Antes do capítulo tenho um aviso importante, fui postar o capítulo 04 normalmente e não consegui, mandei email para a Casa dos Contos, mas até agora não responderam e para não deixar vocês na mão eu postei em outra conta.
Link para a minha conta original: http://www.casadoscontos.com.br/perfil/200713
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Uma vez ouvi o pai de Gabriel dizer: Fortes são aqueles que protegem o que amam. Aquelas palavras se repetiam inúmeras vezes na minha cabeça, eu sabia o que tinha que fazer, se fosse necessário gastar até meu último suspiro para cuidar de quem eu amava com certeza faria com prazer. Desde pequeno era claro para mim quem eu amava, meus pais, os pais de Gabriel e claro, ele. Eles eram minha família e família se cuida.
Gabriel sempre foi de uma beleza frágil, baixinho e magricela com os olhos escondidos atrás de seus óculos, ele era a minha maior preocupação, meu irmãozinho caçula que amava demais. Na nossa infância não passava disso, um amor fraternal sem medidas, mas com o passar do tempo fomos amadurecendo e passei a vê-lo de outra forma, cada vez que ele sorria meu coração acelerava, cada vez que ele me tocava sentia todo meu corpo se eriçar, cada vez que ele me abraçava sentia meu mundo desabar. Tudo aquilo foi ficando confuso na minha jovem cabeça, como eu poderia ter esses sentimentos por outro homem e pior pelo meu irmãozinho. Aqueles pensamentos me deixavam mal, mas a gasolina que faltava para aquele incêndio foi em uma noite qualquer em que eu estava pulando de canal em canal na TV quando cheguei em um daqueles canais religiosos, não sei o que me atraiu a continuar assistindo, mas ali estava eu com os olhos vidrados no discurso daquele homem. Aquele maldito discurso que destruiu minha vida, que me afastou do meu pequeno. Suas palavras invadiram minha cabeça, uma aberração, era isso que eu era, uma abominação da natureza.
Não preguei meus olhos naquela noite e nem na noite seguinte quando tomei um decisão que achei que seria certa, não podia corromper a pureza de Gabriel, eu tinha que me afastar dele e assim eu fiz.
- Bê, vamos jogar bola! – Ele batia na minha porta, a abri e encontrei ele agitado com uma bola nas mãos.
- Hoje não! – E fechei a porta na sua cara. Minhas pernas ficaram bambas e eu fui com bunda no chão, as lágrimas brotaram com facilidade nos meus olhos, eu queria parar de sentir aquele sentimento indevido, eu queria parar de sentir aquela dor, mal eu sabia que o inferno estava apenas começando.
Gabriel continuou vindo na minha casa toda as tardes, mas era sempre “Hoje não” até que um dia ele parou de vim. Na escola foi ainda mais difícil, saía de casa mais cedo para não encontra-lo, entrava na sala e ia direto para o final onde eu aguardava de cabeça baixa até a aula começar. Vê-lo a tão poucos metros de mim e não poder falar com ele era uma tortura, mas para minha sorte o ano estava perto do fim, convenci a minha mãe me trocar de turno fazendo com nos víssemos com pouca frequência, enquanto ele estava na escola, eu estava em casa e quando ele estava em casa, eu estava na escola e durante as noites me trancava no meu quarto, mas alguma vezes era impossível não vê-lo como em alguns almoços de domingo em que nossas famílias se reuniam, aqueles eram os piores momentos, me fazer de duro com ele era doloroso, vê a sua cara de decepção toda vez que me olhava me matava por dentro.
Foi aí que tomei medidas drásticas que me quebram por inteiro, me deixando apenas os cacos.
- Beba para esquecer seus problemas – Era o que meus novos amigos me diziam – Beba até não sentir mais nada.
Me deixei levar por aquilo na esperança de esquecer qualquer sentimento que ainda nutria pelo Gabriel, eu até conseguia esquecer depois de algumas doses de seja lá o que me davam, curtia, ficava alegre, fazia loucuras e conseguia parar de pensar nele por uma noite, mas eu não podia viver eternamente bêbado e sempre no outro dia Gabriel voltava para meus pensamentos acompanhado de uma forte ressaca. Tentei outra alternativa, pensei que se ficasse com o maior número de meninas me curaria daquela “abominação”, mas o resultado era totalmente o oposto, quantas mais meninas eu beijasse, mas imaginava qual devia ser sensação de beijar Gabriel, tocar naqueles lábios aveludados, ter seu corpo colado no meu.
