As aventuras de Romildo – O amante
Uma das últimas conquistas que Amélia viu realizada foi a inauguração de um supermercadinho ao lado da padaria. Como esta estava localizada numa esquina, quem a olhava pela fachada que dava para a avenida principal, também se deparava com uma casa muito antiga implantada num extenso lote que ajudava a formar um quintal nos fundos, onde abacateiros e mangueiras faziam sobressair suas copas frondosas e, quem a encarasse pela fachada da rua secundária, vislumbrava um enorme galpão onde funcionava uma oficina mecânica. Ambos foram colocados à venda quase que simultaneamente, atiçando a cobiça de Manoel, que não demorou a adquiri-los. Demolidas as construções, restou um amplo terreno no qual Amélia sonhava ver um supermercado com duas frentes. Para tocar a obra, o velho Severino, pedreiro de mão cheia que deixara sua acanhada Xique-Xique, no sertão da Bahia, para tentar a sorte em São Paulo, há três décadas, já estava alquebrado demais para encarar algo tão vultoso, e indicou um conhecido que também almejava se instalar aqui no sul. Foi assim que um dos milhares de cidadãos, daqueles rincões subdesenvolvidos que se amontoam no nordeste brasileiro, batizados de Geraldos Magelas, com qualquer coisa mais, atrelada a título de sobrenome, começou a erguer a construção com sua equipe. Esse Geraldo Magela era um crioulo enorme da cor do chocolate, embora não tivesse a mesma fisionomia simiesca dos afrodescendentes, herdara um nariz gigantesco e largo e, um par de beiços volumosos por entre os quais reluziam os dentes destacadamente brancos. Os sentidos de Amélia se colocaram de prontidão, como sempre acontecia diante dos negros, intuindo que dali não podia vir boa coisa. Mas, era o que se tinha, e durante as obras, Geraldo foi se mostrando muito habilidoso em seu ofício, pondo em stand-by aquele radar com o qual Amélia analisava essa gente. Como seu estado de saúde, àquelas alturas, já não era dos melhores, não se opôs ferrenhamente à sua contratação. Em pouco menos de um ano, o prédio fora erguido e, o supermercado começou a funcionar, exatos dois meses antes que ela deixasse esse mundo.
Portanto, quando Romildo e Manoel, se tornaram cônjuges, após a morte de Amélia, o supermercado estava em plena atividade. Com o fim das obras, Geraldo assumiu a posição do velho Severino, que até então, era o pedreiro que erguia e fazia os reparos necessários nas casinhas que Manoel construía para alugar. Pois Severino decidira voltar para sua terra árida, uma vez que, o pé-de-meia feito por aqui era suficiente para garantir uma velhice sem perrengues. Como Romildo assumira as tarefas de Amélia depois que esta se foi, ele passou a se encontrar mais amiúde com Geraldo, ora para pegar uma lista de materiais de construção que precisavam ser comprados, ora para efetuar o pagamento semanal pelos serviços e, em outras oportunidades, junto com Manoel, para incumbi-lo de uma reforma aqui outra acolá. Foi durante uma dessas visitas, quando Romildo trazia o pagamento da semana, no final de tarde de uma sexta-feira e, quando os ajudantes de Geraldo já aguardavam pela grana, sentados sobre uma pilha de sacos de cimento num dos cômodos de uma das primeiras casinhas construídas pelo casal de portugueses, a qual passava por uma reforma geral, que Romildo, inspecionando o que havia sido feito, se deparou com a porta do banheiro entreaberta e Geraldo assobiando sob o chuveiro. O negão de mais de um metro e oitenta e cinco de altura, ensaboava o maior caralhão que Romildo já havia visto na vida. Uma benga preta e grossa, de uns vinte e cinco centímetros, donde saltava à vista uma cabeçorra rosada igualmente imensa, algo que Romildo só se lembrava de ter visto debaixo do ventre de um jegue pastando junto ao campinho de futebol onde ele ia chupar os cacetes da molecada da rua, quando adolescente. Geraldo manipulava sensualmente a estrovenga enquanto a espuma ia se formando, fazendo com que as duas bolonas chacoalhassem dentro do sacão frouxo. A musculatura avantajada do crioulo se movia debaixo da pele reluzente e molhada. O cuzinho de Romildo experimentou um espasmo instintivo e, ele se afastou dali atabalhoadamente, trêmulo de excitação, determinado a conquistar aquela pica e desfrutar o prazer de senti-la pulsando dentro de si.
- Digam ao Geraldo que não pude esperar, por favor. Aqui está o pagamento da semana. – disse afobado, estendendo o envelope com o dinheiro para um dos ajudantes.
Ele e Manoel viviam um momento de muita harmonia e entrosamento. Consolaram-se nos primeiros meses após a morte de Amélia, um nos braços do outro, um dentro do outro, nas longas noites quando o sono demorava a chegar. Durante o dia, trabalhavam incessantemente, mal se viam ou trocavam algumas palavras, mas no refúgio do quarto dava-se a comunhão visceral e prazerosa de seus corpos e, dessa intimidade carnal nasceu um sentimento diferente em cada um deles. Para Manoel esse sentimento, originou-se da conjunção entre o imenso afeto que nutria por aquele onde também encontrava a plenitude do prazer sexual, pois até então, ele sempre experimentara essas delícias em corpos separados. Para Romildo, usufruir da segurança ímpar e inédita em sua vida, que aquele peito largo e peludo lhe transmitia, quando reclinava a cabeça sobre ele depois de ter feito amor, enquanto os esfíncteres de seu cuzinho voltavam a se fechar e a umidade pegajosa de seu macho mitigava o ardor em suas entranhas, era a confirmação de que dois homens podiam viver algo mais do que simplesmente a satisfação de necessidades fisiológicas.
