Confesso que ao ouvir o eco do meu próprio grito me fez gelar o coração. Eu, mesmo que involuntariamente, comecei a recusar a mais remota possibilidade de que Ele jamais estaria a meu lado novamente.
Imaginar a vida sem sua cor e seu belo sorriso, parar de pensar nele assim que acordasse, esquecer que jamais voltaria a lhe fazer as vontades, ou mesmo ter que esquecer seus olhares e seu firme toque em meu corpo era o mesmo que tentar seguir por uma longa estrada cheia de felicidade ao mesmo tempo em que meu choro jamais findaria.
De joelhos, olhos fechados, rosto banhado por lágrimas quentes e amargas e as mãos tapando os meus ouvidos... Foi nessa situação que senti o toque de mãos frias e ao mesmo tempo fortes em meus ombros...
_ Olha pra mim, Tales. Olha pra mim meu irmão...
Tive medo de abrir meus olhos por conta da dura realidade que eles pudessem me mostrar. Nunca havia sentido tanto medo e ouvir a voz de Tomem, meu irmão caçula, foi como se tivesse ouvido a voz de um anjo que jamais saberei qual...
Abri os olhos e mais duas lágrimas quentes desenharam caminhos em cada lado do mau rosto...
_ Ele esta bem. Ele ta sozinho neste exato momento. Ele ta realmente machucado, mas esta vivo. Eu garanto a você, meu irmão, que o homem que você mais ama nessa vida esta vivo.
Ousei questioná-lo...
_ E como você sabe disso, Tomem? Perguntei logo em seguida por querer ter a certeza de que as palavras que ele falava acalmariam meu coração de uma vez por todas...
_ Está em você essa certeza. Eu não posso ver com clareza, mas esta em seu olhar neste exato momento. Confie em você e no que você sente... O Rodrigo esta te esperando para trazê-lo de volta.
Tomem levantou do chão e me ergueu prontamente. Em seguida seus braços me envolveram e eu renovei as minhas esperanças ainda em seus braços...
_ Obrigado, mano. Eu também amo muito você.
_ Assim que deve ser e será pra sempre. Agora vá o mais rápido que você puder e não se desespere com o que você verá lá naquele lugar. Lembre apenas que o pior passou...
Rapidamente meu Pai, Eu, Jonas Leal, Breno Porto e quatro outros Investigadores da DAS ( Divisão Anti Sequestro), além do Delegado Gomes saímos da casa da minha família e rumamos para o lugar indicado pelo homem que seria, ou já era, meu sogro.
Fomos em silêncio boa parte do caminho. O silêncio só era quebrado pela comunicação que o pessoal da DAS fazia de vez em quando entre si. Meu pensamento apesar de não estar tranquilo, estava muito mais claro e seguro. Ele estava bem e isso era o que realmente importava...
_ Uma equipe de paramédicos já foi encaminhada ao local, Delegado Gomes? Perguntei assim que esse pensamento me passou pela cabeça.
_ Sim. O pessoal do apoio já foi designado para o endereço em questão e é bem possível que cheguem ao lugar antes de nós. Falou o homem da lei.
_ Menos mal. Ele poderá receber o socorro de imediato. Isso me tranquiliza.
_ Infelizmente a coisa não funciona assim, Tales. Voltou a falar o homem.
_ O que o Senhor quis dizer com isso, Delegado? Minha voz estava cheia de incredulidade.
_ Não temos certeza quanto a segurança lá no local. Não temos como prevê se a ação que já aconteceu foi a última ou não... E seria uma irresponsabilidade colocar a vida de mais alguém em risco.
Um peso voltou a ficar em meu coração. O que me mantinha firme naquele m omento de angustia eram as palavras de meu irmão que graças a Deus fizeram morada em todo o meu ser.
_ Tudo vai ficar bem, filho... Falou meu pai pousando a mão em cima da minha mão esquerda.
_ Eu sei que vai, pai. Obrigado pelo apoio de sempre. Sem vocês a meu lado, a coisa seria bem difícil.
Jonas Leal ouviu o breve diálogo entre pai e filho e muita coisa em sua cabeça começou a cair por terra. Era palpável o amor entre esses dois. Era inegável o amor que esta família sentia uns pelos outros. Havia ali respeito e tolerância. Um pai sabia da opção sexual do filho e lhe dava apoio. Um pai que ali estava faria qualquer coisa para que seu filho não sofresse... Um pai que ali estava amava incondicionalmente o filho. E esse pai não era o homem que atendia pelo nome Jonas Leal.
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O corpo do garoto estava pendurado no mesmo lugar em que fora colocado desde a madrugada daquele sábado. As marcas era bem visíveis e a poça de sangue que se formara logo abaixo de sua perna esquerda parecia confirmar que a vida estava indo embora desse corpo, massacrado, lentamente.