O resto do meu mundo caiu quando o pai dele se foi, foi ali que me dei conta de que nunca havido sido forte na minha vida, eu sempre fora fraco, não podia ir conforta-lo, não tinha forças para isso, como alguém quebrado como eu iria ajudar alguém a se recuperar de uma situação como aquelas. E foi aí caro leitor que eu cheguei no fundo do poço, as drogas se tornaram um calmante para os nervos e assim minha existência sem sentido foi se arrastando pelos dois anos seguintes até aquela manhã de fevereiro. Camila tinha mandando uma de suas amigas para perguntar se o Gabriel queria ficar com ela, aquele pequeno garotinho magricela havia crescido, ele havia encorpado, mas sua pele continuava tão branca quanto a neve, seus lábios estavam sempre avermelhados tonando-se alvos tentadores, seu sorriso ainda continuava o mesmo fazendo meu coração acelerar sempre quando escutava ele dando uma gargalhada de longe com seus amigos. A resposta da Camila voltou bem rápida.
- Camila, ele disse que não está interessado! – Claro que não estaria, eu conhecia Gabriel, ele não iria ficar com alguém só pela estética e com certeza ele merecia uma garota que o amasse de verdade, mas Camila não pareceu satisfeita, ainda mais depois que as “amigas” dela começaram a zoa-la por causa desse toco que ela havia tomado.
Minha turma foi liberada alguns minutos mais cedo naquele dia, eu fui para a biblioteca passar o tempo, não gostava de chegar em casa cedo, era mais tempo de conversa com meus pais e conversa levava a perguntas e nos últimos anos detestava as perguntas. Fiquei lendo até olhar no relógio e ver que faltava pouco para o meio dia, peguei minhas coisas e fui para casa, mas no caminho vi algo que despertou minha fúria, Camila e uns colegas da minha sala cercavam Gabriel que havia caído no chão e estavam o chutando, naquele momento não pensei em mais nada, eu corri o máximo que pude, meu único extinto era protege-lo como eu devia ter feito, mas fui um idiota e acabei destruindo nossa amizade. Avancei já distribuindo socos e chutes para todos os lados, eu estava cego de raiva, quando eles começaram a correr foi que consegui me acalmar, peguei os óculos dele do chão e me passou um flashback de quando eu havia prometido para ele que nunca deixaria nada acontecer de mal acontecer, lhe entreguei seus óculos
- Eu prometi que não deixaria nada de ruim acontecer com você! – Estendi minha mão, mas quando Gabriel percebeu que era eu sua feição mudou e vi apenas desprezo em seus olhos.
- Não preciso da sua ajuda – Mesmo com dificuldade ele se levantou sozinho e começou a andar em rumo de casa, comecei a caminhar também – Para de me seguir! – Não consegui segurar o riso.
- Você esqueceu que sou seu vizinho?
- Preferia esquecer! – E acelerou o passo.
Chegamos na nossa quadra e fiquei parado em frente da minha casa o observando abrir a porta da sua, tentei imaginar se algum dia ele me perdoaria.
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Eu fiquei preocupado em saber como ele estava, fiquei andando de um lado para outro da casa esperando que minha mãe trouxesse alguma noticia dele, mas ela ainda não havia chegado do trabalho e eu sabia que a mãe de Gabriel também não, decidi eu mesmo ir ver, não aguentava mais aquela ansiedade. Fui para a porta da sua casa e pensei em bater, mas sabia ele não abriria a porta para mim, lembrei que a mãe dele escondia uma cópia da chave em baixo de um jarro de flores para emergência e para minha sorte ela estava lá, destranquei a porta e comecei subir as escadas, mesmo delas já podia ouvir uma música que para minha total surpresa era Gabriel tocando violino, ele tocava com rapidez e precisão como se quisesse descarregar todas suas aflições, Gabriel estava com os olhos fechados então me aproximei sem que ele percebesse.
- Não sabia que tocava violino – Pelo menos ele diferente de mim usou a dor da perda do seu pai para fazer algo de útil, pensei. Gabriel levou um susto e quando viu que era eu notei que ele ficou bem zangado.
- O que você ta fazendo aqui? Ou melhor, como você entrou aqui?
- Sua mãe ainda esconde uma cópia da chave no mesmo lugar de sempre, vim ver como você está – Ele tava com uma mancha roxa bem feia no rosto.
- Estou muito bem, agora pode fazer o favor de se retirar da minha casa! – Ele guardou o violino e voltou a me encarar, nesse momento me toquei de algo.
- Levanta a camisa!
- Não! – Avancei para cima dele rapidamente e consegui levantar sua camisa até a altura do peito, aquela cena me assombraria por um bom tempo, havia duas manchas roxas enormes em seu abdômen. Gabriel me empurrou fazendo com que eu me afastasse – Se afasta de mim! Vai embora daqui!
