Ler cada comentário que vocês postam, me deixa com mais vontade de escrever.
Obrigado de coração a cada um de vocês que comenta meu conto.
Enorme beijo a todos!!!
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Lembranças;
Passado algum tempo depois do episódio em que meu pai viu o William me dando um selinho na sala de tv.
O Dr. Roberto já estava mais calmo e já tinha voltado a me tratar bem e a me olhar nos olhos.
Certa manhã antes de irmos para o colégio, meu pai nôs chama até seu escritório (eu e o Gabi).
- Gabriel você é o mais velho dos homens e seu irmão Henrique é um garoto bobinho e não conhece a maldade das outras crianças, por isso, você tem que ficar de olho nele, não deixe nada de ruim acontecer a esse menino entendeu? ENTENDEU? Você é responsável por seu Irmão!
E o Gabi meio assustado, me olhou e voltou a firmar os olhos em direção ao nosso pai:
- Entendi papai! Eu sempre cuido dele, não se preocupe!
E ele o fazia com veemência! Me seguia de longe o colégio todo, não me deixava conversar com os meninos e não deixava que os demais se aproximassem muito de mim. O Gabriel desde que eu me entendia por gente, sempre cuidou de mim, sua dedicação comigo era muito grande.
Eu achava que ele estava apenas seguindo as ordens do nosso pai, mas não era isso.
Ele gostava de mim, ele tinha ciúmes dos outros e por isso eu não podia dar muita atenção para os restante dos aluno.
Noutra ocasião Dr. Roberto chamou a todos no seu escritório e sem cerimônias, fez suas objeções virarem regras.
- Não se relacionem, não namorem ou vivam com uma pessoa por amor, não entreguem seus corações a pessoas que não cuidarão deles de forma boa e correta, sem machucar ou magoar vocês. Vivam com pessoas que vocês possam manipular, que dependam de vocês e que, se algum dia partirem, não farão a mínima falta para vocês. O amor é a pior arma que alguém pode ter contra vocês ou contra nós mesmos.
Nenhum de nós ali naquela sala entendeu as palavras que ele usou naquele dia, mas agora eu sabia e entendia cada frase.
Ele entregou o coração para o Carlos, mas o Carlos não soube regar o amor corretamente, transformando o meu pai num homem amargo.
Eu estava com ódio da vida, do mundo, de Deus e de tudo mais, porque eu?
Perder o pai, a mãe e ser aprisionado por um homem louco.
Uma família que infelizmente não era a minha mas que eu amava, eu os amava tanto, as crianças, Sara, Luma, até os meninos, Matheus e Suzan que eram meus cunhados.
Foi como se eu estivesse caindo num precipício, um gelinho na boca do estômago e uma leve tontura me fizeram sentar na minha cama ouvindo as lamúrias da minha mãe.
- Hick, sua mãe havia falecido e você estava desprotegido, com fome e desamparado, eu precisava agir, cuidar de você e te amar incondicionalmente.
Eu: Mãe, você sempre soube de tudo, viu a forma que ele me tratou a minha vida toda. Viu o que ele fez comigo até agora, me ameaçou, ameaçou e armou uma emboscada para o William e mesmo sabendo de tudo isso, você se manteve imóvel, calada e completamente submissa aos desejos dele. Você tem certeza que me ama?
Ela: Nunca duvide do meu amor por você Luiz Henrique, você não pode me fazer uma pergunta tão idiota como essa! Seu pai é violento, você não tem ideia das coisas que já passei nas mãos dele, mas se tem uma coisa que não me arrependo, é de ter aceitado cuidar de você. Você é meu filho e isso nunca vai mudar! Ouviu?
Eu: Mãe você sabe sobre a relação do Dr. Roberto com a Carol? Sabe que ela está gravida dele?
Mais uma vez ela não conteve o choro!
- Eu fui a melhor esposa para ele, larguei minha profissão, deixei a minha vida de lado para me dedicar ao casamento, para aprender a ser uma dona de casa. A cuidar dele com todo amor e dedicação que eu poderia. Mas eu sempre soube que ele não era feliz e procurava essa felicidade lá fora.
