sabia que Arthur ia voltar, ele sabia que Arthur era o melhor guerreiro que esse reino jamais teria e nenhum soldado inimigo conseguiria matá-lo, então Romulo só precisava esperá-lo, estar livre, e quando Arthur viesse iriam embora, iriam ser felizes longe dali. Olhou para a janela aberta, se caísse dali seriam dez metros de queda livre, mas ele olhou bem para os tijolos da parede e sabia que conseguia escalar sem cair. Só precisava separar algumas coisas para levar consigo. Outro estrondo ensurdecedor preencheu os corredores do castelo, uma bala de canhão atingiu o telhado e criou um buraco na parte alta do local.

***

Estava de guarda. Deveria dormir, não era sua vez de ficar de guarda, mas Arthur mal piscava os olhos, deitado no chão úmido e quente, nossa como aquele lugar estava quente, todos eles amontoados, suando, Arthur estava sem camisa e vestia apenas a calça interna, que era mais confortável para dormir, e não a de couro que os guerreiros vestiam em combate, escondido junto com mais uma dúzia de guerreiros num casebre abandonado, tentando dormir para recomeçar as batalhas na manhã seguinte. Mas aquela altura só Arthur estava de olhos abertos, porque ele não confiava em Oscar, que é quem estava fazendo a guarda sentado ao lado da porta e olhando o lado de fora por uma fresta bem discreta, as vezes desviava o olhar da fresta para espiar o corpo de Arthur sem camisa.

– Você não vai dormir? – Oscar perguntou, sussurrando, mas sabendo que Arthur conseguia escutá-lo muito bem. – Eu te acordo quando for sua vez de fazer a guarda.

– Prefiro ficar acordado.

Oscar sorriu sem humor – Não confia mesmo em mim, não é?

– Tenho motivos, não acha?

Oscar tirou outra vez os olhos da fresta na parede e se voltou para ele ali deitado no chão, difícil dizer com certeza naquele lugar escuro, mas no seu olhar Arthur pareceu ter visto um fio de mágoa. – Você acha que eu deixaria os inimigos entrarem aqui só pra me vingar de você? Seria burrice, eles me matariam junto.

– Você começou uma guerra porque eu fiquei com outra pessoa – agora foi a vez de Arthur dizer aquilo em voz baixa, mesmo que todos os outros estivessem dormindo, de maneira alguma alguém poderia saber daquilo, porque ao contrário de Oscar, Arthur não queria que mais pessoas se envolvessem naquela confusão toda. - E eu nunca neguei que gostava de outra pessoa, Oscar, isso é o que mais incomoda, eu nunca menti pra você, e mesmo assim olha onde a gente está agora por sua culpa...

– Eu... – ele ia falar mais alguma coisa mas um pequeno ruído começou do lado de fora e ele pôs o rosto na fresta da parede mais uma vez, Arthur pensou que seria o fim da conversa, mas mesmo sem olhar para ele, Oscar completou sua frase: - Eu queria você só pra mim.

Não havia resposta que pudesse resolver aquilo, e Arthur ficou calado. Antes dessa traição, Oscar era um homem que ele estimava muito, aquele jeito alegre, meio molecão dele, sem levar nada muito a sério, talvez, se Paulo não tivesse surgido antes na sua vida e se amarrado a ela, e o feito se apaixonar tanto, talvez Oscar tivesse sido a pessoa da sua vida, mas não adiantava supor essas coisas, ele olhava para Oscar e via um grande amigo, uma pessoa que ele queria bem, mas não via um amor, não via um fogo como via em Romulo, um fogo que o atraia e o feria e o queimava e ainda assim ele queria, mais, mais, bem mais daquela chama.

– Arthur? – Oscar recomeçou a sussurrar, mas finalmente os olhos de Arthur se fecharam e ele estava começando a dormir, por fim confiou que Oscar não iria lhe fazer mal outra vez. – Arthur? Ei, tem alguém ali fo...

A frase foi guilhotinada com um chute estrondoso na porta do casebre. E não houve tempo para mais nada. Muitos soldados inimigos entrando no lugar, pegando desprevenidos os guerreiros que se levantavam e procuravam suas espadas pelo chão. Foi um massacre. Não tiveram chance, mesmo que no começo tenham resistido, mesmo que Oscar que estava já com sua espada tenha evitado que um primeiro soldado decepasse a cabeça de Arthur, e tenha defendido o ruivo e o ajudado a se levantar, mesmo assim os inimigos não paravam de entrar no casebre, e quando só havia os dois guerreiros vivos contra uma multidão de inimigos, e a luz da lua entrando pelas frestas de repente foi tapada por uma nuvem que passeava pelo céu, tudo ficou completamente escuro, e quando a luz da lua voltou todos os homens vestidos de guerreiro estavam mortos no chão do casebre.

***

Pouco antes de amanhecer, Romulo abriu a janela do seu quarto, os guerreiros na porta deveriam estar acordados, mas cochilavam e não ouviram o som da janela se abrir, até porque quem desconfiaria que ele tentaria fugir lá do alto escalando as paredes.

Havia musgo e seus passos escorregavam, havia falhas entre os tijolos que cortavam as palmas da mão, e havia o vento da manhã querendo derrubá-lo lá de cima, mas Romulo continuava as vezes devagar e as vezes um pouco mais depressa, descendo um pouco de cada vez, vestido com roupas pretas para que se camuflasse na escuridão da madrugada e ninguém o visse do chão, e também desviando das janelas para não ser notado lá dentro do castelo, ele descia torcendo para que não amanhecesse ainda, precisava ao menos chegar no chão antes do nascer do sol porque caso contrario seria notado por todos os guerreiros que ainda estavam no reino e precisavam fazer seu juramento diário ali na frente do castelo.

