Passava de duas da manhã. Eu ainda não tinha conseguido parar de olhar o Ícaro dormir. E o banho que eu tinha lhe dado? Maravilhoso! Ter realizado o meu sonho foi a coisa mais importante. Aquela imagem do Ícaro pelado não saía da minha cabeça, ainda mais com ele dormindo ali na minha cama. Eu já tinha lanchado, tomado água, tomado banho e não conseguia dormir. Sem dúvidas, era por causa da minha preocupação. Ele dormia tão lindamente com aquela camisa branca e com uma cueca, que era minha; MINHA, MINHA. Eu nunca mais ia lavar aquela cueca.
Deitei-me na cama, ao lado dele e fiquei admirando aquele cara. Ele era tão lindo, meu Deus! Pena que Deus coloca pessoas bonitas de caráter ruim no mundo. Esse, sem dúvidas, era o maior defeito dele. Eu levei minha mão até os seus cabelos e o alisei. Era cheiroso. Fui alisando o seu rosto e o tesão subiu pela minha cabeça. Eu tomei uma séria providencia de parar com tudo aquilo, pois eu ia me arrepender se fizesse alguma coisa com ele.
Saí do quarto e fui pro outro. Fechei a porta e me deitei. Também fechei os olhos e o Ícaro não saía da minha mente. A sua imagem pelado no banho, olhando pra mim, era a mais bonita já vista pelos meus olhos.
No outro dia (no mesmo dia, só que mais tarde), acordei pelas nove e meia. Levantei-me rapidamente, fui ao banheiro e me vesti. Olhei no meu quarto e o Ícaro ainda dormia, mas todo descoberto. Reparei mais nele e ele tava com o pau ereto. Era essa a minha chance novamente.
Claro que fiquei com medo, mas fui lá. Me aproximei, mexi nele pra verificar se ele dormia mesmo, e, após da confirmação, me aprofundei. Abaixei um pouco a cueca box e vi o pau dele bem duro. Confirmei minha hipótese: era pequeno mesmo. Não tão pequeno, tinha uns 15 cm, mas era pequeno se compasse ao meu, que tenho 19. Muito grosso e bem branquinho, com a glande vermelha e pouco exposta, e tava babando.
Subi rapidamente a sua cueca e saí do quarto. O que eu pensava era em transar com ele, fazer amor com ele, ter aquilo tudo lá só pra mim, mas eu sabia que era tudo impossível. Impossível mesmo. Era apaixonado por um homem hétero e homofóbico. Quais eram as chances dele me notar ou gostar de mim? Acho que seria impossível isso acontecer.
Será que se isso acontecesse, o Ícaro mudaria por amor? Ou pelo menos se arrependeria do que tinha feito comigo? Essas perguntas me deixavam maluco por dentro. Queria o Ícaro só pra mim. Queria a qualquer custo. Mas o Ícaro estava ali para outra coisa.
Tinha chegado a hora do almoço e o Ícaro não tinha acordado ainda. Minha primeira opção era ligar pro médico que tinha cuidado do Ícaro para saber se isso era normal, mas se ele viesse ao meu apê, ele ia ficar me cantando, dando em cima de mim e etc. Decidi esperar mais pelo Ícaro. Fiz um almoço “bem light” e especial pra ele: Salada de repolho com batata frita e bife assado. Bem light mesmo.
Passava das duas da tarde e o Ícaro não dava sinal. Foi aí que eu me preocupei de verdade e liguei pro médico.
– Dr. Esdras?
– Opa, opa, quem fala? – ele falou terminando o que fazia.
– Aqui é o Théo. Aquele dessa noite.
– Oi, Théo. Como vai, rapaz? – escutei alguém falando com ele atrás.
– Tô bem, doutor, mas eu tô preocupado com o Ícaro.
– O que tem ele? Ele tá pior? A febre voltou?
– Ele ainda tá um pouco quente, mas não é isso. Liguei pra saber se é normal ele estar dormindo até agora...?!
– O quê? Ele tá dormindo ainda? Não, isso não é normal, não.
– E o que eu faço? Eu o acordo?
– Tente fazer isso. Acho que foi efeito dos remédios de ontem... Pode causar isso, mas dormir por tanto tempo assim...
– Vou fazer isso, sim! Muito obrigado.
– Mais tarde eu passo aí, Théo. Adeus.
Ia falar que não, mas ele tinha desligado de imediato. Não gostava do fato de ele ir me visitar. Eu não sentia nada por ele, mas ao mesmo tempo me senti valorizado: tinha esse médico, o Dan, o Loai (que nunca mais tinha falado comigo, e tinha o cara por quem eu era apaixonado, o meu amigo Ícaro. Ícaro eu podia descartar dessa lista, certo? Errado!
