O Dan era aquele tipo de cara que não deixava você não sentir prazer nos momentos sexuais, e isso era bom demais. Com aqueles seus beijos super envolventes, ele estava conseguindo fisgar o meu interesse e a minha excitação completamente. Após tirar o seu casaco, a respiração dele e a quentura do lugar – minha sala de estar – foram virando uma coisa louca de boa. Tudo ali parecia tão pequeno, com nós dois ali...
Foi o beijo mais longo de toda a minha vida, e eu tinha gostado. Mas tudo ali se interrompeu de uma forma tão... Tão... Ícaro tinha me vindo à mente e eu deixei aquilo ali acabar. Podem me julgar, eu deixo! Cara, tudo o que eu mais queria era poder transar com o Dan naquele dia, mas não sei o que tinha acontecido comigo. Dei uma travada. Dan se afastou e ficou meio que espantado.
– O que foi, cara? Eu fiz alguma coisa de errado?
– Não, não... Me desculpa, tá? A culpa é minha.
– Sentiu alguma dor?
– Não, Dan, relaxa. Me desculpa mesmo, tá? Eu não queria...
– Théo, relaxa. Eu acho que você não tá pronto pra fazer essas coisas ainda depois que rolaram essas coisas com você.
– É isso. Com certeza, é isso. – aproveitei e embolei nessa desculpa.
– Eu acho melhor ir embora. Amanhã eu posso vir aqui pra te ver?
– Dorme aqui. Dorme aqui comigo.
– Não, prefiro ir pra casa e te deixar ter uma ótima noite de sono. Já tá tarde, Théo.
– Então vem amanhã. Amanhã.
– Não seria tolo em faltar esse compromisso. Com certeza, eu vou estar aqui amanhã.
– Vou te esperar.
Dan me deu um último beijo e saiu. Tinha saído, mas o seu cheiro tinha ficado no lugar e em mim. Mano, eu só queria saber onde era que eu ia por a minha cara. Caralho... Que ódio eu sentia de mim mesmo! Eu não acreditava de jeito algum que eu estava ficando apaixonado por quem tinha acabado de me dar uma surra... O quê que era isso, em?
Meus sentimentos estavam confusos demais: Ora eu pensava no Ícaro e ora eu me sentia preso. Preso como? Ah, não consigo explicar bem, mas me sentia como se tivesse num lugar vazio, sem amor, e que eu nunca mais fosse capaz de gostar de alguém. Era horrível. O Ícaro era tão lindo, tão lindo, mas aqueles defeitos dele, e o seus erros, estavam me fazendo desgostar dele, e eu não aceitava isso. E o Dan? E ainda tinha o Loai, que ia vim passar uns dias comigo...
Tentei dormir depois daquele episódio constrangedor com o Dan e consegui depois de embolar várias vezes na cama. Ícaro, Ícaro, Ícaro... O nome dele estava em minha mente, o nome dele estava em meu corpo... Eu repetia pra mim mesmo: “mano, ele te bateu... para com isso, Théo”... E vocês acham que parava? Não! Só aumentava. Eu queria vê-lo, eu queria reencontrá-lo para saber quais eram as atitudes que eu ia tomar quando ele estivesse ali na minha frente. Minha vontade era de enche-lo com uma surra bem forte, mas ao mesmo tempo me dava uma vontade imensa de abraçá-lo, de beijá-lo... Que ódio, que ódio eu sentia.
Acordei lá pelas 12h da tarde. Aquele sono tinha me feito bem, pois eu tinha acordado sem dor alguma nas costas, já minha cabeça... Minha primeira vontade era fazer xixi, e a minha segunda vontade era ligar pra Nina para saber como estavam às coisas com ela e como estava o Ícaro, mas eu ia parecer um fracassado fazendo isso... Eu deixei isso pra lá e fui à sala pegar o telefone. Eu já tava todo arrebentado mesmo, já tava fracassado, não ia fazer diferença entre um fracasso e outro.
Disquei o número rapidamente e coloquei na orelha. Meu coração estava calmo, tranquilo, mas acelerou quando eu ouvi um “oi”.
– Oi, quem é? – falou o Ícaro.
– Ícaro... Sou eu, o Théo.
Depois que falei isso, ouvi uma respiração rápida, forte e bem diferente do outro lado da linha.
– Théo?
E depois desse “Théo?”, o Ícaro desligou o telefone. Minha vontade era de ligar novamente, mas aí sim eu me toquei e vi que era humilhação demais. O Dan estava pra chegar e eu não podia atendê-lo com uma cara de sono, ou com a mesma roupa do dia anterior. Resolvi esquecer essas histórias e fui tomar um banho.
A água que caía no meu rosto era ótima, pois me ajudava a refletir sobre tais coisas. Quem nunca parou e refletiu num banho? Melhor lugar!
Troquei-me e comi alguma coisa. Uma comida nunca tinha sido tão sem gosto... Parece que até a água tava ficando sem gosto – sim, é isso mesmo – e a desanimação tinha tomado conta de mim. Nem consegui comer um sanduíche inteiro.
Sentei-me no sofá da sala e esperei pelo Dan. Eu tava ansioso para revê-lo e para compensá-lo pelo “incidente” da noite passada. Enquanto estava sentado ali no sofá, refleti sobre várias coisas. Todas elas voltada para o Ícaro. Pensei, pensei, pensei muito e resolvi contar tudo o que estava acontecendo pro Dan. Ele era tão legal comigo e ele poderia me ajudar, até mesmo sem violência. Por ter uns 40 anos, ele devia ser maduro e ter opiniões sensatas que não fossem aquelas desagradáveis. Esperei-o chegar e ele chegou. Me preparei pra tudo o que poderia vim daquela conversa com ele.
Abri a porta e tive uma surpresa: ele estava chorando, acabado, com as roupas todas rasgadas. Não entendi nada. Ele apenas me abraçou. Olhar aquela cena não era nada agradável. Minhas primeiras impressões: briga. Mas não, não poderia ter sido isso. Um homenzarrão daqueles apanha numa briga? Ele era másculo, forte, peitoral lindo... Duvido que tivesse sido isso. Deixei de lado as impressões e só me concentrei ali, me concentrei no momento, nele. O abracei com força e ele chorava muito em meu ombro.
– Dan, Dan, o que foi que houve, mano? Me fala!
– Eu não quero falar nada, Théo, só me abraça. – e ele me abraçava mais.
Claro, lógico, obvio que eu fiz isso. Entendia perfeitamente. Só não conseguia entender os motivos. Aos poucos, ele foi se acalmando e eu o chamei pra sentar no sofá. Rapidamente peguei copo com água e açúcar e ele tomou tudo, me dizendo um “obrigado” aos soluços. Ele ainda me abraçava e eu o dava apoio. O Dan tava horrível, todo com marcas ao corpo, seu rosto estava vermelho, suas roupas então... nem se fala!
Muito esforço eu fiz para que ele se acalmasse, e consegui. Sentei, ficando frente a frente com ele, e ele desabou.
– Então, mano, você pode me falar o que aconteceu?
– Cara, você não vai acreditar... A minha mulher, cara... Ela descobriu que eu sou gay!
– Como assim ela descobriu que você é gay, mano? Ela descobriu como?
– Me perdoa, Théo... Me perdoa, por favor... – e ele chorava mais.
– Cara, do que é que você tá falando?
– Eu fui injusto com você, mas eu realmente gosto de você...
– Dan...?!
Eu não entendia mais nada do que tava rolando, mas eu estava começando a ter uma noção do que tinha rolado. Não acreditava naquilo.