Eu estava na casa da minha sogra deixando algumas coisas do william que ele não usava mais, ela sempre guarda tudo dele e de repente o telefone tocou. Ela atendeu e saiu caminhando pelo corredor entre a sala e cozinha.
Foi coisa de minutos e logo ouço os gritos exaltados de raiva que ela direcionava contra o próprio telefone, tentando de algum modo constrangir ou ofender a outra pessoa do telefone.
As palavras dela, foram:
- Você estava comigo porque era conveniente para você. Eu era uma trouxa, financiava sua noitadas nos bares e puteiros, era eu quem te bancava, por que eu te amava de verdade, estava cega de amor e não enxergava as suas traições, não via todo o mau que você fazia para mim e para seu filho. E a propósito, o William está ótimo, cresceu, se tornou um homem de bem e só me enche de orgulho todos os dias. Está feliz e me faz feliz, você não perguntou, mas eu já vou te deixando a par da vida do filho que um dia você abandonou. E que nunca fez questão de dar auxílio ou amor, e agora não venha querer dar uma de pai arrependido, pois, o meu filho não precisa de você. E não pense que irá arrancar dinheiro dele para pagar suas dividas de jogos ou suas putas, porque eu não vou deixar o meu filho fazer isso. Todos esses anos sumido e de repente resolve aparecer para nos infernizar? É um aviso! Não venha atrás do meu filho que eu não sei o que eu faço contra você.
Eu nunca tinha visto a Laura tão nervosa daquele jeito, já a vi aborrecida, irritada, mas, exaltada daquela forma, foi a primeira vez.
Achei que fosse esmagar o telefone entre os dedos da mão ou atirá-lo contra a parede e fazer o coitado do objeto em pedaços.
Bom já tem algum tempo que não dou as caras aqui, esse período todo foi de muita transição para mim aqui em casa.
O Igor está morando com a Estela já tem uns três meses, estudando numa escolinha lá. Não falta um dia sequer as aulas, já tem vários amiguinhos, mas são dois desses amigos que ele mais gosta.
Meu coração está despedaçado, mas eu preciso deixá lo um pouco aos cuidados dela também.
A Laurinha está no balé, está tão focada nessa dança que eu fico apreensivo, ela é dedicada e muito exigente consigo mesma.
Já cogita uma escola particular ou uma bolsa para poder dançar integralmente.
É compensador ver o sorriso da minha filha, e me recordo das vezes que a visitei antes de adotá la, era uma menininha toda amedrontada e fechada para o mundo, estou satisfeito pela forma com que as coisas aconteceram, ela é uma outra menina, meu bem precioso.
Dona Nita está em casa, me xingando e, como sempre, chamando minha atenção e tratando o genro como se ele fosse um príncipe.
Iago está muito bem com o Raul e ambos estão pensando em irem morar juntos.
Eu percebi que de uns tempos pra cá, o Raul deu uma amadurecida e se mostra mais responsável.
A Vick voltou a morar sozinha, mas levou o meu afilhadinho com ela, a Lili está noiva, a Mara foi embora para junto dos avós e o Luiz voltou para a vida bohemia dele.
O Carlos está em Minas ainda e não o vejo desde nossa última reunião aqui em casa.
O Rick e o Jorge estão mais grudados que nunca, já construiram um quarto para minha sobrinha gata Heleninha e em breve ela virá morar por definitivo com eles.
Não sei do Gabriel e não imagino como deva estar. Atormentando algum bobo por aí.
Renan agora é peão credenciado de montaria em touros, ele já perdeu dois dentes e quebrou a clavícula, mas também ganhou uma pickup e alguns prêmios em dinheiro.
O Renato continua com a Karem e os filhos na casa que era dos sogros, a Sophia as vezes passa o final de semana comigo.
Ele e o William continuam não se bicando, mas o respeito entre ambos prevalece. Ele ainda insiste em me falar algumas frases bonitas ou me pergunta se existe ainda algum amor por ele dentro do meu coração.
Ele é um homem bonito e muito sedutor, mas meu magrelo é a minha outra metade e não vivo um segundo sequer sem ele.
William continua arteiro, mais lindo e muito mais atrapalhado que antes, é difícil descrever o amor que sinto por ele. É algo indescritível, descomunal, "não sei dizer kkk".
Eu posso ficar a noite inteira acordado, apenas para apreciar sua beleza e agradecer por nunca termos desistido um do outro.
- "Vai dormir baixinho, eu também te amo".
Ele sempre me diz isso, quando percebe que estou acordado.
Mas vou deixar um pouco os elogios e vou logo ao assunto que veio bater em nossa porta.
Quando eu conheci o William, a exatos 9 anos atrás, ele se mostrou um menino brincalhão, mas bastante sozinho.