- Isso não vai ficar assim, eles vão pagar muito caro por isso – Falei aquilo mais para mim mesmo ouvir, sai o mais rápido possível dali, já sabia o que tinha que fazer.
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- Olha só quem deu as caras! – Sabia que ia encontrar todos eles no mesmo lugar de sempre, naquela velha casa abandonada onde usávamos para fumar maconha – Seu filho da puta de mer...- Não deixei ele terminar a frase e já desci o soco na cara dele fazendo com que ele caísse, mas eu não ia parar.
- Nunca – Soco – Mais – Soco – Se – Soco – Com – Soco – O Gabriel – Seu nariz e boca sangravam muito, me dei por satisfeito e estava levantando quando senti um soco no meu rosto, mas não teve muita força, apenas o suficiente para me fazer virar o rosto – Aprende a bater igual homem! – E agora foi minha vez de retribuir, bati tão forte que ele caiu e nenhum dos outros três quiseram entrar na briga e saíram correndo dali.
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Decidi que era hora de me resolver com o Gabriel, podia não ter o amor dele, mas eu ainda precisava muito da sua amizade, pedi o número dele para minha mãe que pareceu radiantemente feliz ao me passar o mesmo. Mandei uma mensagem dizendo que precisava conversar com ele, mas demorou uma eternidade até ele responder, pensei até que ele havia apenas me ignorado. Quando em umas das mensagens ele perguntou “Por que agora?” decidi que devia contar tudo que eu sentia para ele.
Entrei correndo em sua casa, apenas dei um oi rápido para a mãe dele, subi as escadas em direção ao seu quarto, mas quando vi ele sentado em sua cama minhas pernas travaram, não era hora de fraquejar, fui até sua cama e me sentei ao seu lado, quando contei o que realmente eu sentia foi como se tivesse tirado um peso enorme das minhas costas e confesso que naquele momento só imaginava ele dizendo que eu era uma abominação, mas tudo aconteceu de forma contrária ao que havia imaginado.
- Eu te amava seu idiota! – Eu entrei em choque, ele continuou falando, mas não consegui prestar atenção, aquela frase se repetiu várias e várias vezes na minha cabeça.
- Você me amava? – Ele assentiu com a cabeça e meu mundo naquele momento girava – Por favor, seja sincero, você ainda sente alguma coisa?
- Eu não sei – Bem, pelo menos não era um não definitivo e aquilo me encheu de esperanças, decidi que não ia me importar com mais nada, que se explodisse o mundo se achasse ruim, mas eu não ia desistir do amor pelo Gabriel, não dessa vez.
- Então ainda tenho uma chance, eu vou te conquistar Gabriel, fique esperando! – Pensei que ele me repreenderia, mas ao invés disso ele se limitou a dizer.
- Apanhou de alguém? – Coloquei minha mão na bochecha e sorri.
- Devia ter visto o estado do outro cara! – Para minha surpresa e prazer ele sorriu, mas não era qualquer sorriso, era o seu melhor sorriso, aquele que ele só dava quando fazia um gol em sua homenagem. Eu poderia morrer naquele momento, mas morreria feliz.
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Minha nova motivação de vida era conquistar a confiança de Gabriel e com certeza dedicaria cada segundo de vida nessa tarefa. Por uma obra do acaso fui almoçar naquele dia na casa dele e Gabriel como sempre tinha aquele jeito marrento, foi complicado até para passar da porta. Sua língua afiada me divertia, ele sempre tinha uma resposta pronta para tudo, mas posso dizer que aquilo tudo valia a pena e quando provei da sua comida, podia dizer que estava no céu. Tive a ideia do filme e mesmo com relutância ele aceitou, se bem que eu fui para o chão, mas tudo bem. Depois de uma hora de filme percebi que ele já estava dormindo, suas feições eram suaves de um sono tranquilo, deixei ele dormindo e continuei vendo o filme, mas minha bunda e costas já estavam doendo muito por causa do chão duro, levantei e vi um espaço na cama e levemente fui me deitando, minha cabeça estava ao lado da sua coxa, não resisti e me apoiei ali, aquele contato era tão bom, queria que durasse para sempre, mas infelizmente ele acordou.
- O que pensa que está fazendo? – Olhei para ele vi seu rosto de surpreso.
- Minha já estava doendo no chão, então decidi deitar aqui! – Dei um sorriso na tentativa de aliviar a tensão.
- Sua bunda não vai ser a única coisa a doer se não sair daqui agora! – Ele podia me bater, mas não arredaria o pé dali.