Eu: Mãe, você tem tempo ainda de corrigir isso, de largar dele e ir viver a sua vida. Seus filhos estão todos criados. Pare de fantasiar algo que não existe, ele é um mal caráter, possessivo, fraco e carente! Usa do poder do dinheiro para ter aquilo que perdeu quando o Carlos morreu.
Ela secou as lágrimas, engoliu a seco e se levantou da poltrona em que estava sentada;
- Seu pai não me ama, mas eu o amo. Resolva a sua vida Hick, faça o que precisa fazer, mas antes de ter todas as informações que precisa, é melhor você manter tudo isso em sigilo absoluto. Se ele descobre uma coisa dessas, eu não sei do que ele será capaz!
Ela me deu um beijo e caminhou para fora do meu quarto.
Me deixou com um vulcão em erupção dentro da minha cabeça, meu peito parecia ter um buraco, faltava alguma coisa.
Agora eu precisava saber do Gabriel, como ele sabia sobre os nossos pais? Procurei ele por toda a casa até encontrá-lo na sauna.
- Gabriel, nós precisamos conversar!
Ele me olhou e ficou esperando que eu continuasse a falar.
- "Meu pai"! O meu pai é isso Hick.... O meu pai é aquilo Hick..... Cuidado com o meu pai Hick.... Não desobedeça o meu pai Hick. Essa a frase que você sempre usou quando dizia algo relacionado ao Roberto. Você sempre soube que eu não era seu irmão?
Ele pensou algum tempo e respondeu:
- Eu beijava a barriga da mamãe, conversava e cantarolava para minha irmãzinha que estava la dentro, nunca me disseram que havia um menino também. Fiquei maravilhado com a chegada de duas crianças, gêmeos, uma irmã e um irmão. Eu tinha acabado de completar sete anos e vocês dois chegaram em casa.
Havia um quarto todo rosa que precisou ser dividido numa parte rosa e outra toda azul, não tinha nada de menino, o chá de bebê foi todo rosa, para menina e de repente você chega junto. A mamãe estava radiante com vocês e meu pai ficava conversando sozinho pelos cantos da casa. Ele evitava entrar no quarto e quando queria ver a mamãe, ele pedia que a Cida levasse você com ela, eu não entendia nada daquilo Hick, nada mesmo. Foi um período muito confuso, ele ficava mais na rua, no escritório e nos bares do que em casa. Vocês foram crescendo, gatinharam, andaram e começaram a falar. Sabe porquê meu apelido é Gabi?
Eu: Porquê? O isso tem a ver?
Ele: Meu apelido é Gabi, porque foi a primeira palavra que você disse, você tentou se apoiar no sofá e caiu sentado no chão, eu corri para te carregar e você riu para mim soltando a palavra " Gabi". Mamãe ouviu e achou o máximo e a partir de então era "Gabi" para cima e para baixo. Eu morria de medo de te machucar, de você cair, caso você se assustasse com alguma coisa e eu queria estar alí para ser o seu herói. Quando completei dez anos eu ouvi meu pai reclamando e xingando um cara chamado Carlos.
O Gabriel estava um pouco bêbado, percebi pois ele respirava forçadamente e o odor de whisky chegava até mim.
Ele continuou:
- Meu pai xingava, chorava e blasfemava contra esse tal Carlos. Quem era o cara que nas palavras do meu pai, levou toda a sua felicidade consigo? Eu entrei no escritório e perguntei a ele quem era aquela pessoa. Ele me carregou no colo e me disse que havia sido um grande amigo, e que esse amigo havia partido e deixado um presente para nós. Ele então me contou que você era esse presente, mas eu não poderia dizer a ninguém, pois, se alguém descobrisse, papai poderia ser preso. Eu fiquei com medo e não contei nada a ninguém. E você Henrique se tornou o meu presente, e o meu amor por você, só aumentava.
Os olhos do Gabriel brilhavam e minavam lágrimas, mas eu queria entender a história.
- E como você chegou na vida e família do Carlos Gabriel? Como os encontro?