Depois de alguns meses dessa união, certo dia Manoel pediu a Romildo que voltassem mais cedo que de costume para casa. Mesmo tendo recebido como resposta a imprudência que seria deixar tudo nas mãos dos empregados, Manoel insistiu e reiterou seu pedido, quase uma convocação.
- Mas que tanta afobação é essa de chegar em casa mais cedo? Ai, que macho mais tarado! Ainda estou com as preguinhas sensíveis da gula com que este seu cacetão me fodeu esta manhã. – lamuriou-se Romildo em protesto.
- Quero te levar a jantar, mas, primeiramente, quero lhe entregar isto. – respondeu Manoel, com um tom sério na voz mansa, colocando nas mãos de Romildo um pacotinho dentro do qual havia uma caixinha com duas alianças, e um envelope com duas passagens para Portugal.
- Ah, meu ‘painho’, eu nem sei o que .... – começou a falar, antes de sentir as lágrimas descendo pelo rosto e, sua voz se afogar no choro emotivo que se apossou dele.
- És minha fêmea. A mais doce e carinhosa que já tive. Estas alianças devem te fazer lembrar que sou teu macho, que tens um compromisso comigo. – disse Manoel, tomando-o nos braços e beijando seus lábios que ainda tiritavam por conta do choro. – Quero que venhas comigo, conhecer a terra donde vim. – emendou.
Amaram-se naquela noite como dois ébrios que perderam o controle de suas inibições, sedentos por sexo, extasiados pela libidinagem, afogueados pelo tesão. Dali a duas semanas, o avião que os levava a Portugal, decolava alçando os céus, enquanto o medo de viajar numa máquina destas se dissolvia no peito de Romildo, encorajado pelas mãos quentes de Manoel, que seguravam as suas úmidas e aturdidas.
Durante três semanas Manoel mostrava aquilo que julgava serem os encantos de sua terra. Lugares que nem ele teve a oportunidade de conhecer quando morava lá e, que só ouvira falar por um ou outro habitante mais abastado de sua remota aldeia. Também foram até lá. Carva permanecia como Manoel a deixara décadas atrás, mísera, atrasada e perdida entre as serras. Apenas um velho tio de Manoel, encarquilhado e caduco, permanecera no lugar como um bastião assinalando a sua origem. Não reconheceu o sobrinho. Murmurou que Manoel, filho de sua irmã Joaquina, fora para aquela colônia distante, infestada de mosquitos e pragas e, que os índios haviam de tê-lo devorado nalgum dos seus rituais pagãos, e fez o sinal da cruz. Dos irmãos dele ninguém sabia. Um ele mesmo vira partir poucos anos antes de Amélia e ele deixarem a vila e, do outro chegou-lhe, uma vez, aos ouvidos, que fora atropelado, bêbado feito um gambá, por um bonde em Lisboa, numa noite de chuva torrencial. Da família de Amélia ninguém sabia. No cemitério da aldeia viu a lápide dos pais e, pela primeira vez, Romildo viu aquele homem sólido feito uma rocha, verter uma lágrima solitária, que lhe desceu pelo rosto como as gotas de chuva descendo pela vidraça de uma janela. Romildo a interceptou com seu polegar fino e beijou a face daquele que era seu tudo.
Quando voltaram ao Brasil, os empregados já desconfiavam de que, o que se passava entre os dois, era mais do que uma relação de patrão e empregado, de pai e filho postiços. Romildo questionava as posições de Manoel. Às vezes, punha-se radicalmente contra, e Manoel cedia. Em outras, era Manoel que decretava e Romildo se submetia. E assim, prosperavam, tanto nos negócios, quanto no amor, consolidando uma parceria que se podia definir pela palavra casamento, mesmo não havendo papéis oficiais que o atestassem.
O crioulo Geraldo começou a aparecer na padaria com mais frequência. Tinha sempre um argumento na ponta da língua para justificar sua aparição inesperada. Romildo se inquietava toda vez que o tinha diante de si. Atrapalhava-se naquilo que estava fazendo. Sentia o tesão percorrer sua coluna e travar seu cuzinho, recordando a imagem daquela jeba cavalar. Primeiramente, Geraldo vinha apenas com frases lisonjeiras, uma piadinha ou outra, nada além de uma conversa inocente e despretenciosa. Depois, foi afiando a língua, se insinuava, segredava seu desejo de sentir um corpinho languido, como o de Romildo, à mercê de suas fantasias libidinosas. Passou a mimá-lo com pequenos presentes, sempre longe dos olhos aquilinos de Manoel.