- Sem chances, daqui só saio quando o filme acabar! – Abracei sua perna com força. Gabriel desistiu de tentar me tirar dali e agradeci mentalmente por isso, tentei voltar a prestar atenção ao filme, mas era impossível, só conseguia lembrar o quão bom era os cafunés que ele fazia em mim.
- Ei? – Aquilo saiu automaticamente.
- O que foi? – Não custava tentar, pensei.
- Se importa de fazer um cafuné? – Fiquei esperando um tapa, mas ao invés disso ele colocou sua mão macia no meu cabelo e fazia movimentos leve me causando arrepios no corpo todo – É por isso que te adoro, Gaby! – Meu coração parecia que iria suportar tanta alegria.
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- Posso te pedir um favor? – O filme infelizmente tinha acabado e agora eu estava deitado na sua cama sozinho enquanto ele mexia no computador.
- Talvez, o que é? – Ele nem ao menos desviou os olhos da tela.
- Toca violino para eu escutar? – Ele demorou algum tempo para responder, fiquei pensando se ele pelo menos tinha prestado atenção em mim.
- Tudo bem, mas só uma música – Ele se levantou e foi pegar seu instrumento – Tem alguma em mente?
- Toque o que você achar melhor! – E ele tocou, tocou com maestria e com o coração. Percebi que ele sempre fechava os olhos quando ia tocar, como se estivesse sentindo a música, fiz o mesmo, fechei meus olhos e aproveitei o som. Gabriel não tocou apenas uma música, ele passou a tarde toda tocando e sempre com os olhos fechados.
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Não percebi quando dormi, mas quando abri meus olhos o quarto estava todo escuro e minha barriga roncava de fome, tentei me mexer, porém bati em algo ou melhor em alguém, peguei meu celular do bolso e iluminei o rosto de Gabriel dormindo calmamente ao meu lado, olhei na tela do aparelho e vi que já se passavam das nove horas da noite, me doeu, mas tive que acorda-lo.
- Ei – Passei a mão levemente no seu rosto – Acorda.
- Só mais um pouquinho, Bê – Ele sussurrou de olhos fechados. Eu ouvi mesmo aquilo? Ele me chamou de Bê, quase dei um pulo de felicidade, mas ao invés disso me deitei de novo, que se foda a fome, aquilo era muito melhor. Depois de uns minutos ele passou o braço por cima da minha barriga e seu rosto veio para perto do meu pescoço, podia sentir sua respiração leve, me causando arrepios no corpo todo, acabei pegando no sono de novo.
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- Acorda seu dorminhoco! – Ouvi sua voz me chamar e abri meus olhos, o quarto estava claro outra vez e minha visão demorou a se adaptar com a claridade, quando consegui abrir os olhos por completo vi Gabriel sentado do meu lado e estranhamente sorrindo – Tu dorme demais – Ele estava tão sereno.
- Olha quem fala! – Retruquei me sentando também – Eu acordei e você estava dormindo do meu lado, não quis te acordar então voltei a dormir – Agora foi minha vez de sorrir e pude perceber que ele havia corado.
- Eu estava com sono e você roubou minha cama, não tive escolha a não ser deitar também – Ele tentou se justificar.
- Sei! – Caí na gargalhada, mas não durou muito, meu estômago mandou lembranças que estava faminto.
- Fome? – Parece que ele ouviu meu amiguinho reclamar.
- Bastante!
- Pensei que estaria e fiz esse sanduíche! – Ele pegou um prato com um sanduíche de cima de sua cômoda e me entregou.
- Obrigado! – Agradeci e comi. Gabriel deitou novamente e colocou o travesseiro no rosto o cobrindo.
- Eu estava pensando, a gente podia a voltar ser amigo como antes, nossas mães iam gostar – Quase me engasguei com aquilo.
- Sério? – Coloquei o prato no chão.
- Sim – Ele tirou o travesseiro do rosto e pude ver seus olhos brilhantes, não segurei a emoção e pulei para cima dele o abraçando.
- Obrigado, obrigado, obrigado – Fiquei repetindo enquanto abraçava ele e fazia cócegas na sua barriga causando risadas neles – Prometo que você não vai se arrepender!
- Ta bom... Mas sai.. De cima de mim! – Ele estava se acabando de sorrir, seu ponto fraco sempre foi as cócegas, parei e levantei o rosto e pude ter uma ampla visão do seu, seus lábios eram uma tentação, minha vontade era de beija-lo, mas não ia estragar as coisas, decidi que ia com calma, me sentei novamente e ele fez o mesmo.
- Acho melhor eu ir, já está bem tarde!
- Está mesmo! – Ele se levantou – Te vejo amanhã cedo?
- Com certeza!