Ele: Eu cresci com aquilo na minha cabeça Hick, o Carlos, ter partido e deixado um presente, que esse presente era você. Queria saber qual a sua ligação com o tal Carlos. Quando eu comecei o estágio com o meu pai, eu percebi que ele viajava a cada uma vez por mês, sempre para o mesmo lugar, mas ele não contava a ninguém onde ele ia. Um dia inventei de segui-lo para saber oque ele fazia, se tinha uma amante e ia no motel ou se tinha algum problema que mantinha escondido de todos. O segui até aquela cidade, a cidade que ele nasceu e foi criado! A cidade que guardava o amor da vida dele dentro de um túmulo. Meu pai visita o túmulo do Carlos todo dia treze de cada mês, foi o dia em que se conheceram, deixa lírios brancos pois, eram as flores favoritas do Carlos. Meu pai já foi um homem feliz, mas o destino não permitiu que ele vivesse essa felicidade. Eu procurei a família do Carlos e descobri toda a história deles. Meu pai fez tudo o que fez num momento de raiva, de rancor e mágoa, ele estava cego, não sabia o que estava fazendo de verdade e quando se deu conta das barbaridades que havia cometido, já era tarde demais e não tinha mais volta.
Eu: Do que você está falando Gabriel? É sobre ele ter me roubado no berçário? É isso ou tem mais coisas?
Ele: Eu amo você Hick, quis te ajudar, mas acho que fiz errado, espero que meu pai me perdoe, que você o perdoe um dia. Você ainda não entendeu a real gravidade dessa história, mas quando descobrir tudo, aí sim estará livre para viver a sua vida, do lado de quem ama e da forma que o deixe feliz.
Saí de dentro daquela sauna ainda mais desnorteado, eu precisava conversar com alguém que não fizesse parte de tudo daquilo.
Liguei várias vezes para o William, mas de fato o numero havia mudado ou ele tinha me bloqueado, liguei para a Patrícia, mas só dava caixa postal.
Decidi ir até a casa do William e pedir que ele pelo menos me desse um pouco de atenção, de carinho e me ouvisse.
Quando cheguei lá o guarda me conhecia e me deixou entrar, tinha um carro estacionado ao lado do carro do William na garagem dele.
Eu pensei ser algum parente dele, mas quando bati na porta, tive uma surpresa digna de filme.
O rapaz apenas de toalha enrolada na cintura, todo molhado, devia estar no banho e logo em seguida eu escuto a seguinte frase:
- "Quem é amor"? "Anda logo "mor" volta pra cá!
Eu não entendi nada e gaguejei.
- Ôo...ôo.... Wi...li...am....
Ele: William? Está sim, calma aí! WILLIAM VEM AQUI AMOR, TEM UM RAPAZ QUERENDO FALAR COM VOCÊ!!!
Ele gritou para o William e ficou me encarando na porta.
O William veio já dizendo que não estava esperando ninguém e quando me viu, não sabia oque dizer, se voltava para trás ou se pulava atrás do sofá para se esconder de mim.
- Henrique? O quê você está fazendo aqui?
Eu: Estou fazendo a mesma pergunta William! Se não queria mais ficar comigo porque voltou com seu namoradinho, era só ter falado, pelo menos eu teria evitado muitos transtornos em minha vida, seu filho de.... Não, sua mãe não merece esse palavrão, seu desgraçado.
Fui embora da casa dele ainda mais chateado com tudo, parecia que a maldição do Dr. Roberto estava agora caindo sobre mim. Entrei num táxi e voltei para a mansão. Chorei tanto que não sei de onde saíram tantas lágrimas.
A vida não estava sendo legal comigo!
Eu voltei para casa e vi que a sauna ainda estava ligada, o Gabriel estava lá dentro, deitado. Pensei que estivesse dormindo, mas não estava, ele tinha desmaiado. Entrei em desespero, chamei ele, bati, saqualhei seu corpo e nada dele acordar. Tentei sentir o pulso, mas sem sinal, fiz respiração boca-a-boca e massagem cardíaca varias vezes até que sinto a lingua dele se entrelaçar procurando a minha.
- Você tem merda na cabeça Gabriel? Quer me matar de susto?
Ele riu e perguntou:
- Ficou com medo de me perder Hick? Ficou com medo de perder o mano mais velho e gostosão? Hum? Vem aqui vem, me dá um abraço.
Eu realmente me assustei, esqueci de todos os meus problemas naquele momento, mas fiquei feliz e até achei graça na brincadeira dele e fui de encontro para o abraço.