Sua pele há muito já havia perdido o brilho e o viço. As veias estavam escuras por falta de oxigenação. Os hematomas pareciam ficar em alto relevo a cada respiração forçada que o garoto ainda teimava em realizar.
Nunca soube precisar o tanto de tempo que ficou ali esperando a morte chegar de vez para que todo o sofrimento a que fora sujeitado tivesse realmente fim. A dor maior era justamente a da impotência... Pois ficar ali parado a espera do próprio fim foi o pior que pôde lhe acontecer naquele momento. Após reunir todas as forças que ainda lhe restavam, Rodrigo Leal olhou pro lado e viu o corpo do tio sem vida.
Os olhos do homem que um dia respeitou fitavam o vazio em sua direção e isso era assustador. O sangue que o circundava já estava enegrecido e assim como em seu corpo, a pele do tio começava a ficar escura.
Antes de apagar de vez e seguir a tão falada luz, uma voz entrou em sua mente e disse...
" O seu fim esta muito longe do dia de hoje ".
E Rodrigo Leal finalmente fechou os olhos e não mais ouviu nada.
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Quinze minutos depois, Rodrigo Leal já estava recebendo os primeiros socorros dentro de uma das ambulâncias que haviam chegado ao local e o amado Tales Couto seguiu junto com ele para o Hospital onde o pai do mesmo era o Diretor Geral.
Havia dor no olhar de Tales sempre que ele fitava o rosto belo e sereno do seu Loirinho. Havia também ternura e confiança pois ele era por natureza um homem de fé e firmes convicções. Lembrar de todas as atrocidades a que ele, um lindo e indefeso garoto, fora submetido nas mãos do próprio tio lhe enchiam os olhos de lágrimas por não ver sentido em tanta brutalidade. O conforto veio através da voz do irmão Tomem... " Ele esta bem. Ele ta sozinho neste exato momento. Ele ta realmente machucado, mas esta vivo. Eu garanto a você, meu irmão, que o homem que você mais ama nessa vida esta vivo ". E foi pensando nessa verdade que eles finalmente chegaram ao Hospital do Sagrado Coração.
Tales Couto não se afastou um momento sequer do amado enquanto ele era examinado e preparado para a cirurgia que teria que fazer o quanto antes. Foi com o coração partido mais uma vez que ele seguiu a maca até a entrada do centro cirúrgico daquela Unidade Hospitalar. Assim que as portas fecharam, Ele, o pai Roberto Magno e o atencioso amigo Breno Porto encaminharam-se para a sala de espera que ficava no terceiro andar do prédio.
O silêncio do lugar só foi quebrado por um Tomé Santos totalmente abalado e sua mãe Silvia que pela aparência já tinha chorado tudo o que podia...
_ Tales, O Rodrigo... Cara, me diz como ele tá?!!!... É verdade que ele pode morrer? Me diz, patrão... Ele é um garoto bom e não merece isso... Por favor, Tales, me diz que ele vai ficar bem... Por favor...
Passada a emoção do momento, o melhor amigo de Rodrigo Leal finalmente se acalmou e ainda nos braços da mãe chorou por um longo tempo. As famílias foram avisadas e chegaram ao Hospital com intervalos pequenos em seus deslocamentos. Quando Vitória Couto voltou a ver o rosto do neto teve a certeza de que tudo estava sob controle e que a vitória para aquele infortúnio estava assegurada...
_ Que bom vê-lo tão seguro. De onde vem tanta força, meu neto?
_ Dele, vó que me disse ainda ontem que me amaria pro resto de nossas vidas.
_ Você esta bem, mesmo tales? E ela o olhou como se tivesse escaninhando o corpo do belo rapaz em sua totalidade.
_ Estou e ficarei mais ainda quando ele voltar definitivamente pra mim.
Tomem os ouvia pois estava logo atrás da avó...
_ Pois alegre-se meu irmão... Ele nunca saiu do seu lado e nem vai sair.
E as palavras de Tomem de Saboia Couto se confirmaram.
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Meu querido Povo do Lado Esquerdo tenho que me desculpar por fazê-los sofrer com a demora em postar após terminar a parte anterior do jeito que terminei. Mais um feriado aqui no Estado do Ceará e mais uma vez eu tô na farra com uma turma grande de amigos e amigas depois de uma semana bem atribulada tanto na vida pessoal como no trabalho. Tudo esta bem agora, Graças a Deus. Obrigado pela compreensão e saibam que os comentários foram lidos e que me motivaram mais ainda pra continuar na nossa estrada. O celular foi esquecido por mim nesses dias pois o mesmo estava clonado e sendo usado de forma indevida por estranhos... Isso me deu uma dor de cabeça que vcs nem queiram imaginar. Um beijo bem grande em cada um de vcs e o meu agradecimento pelo carinho e amizade de sempre. Nando Mota.