Não sabia o que faria depois. Não sabia se podia entrar escondido num dos navios e partir para a guerra com Arthur. Não sabia se podia fugir para a mata e esperar, torcer para que a guerra acabasse depressa e ele voltasse depressa. Não sabia se podia procurar seus pais que haviam ido embora da capital do reino e talvez vivessem em algum local das redondezas, as escondidas, uma vez que eles sabiam que o rei iria atrás deles quando soubesse que Romulo iria trocar a princesa por um guerreiro. Na verdade Romulo não teve tempo para pensar em nada disso, seu único objetivo naquele momento era chegar no chão e se ver livre daquela prisão.

Mas o sol começou a nascer.

Bem quando ele estava na metade do caminho o sol começou a nascer. E mesmo que ele tenha tentado apressar o passo e chegar logo no chão, Romulo não sabia que antes mesmo dos guerreiros acordarem, antes dos navios atracados no porto inimigos recomeçassem seus disparos de canhão, havia uma pessoa que se levantava da cama e ia para o lado de fora do castelo espairecer, justamente a última pessoa que ele precisava ver, o velhinho arrogante e que imaginava-se a pessoa mais inteligente de todo aquele reino. O sábio, que estava esperando lá embaixo, olhando para Romulo, e sem gritar para avisar sua presença foi calmamente até o dormitório dos guerreiros, chamou um deles e o levou para o ponto de fuga de Rômulo, que quando olhou para baixo já sabia que seu plano não daria certo. Droga. Velho desgraçado. Tentou escalar a parede numa outra direção, mas era inútil, lá embaixo eles o pegariam da mesma maneira, ele era sim um prisioneiro naquele castelo, e o sábio disse apenas desça daí ou teremos que derrubá-lo, mas não parecia nem furioso nem desafiado com a atitude de Romulo, era como se o sábio já soubesse de tudo aquilo, que ele tentaria fugir, que seria fácil evitar, que a luz da manhã nascia por fim e outros guerreiros começavam a ver aquele rapaz loiro na parede do castelo. O que ele não sabia é que naquela manhã um outro navio inimigo atracou no porto do reino, que agora já fora dominado por eles, e no porão desse navio um dos homens do reino anotara um relatório de como ia a guerra e conseguiu chegar até os muros do castelo e depois foi recebido pelo próprio rei que estava muito curioso em saber como andavam as coisas.

Tudo então tomou um rumo diferente. Romulo não conseguiu fugir, mas também queria estar lá no salão do castelo para ouvir as novidades, e o sábio não pode fazer nada quanto a ele, afinal, o que poderia fazer a um conde? Mandar a uma masmorra o futuro pai do rei? Era tudo muito complicado e ficou mais complicado quando a mensagem foi lida.

Os guerreiros perdiam, estavam sendo mortos as dezenas, pediam mais homens para lutar ou então que recuassem e defendessem o reino nas suas fronteiras e não no território inimigo, onde ficavam em desvantagem. E em seguida vinha uma lista dos homens que morreram em combate. Em ordem alfabética, o nome dele foi o primeiro a ser lido. Arthur. E Romulo sentiu tudo ficando cinza, sentiu tudo perdendo o sentido, pra que lutar e fugir desse castelo agora? Seu ruivo, seu ruivinho estava morto? Seu amigo, o que treinava com ele todas as tardes quando eram meninos? Seu amor que o beijava com tanto desejo e que tinha a pele mais cheirosa do mundo, não estava entre eles?

O rei pediu para que parasse a leitura, perguntou o que o guerreiro do conde Romulo estava fazendo naquela guerra? Ele havia sido muito claro na cerimônia de passagem, Arthur passaria o resto da vida servindo a Romulo, e o sábio percebeu tudo que estava para acontecer, mas era tarde demais, e Romulo gritou: “Foi o velho!” ele descumpriu suas ordens, meu rei, ele mandou Arthur para a guerra e o guerreiro que o senhor separou para mim está morto por culpa dele!”. Não havia justificativas, Romulo chorava, todos sabiam que ele gostava daquele guerreiro, e o rei se comoveu, e bradou.

– Ninguém entre as fronteiras do meu reino, das colinas do sul aos planaltos do norte, tem o direito de descumprir uma ordem real! Você, velho, que trabalhou toda sua vida como sábio do rei, mais do que ninguém, deveria saber disso. A punição, lembra, foi você que formulou qual seria a punição por desobediência e nada mais justo que você a cumpra: nessa tarde, você será enforcado. Mandem-no para a masmorra.

O salão entrou em silencio um segundo depois de dois guerreiros fortões terem tirado dali o velhinho que bradava que era injusto que fazia aquilo pelo bem do reino que Romulo estragara tudo, todo seu plano. Agora, um silêncio que só era quebrado pelo choro baixo de Romulo, que logo e seguida pediu para se retirar dali e não ouviu o final da mensagem, onde os guerreiros que ainda estavam vivos pediam reforços.

No seu quarto, ele passou pelos guerreiros que faziam a guarda da sua porta e nem tinham idéia de como já estava do lado de fora, mas não comentaram nada, ele estava voltando para dentro do quarto por livre e espontânea vontade e com o rosto vermelho e com os olhos vermelhos de tanto que chorara e já sozinho dentro do quarto não conseguia mais se controlar, era raiva, dessa guerra desse plano todo daquele sábio estúpido, e batia nas paredes, e jogou o pesado colchão contra uma cômoda e derrubou armários e socou paredes enquanto as lágrimas continuavam caindo. Arthur, Arthur, nunca mais veria seu amigo, agora era mais um desses amores que não se realizam, e a morte do sábio, e se tentasse fugir agora, e se estragasse de vez toda essa teia de planos e conspirações, isso não valeria de nada. Não o traria de volta. Caído no chão, olhando para o forro do teto que era para onde olhava quando Arthur transou com ele naquele quarto e o comeu e o fez gozar, olhando para esse mesmo forro, Romulo simplesmente desistiu de lutar. Tiraram todas as suas forças quando tiraram dele o seu ruivo. Faria o que eles queriam.

