Cap. 11 – Acordo
Jonas estava sem saber as horas e isso pouco importava. Voltara para o castigo e ficara lá por toda a manhã. Estava sentindo muita dor no ânus, o reto latejava, o corpo doía por causa da surra e sentia um gosto ruim na boca. Estava cansado, com medo, com frio, com fome. Ajoelhado ele olhou para frente e se perguntou, pela segunda vez, se esse era o tipo de vida que ele queria. Naquele momento, até aquele momento, ganhara apenas dor. Parte dele dizia que ele era louco, dizia que um homem na idade dele, se sujeitando a aquilo deveria procurar tratamento psicológico, mas parte dele dizia que estava no lugar onde deveria estar.
As horas passaram e não houve sinal de Adriano. A sala estava escura, apesar de ser dia, a cortina deixava pouca claridade entrar. Estava com muita fome, não comia nada desde o lanche da tarde na empresa. Estava com vontade de ir ao banheiro também. Mas ele havia deixado-o ali, estava com medo de ir atrás dele, estava com medo de desagradá-lo. Era algo que travava suas pernas e fazia as palavras embolarem na garganta – medo, isso era medo. Imaginava o macho e sentia medo de contrariá-lo. Sentia medo de apanhar de novo ou de novamente ser enrabado daquele jeito.
Algumas lágrimas caíram de seus olhos. Era a única coisa que poderia fazer, sentia-se confuso e solitário. Nunca se sentira tão sozinho em toda a sua vida, uma vez havia lido que a submissão trazia consigo a solidão, achava que era mentira, mas era verdade talvez. O choro saiu abafado e ao seu ver era impossível de ser ouvido. Chorou até que adormeceu novamente.
Quando acordou sentia dor nas costas e nos joelhos, os olhos encararam o encosto do sofá, o cu latejando como se pulsasse dentro dele, ainda ardia, mesmo horas depois.
- Venha cá!
Ele ouviu a voz do seu senhor lhe chamado.
Receoso ele foi, limpando os olhos cheios de remela na camisa. Ao entrar no quarto ele estava deitado na cama de casal nu. O pau estava deitado na perna a meia bomba e o mar de pentelhos nunca pareceu tão grande. Seus olhos negros e frios encararam Jonas, que de maneira submissa olhava os próprios pés.
- Tome um banho e volte, você está fedendo. E escove os dentes, relaxe um pouco.
Jonas saiu do quarto sem dizer nada. Foi até o banheiro e ligou o chuveiro. A água quente escorreu por seus cabelos, o vapor encheu o banheiro e de certo modo a tensão que sentia pareceu diminuir. Enquanto passava o sabão olhou para o próprio corpo, havia marcas das cintadas que levou – vergões que agora começavam a arroxear, marcas de dedos e dois chupões, um em cada peito. Ver aquelas marcas lhe deixou triste, entretanto seu pau ficou duro. Seu olhar se voltou para o próprio pau, que a meia bomba dava sinal de vida. Ele sorriu sem saber por que.
Ao sair do banheiro enrolado na toalha encontrou o dono ainda deitado olhando o teto.
- Deita aqui comigo – disse ele voltando o olhar para Jonas.
Receoso Jonas foi até ele e deitou-se ao seu lado, logo pousou a cabeça em seu peito. O nariz estava próximo de sua pele, o cheiro dele, aquele cheiro único, meio salgado, meio forte, meio amadeirado. O cheiro pareceu lhe envolver em um casulo, ele era quente e protetor. Logo sentiu uma mão acariciando seus cabelos.
- Está tudo bem?
Jonas fez que sim com a cabeça, a garganta ardia como se tentasse engolir algo que não tivesse mastigado direito. Duas lagrimas caíram de seus olhos. Elas escorreram pelo rosto e caíram sob o peito dele.
- Dorme um pouco, você está cansado... – e dizendo isso jogou o braço sobre ele. Jonas fechou os olhos sentindo o sono voltar. Os braços dele eram tão fortes e quentes e estava tão frio...
Sem perceber o sono veio e tudo ficou escuro...
Quando acordou viu que estava sozinho no quarto. Era fim de tarde, umas seis horas talvez, estava tudo frio e silencioso. A luz do fim do dia entrava na janela e sensação quente e gostosa da cama nunca lhe pareceu tão boa. Ele puxou a coberta e virou na cama, sentindo o cheiro de Adriano no travesseiro e na coberta. Nesse momento Adriano entrou no quarto, estava sem camisa, usava apenas um short e estava com o corpo molhado – parecia ter tomado banho.