Romildo tinha um cu devasso e infiel e, este muitas vezes assumia o controle de suas vontades, passando por cima de tudo que fosse digno e decente. Há algum tempo Romildo vinha sentindo atração por negros e mulatos. Desde cedo haviam lhe inculcado que eram os donos das maiores e mais libertinas picas. E, desde o dia em que vira Geraldo dando um trato na sua, estremecia só de pensar naquilo entrando em seu cuzinho. Por isso, toda vez que Geraldo aparecia, ele lhe abria um sorriso largo, como se estivesse escancarando as preguinhas. Tinha sempre uma guloseima para oferecer. Um dia era uma bomba de chocolate que acabara de sair, noutro era uma fatia de bolo de morango que estava divina e, noutro ainda, era um bolinho de bacalhau que ele mesmo fizera para que Geraldo o experimentasse. Enfim, flertava e se oferecia feito uma puta.
Certo dia, Manoel às voltas com um fornecedor do supermercado que precisava ser despachado pela má qualidade dos produtos que entregava, incumbiu Romildo de levar o pagamento aos pedreiros. A fileira de meia dúzia de sobradinhos tinha acabado de ser pintada de novo, para alegria dos inquilinos. Num havia placas de ALUGA-SE, de pelo menos cinco imobiliárias, amarradas no portãozinho de ferro e noutro, ainda se estava trocando o piso do quintal. Romildo desceu do carro e, sem encontrar mais nenhum dos pedreiros do lado de fora, culpou o transito de final de tarde pelo seu atraso. Chamou por Geraldo do portão, que logo apareceu no corredorzinho lateral, sem camisa e numa calça justa e bastante puída, especialmente, junto à braguilha saliente pelo volume que se alojava debaixo dela. Romildo ficou estagnado junto ao portão, como se adentrar aquela casa fosse o mesmo que subir num cadafalso. Por fim, um braço que Geraldo enleou em sua cintura o tirou do lugar e ambos entraram no sobradinho.
- Você tem uma pele tão macia! – disse Geraldo, enfiando a mão por baixo da camiseta de Romildo.
- Desse jeito você vai me deixar vexado! – revidou Romildo – E, tire essa mãozona safada daí. – acrescentou, sem se esquivar da investida do crioulo e, dando uma risadinha matreira.
- Pensei que você fosse me pedir para colocar a mão em outros lugares desse corpinho tesudo. – sussurrou Geraldo, encostando a boca na nuca de Romildo.
- Ai tarado! Não pense que pode ir se aproveitando de mim assim. – resmungou Romildo, já assanhado pela chance de se entregar ao negão.
- Eu estou em desvantagem em relação a você! – exclamou, percebendo uma expressão de incompreensão se formar no rosto de Romildo. – Você já ficou admirando o meu caralho, enquanto eu nunca vi nada seu. – completou.
- Eu, eu ..... eu não vi nada. – balbuciou Romildo, sabendo que havia sido delatado pelos ajudantes de Geraldo.
- Tem certeza? Não se lembra de ter visto isso aqui? – perguntou Geraldo, tirando a picona, à meia bomba, fora da calça.
- Virgem santíssima, me proteja! – exclamou Romildo, excitado pela visão daquela jeba negra.
- Você acha que vai precisar de proteção? – perguntou, exibindo ostensivamente seu membro, que ele sabia ser descomunal. – Eu prometo ser bem cuidadoso! – rosnou baixinho, com a voz rouca, roçando a orelha de Romildo com seus beiços polpudos.
- Nunca me enfiaram um troço tão grande. Nem sei se vou aguentar. – respondeu, deixando transparecer que era seu desejo ser enrabado pelo negão.
As nuvens que Romildo viu tomavam o céu, durante o trajeto que fazia para ir pagar os pedreiros, se juntaram rapidamente e, haviam se tornado escuras e carregadas, fazendo desaparecer o sol daquela tarde de abril. Um vento rasante levantava folhas e papeis que estavam nas sarjetas fazendo-os voar dentro da poeira terrosa. Raios emitiam seus clarões na escuridão temporã expelindo estalidos agudos, como se uma chibata estivesse açoitando o ar, seguidos do estrondear dos trovões. Uma tempestade estava para desabar. O lado supersticioso de Romildo encarou isso como um mau agouro, pois o desejo que sentia em sua carne fraca tinha um nome e, ele bem sabia qual era. Traição. O aguaceiro que se seguiu obrigou-os a ficarem confinados no sobradinho vazio durante horas, conspirando para que a prevaricação se consumasse. Estavam na sala da casa, entre latas de tinta, embalagens abertas de azulejos, ferramentas e escadas. Geraldo meteu as mãos ásperas por debaixo da camiseta de Romildo e tocou sua pele lisa e branquinha, despindo o tronco magro e frágil. Quando os dedos grossos daquela mão negra apertaram seus mamilos rosados, Romildo sentiu um estremecimento se apoderando dele. Geraldo colou os beições num deles e o beijou com sensualidade e sedução, antes de mordiscá-lo até sentir que ele se enrijecia regalado. Em seguida, pegou uma das mãos de Romildo e a levou até sua pica, que continuava pendurada através do zíper aberto. O membro tinha a espessura de um pepino e estava quente, permitindo que a pele delicada da palma da mão de Romildo sentisse o sangue, que fluía pelas veias estufadas, dar ânimo aquele cacetão.