***

Foi uma cerimônia sinistra. O velho calado, com aquela corda no pescoço esperando a hora em que abrissem o alçapão sob seus pés e o fizessem cair para uma morte agonizante. Não foi na hora, ele sufocou, ele se debateu, ele arregalou os olhos sob o rosto espantado de todo o povo que adorava ver aas execuções. Não disse uma palavra, não pediu clemência nem quis confessar crime algum. Romulo viu sua morte da janela do quarto, seu cabelo loiro caíra sobre a metade esquerda do rosto e na direita os olhos vermelhos de tanto chorar não choravam mais. Ele sabia que sem o velho talvez não precisasse mais ser prisioneiro no próprio quarto, muito provavelmente os guerreiros já nem estavam mais ali na porta, mas ele não queria sair.

Horas depois um homem na faixa dos cinqüenta anos bateu na porta perguntando se podia entrar, Romulo disse apenas uma resposta monossilábica e foi então que ele conheceu o novo sábio do reino. Era mais jovem que o antigo, e parecia mais tolerante, olhou o quarto todo bagunçado mas não disse nada quanto a isso.

– Conde, assim que o rei me nomeou para esse posto, ele me explicou a sua situação, digo, toda a história que o faz estar aqui agora. E eu preciso saber de apenas uma coisa, e eu quero que saiba que você pode ser sincero e que se a resposta for não, eu darei um jeito de te livrar disso tudo, apenas responda: você ainda casaria com a princesa?

Agora a situação era outra, ele ainda não queria casar com a princesa, mas já não tinha outro lugar para ir, nem com quem ficar, seu amor não estava mais ali. Ele suspirou: “Posso me casar, posso fazer o que quiserem, não importa mais”.

– A morte daquele guerreiro, do seu guerreiro, mexeu muito com você...

Romulo sorriu um sorriso amargo – Você é mesmo um homem muito sábio. O meu guerreiro era também o meu único amor...

Pela primeira aquelas palavras sendo ditas, alguém mais sabia do segredo, e ele não temeu que esse alguém tivesse poder para mata-lo pelo que estava dizendo, proibi-lo de casar-se com a princesa, não temeu nada, não importava nada, o que poderiam fazer com ele que doesse mais que a dor que já sentia? O novo sábio prolongou o silencio, numa inacreditável demonstração de respeito, depois disse:

– Me desculpe ter que tocar no assunto agora, mas as ordens reais, que eu não concordo nenhum pouco, dizem que o casamento precisa acontecer o quanto antes. Então mesmo em meio a guerra, ele deu um prazo de sete dias para a cerimônia. Você vê algum problema em...

– Não nenhum. Posso me casar essa noite se vossa majestade assim desejar – retrucou irônico.

O sábio tocou seu ombro, ele entendia a dor que Romulo sentia, era um homem viúvo e que amava demais a esposa, não havia distinção entre amar a ela ou Romulo amar a ele, era amor, e perde-lo era assim um fim de linha. Depois se retirou daquele quarto e teve que começar a organizar tudo para o casamento.

O reino definhava, uma guerra exige recursos, homens, comida, armamento, e o povo ia ficando com menos para poder abastecer os guerreiros em combate, os dias seguintes foram de péssimas noticias, não havia mais guerreiros o suficiente e o rei mandou que todos os seus homens recuassem e defendessem as fronteiras do próprio reino em vez de tentar invadir o do inimigo. Ainda mais porque não podia haver ataques naquele dia, o tão grandioso e esperado dia do casamento. Era fantástico o quanto uma festa era capaz de animar as pessoas, mesmo em dias difíceis, mesmo sob uma constante ameaça de morte, mesmo com tudo desabando, as mocinhas do reino enfeitaram com flores azuis e roxas o pátio do castelo onde eles se casariam, e puseram cadeiras para os nobres, e um pequeno altar todo ornamentado para o padre. Mas o noivo não se importava com nada daquilo, da sua janela não parecia bonito nem feio aquela decoração toda, seu casamento aconteceria em poucas horas e nem nervoso se sentia, porque não importava, realmente se desse certo ou errado dali por diante ele não estava ligando. E quando o sábio entrou em seu quarto e o viu vestido com as belas roupas de um noivo real entendeu porque a princesa se apaixonou tanto por ele. Era tão estranho, essa princesa mal aparecia nos corredores do castelo, mas não era preciso muita inteligência para perceber que tudo que estava acontecendo também era culpa dela.

– Está na hora – ele falou, e Romulo não protestou, saiu com ele mesmo que nos seus olhos azuis avermelhados de tanto chorar ainda estivessem pensando em outro alguém.

Havia em todo o pátio um falatório que começava lá na frente com o rei e seus amigos rindo alto já que aproveitaram a ocasião para se rever, outros vinham até ele para declarar que eram seus aliados aconteça o que acontecer, e as mocinhas se aglutinavam em círculos para fofocar e invejar a princesa. Aquele noivo dela era um rapagão e tanto, nobre com porte de lavrador e aquela cara triste de homem que já passou por todo o sofrimento dessa terra, isso as encantava, ainda mais que o cabelo loiro, que era pouco comum naquele reino e fazia dele o conde mais desejado de todos. Se aproximando, como se nem visse toda aquela gente olhando para ele, cabeça erguida, focada no rei que o esperava lá na frente, no altar, onde Romulo esperaria pela princesa que ainda devia estar se aprontando. Era o fim, era assim que iria acabar, não importava mais, a música tocando, suave, as pétalas roxas caindo de suas flores e dançando no ar, perfumando o lugar, a princesa estava se aproximando, e Romulo olhava para ela como quem olha para uma rocha ou uma parede com quem teria que passar o resto da vida. Não é que a odiasse, nem isso sentia por ela. Não era marcha nupcial, era uma outra, que parecia alegre e ao mesmo tempo melancólica, e ela se aproximando, e o religioso ali próximo de Romulo apenas esperando que ela chegasse de vez, com seu buque também de flores roxas, com seu vestido de uma exuberância rara, sorrindo toda contente por ter conseguido o melhor marido do mundo, parou do lado dele, sorriu, disse oi, ele só se virou para o padre.