- Até que enfim acordou – disse ele deitando-se na cama ao lado de Jonas. Logo o cheiro de sabonete pareceu tomar conta do quarto. Como sempre o cheiro dele era marcante.
- Dormi muito?
- Algumas horas – disse olhando o teto, logo puxou Jonas e o fez deitar em seu peito. – Comprei algumas coisas, achei que iria acordar nesse meio tempo mas pelo visto nem mudou de posição na cama.
- Eu estava exausto – disse Jonas respirando fundo, logo fechou os olhos.
Houve um momento de silêncio, o vento soprava de maneira tão leve que a cortina parecia flutuar para dentro do quarto.
- Fico pensando quando vou dominar o outro Jonas – disse Adriano de maneira pensativa.
Jonas olhou o teto branco processando as palavras dele, estava deitado com a nuca sobre o antebraço dele.
- Bem... Andei em um shopping usando um plug de dezessete centímetros, bebi xixi em um taça, depois o senhor mijou na minha boca. Fiquei ajoelhado de castigo durante horas e ainda fui literalmente estuprado – Jonas fechou os olhos respirando fundo. – Não sei mais o que quer dominar.
Ele soltou um riso baixo.
- Não esse Jonas – disse ele. – O Jonas que se permiti ser dominado.
As palavras pareceram sem nexo para Jonas.
- É como se existissem dois Jonas – disse Adriano. – O Jonas que se permite se humilhado, que deseja viver uma vida de submisso, que quer ter um dono. Um Jonas carente e fraco, cheio de duvidas e incertezas – ele deu uma pausa. – O outro Jonas é forte, não se permite sofrer, bloqueia tudo que é ruim. É alguém decidido na vida. Esse Jonas que um dia ainda vou dominar. É esse Jonas que permite o outro Jonas ser dominado. Nesses meio tempo não tive qualquer poder sobre esse Jonas.
Jonas não disse nada, na verdade não sabia o que dizer. Apenas pensou nos dois Jonas que Adriano havia falado. Será que realmente esse outro Jonas existia?
- Espero que consiga dominá-lo então – disse Jonas sorrindo de maneira triste. De repente o coração apertou e ele se sentiu triste. Ele não soube por que. De repente nem mesmo queria estar mais ali.
- Quem sabe... - disse Adriano. Logo ele perguntou - Quer café?
- Claro, nada melhor que cafeína depois de um dia como esse.
Ele se levantou e foi até a cozinha. Logo voltou com a garrafa de café e duas grandes xícaras. O cheiro do café foi reconfortante, o gosto forte e levemente doce fez com que se despertasse. Eles ficaram em silêncio enquanto apreciavam a cafeína, não um silêncio incomodo, mas um silêncio gostoso onde cada um tinha seu espaço. Adriano estava olhando a janela do quarto dele, que dava para o quintal. Logo o cheiro anunciava o cigarro acesso.
- Como vai ser agora? – perguntou Jonas. – Agora que sou oficialmente seu submisso.
- Os três testes eram para te mostrar como é – disse Adriano de costas. Suas costas eram largas e musculosas, sem nenhum pêlo. – O que pode sentir com relação aos três testes?
- Senti que havia alguém cuidando de mim, apesar de tudo. coisa de gente carente, mas nao sou carente.
Adriano não respondeu, ficou em silêncio olhando a janela sem dizer nada. O cigarro ainda estava acesso e o cheiro enchia quarto.
- É assim que vê?
- Sim – respondeu Jonas, o café estava quase frio dentro da xícara. Seu olhar se perdia nele. – Alguém que me complete, que se encaixe em mim, um “par oposto”.
Mais um longo silêncio se estendeu, não houve qualquer resposta de Adriano.
- Tenho uma coisa para você – disse Adriano depois de um tempo. Ele abriu a porta do guarda-roupa e tirou alguns papeis da penteadeira. Logo foi até Jonas e o entregou, deixando os papeis grampeados sobre seu colo.
Jonas deu um gole no café e deu uma olhada. No cabeçalho vinha escrito “Contrato entre Mestre e Escravo”.
- Meio fantasioso não? – perguntou Jonas olhando Adriano.