O relacionamento dele com a mãe não era nada bom, ela era distante dele, o deixava sozinho e não se preocupava muito em saber como era a vida do próprio filho.
Eu achava estranho a forma de os dois se tratarem, eram dois desconhecidos. A Laura odiava o pai do William e acho que ela direcionava um pouco da raiva dela contra o próprio filho. Os dois viviam discutindo e se ofendendo. E essa briga dos dois durou por um bom tempo e depois que o William se assumiu gay, ela o expulsou de casa e ele foi morar comigo.
Até aí vocês que leram minha postagens devem se lembrar rs.
A Laura sempre falava do ex marido com certo rancor e mágoa, nunca falava dele perto de mim ou do filho. Minha mãe é sua confidente.
O fato é que, de alguma forma o "falecido" conseguiu descobrir o telefone da minha casa e nôs ligou.
Minha mãe atendeu o telefone e me chamou logo em seguida.
- Binho! Tem um rapaz querendo falar com você, ele se chama André.
Não o conhecíamos por nome, apenas como falecido.
Atendi o telefone e logo ele começou a conversar como se já me conhecesse de muito tempo.
- Alô? É o Fabiano, tudo bem André?
Ele me respondeu simpaticamente e muito amistoso.
- Oi! Binho né? Sou o André, o pai do William, sei que já deve ter ouvido falar de mim. Coisas ruins eu presumo, mas não é por isso que te liguei.
Eu respondi com outra pergunta.
- Sim seu André, ouvi muito sobre o senhor, só não sabia seu nome rs. Sinto muito, mas o William ainda não chegou, se o senhor quiser ligar mais tarde ou se quiser deixar seu telefone e ele te retorna.
Sei que a Laura ia ficar irritada, mas o William está com idade suficiente para decidir sobre sua relação com seu pai.
Ele perguntou se poderia nos fazer uma visita e tentar de alguma forma, reatar os laços com o filho. Meu maior desejo era que meu pai batesse na porta e quando eu abrisse, ele estivesse com a farda de sargento com cap e tudo mais, esperando por meu abraço.
Se o William tinha essa oportunidade, eu seria o primeiro a incentiva lo.
Eu mesmo sentei com a Laura e esclarecido sobre o assunto com ela.
Ela ficou vermelha de raiva, me proibiu de voltar a falar com ele, depois chorou por um bom tempo, enquanto relembrava alguns dos bons momentos em que esteve ao lado dele.
A família possuía muitos bens e depois que os pais dela vieram a falecer, a herança foi dividida entre os irmãos e consequentemente a parte da Laura foi toda gasta nos puteiros, bares e motéis de beira das estradas em que o André passava. Ele gastou quase todo o dinheiro dela, nos anos em que estiveram casados.
Pedi que ela sentasse e falasse abertamente com o William sobre o pai e juntos decidiriam o que fariam.
Eu vi nos olhos do William a felicidade em saber que o pai havia voltado, que poderiam tentar juntar laços novamente, mas vi também, a frustração por contrariar os desejos da Laura, ele estava em cima do muro.
Jurei pra mim mesmo que depois do episódio do Gabriel, eu não me intrometeria em nenhum assunto que não fosse da minha conta.
E de fato eu não me atrevi a fazer nada, mas como o universo adora me contrariar e eu tenho dedo podre para escolher as coisas.
Resolvi comemorar o aniversário do Ricardo com uma reunião da galerinha na minha casa.
Um churrasco com piscina, bebidas e violão, com meu magrelo e o Pedro tocando e cantando.
Combinamos que dentro de quinze dias seria a reunião.
O William pensou muito antes de tomar a decisão de ligar para o pai.
Ficaram horas conversando.
Ele estava nervoso, respirava fundo, como que se tivesse corrido uma maratona, esfregava as mãos antes de pegar no telefone, e quando pegou, discou várias vezes e logo em seguida desligava.
O telefone tocou e ele deu um pulo assustado e no impulso atendeu.
No início completamente sério e sem muitas palavras, mas logo foi brotando um sorrisinho no canto da boca e não demorou muito para que ambos estivessem conversando abertamente.
Depois de algumas horas conversando eu ouvi o William se despedir do pai, mas antes ele o convidou a vir para o aniversário do Ricardo.
Eu gelei na hora, pensando na Laura, mas já era tarde demais, o sogrão havia aceitado o convite e viria para a confraternização.
Em pouco menos de 15 dias eu conheceria o pai do grande amor da minha vida, eu não sabia o que fazer e muito menos como fazer.
Ele sabia que eramos casados, mas eu não sabia qual a reação dele quando nos visse pessoalmente.
Mal sabíamos que era o início do inferno, que quando esse homem entrasse em nossas vidas, ele estragaria toda a relação que eu e o magrelo tínhamos, ele seria o demônio que acabaria com nossa felicidade.