E foi só até aí que a cerimônia seguiu.

Porque bem nessa hora, um forte som dde ranger, como uma trovoada se arrastando por muitos segundos foi ouvido próximo dali, e todos olharam para oeste, o lado do mar, e como aquele pátio e o próprio castelo era num lugar alto e próximo do oceano, viram o que causava aquele ranger, era um gigantesco navio preto, encouraçado de metal bruto, que atracava no porto passando por cima dos navios de madeira na sua frente, esmagando-os. Todos logo compreenderam, era um navio inimigo. Eles estavam ali, eles dariam um fim aquela guerra.

O sábio olhou para o rei, que lhe estendeu a Mao como quem diz “te dou todo o poder, faça o que achar melhor, mas acabe com eles o quanto antes” e o sábio gritou:

– Peguem suas espadas! Guerreiros, cidadãos, homens, mulheres, defendam seu reino, morram pelo seu reino se for preciso! Acabem com todos eles!

O rei pensou em fugir quando viu todos aqueles súditos se preparando para a batalha e os inimigos se aproximando, subindo pela colina que dava acesso aos muros da capital. O rei não queria morrer e pensava que assim que os inimigos chegassem seria bom que ele não estivesse ali, pois assim caso os inimigos vencessem ele não se faria refém deles, pois o matariam na mesma hora.

Romulo também pegou uma espada, a princesa correu junto com duas de suas empregadas e se escondeu para dentro do castelo. O som dos passos do pequeno exército inimigo se aproximava dos muros e já dava para ouvir ali do pátio. Todos em silencio, esperando que os inimigos invadissem. Era o fim da guerra, era a cena final daquela história sangrenta, e não haveria mais a chance de um final mais bonito. Romulo sabia que o máximo que ele conseguiria fazer era matar todos os que conseguisse e vingar a morte do seu amor, dar um fim a guerra em honra de um guerreiro que morreu nela e não devia ter morrido. Batiam chutes contra os portões, todos juntos, e aos poucos a madeira do reforçado portão ia cedendo, até que, na sexta investida, ele se rompeu e começou.

Guerreiros com suas roupas de couro marrom contra soldados inimigos com rostos mais queimados de sol e vestimentas pretas com muitos detalhes em metal, já que a mineração de metais era o grande motor econômico do reino inimigo. Eles vieram correndo e gritando com suas espadas reluzindo no alto de seus braços e, covardes, tentaram começar atacando as mulheres, algumas morreram logo no inicio pois não saberiam se defender de um golpe de espada, mas outras foram protegidas a tempo pelos homens do reino, que se puseram na frente delas. O bramir das espadas ecoava em todas as direções como pedras preciosas tentando fazer faíscas, palavrões em dois idiomas, alguém acertou sem querer sua espada num grande ramo de flores que explodiram num milhão de pétalas roxas espalhadas pela brisa do mar, dançando em meio ao sangue dos que já morreram, em meio aos corpos de dois inimigos que ainda lutavam, golpes sincronizados, um atacava o outro se defendia e partia para o contra ataque, não eram espadas de madeira não havia espaço para erros, principalmente erros da parte de Rômulo que quase teve a cabeça decepada por um grandalhão barbudo que chegou a cortar com a lamina da espada os fios do seu cabelo loiro na frente do rosto, mas ele não sabia que o guerreiro mais habilidoso daquele reino aprendera tudo com aquele conde loiro, com aquele plebeu loiro que engrossava os braços arando a terra e agora tinha força para enfiar aquela espada, num golpe único e profundo, bem na garganta do inimigo, que olhou para ele com olhos arregalados no último instante, antes de sangrar por entre os dentes e cair tombado no chão. Rômulo tirou a espada da sua garganta e partiu para outro.

Alguns dos soldados inimigos, que provavelmente tinham uma patente mais alta que os demais soldados, vestiam capacetes de armadura para proteger o rosto dos ataques, e esses tinham uma habilidade superior na luta com as espadas e também apontavam para onde os demais soldados deviam ir, mostrando o quanto comandavam os demais; e um desses se aproximou de Romulo, os dois com as espadas sujas de sangue.

Mas antes de ele chegar até o noivo, antes até de ele ver aquele loiro e pensar em ir até ele lutar, Romulo percebeu assim que matou o inimigo barbudo que aquela sua roupa na estava ajudando nada na luta, o tecido prendia seus braços e não lhe dava liberdade para levantá-la, e então ele usou da afiada lamina da sua própria espada para cortar as duas mangas compridas na altura do ombro, o que com certeza causaria um ataque cardíaco no costureiro se ele visse a cena, seu trabalho primoroso desfiado para que os braços do rapaz tivessem mais liberdade para matar.

Aparentemente, os guerreiros e aliados do reino estavam perdendo a batalha quando aquele homem de capacete chegou até Romulo e já foi para atacá-lo, e já no primeiro golpe Romulo viu que não seria fácil, veloz a espada diretamente vindo na direção do seu pescoço, ele se defendeu no meio do caminho, mas sua espada tremeu, o inimigo tinha uma força muito grande. Romulo olhava para seu capacete como seu pudesse ver seus olhos ou qualquer parte da sua fisionomia, mas nada aparecia, era como se lutasse não contra outra pessoa, mas sim uma figura, um símbolo, lutasse contra a covardia, ou contra a fraqueza e não um soldado.

As espadas se afastaram os dois deram um passo para trás, e depois se atracaram de novo. Duas três vezes atacavam e contra-atacavam e ninguém conseguia vantagem sobre o outro, mesmo quaqndo ao seu redor as ouytras batalhas acabavam, os guerreiros perdendo, alguns sendo mortos, outros amarrados e feitos de reféns, talvez virassem escravos quando a guerra acabasse. O rei não lutava, sentado numa simulação do seu trono ali no altar, ao lado do padre, protegido por uma intransponível guarda de vinte guerreiros, e gritava, ordenava que seus homens vencessem mesmo vendo que a maioria perdia e as flores roxas caiam sobre poças de sangue, sobre corpos em riste.