- Fantasioso é não tê-lo – disse cansado. Ele se sentou na cama ao lado dele. – Precisamos sempre de um norte, de algo para nos direcionar. Um conjunto de regras, um código de conduta. Esse contrato é isso, ele estipula algumas normas a serem seguidas, o que torna real o que a gente vive. Por isso não é fantasioso, ele torna isso real, possível, palpável. Tira as fantasias da nossa cabeça e transforma tudo em realidade.
Jonas pensou nas palavras. Nunca havia pensando que relações dentro do BDSM seriam reais ao ponto de terem contratos e termos. Mas as palavras de Adriano faziam todo sentindo. Aquilo fazia com que tudo na sua mente fosse algo a mais que uma fantasia sexual, algo alem. Ali ele podia ver como seria e não apenas imaginar.
- Não tem qualquer valor jurídico, mas tem suas utilidades em momentos extremos – disse Adriano pegando as folhas. Logo indicou um espaço em branco. – Aqui eu e você assinamos, concordando com todas as preferências na cama, limites, prazeres e fetiches. Duas pessoas assinam como testemunhas. Uma minha e outra sua.
- Isso está mais para algo romântico, um casamento – disse Jonas achando graça. – Acredito que isso sirva...
- Para nos resguardar – disse Adriano de maneira ríspida. – Imagine que você vá até a policia e diga que eu o estuprei – seus olhos negros encararam os de Jonas com tenacidade, dessa vez ele não desviou. Eram olhos brilhantes e vivos, pulsantes e serenos. – Esse contrato me ajuda a não ser preso e a provar que você concordou com o tudo que fizemos.
- Mas você disse que não havia valor jurídico – retrucou Jonas.
- Mas existe o bom senso – disse ele. – O BDSM é reconhecido como prática em todo o mundo. Juízes não são burros, uma pesquisada na internet e logo vão encontrar centenas de matérias sobre o tema. Um contrato com testemunhas e assinatura sua me livra de um eventual processo. Como disse, ele torna as coisas mais reais.
- Não confia em mim – disse Jonas de maneira afirmativa.
- Não – respondeu. – Te conheço a pouco tempo, não seria prudente. Sei que pensa da mesma forma que eu.
- Sim... – respondeu Jonas. – No fundo um lado meu me manda ser prudente com você.
- Por isso o contrato vai ajudar.
- Houve necessidade do contrato alguma vez? Falo em termos de processo ou alguma coisa.
- Sim – disse Adriano enchendo a xícara com o resto do café. – Frederico quebrou o braço de um escravo dele uma vez. O rapaz fez queixa dele. Durante o exame corpo e delito e encontraram marcas por todo o corpo dele. O escravo com vergonha de falar que era submisso disse que havia apanhado na rua. A policia desconfiou e bateu na porta do Fred. Foi um problema isso. Convenci o escravo a tirar a queixa. Um contrato nessa situação teria ajudado muito. Mas tenho de assumir que quebrar o braço não estava nos termos e Fred, mais uma vez se excedeu com suas lutas.
- Entendi – disse Jonas imaginando a cena e pensando no quão absurdo aquilo era.
Nesse momento Jonas sentiu curiosidade, seus olhos percorreram as folhas do contrato notando alguns detalhes, nomes que não conhecia e espaços em branco.
- E seu eu assinar, como fica?
- Mesmas regras, porem terei mais liberdade para fazer as coisas – disse Adriano. – Vou pode ter bater quanto sentir que você merece. Vai usar as roupas que mandar, cortar o cabelo do jeito que eu quero, comer o que eu quero, apanhar calado, ser fudido constantemente, beber meu mijo, ser castigado. Vai ser escravo submisso, estarei sempre um passo a sua frente e você vai me tratar com um verdadeiro dominador. essa vai ser a sua vida.
O pau deu um tímido sinal de vida entre as pernas. Os olhos fitaram o contrato.
- Vai assinar? – perguntou Adriano um pouco ansioso.
- Vou pensar primeiro, tenho que ler o que está escrito aqui – disse Jonas.
Adriano não esperava essa resposta, entretanto não disse nada. Jonas não fazia ideia do que tinha ali. Melhor ler antes e pensar sobre. Sentimentalmente sabia que depois de assinar aquilo não teria volta. Talvez ele estivesse certo, ao menos havia um sentimento de que as coisas seriam diferente a partir dali, as coisas seriam mais “reais”. sendo como for so o tempo diria.