Mexi e remexi o Ícaro e ele acordou. Com muito sacrifício, ele abriu os olhos. De início, ele ficou calado me olhando com aqueles olhos lindos. Seu cabelo todo bagunçado lhe dava um charme esplendido. Ele, de repente, apoiou sua mão em meu ombro esquerdo.
– Só quero que você me desculpe por tudo, Théo. – sussurrou.
Fiquei sem palavras. Ele tinha falado com serenidade, mas eu tinha ficado acanhado. Eu devia perdoar? Em quanto tempo ele faria tudo aquilo de novo?
– Você tá bem, mano?
– Estou. Por que eu tô aqui?
– Você chegou ontem aqui, bem bêbado, todo sujo, com a roupa toda rasgada...
– E você ainda me ajudou?
– Existe muita gente diferente de você, Ícaro. Se eu chegasse na sua casa naquele estado, você não teria feito isso. Teria me espancado de novo.
– Me desculpa mais uma vez. É só o que eu quero: que você me perdoe.
– E isso vai fazer diferença? Tenho certeza que você continua a mesma pessoa que era ontem. Um preconceituoso.
– Então você é mesmo gay, cara?
– (tomei coragem e despejei) Sou. Sou gay, sim!
Ele se sentou na cama, apoiando-se na parede e olhou pro nada. As palavras tinham sumido de sua boca.
– Sou gay, sim, Ícaro. Sou gay e te ajudei quando você precisou. Sou gay e você só tá aí por causa de mim.
– Théo, será que você pode me deixar sozinho? Sei que o quarto é seu, mas eu preciso ficar sozinho um tempo...
Nem disse nada e saí do quarto, fechando a porta com força. O Ícaro tinha mudado? Mano, não tinha entendido o porquê dele não ter partido pra cima de mim... Achei que ele tivesse tomado um choque de consciência.
Almocei sozinho na mesa e depois tirei um cochilo. Ícaro não tinha aparecido por ali. Acordei já de noite e ele continuava no meu quarto. Eu não fui atrás, pois queria saber o que significava tudo aquilo.
Eu via TV sem ânimo, sem gosto de fazer aquilo. Minha vontade era de ir ao quarto e desfrutar daquele corpo maravilhoso que o Ícaro tinha, mas isso era impossível. Minha cabeça só pensava nele e mais ninguém. Ali, naquele momento, meu maior (novo) sonho era transar com ele. Já tinha realizado o de ver ele pelado, então eu parti pra outra – só que nele.
Ícaro saiu do quarto e veio até a sala já com outra roupa e tomado banho.
– Théo, muito obrigado aí por tudo, tá? Tô indo embora!
– Você vai embora?
– Vou. Eu arrumo um lugar pra ficar. Muito obrigado mesmo por ter aberto as portas pra mim. E ah, depois eu te devolvo essa roupa.
Eu nem respondi e ele já havia saído. O Ícaro não tinha pra onde ir, mas eu não implorei, nem sequer pedi pra ele ficar. Minha vontade era de fazer isso, mas não fiz.
E tudo isso se passou em dias. Como falei pra vocês, eu ia contar tudo o que aconteceu um mês depois do casamento do Ícaro com a Nina e o que aconteceu antes da chegada do Loai até o meu apartamento...
Uns três ou quatro dias depois do Ícaro se despedir, o Loai havia chegado ao Rio de Janeiro. O nosso combinado era que ele ficasse no meu apê por um tempo, mas depois do que tinha rolado com o Ícaro, ele preferiu alugar um pra ele. Logo quando chegou, ligou pra mim e marcamos o encontro num restaurantezinho pacato que tinha perto do meu condomínio.
Estava ansioso para revê-lo, mas não era amor, paixão ou alguma coisa desse tipo. Ele era meu amigo mesmo, e além disso era bonito pra burro!
Ele já me esperava no restaurante. Nos abraçamos e me deparei com a gentileza e boniteza dele. Tinha me esquecido de como ele era bonito. Sentamos e engatamos um bom papo. Tudo era um pouco estranho pra mim. Minha cabeça, meu corpo e meu espírito estava todo ligado ao Ícaro. Ao ver o Loai, não deixei de pensar em tudo aquilo no que eu já pensava. Não queria e nem podia deixar que o Ícaro estragasse essa minha relação. Sentia que ia dar certo com o Loai, mas não queria nem arriscar com medo de magoá-lo.
Fiquei sem saber o que fazer. O papo estava bom, mas não me sentia agradável. O Loai era um cara tão bom... Eu ia me enganar e enganar a ele com tudo aquilo. Uma coisa estragou aquele almoço. Não tinha sido o Ícaro.