E aqueles dois em transe, lutando com suas espadas a refletir o brilho do sol. Rômulo esperava que o inimigo perdesse o ar em algum momento e ficasse mais lento, mas não acontecia, o outro cadenciava muito bem a respiração, não falhava nesse aspecto, que poucos prestavam atenção mas Romulo sempre cuidou, e ensinou Arthur a cuidar. Agora, falando assim, esse soldado... não não... só podia ser coisa da sua cabeça. Não era possível. Romulo tentou atacar mais uma vez, agora com mais força porque sua cabeça estava pregando peças e ele não gostava disso, seu golpe foi despreparado e o outro conseguiu defender e ataca-lo de volta na altura do ventre, mas Romulo deu dois passos para trás e conseguiu fugir do corte no estomago. Mas então ele foi para frente de novo e aproveitando-se de uma baixa guarda do inimigo, lhe deu uma rasteira e o fez cair no chão, levantou a espada. Mas não quis mata-lo ainda, depois daquela loucura que passou pela sua cabeça ele não teria coragem, não sem antes ter certeza que aquele homem com capacete não era... não era seu ruivo.

– Tira o capacete.

O outro não respondeu nem se moveu, como se não entendesse o idioma. Romulo se abaixou sobre ele, o homem deitado e Rômulo imobilizando-o sentado sobre sua barriga. Tentou puxar o capacete para fora repetindo para que ele o tirasse, mas na hora exata o outro tocou no seu braço e não deixou que ele tirasse o capacete.

Tocou no seu braço.

Segurou seu braço no ar. Por alguns segundos, mas que pareciam fatias da eternidade.

Seus dedos segurando bem no músculo do bíceps de Romulo, que olhou para aquele ponto, aquela era exatamente a mesma maneira que Arthur segurava no seu braço, tanto quando eram meninos e Arthur perguntava porque ele tinha braços assim tão grossos e Romulo respondia que era porque trabalhava na terra e que um dia Arthur teria também, quanto no dia em que transaram no chão do quarto e Arthur segurou no seu braço enquanto gozava dentro do cuzinho do loiro.

Era o mesmo toque, as pontas dos dedos, mesmo com luvas, querendo perfurar a pele, agarrar o músculo, massagear a dureza, a força, brincadeira de homens.

Romulo olhou para o rosto dele outra vez, ou melhor, para o capacete, e de alguma forma já não havia dúvidas, embora não entendesse, porque Arthur estava do lado do inimigo, porque lutava com Romulo? E também seu coração se enchia de alegria, mesmo sem entender, alegria por saber, sentir, que era ele, que estava vivo.

Mas então o homem de capacete se aproveitou do momento de distração e girou o corpo, e usou toda força para derrubar Romulo no chão e ficar sobre ele, e tirou a espada da Mao de Rômulo, jogando-a longe, bem no ponto em que o conde era o único lutador do lado do reino que ainda não fora feito refém ou assassinado, e o rei assistia a cena que significava seu fim, a derrota na guerra. O inimigo amarrando as mãos de Romulo nas suas costas e ele já reagia, só olhava para aquele homem silencioso. Seu Arthur, ainda não tinha duvida alguma, era Arthur, e ele nunca atacaria Arthur, nunca reagiria.

Mas...

Será que estava enganado?

Será que era uma armadilha do seu coração que sentia tanta saudade do ruivo?

Romulo foi levado assim como os demais reféns para a frente do rei, onde foram deixados de joelhos com um inimigo em pé nas suas costas. E o rei inimigo se aproximava, era quase como a cerionia de casamento, o rei inimigo se aproximando pelo tapete longo debaixo daquelas flores roxas vindo na direção do rei daquele lado do oceano, como se fossem se casar, ou se matar. E então, ele falou:

– Vai se render e me entregar as suas terras? Ou terei que arrancar sua cabeça para mostrar meu poder diante de vossa majestade?

– Eu posso casar minha filha com o seu filho se assim desejar – o rei retrucou com amargor em cada silaba do que dizia, vendo que nem seu conde conseguiu resistir, era o fim do noivado.

Mas o rei inimigo, velho e careca, riu metalicamente. – A essa altura sua filha vale menos que o esterco do seu reino. pode ficar com ela, pode enfia-la onde quiser, você já não tem poder, nem sua linhagem.

– Cale a boca!

O rei inimigo, em resposta a afronta do rei derrotado olhou para um de seus soldados que entendeu o sinal e matou o guerreiro que estava ajoelhado na sua frente. Esse era o plano, matar todos aqueles reféns até que o rei liberasse de vontade própria seus territórios.

Mas ele um homem orgulhoso e evitou até o fim, mesmo quando seu novo sábio foi morto e caiu sem cabeça no chão, mesmo quando moças choravam antes de serem mortas ao fio da espada na sua frente, e Romulo só pensava que se aquele fosse Arthur ele não seria capaz de matá-lo quando chegasse sua vez. Mas Arthur, Arthur não ia deixar essa barbaridade toda acontecer sem fazer nada quanto a isso.

Agora havia só eles ali no pátio. Os dois reis, o conde e o soldado de capacete junto com seus companheiros soldados que já mataram as suas vitimas. Não que o reino estivesse sem mais ninguém, ele se reergueria claro, independente de quem fosse o rei dali por diante, o reino se reergueria e novos guerreiros seriam recrutados, e novas famílias reais surgiriam. Agora, quando o rei inimigo deu um ultimato e ainda assim o outro se negou, ele olhou para o ultimo de seus homens, era o sinal.

Mas...

A espada se ergueu. E não desceu sobre Romulo.

– O que está fazendo, soldado? Mate-o!

Nada.

– Está deliberadamente me desobedecendo?

Os demais soldados murmuravam, assustados com a cena.

– Venha cá, soldado.

