Lembro-me que, nos tempos da escola, o Ícaro era aquele tipo de garoto que não bebia, nem fumava, nem fazia nada por que não queria manchar o nome da família, que era conhecida por toda a cidade – que era de interior – e ele tentava manter as aparências. Ele não fazia esse tipo de coisa porque não gostava mesmo, era um garoto bem comportado, digo assim de passagem. Se algum colega nosso de sala nos oferecesse bebida, ele xingava, dizia que nunca ia tocar nessas coisas... Eu o olhei naquele estado e lembrei-me dessas coisas. Olha a mudança do ser humano!
– Ícaro? O que é que você tá fazendo aqui? Tá bêbado? – falei curioso.
– Me deixa entrar, mano. Eu quero entrar aí, Théo! Quero falar com o meu amigo Théo!
Um ódio imenso e horroroso me subiu pelo corpo e eu fiquei parado. Comecei a bufar pelo nariz, a minha respiração ficou forte e ele me estranhava.
O Dan me veio a mente naquele momento. Sua leveza, seu cheiro... Ele... Tudo aquilo tinha me vindo a mente. Fiquei calmo de repente. Foi uma coisa inacreditável. Minha vontade mesmo era de socar a cara dele de porrada, dar muito nele, me aproveitando por ele estar bêbado, mas não fiz isso, graças aos motivos citados.
– O que é que você veio fazer aqui, seu otário? Vai me bater de novo? Hoje eu arrebento a sua cara! – falei mais calmo.
– Ícaro quer entrar. Me deixa entrar, Théozinho! – falou caçoando.
– Você quer o quê aqui?
– Me deixa entraaaaar! – berrou.
Nesse momento, ele caiu no chão. Vi que algumas pessoas saíram dos seus apartamentos para ver o que tinha rolado. Eu os tranqüilizei. O Ícaro caiu no chão desacordado e eu o socorri. Como eu tinha ficado preocupado, ah, como eu tinha. O peguei pelo braço e levei pra dentro, colocando-o na minha cama. O cheiro de bebida empreguinou no quarto e aquilo me excitava.
Tinha chegado o momento de tesão. Eu me afastei, ficando em pé na porta do quarto e eu observei o Ícaro com o maior olhar apaixonado. Sua aparência não era uma das melhores, mas seu charme estava ali. Os seus pés estavam sujos, suas roupas estavam rasgadas, mas meu encanto não se quebrava. Fui a cama e o levantei com cuidado. Tirei sua camisa e vi que tinham hematomas nas costas, e em seu ombro tinha vários cortes e um pouco de sangue. Os hematomas eram por causa da Nina, que tinha batido nele, mas e os cortes e o sangue? Aquilo tinha sido recente. Ele tinha se envolvido com alguma briga. Também reparei, ao tocar em seu rosto, que ele tava muito quente, muito quente mesmo. Sem dúvidas, era febre. Eu fiquei um pouco assustado, sem saber o que fazer. Quando eu o apoiei de volta na cama, Ícaro, imediatamente, acordou tossindo. Era uma tosse bastante forte.
– Ícaro... Ícaro... cê tá bem, mano? – e bati forte em suas costas.
Ele não me respondia, tossia, tossia e tossia. Minha preocupação aumentou bastante. Eu nunca tinha cuidado de ninguém doente, ou bêbado, que era o caso. Quando pequeno, minha mãe quem cuidava de mim... Sempre que eu me sentia doente, ligava pra algum conhecido ou ia ao hospital mais próximo: esses foram os meus pensamentos na hora que vi o Ícaro daquele jeito. Ir ao hospital foi a minha primeira opção, mas eu não podia levar o Ícaro daquele jeito lá, ou até mesmo ao carro. Descartei essa hipótese. Pensei, pensei e pensei! Cheguei a seguinte conclusão: Dar um banho nele e chamar algum médico.
E daí que ele era homofóbico? Ele tinha me procurado. Eu podia fazer o que quisesse com ele. Eu tinha o direito de lhe dar o troco com outra moeda, e era a moeda do bem que eu iria lhe dar – do bem quer dizer que era pro bem dele, e pro meu também, hehe.
Ele já tinha parado de tossir, mas sua febre não tinha parado de aumentar. Minha preocupação estava nas alturas. Pensei em ligar pra Nina, mas resolvi ter o Ícaro só pra mim naquela hora.
Sentei-o na cama e tirei totalmente a sua camisa. Eu tinha me esquecido de como o peitoral do Ícaro era lindo: bem branquinho, com pelos finos – daqueles que chegam a furar, que estão crescendo –, com um tanquinho gostoso e aquela pequena carreira de pelos do umbigo ao paraíso. Só sentia cheiro de cachaça vindo dele, mas o seu peitoral exalava aquele cheiro de homem, aquele cheiro bom de peitoral suado e agradável... Não vou negar: eu cheirava com muita vontade mesmo! Passeei minha cabeça pelo cabelo galego dele, mordi as suas olheiras... Eu estava louco para tirar logo a sua roupa e realizar o meu sonho de infância.
Levantei o Ícaro e puxei sua calça. Como já falei pra vocês, ele não aparentava ser dotado, e era isso mesmo. O volume da sua cueca branca não me animava, mas era uma coisa linda. Apesar do corpo todo dele ser bem depilado, as suas coxas eram bem peludas, e isso me excitava muito. Levei-o até o banheiro e tinha chegado a grande hora!