- Mama minha pica! – disse Geraldo, apertando o corpo de Romildo contra o seu.
Romildo obedeceu e se ajoelhou diante das coxonas musculosas e daquela estrovenga escura. Não conseguiu nem enfiar toda a cabeçorra na boca, mas esforçou-se ao máximo para fazê-lo. O negro a meteu, à força, entre os lábios rosados e úmidos preenchendo a boca de Romildo. Naquela tensão não conseguia chupar e ao tentar movimentar a língua, sentiu o reflexo incontrolável dos engulhos escalando sua garganta. Geraldo agarrou a cabeça de Romildo e meteu a rola na garganta dele, fodendo-o com impetuosidade. Sufocado com a verga entalada na garganta Romildo deixou-se foder, enquanto seu rosto vermelho de tanta penúria se afundava entre os pentelhos encarapinhados do crioulo. A rola excitada de Geraldo vertia o pré-gozo diretamente na garganta de Romildo, obrigando-o a engolir o sumo cheiroso do macho. Depois de um bom tempo, brincando, acariciando, chupando e lambendo aquele cacetão, Romildo deslizou suavemente a mão por entre a virilha de Geraldo e massageou suas bolas, fazendo-o ranger os dentes. Geraldo terminou de despir o corpinho alvo que se agarrava ao seu pescoço taurino. Acariciou as nádegas carnudas, fazendo com que Romildo tivesse a impressão de que estavam passando uma lixa nelas e, arrepiando-se todo. Romildo acariciava o tronco vigoroso e o rosto do negro com uma gana crescente. Empinava sua bundinha e apartava as pernas para que as mãos de Geraldo chegassem mais perto de seu cuzinho enlouquecido. Geraldo deitou-o de bruços ao seu lado sobre o piso de tacos e começou a morder a bunda do veado, possuído por um furor voluptuoso. O cuzinho circundado por pregas rosadas piscava obscenamente para ele, escancarando o tesão do qual estava possuído. Geraldo meteu a língua no buraquinho e fez Romildo soltar um gritinho. Lambeu demorada e torturantemente aquele reguinho macio, até Romildo implorar para que ele o fodesse. Geraldo meteu o polegar no cuzinho e o torturou com movimentos circulares e, um entra e sai, que fazia Romildo chorar de tesão. Depois, levantou-se e segurando Romildo no colo, levou-o até umas caixas onde apoiou as costas dele e abriu suas pernas. A jeba do negão estava descomunalmente dura e sedenta e, ele a forçou contra as pregas que formavam um beiço bicudinho pronto a sugar para dentro do cu qualquer coisa que se interpusesse nele. Geraldo tremia de tesão e Romildo tremia prognosticando a dor, mesmo arrombado, ele sabia que a entrada de um cacete daquele calibre em seu cuzinho não seria impune. Geraldo se inclinou sobre aquele corpinho que praticamente desapareceu debaixo do seu e beliscou os peitinhos, salientes e firmes, mordiscou a orelhinha macia e o cangote perfumado e fresco de Romildo. E, meteu o caralhão no cuzinho babado com seu pré-gozo. Romildo gritou, sentindo suas entranhas se dilacerando, enquanto Geraldo se deleitava com a carne morna se abrindo apertada em torno de sua tora negra. Sentiu que o possuía, sentiu a submissão de Romildo, sentiu a brandura da bichinha entregue à sua pica. O avanço impetuoso e dolorido se completou até Romildo sentir os culhões do negro batendo contra seu cuzinho arregaçado. Ele gemia feito cadela no cio e, Geraldo bramia de tesão, usufruindo do prazer inigualável de, pela primeira vez, possuir um veado, um cuzinho firme e cintado como aquele ao redor de seu mastro. Os esfíncteres de Romildo mamavam desesperadamente o caralhão do amante cravado entre eles, e ele gozou precipitadamente, fazendo a porra escorrer até seu umbigo. O crioulo sentia os bagos fervendo, o gozo percorrendo todo seu cacete provocando uma gastura que explodiu em jatos escaldantes nas profundezas do cuzinho de Romildo. A fúria do aguaceiro descendo sob a força do vento abafava os gemidos agudos de Romildo e os urros triunfais de Geraldo. Romildo puxou o tronco musculoso para junto de si e colou seus lábios aos beiços do crioulo, beijando-o com frenesi. Geraldo levantou o corpo de Romildo e caminhou com ele pendurado em seu pescoço, sem tirar a pica, que se movia nas entranhas de Romildo como se ele tivesse engolido um animal selvagem. Geraldo sentou-se nos primeiros degraus da escada que leva ao andar de cima e deixou seu cacete mergulhado naquela maciez que o agasalhava. O tesão não arrefecia. O cacete de Geraldo se nega à flacidez e permanecia rijo como um poste. O cuzinho de Romildo se apertava em espasmos ao redor da pica. E, ele começou a cavalgar o macho. Movia as ancas sensualmente, para frente e para trás, ao mesmo tempo em que as elevava num cadenciar lento e prazeroso, onde a verga do negão atuava como um pino sobre o qual ele rebolava assanhadamente. Geraldo urra e deixa que o veadinho devore sua rola, deleitando-se com a performance do amante. Em pouco tempo, mais uma golfada de sua gala espessa explodiu em jatos no cuzinho de Romildo, lambuzando o reguinho com o excesso que vazou. O negão confessou que ele acabara de se transformar na coisa mais importante de sua vida, que não ia mais conseguir viver sem esse prazer, sem o carinho de Romildo. E a bicha acreditou, com o corpo ainda excitado e a pelve dolorida.