Ele se aproximou, Romulo apenas olhava a cena, percebendo, curioso, que a corda que o amarrava agora estava frouxa, fora afrouxada. Era ele. Só podia. Era o plano dele.

– Voce deve imaginar o que acontece com quem desobedece o rei, não é mesmo? – o velho estava vermelho, nunca lhe afrontaram assim, ainda mais um de seus homens e na frente de um rei inimigo.

O outro ainda em silencio.

– Responda, soldado!

– Voce não é o meu rei – ele disse, finalmente a primeira frase desde o começo da batalha, e então sacou a espada e mais rápido do qualquer um pudesse pensar em reagir, acertou-a no pescoço do velho rei, que morreu na mesma hora.

E então a guerra retomou sua batalha.

Agora surgiam guerreiros que haviam se escondido, e os soldados inimigos estavam desnorteados, o plano falhara não tinham idéia se deviam recuar ou continuar atacando, porque mesmo que matassem todos os guerreiros, estavam sem um rei para decretar o fim da guerra, e a guerra acabava assim, perderam a batalha final, fugiram para longe dali os poucos soldados que sobreviveram, voltando para o seu navio. Mas aquele de capacete ficou. E quando estavam apenas os guerreiros e os membros do reino naquele pátio, ele tirou seu capacete, e Romulo sorriu, sim, sim, não podia estar enganado. Foi correndo na sua direção e abraçou Arthur, apertado, muito apertado, que era do jeito que o ruivo também o abraçava de volta.

***

Lembrando lá atrás do momento em que estava naquele casebre e os inimigos entraram, Arthur não esquecera que estava vestido apenas com uma calça que nem era a calça do uniforme então não tinha como os inimigos saberem que ele era um guerreiro se não fosse o fato de que estava junto com eles. Ele se jogou no chão enquanto todos estavam sendo atacados naquele segundo de escuridão e um dos homens do inimigo o pegou pelo cabelo e perguntou, a que rei você serve, ele respondeu, ao mesmo rei que vocês, eu sou prisioneiro deles, eles estão me usando para...

Haviam entendido sem que ele precisasse completar, um ruivo com uma bunda tão apetitosa, um corpo desenhado a traços finos, masculinos mas ao mesmo tempo lascivos para qualquer homem que olhasse, claro que eles o haviam pego como escravo sexual, por isso estava seminu, por isso estava acordado no meio da madrugada com só mais um homem enquanto todos os outros dormiam e pareciam satisfeitos. Mas por via das duvidas um dos soldados perguntou a Oscar se era verdade, se eles tiveram a coragem de escravizar daquela maneira um dos reféns, e Oscar, olhando para Arthur, sabendo que sua dependia daquela resposta, teve sua última chance de se redimir, de salvar o seu querido amigo, mesmo depois de todas as idiotices e disse:

– É verdade, eu não resisti ao corpo dele, é um rapaz que tira qualquer um do serio na hora do sexo. – ele não mentiu, e sorriu com o duplo sentido da sua frase, suas últimas palavras aquelas, antes de ser morto a espada.

E quando a luz da lua voltou e todos estavam mortos no chão, Arthur já estava com os inimigos, sendo levados por eles, coberto por uma manta e explicando sua história inventada de como foi capturado, mas que era um grande soldado, que sabia lutar como ninguém, mas fora pego desprevenido, sem espada.

E nos dias seguintes lutou com eles, mostrou a eles alguma de suas habilidade e tratou de imitar o sotaque deles para parecer mais natural, foi promovido a uma classe superior soldado, que organizava estratégias, e depois fez questão de ir no navio junto com o rei de volta para sua terra. Mas nunca pensou em trair seu reino, em fazer jogo duplo, tudo sempre fizera parte do seu plano, esperar o momento certo e atacar diretamente ao rei, só assim a guerra teria um fim, e poderia reencontrar seu amigo.

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Pouco dessa história ele contou ao rei e aos demais que se aglutinavam ao seu redor, tratando-o como heroi no pátio depois do fim da batalha. A maioria ele reservaria para contar apenas a Romulo, e ainda assim, ainda que não soubessem de toda a verdade, o que sabiam era o bastante para que o promovessem, seria o chefe da ordem dos guerreiros, e isso faria dele tão grande quanto um nobre, e o rei, quando sua filha desceu da torre do castelo e se aproximou dele pedindo para que Arthur fosse o padrinho de seu casamento, e que claro não aconteceria mais naquele dia, mas agora, mais que nunca ela precisava se casar, ela precisava gerar filhos e reerguer a esperança do povo no futuro. Romulo pediu para ter a palavra:

– Meu Rei, te peço por favor que me desatrele desse compromisso, se não por mim, pelo heroísmo desse guerreiro que nos salvou a vida e o reino... Eu não posso me casar com a princesa e creio que ela também não gostaria de se casar comigo...

- Claro que quero, você é o noivo que eu mais quero - ela disse, sem nem olhar para o seu rosto, mas sim os braços ainda desnudos.

– Tem alguma coisa que você queira contar ao rei, conde Romulo? Algum motivo para pensar que minha filha não gostaria de se casar com você?

– Não é algo que eu quero contar. É algo que eu quero mostrar. – ele disse e rindo como um menino olhou para Arthur, que imaginou o que ele estava planejando.

Mas não quis acreditar que era isso, por um segundo temeu que fosse isso, porque tinha muita gente reaparecendo no pátio os que estavam escondidos durante as batalhas ressurgiam agora, principalmente mulheres e senhores de idade, mas havia homens jovens também, que acompanharam enquanto Romulo se aproximava dele, cortava o pátio de um lado ao outro para chegar até ele, olhando somente para ele, sob aquelas petas roxas ainda, e Arthur olhava de volta, e Arthur esperava com o coração em chamas que ele chegasse e que se consumasse, que nada ficaria contra eles, que ninguém teria coragem de xingá-los, de humilhá-los sendo que salvaram o reino, provaram sua coragem, e dela não dependia amarem mulheres ou homens, Arthur não tinha medo mais, nem Romulo, ou Paulo, não importava mais o nome, era ele e isso era que era importante, péla primeira vez ele era ele, quando ele chegou até Arthur e sorriu e disse “oi”, e Arthur sorriu e respondeu “oi” e Romulo tocou seu rosto doce, as pontas dos dedos viajando pelas estradas entre as pintinhas vermelhas, o tesouro daqueles lábios, os lagos daqueles olhos, floresta vermelha dos cabelos, a colina do nariz, cavernas das orelhas, seu corpo é meu mundo seu corpo e meu julgo seu corpo é meu tudo.