Acordei o Ícaro depois de muito esforço e ele não sabia o que dizer. Estava muito bêbado. Ele me olhava, sem dizer uma palavra sequer e eu continuei com o meu “plano”. Tirei a sua cueca.
Sabe aquela sensação de sonho realizado? Era isso o que eu tava sentindo naquele momento. Uns sonham em conhecer a Disney, outros em ser rico, outros em arrumar um namorado... Eu sonhava em ver o pênis do Ícaro. Desde a adolescência eu tive esse sonho em mim.
O pênis dele era lindo. Bem branco com o prepúcio cobrindo tudo e bem cheio de pêlos na área toda. O corpo todo depiladinho e o saco todo peludo: típico homem brasileiro.
Não vou mentir: aquela tinha sido a melhor sensação da minha vida. Apesar de ser pequeno, era lindo demais. Minha vontade era de fazer outras coisas com ele, mas aquele meu sonho realizado já tava de ótimo tamanho.
O Ícaro estava acordado, me olhando, bêbado e sem dizer nada. Esse era o meu maior tesão. Eu estava fazendo tudo aquilo e ele estava vendo. Tudo bem que ele tava inconsciente, mas...
Liguei o chuveiro na água quente e coloquei o Ícaro de baixo. Peguei o sabonete e comecei a ensaboar aquele corpo maravilhoso. Vamos ao começo e aos detalhes: Fui logo em seus poucos cabelos, depois desci pra seus braços – eu tenho um tesão louco por braços fortes – e depois pro seu peitoral, onde eu demorei uns vinte minutos pra sair; desci mais e lavei seu pau e suas bolas – não existe melhor sensação do que essa – e aquilo era incrível demais, meus sonhos se realizando na mesma hora; e depois lavei suas pernas e logo após foi a bunda peluda dele. As melhores coisas da minha vida em uma única noite.
O banho foi maravilhoso. Aproveitei cada segundo ao lado dele, e fiz o que os meus sonhos me mandaram. Na hora de colocar uma roupa dele, sentei-o na cama e fiquei reparando naquele corpo maravilhoso outra vez. Ele me olhava com um olhar morto, bêbado e bêbado de sono. Peguei uma cueca minha e vesti nele, aproveitando pra dar umas pegadas lá. Coloquei uma camisa branca minha, passei um perfume e o deitei na cama. O quarto tava bem frio e eu o cobri.
Fui à sala e me sentei ao sofá. Tinha ido ali por um motivo: chamar um médico pra me ajudar. Fiz isso? Fiz, mas demorei um bocado. Ao sofá, pensei, com um sorriso de orelha a orelha, em tudo o que tinha rolado ali. Os meus instintos não queriam brigar com o Ícaro como eu pensava, e sim cuidar dele ao máximo que podia.
Que porcaria de instintos. Nunca mais fui por ele e hoje estou bem. Mas enfim, vamos continuar.
Várias coisas se passaram pela minha cabeça e eu só queria que tudo aquilo demorasse pra acabar.
Liguei pra um amigo e ele me recomendou um médico ótimo.
– E aí, Carlos!
– Opa, Théo. Quanto tempo, em!
– É! Olha mano, eu sei que é meio tarde, mas eu quero te pedir uma coisa... É muito grave!
– Diz logo o que foi, Théo. No que precisar, tô aqui. Manda a letra!
– Você sabe o número de algum médico que atenda em casa a essa hora da noite?
– Olha cara, tá tarde e\
– (eu o atropelei) Mano, tô ligado que tá tarde, mas por favor, eu imploro. Eu pago mais, se for o caso... Cê sabe algum médico?
– Sei, sei sim. Liga pro Dr. Esdras, esse aí que vou te passar o número. Ele é o médico da minha família há anos. Muito gente boa.
– É um ótimo profissional?
– Sim, mas é caro, tá? E ele pode cobrar mais pra atender essa hora.
– Isso é o de menos, mano.
Ele me passou o número do doutor e eu liguei pra ele. Em menos de meia hora ele estava na minha casa. O doutor chamou a minha atenção: alto, bonitão, pele nem morena nem branco, barbudo, olhar meio vesgo – mas nada exagerado – e com a voz linda. Esqueci isso na hora e foquei no Ícaro.
Encurtando: Ele medicou o Ícaro, fez alguns diagnósticos e me deixou com alguns remédios. Na hora de ir embora, eu lhe dei o seu dinheiro e ele me retribuiu dizendo que a consulta tinha sido de graça. Eu fiquei meio desacreditado... Além de devolver o meu dinheiro, ele me deu o seu número pessoal. Eu tinha ficado feliz.
– Pra quê isso? – perguntei com o cartão já na mão.
– É pra você me ligar. Se aquele ali não for o seu namorado, é claro.
– Ele é meu amigo, doutor. Tô cuidando dele, só isso.
– Então me liga. Esse é o meu número pessoal. Espero que um dia eu possa voltar aqui ou ouvir a sua voz pelo telefone.
– Grato por tudo, doutor.
– Me liga, então. Quem sabe, né?
Fiquei feliz mesmo por ter conseguido. Naquela hora, uma certeza eu tinha: Ícaro ia ficar bem.