Romildo chega em casa disposto a contar tudo a Manoel. No carro, a caminho de casa, ensaiou as palavras cuidadosas e moderadas com as quais revelaria sua perversão, seu pecado, que atribuiria aquele desejo insano que sua carne fraca tem por uma rola e, seu arbítrio é incapaz de controlar. Mas, toda a determinação se esvaiu quando Manoel o tomou nos braços e o beijou com doçura, quando o peito peludo e acolhedor lhe transmitiu aquela sensação de segurança única e ajuizada. Sentiu-se um miserável ingrato que seria o responsável por toda a infelicidade daquele homem, o seu homem. E calou-se. Manoel perguntou por seu atraso e colocou em suas mãos um presente.
- Feliz aniversário! Obrigado por dar sentido a minha vida. Obrigado por todo o seu amor e dedicação. – felicitou, pelos trinta anos que Romildo celebrava naquele dia, beijando-o sofregamente, entregando-lhe um relógio valioso.
- Eu que preciso agradecer, por tudo que você faz por mim, por todo esse amor ... – e começou a chorar profusamente, sentindo a vileza de seu crime, a dimensão de seu adultério, a baixeza de seu ser. Naquela tarde ele se transformara num traidor mesquinho e miserável, num sujeito abjeto e perverso, num nada.
Geraldo apossara-se dele todo, de sua vontade, de seu intelecto, de seu corpo que saciava todas as excentricidades e desvarios daquele crioulo pervertido. Romildo tornara-se um pateta em suas mãos, que se via obrigado a satisfazer todos os caprichos daquele macho que o arregaçava. O negão ficava cada vez mais exigente. Primeiro, foi o tempo que sempre lhe era exíguo demais para suas necessidades carnais, depois vieram as cobranças. Romildo vivia no luxo, nada lhe faltava proporcionado pelo velho português, era, no mínimo, procedente que também melhorasse as condições de vida daquele que tanto propiciava para aquele cuzinho ganancioso. Geraldo começou a pedir dinheiro, de início, quantias pequenas que, no entanto, cresciam conforme a sujeição a que submetia Romildo. Ele precisava trabalhar duro como pedreiro, durante horas, para ter com o que se sustentar, teria mais tempo se não precisasse trabalhar mais e, esse tempo seria todo para Romildo. Era preciso deixar o casebre acanhado nos confins da periferia para poder enrabar o cuzinho de Romildo numa cama descente. Não podia mais depender de um ônibus apinhado e, que não permitisse encontrar-se com Romildo nos horários agendados e, só um carro próprio resolveria essa questão. Para não ver o crioulo contrariado e, continuar sentindo aquela fissura insaciada no cu, por que ele não ter metido aquela jeba magnificente em suas entranhas, Romildo cedia a tudo. Chegava a tirar dinheiro do caixa da padaria e do supermercado, quando já tinha dado até as calças para o amante e este ainda queria mais. Adulterava o valor das compras e tornara-se também um falsário. A jovialidade e a alegria foram se apagando de suas faces. Dar prazer aos dois machos caralhudos, aliado a estafante jornada de trabalho, exauria suas forças.
- O que tens? Estás macambuzio há dias. Tens alguma dor? – indagava Manoel, vendo sua femeazinha prostrada e triste.
- Não. Acho que me resfriei. Isso há de passar em alguns dias, é esse tempo maluco, ora faz frio, ora faz calor, não há corpo que aguente. – respondeu Romildo.
- E estou eu aqui, com o pau a coçar de tanta vontade de comer o teu cu. Que desalmado sou! – confessou Manoel que, a despeito da idade, não via seu tesão se amainar.
- Você não é um desalmado! É meu macho e eu nunca vou poder pagar por tudo o que você fez e faz por mim. – sentenciou Romildo, tomado de culpas.
- Não me deves nada! Se o caralho ainda se anima e se afogueia é por tua causa, pelos cuidados e carícias que dás a ele e a mim. És meu amor! – revidou o português.
- Então vem! Não podemos deixar esse libertino a ver navios. – disse Romildo, enfiando a mão debaixo da cueca de Manoel e tirando o caralhão para fora.
- És um doce! Mesmo porque o tesão não satisfeito de um macho pode lhe subir à cabeça, e sabe-se lá que danos há de causar. – retorquiu Manoel, entre um sorriso safado, enquanto enfiava o dedo no cuzinho de Romildo.
Geraldo já não trabalhava mais, deixava-se sustentar pelo amante. Perambulava, a esmo, procurando diversão. Quando Romildo se atrasava para os compromissos, que nada mais eram do que entregar seu cuzinho ao peio imoral dele, zangava-se e dizia que ele também não deveria trabalhar tanto. Contrariado, arregaçava as preguinhas de Romildo com brutalidade, deixando-o marcado com as cicatrizes de sua voracidade adúltera. Romildo chorava por ser incapaz de tomar uma atitude mais firme, por ser incapaz de negar o que fosse aquele negro.