O beijou na frente de todos, um beijo intenso que não era só de toque de lábios, era um beijo desejado mesmo, um beijo de aproximar o corpo de Arthur do seu e segurar nas suas costas para grudar seus corpos sem nem ligar para o que quer que pensassem a princesa o rei o povo, agora estava esclarecido agora tudo fazia sentido, porque sentiu tanto a morte do seu guerreiro, porque não podia se casar com a princesa. Eles eram apaixonados. E heróis nacionais, e todo mundo teria que engolir isso.

Depois disseram que não ficariam na capital, que Romulo gostaria de rever sua terra no sul, onde pretendia voltar a viver com sua família e levaria Arthur se fosse possível.era um escândalo, mas também era bonito, o rei não podia dizer que não nem se quisesse e a princesa não podia fazer nada se não chorar baixinho envergonhada por não ter percebido antes, e as mocinhas ao seu redor a amparavam, indignadas enquanto os dois rapazes iam embora, em cavalos marrons vistosos que eram presentes do rei, iam embora só com a roupa do corpo e um com o outro na direção do sul, da estrada ao sul, sorrindo conversando em fim sem nenhum empecilho que tentasse, em vão, ser maior que o amor dos dois.

Mas antes de seguir viagem, precisavam ver um lugar, aquele lugar, aquela beira de abismo onde tudo começou, amarraram os cavalos em troncos de árvore, observaram outra vez o oceano assim como faziam lá atrás, dois anos antes. Parecia mais tempo, parecia infinitamente mais tempo. Eram apenas garotos; agora, homens na beira do abismo. E o abismo já não assustava mais, já não tinham medo de morrer depois de passarem por uma guerra, já não tinham medo nem do que as pessoas do reino iriam pensar, imagine se teriam medo de um abismo.

– Eu te amo, sabia? – Romulo falou, sentado na grama, olhando para frente, o céu no canto do retrato do horizonte.

Arthur também olhava para frente, abriu um pequeno sorriso tímido – Sabia sim.

– E quando eu... pedi ao rei que fizesse de você meu guerreiro, não é porque eu queria mandar em você, é só que...

– Shiu... – Arthur se levantou, foi até ele, que ainda estava sentado e olhando para cima, o ruivo se abaixou, beijou seu rosto, beijou seus lábios, apertou seu braço, ainda vestido de noivo, com aquelas mangas da camisa rasgadas, que estranho, que excitante, Romulo tirando a roupa de Arthur primeiro pela armadura, depois a camisa, sem querer de jeito algum parar aquele beijo, e seus dedos pela pele e pelos pelos do corpo de Arthur agora nu na sua frente, Romulo o pegou pelos braços, o puxou para baixo, o fez cair sobre seu corpo, e aproveitou que Arthur também tirava a roupa dele para girá-lo, deixa-lo deitado na grama, seu cabelo vermelho e cacheado misturando-se a grama verde, Romulo enrodilhou os dedos por entre eles e depois puxou de leve, sem saber que Arthur também o puxaria, mas pelas costas, para dentro de um abraço quente com cheiro de garoto. Fechava os olhos, aquele cheiro, aqueles hormônios cheirando como flores, mas não com a delicadeza das flores, era um cheiro bruto, forte, intenso, um cheiro de animal que era difícil descrever, era difícil raciocinar com o pau assim duro, querendo estar dentro dele, querendo ir rápido para dentro dele e não havia pensamento que conseguisse ser mais forte que as mãos de Arthur descendo pelo seu corpo, tocando o pau de Romulo, acariciando primeiro devagar, depois tão rápido que ele teve medo de não conseguir agüentar a essa tão boa e intensa de ter consigo aquele cara. Seu amigo. Agora seu garoto, seu homem.

– Deixa eu ver você – Romulo falou e ergueu o corpo, e desceu o rosto, aqueles mamilos aquele peito branco, queria saber o sabor de cada pinta, de cada milímetro, queria causar cada tipo de gemido, de arfar, até quando pôs na boca o pau do seu querido amigo e Arthur arqueou as pernas, fechou os olhos encurvou a coluna. Um dedo lá no seu cuzinho, dançando na entrada, brincando de tentar invadir, de entrar apenas alguns centímetros e voltar, e chupando o pau, e despetalando a sensibilidade do corpo do outro.

Brisa suave não era capaz de diminuir o calor dos homens na beira do abismo.

E que aqueceu ainda mais quando Romulo levantou as pernas de Arthur sobre seus ombros e foi descendo, uma chupada no saco, sugando para dentro da boca as bolas de Arthur e sentindo o gosto vermelho dos pelos vermelhos no caminho vermelho do seu rego, a língua lá ao redor e Arthur arrancando tufos de grama e dizendo em sussurro o nome de Romulo, olhava para o meio das pernas e via os olhos azuis de Romulo o olhando de volta enquanto o beijava e o sugava e o lambia e o invadia com aquela língua e Arthur batia uma com força porque parecia incapaz de agüentar, parecia não ser possível ser assim tão vivo e brilhante e aceso e em chamas e pediu, pela primeira vez pediu, me come, amor, o ruivo que nunca quis ir até o fim com Oscar e que quando foi com Romulo da primeira vez preferiu ser ativo, agora pedia por favor, implorava de olhos fechados que Romulo deixasse ele explodir, deixasse esse amor rasgar suas pregas e se abrir como uma flor amarela e vermelha, ruivo loiro, seu pau de pelos loiros se aproximando.