Num sábado de muito movimento na padaria, Romildo atendia a freguesia numa ligeireza habilidosa e eficiente. Aproximou-se do balcão um sujeito corpulento, a cabeleira densa do peito exposta através da camisa aberta, um jeans justo delineando as formas de um cacetão avantajado, um par de botas de bico fino cujo salto toquetoqueava contra o piso quando ele andava com as pernas bem separadas.
- Olá! Vejo que não só conseguiu o emprego como se manteve nele! – exclamou, num sorriso franco, assim que chegou próximo a Romildo.
- Como? Posso lhe oferecer alguma coisa? – respondeu Romildo, sem se lembrar, bem ao certo, se aquela fisionomia já não havia cruzado seu caminho. Seria um dos machos para quem já se entregara?
- Faz alguns anos. No ônibus, lembra-se? Você me perguntou se eu sabia onde ficava o endereço que trazia num anúncio de jornal. Um emprego nesta padaria. Eu era cobrador no ônibus que fazia a linha centro bairro e, passava aqui em frente. Está lembrado? – disse, alimentando as recordações de Romildo.
- Ah sim! Puxa, faz um tempão. Como vai? – retrucou Romildo, estendendo sua mão para o sujeito, que a apertou entre as suas de maneira pouco convencional.
- Saí do emprego pouco tempo depois daquele dia. Precisei voltar para a Paraíba, onde moravam meus pais. Sabe como é, as coisas ficam pretas por aqui, a gente volta para as origens. Piora lá, a gente volta para cá. – disse, resumindo a sina daquela população nordestina.
- E o que está fazendo agora? Voltou a trabalhar na empresa de viação? – quis saber Romildo.
- Já passei por lá, mas não estão contratando no momento. Amanhã continuo a procurar. – respondeu o sujeito.
- O supermercadinho aqui ao lado também pertence ao dono da padaria, estamos precisando de alguém para cuidar do estoque. Acha que consegue dar conta do recado? – perguntou Romildo, todo prestativo.
- Oba! Sem dúvida. Trabalhei no almoxarifado de uma empresa aqui perto antes de virar cobrador de ônibus. – respondeu, aliviado por pressentir que seus dias de procura podiam estar chegando a um final feliz.
- Então venha na segunda-feira pela manhã, vou falar com o dono e acho que na segunda mesmo você já pode começar. – retorquiu contente, por ter resolvido mais uma pendencia que os vinha atormentando há dias. – Agora, que tal um pedaço desse bolo de chocolate? – emendou, colocando sobre um pratinho descartável uma generosa fatia e, no rosto, um sorriso camarada.
- Beleza! Será que é tão doce quanto você? Aliás, até agora não sei o nome do anjo que me ajudou. – murmurou, mais reservada, mas não menos licenciosamente.
- Romildo. E você? – revidou encabulado.
- Jairo, a seu dispor. – retrucou, ajeitando o cacete, antes de pegar o pratinho.
- O que é que está acontecendo aqui? Que risinho de veado putanheiro é esse que está na sua cara? Quem é esse fulano? – irrompeu Geraldo, que se aproximara sem ter sido notado.
- Oi Geraldo! Esse é o Jairo, vai começar a trabalhar no supermercado. – justificou-se Romildo, ainda abalado pelo susto que a presença do amante lhe causou.
- Qual é meu camarada? Mostrando os dentes para o veadinho e alisando a pica. Eu sou o macho da biba, risinho e rola para ele é só a minha, tá entendendo? – rosnou Geraldo. – E agora, vaza daqui. – emendou.
- Vaza o caralho! Vá dar ordens pra suas negas, seu negro fuleiro! – exasperou-se Jairo, colocando o bolo sobre o balcão para ter suas mãos livres.
- Ah, filho da puta! Quer apanhar na frente da bichinha para ver quem é o macho aqui? – grunhiu Geraldo partindo para a briga.
- Corno, filho duma égua! – a destreza livrou sua cara do soco desferido pelo negão, e fez com que a sua mão cerrada atingisse o nariz achatado do crioulo, que crepitou enquanto os ossos se esfarelavam debaixo dos seus dedos.
A intervenção de dois policiais, que entravam naquele exato momento na padaria para tomar um café, pôs fim ao embate, mas não ao ódio que fervilhava dentro dos dois. Romildo já se tremia todo. Sabia que o crioulo descontaria em seu lombo o vexame pelo qual havia passado. Forçado a acompanhar Geraldo até um banheiro nos fundos da padaria, mijou-se nas calças quando o primeiro bofetão atingiu seu rosto. Jogou-se de joelhos diante do macho e suplicou por clemência. O negão apertou seu queixo entre os dedos e descerrou mais um bofetão.
- Bicha puta! Pensa que vai me fazer de corno como aquele desgraçado do português e se safar? Comigo não, veadinho. – rosnava colérico.
- Eu juro que não fiz nada! Só falei do emprego para o rapaz, é meu serviço. – choramingava Romildo.
- Tu só não vai levar uma coça apropriada por que está no seu local de trabalho e tem os meganhas lá fora. Mas, tu tá me devendo essa, anota aí! – sentenciou, deixando Romildo aos prantos ajoelhado sobre o chão molhado.
Manoel, que tratava de um assunto no supermercado, fora avisado por um funcionário, que esbaforido, mal conseguia relatar o que estava acontecendo. Recompondo-se e trocando a roupa mijada, Romildo voltou para trás do balcão, como se nada tivesse acontecido. Os vergões no rosto estavam inchando, mas ele tratou de colocar um sorriso para os fregueses e continuou a trabalhar, sob o olhar inquisidor dos outros funcionários. Nem Jairo, nem Geraldo estavam mais na padaria. Quando Manoel perguntou o que se passava, Romildo disse que dois fregueses haviam se desentendido diante do balcão, mas que, graças à presença dos dois policiais ali, e apontou o dedo na direção onde eles tomavam seus cafés, tudo havia se resolvido. Para os vergões que ardiam em seu rosto precisaria arrumar outra explicação, mais tarde.
Temendo levar mais uma surra, Romildo não foi se encontrar com o amante naquela tarde e, perdido, sem saber como fazer para se livrar daquele incomodo que se tornara aquele negão, chorou por sua má sorte. Mais sereno, mas não menos bruto, Geraldo deu uma surra de pica no cuzinho de Romildo, fazendo-o chorar na vara durante o encontro seguinte, o que ele suportou e até agradeceu por não ter que enfrentar os punhos animalescos do crioulo. Passada a raiva do momento, ante o adversário e rival, Geraldo pensou com seus botões que não valia a pena subjugar com tanta violência a sua galinha dos ovos de ouro. O cu arregaçado e sangrando de Romildo bastou para ele transpor aquele revés.
Ainda estava escuro, naquela segunda-feira, quando Manoel e Romildo estavam se preparando para encarar mais um dia de trabalho. O telefone tocara enquanto Romildo estava debaixo do chuveiro, e Manoel lhe disse, quando saiu, que o padeiro os havia deixado na mão mais uma vez e, que ele estava correndo para a padaria para ajudar na primeira fornada do dia, sempre a mais laboriosa.
- Não podemos mais depender desse sujeito. Hoje mesmo vou começar a procurar outro. – disse Romildo, indignado com o fato de Manoel, aquela altura da vida, ter que enfrentar um trabalho tão árduo. – Vou ver como está o estuque na casa daquela inquilina que ligou ontem, dizendo que o teto de um dos quartos havia desabado por conta de uma vazamento na caixa-d’água, e depois te encontro na padaria. – emendou, omitindo que antes teria outro encontro com seu amante, que já o esperava com os colhões a transbordar.
- Faça isso. Mas, não corra. Este trânsito está cada dia mais maluco e não quero que nada te aconteça, meu tesouro! – retrucou Manoel, beijando-o e deixando o quarto às pressas.
Romildo passou boa parte da manhã entalado entre as coxas de Geraldo, que o enrabava sem dó aliviando o peso que se acumulara em seus bagos. Amansava o negão com seus dengos e carícias e, recebia a gala morna e abundante que ele ejaculava na sua boca e no seu cu, obediente e servil. Pouco antes do almoço chegou à padaria, onde um alvoroço, já às portas, chamou sua atenção. Nem bem estacionou o carro nas vagas do supermercado, um funcionário aproximou-se correndo. Atropelando a sequência dos fatos, disse que Manoel tivera um mal súbito diante dos fornos abrasadores enquanto retirava uns tabuleiros de pãezinhos e, que se desmantelara no chão sem sentidos. Uma ambulância chamada no desespero o levara até o pronto socorro. As lágrimas escorriam pelo rosto de Romildo enquanto ele dirigia feito um louco até o hospital. Manoel deu entrada no pronto-socorro em parada cardíaca, teve um infarto, e agora estava no centro cirúrgico passando por um procedimento para tentar desobstruir os vasos afetados, relatou o médico grisalho que veio atender Romildo na recepção.
- Você é o filho dele? – perguntou o médico, examinando Romildo de cima abaixo, com aquele mesmo olhar que lançava aos seus pacientes.
- Eu sou o .... Sou parente dele sim. E como ele está? É grave? – atrapalhou-se Romildo. Por uns instantes nem ele sabia o que ele era. A não ser pela certeza de que era um adúltero, um traidor, um maldito veado que estava se refestelando na pica do amante, enquanto aquele homem bom estava morrendo de tanto trabalhar.
- Ele já tem certa idade, constatamos que é hipertenso. Eu diria que seu estado inspira cuidados. – sentenciou o médico, expondo a situação mais brandamente do que realmente era.
- Quando posso ir vê-lo? – perguntou Romildo, voltando a sentir as lágrimas descendo pelas faces.
- Somente bem mais tarde. Quando ele sair do centro cirúrgico vai para a UTI, a recepcionista vai entrar em contato, deixe seus telefones com ela. – disse em tom profissional, antes de deixa-lo a sós com seus remorsos.