- Pode doer um pouco ta bom?

- Enfia tudo bem forte – se não doesse Arthur não conseguiria, já nem sabia o que pensava, já nem sabia se fazia sentido o que dizia e abriu a boca quando0 o pau entrou, como ele pediu, a cabeça indo lá para o fundo do seu corpo e ele agarrou com força os braços de Romulo, pra rasgar mesmo, como estava o pau dele lá dentro, para rasgar, e era bom, na hora do sexo era bom com força e o atrito daquele pau até o ponto frágil e sensível lá no fundo do cuzinho de Arthur que quando era tocado por aquele pau parecia capaz de levá-lo ao espaço sideral ou a profundeza do mar lá embaixo do abismo e ele só gemia porque não conseguia fazer outra coisa, não sabia mostrar de outro jeito oi quanto estava gostando daquilo e mesmo quando Romulo se deitou em cima dele e começou a beijá-lo enquanto o fodia Arthur ainda gemia dentro do beijo, levantava a bunda e gemia, rebolava e gemia, deixava seu cu forçado para fora para que fosse o seu amor para dentro o gemia, eu não vou agüentar, eu não vou agüentar ele repetia com as mãos nos braços de Romulo voando apoiado em Romulo, que acelerou naquela hora vendo que Arthur estava para gozar, seu peito vermelho seu rosto corado seus lábios entreabertos seus gemidos mais altos gritados seus pelos arrepiados suas pernas se esticando, se contorcendo sua bunda se abrindo e fechando e seu pau gozando na própria barriga sem um toque um gozo forte, um gozo de esvaziar a alma, lavar a alma na branca lava do gozo, e de olhos fechados, aos poucos, aterrissando, ainda com o pau duro, relaxando aos pouquinhos, e os pensamentos voltando, no começo bem bobinhos como “que delicia”, “Nunca gozei tanto na vida”, “Como o céu é bonito com Romulo aqui em cima de mim...” e então sentindo que lá dentro dele começava a escapar aos poucos o gozo do seu amigo, que havia gozado na mesma hora que ele, e agora sorria quando Arthur abriu os olhos.

– Foi bom?

– Foi a melhor coisa que eu já vivi.

Assim, depois, com o sol poente no fim de tarde, eles ainda nus naquela beira de abismo, sorriram, em pé, lado a lado, precisavam fazer isso, antes de voltarem e pegarem os cavalos e seguirem viagem precisavam daquilo, precisavam provar de uma vez por todas que não tinham medo, provar não para o outro, mas para si mesmos, e deram as mãos, na beira do abismo, e olharam um para o outro, com carinho, com amor, e principalmente, sem medo, e então saltaram juntos daquele abismo, para cair na água do oceano, que nunca pareceu tão refrescante quanto naquele momento em que os dois se abraçaram e se beijaram na água lá embaixo..

***

FIM.

***

PESSOAL, ACABOU! ESPERO QUE TENHAM GOSTADO DESSA PEQUENA SAGA, JÁ É A MINHA TERCEIRA HISTÓRIA DIVIDIDA EM CAPÍTULOS SEGUIDA, ME DESCULPEM PELA DEMORA, NESSE TEMPO EU PEGUEI DENGUE, SAREI DA DENGUE, ESCREVI O FINAL, NÃO GOSTEI APAGUEI O FINAL, REESCREVI O FINAL, E POR AÍ VAI... AH, TAMBÉM QUERIA EXPLICAR QUE A MINHA FORMA NARRATIVA FAVORITA SEMPRE FOI O CONTO – AQUELE DE UM CAPÍTULO SÓ – MAS QUERIIA MUITO TREINAR PARA TENTAR ESCREVER UM ROMANCE UM DIA, E ESSAS PEQUENAS SÉRIES FORAM MAIS UM TESTE QUE EU FAZIA A MIM MESMO PARA VER SE UM DIA EU CONSEGUIRIA, E AO MESMO TEMPO EU SEI QUE NÃO É SÓ EXPERIENCIA QUE FAZ A GENTE CONSEGUIR UM ROMANCE, É PRECISO TEMPO, DOMÍNIO, E OUTRAS COISAS QUE EU AINDA NÃO TENHO, POR ISSO, PELO MENOS POR ENQUANTO, PRETENDO VOLTAR AO MEU GENERO DE ANTES, QUER DIZER SE APARECER ALGUMA IDEIA DE HISTÓRIA QUE SEJA MAIS LONGA VOU ESCREVER TAMBÉM, VAI DEPENDER DE CADA CONTO, MAS PARA TODOS OS EFEITOS, NÃO SE ESPANTEM SE DAQUI PARA FRENTE VOLTAREM A SER APENAS HISTÓRIAS DE UMA PARTE SÓ OK? ATÉ A PRÓXIMA GENTE...

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Comentários

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Gosto muito do seu conto. Romance, guerra. Muito bom mesmo

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Melhor conto de todos volte liga a postar novos contos

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Amei esse conto, foi muito lindo e o jeito como eles venceram a guerra foi jogada de mestre! Esse final com revezamento foi maravilhoso, e juntos pulando o abismo, me deu um frio na barriga!

Continua com contos de um ou vários capacidade, eu adoro! Esperando pelos próximos! Bye

.e Bjss

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Perfeito, meu Guimarães Rosa dos contos. rsrs Amo suas histórias e amo mais ainda por todas terem final feliz. Bjs e volta logo!

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Caralho doido. Sei nem o que dizer, só sentir. Amei essa historia

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Jader sem palavras muito perfeito <3 e não se preocupe sendo de um capítulo só ou mais longas vou continuar acompanhando porque você escreve muito bem e apaixonadamente, só queria dizer para concertar uns erros que lhe escaparam, nada que comprometa a narrativa só sua estética como "ouytras" e "aas" nada muito chamativo, esperando o próximo bjs <3

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