No final daquele dia, Manoel morreu sem que Romildo tivesse a chance de voltar a conversar com ele. Talvez de lhe pedir perdão por todo o mal que lhe fizera. Mas, o destino lhe negou essa oportunidade e, ele teria de levar essa culpa consigo, pelo resto de seus dias. Pouco mais de uma semana depois da morte de Manoel, apareceram dois homens e uma mulher, portugueses, trajando roupas escuras e antiquadas, ela um vestido folclórico até a altura da canela, vomitando as palavras tão rapidamente, naquele linguajar estapafúrdio da terra de Camões, que Romildo teve dificuldade para entender o que eles diziam. Eram parentes de Manoel e Amélia. Um se apresentou como irmão de Manoel, os outros dois como irmã e cunhado de Amélia. Vieram resolver as questões da herança, até já tinham um advogado, e deram a Romildo um cartão do profissional, que ele deveria contatar para que as coisas se fizessem o mais brevemente possível. Miseráveis corvos agourentos pensou Romildo, depois que se foram. Enquanto seus pais adotivos de coração se matavam para conseguir um patrimônio nenhum deles deu as caras. Bastou o último baixar à sepultura para que estes lusitanos calhordas, tal qual aves necrófagas, viessem pilhar o que eles amealharam com tanto esforço. O advogado dos famigerados explicou a Romildo que, em tese, ele não teria direito a nada, que procurasse seus direitos se fosse de opinião que os tinha. Foi o que Romildo fez. O advogado que ele consultou não lhe deu muitas esperanças, se os portugueses concordassem com uma espécie de indenização, ele podia se dar por contente.
- Você trabalhou na padaria sem um registro formal. Os outros funcionários alegam que você era uma espécie de filho, ou algo assim, até a morte de dona Amélia. Depois, bem, depois o que contam é melhor que não seja levado aos tribunais. – disse o advogado.
- Eles me registraram sim. Mas esse registro nunca mais foi atualizado. Eu fui mesmo como um filho para eles, embora não tivessem me adotado oficialmente, pois tenho pais vivos e eles não eram lá muito afeitos às burocracias e, trabalhei como tal para ajuda-los a construir esse patrimônio. Após a morte de ‘mainha’, eu me uni ao meu .... ao Manoel, sim. Ele foi meu homem até morrer, não tenho vergonha disso. – explicou Romildo.
- Se quiser um conselho, vou dá-lo! Não enverede por esse caminho. Atenha-se à questão trabalhista, talvez consiga alguma coisa. Mas, se insistir nesse concubinato fora dos padrões pode se dar mal. – enfatizou o advogado.
- Mas a questão trabalhista não vai me beneficiar em quase nada. Eu tenho a certeza de que eles deixariam tudo o que possuiam para mim. Eles me amavam. Nós nos amávamos. – persistiu Romildo.
- Se quiser arriscar, arrisque. Pela minha experiência, os juízes ainda são muito reticentes nessas relações envolvendo homossexuais. Começa a haver um movimento, ainda insipiente, procurando garantir alguns direitos, mas isso depende da boa vontade do juiz que vai pegar o caso. Como você bem deve saber, da bunda de neném e da cabeça de juiz ninguém sabe o que vai sair.
Romildo não se conformava com aqueles portugueses malditos abocanhando tudo o que Amélia e Manoel haviam conseguido, dando a ele algumas migalhas como indenização. Uma ordem judicial já o havia despejado da casa onde morava com Manoel, podia-se esperar tudo da avareza dessa raça. A questão foi parar nos tribunais. Os tempos de outrora não eram semelhantes aos dias atuais e, Romildo viu questionada aquela relação libidinosa, incestuosa e pérfida como constava dos autos, com o patrão Manoel. Numa audiência os funcionários, tanto da padaria quanto do supermercado, atestaram as atividades que Romildo exercia e o afeto com o qual o casal o tratava. Era notório, para quem não os conhecia que Romildo era como um filho para eles e, que não escondiam o desejo de ele assumir todos os negócios quando eles fossem chamados para o derradeiro descanso. Mas, uma testemunha, apresentada pelo advogado dos requisitantes, atestou que Romildo era seu amante e traía o português corno debaixo de suas fuças. Geraldo, o negão canalha e vendido. Proferida a sentença, Romildo foi indenizado pelos anos em que trabalhou sem registro em carteira, na mera função de balconista e, disse adeus à vida confortável que vivia. O juiz, um velho de cabelos brancos, com uma careca reluzente salpicada de melanoses solares e queratoses, sentenciou numa voz compassada que, a relação torpe e pecaminosa e, o comportamento licencioso e pervertido, do qual o requisitante se valeu, como expediente para envolver o patrão, considerados levianos e doentios por uma sociedade que se quer considerar civilizada, não poderia ser usado como argumento para pleitear os bens do casal, indeferindo o pedido quanto à herança. Ao não encarar Romildo nos olhos na saída do fórum, Geraldo se esgueirou entre as pessoas e se escafedeu. Nesse instante, veio à mente de Romildo a frase da qual Amélia tantas vezes fizera uso para dissuadir Manoel de contratar alguém que tivesse a pele um tanto mais escura. Negro quando não caga na entrada, caga na saída. Tal qual uma profecia, a realidade a confirmou. O crioulo, depois de se fartar em seu cuzinho, de tê-lo extorquido o quanto pode, durante toda uma década, revelou seu caráter infame e desleal.