Cap.28 (Penúltimo Capítulo)
NARRADO POR RAFAEL
Sai de campo com a cabeça fervendo. Eu estava nervoso. Apesar de tentar transparecer para o Ben que estava tranquilo e não tinha medo das reações, eu tinha. E muito. Por isso entrei em campo nervoso, com medo do que poderia acontecer. Se a torcida não me apoiasse, eu não teria mais como trabalhar. E no menor sinal de preconceito, eu perdi a minha segurança. Com raiva, acabei fazendo uma falta feia em um lá. E acabei expulso.
-Como você deixou isso acontecer ? - o treinador perguntava
-Não sei... Eu fiquei nervoso e acabei fazendo aquela falta. Me desculpe treinador, mas minha mente não está bem hoje... - ele lentamente veio em minha direção e sentou ao meu lado.
-Olha Rafael, eu sei que a barra que você está enfrentando não é fácil. Conheço um monte de jogadores gays que não tem coragem de se assumir para não enfrentar a barra que você enfrenta. Mas isso não pode subir a sua cabeça. Você precisa trabalhar, honrar os seus compromissos com o time, mostrar serviço. Caso contrário eu não tenho porquê te manter aqui. Arrume paciência e coloque a cabeça no lugar esses dias que você não vai jogar.
-Tudo bem treinador – ele tinha razão. Eu tinha que colocar minha cabeça no lugar para ter paz.
MINUTOS DEPOIS
Fui para o vestiário, com uma toalha na cintura após o jogo, calado. Vesti uma cueca, um short, sem querer puxar assunto. Quando de repente ouvi uma voz.
-Rafael ? - me virei e era Pablo, um dos nossos zagueiros.
-O que foi ?
-Queria que você soubesse que... Eu e os outros jogadores estaremos ao seu lado nessa batalha viu. Você é o coração desse time, merece o melhor ambiente – e então eles me cumprimentaram. Fiquei mais feliz, porquê pelo menos dentro do time o clima seria bom. Eu poderia trabalhar em paz.
NO DIA SEGUINTE
Acordava ligeiramente cedo porquê voltaria para Barcelona ainda naquela manhã. Tomei o celular na minha mão para olhar as minhas redes sociais. Olhei algumas mensagens. Abri o meu facebook e de repente estranhei uma notícia que vi.
“#forçarafa10 tem mais aderência e já é o assunto mais discutido no Twitter no Mundo”
Abri a notícia e falava justamente de mim. Haviam várias pessoas discursando contra o preconceito, falando que eu jogava muito futebol e era isso que importava. Eu simplesmente não acreditei. Aquilo me deu ainda mais força para continuar. Me mostrou a verdade, a grande parte da torcida estaria conosco.
NARRADO POR BEN
Ainda ligeiramente atordoado com o que aconteceu com o Rafael, me arrumei para a apresentação. Estava com medo da reação dos meus companheiros de time, das perguntas dos jornalistas, mas o que eu podia fazer ? Tinha que sorrir, e demonstrar a felicidade que eu sentia em entrar no Barcelona. E era realidade. Eu estava muito feliz por estar ao lado dele.
-Quais são seus planos como jogador do Barcelona ? - perguntava um jornalista, assim que eu havia vestido a camisa do time.
-De ajudar o time e crescer ainda mais como profissional.
-E quanto a sua vida particular ? - olhei para o meu celular, uma foto nossa tomava conta da tela.
-Ela é particular. Não vai interferir de forma alguma na minha carreira e no futebol que quero apresentar aqui... - sim, estava confiante com tudo o que poderia apresentar no time. Aquele acontecido não seria suficiente para me destruir.
Comecei a andar depois da coletiva e recebi de repente uma mensagem no Facebook. Quando abri, a surpresa. Era uma notícia. Uma notícia de apoio.
“Cada vez mais jogadores do mundo e torcedores mandam mensagem de apoio aos jogadores Rafael e Benjamin, recentemente assumidos homossexuais, para que eles continuem a jogar futebol com o mesmo amor de antes”
Fiquei hiper feliz. Sentia que não seria mais tão ruim como eu imaginava.
TEMPO DEPOIS
Quando cheguei em casa, percebi que Rafael já estava lá.
-Rafa ? - comecei a andar por dentro de casa, e logo vi ele descendo a escada.
-Oi amor – e então ele desceu as escadas – vi você na TV. Ficou lindo com aquela camisa – dizia, se aproximando de mim e me dando um selinho – vai ser ótimo ir com você todos os dias treinar.
-Eu já estou até pensando nisso. Ter você perto de mim parece até um sonho – dizia eu, o abraçando.
-E... Você viu a campanha ?
-Vi...
-E o que achou ?
-Me passou segurança. Significa que a maioria da nossa torcida está ao nosso lado.
-Sim... Também senti isso. E é ótimo...
-E o que foi aquilo ontem ?
-Bem... Eu já estava nervoso antes de entrar em campo. Aquilo só somou tudo e eu acabei perdendo a cabeça.
-E vai ser suspenso por uns 3 jogos, no mínimo né ?
-Não importa... O que importa é que pelo menos agora eu tenho noção de que poderemos continuar jogando em paz. E isso é ótimo.
TEMPO DEPOIS
Ria vendo com ele alguns vídeos no Youtube.
-Parece um cachorro rindo – dizia ele, de um Youtuber brasileiro – ai, estava com tanta saudade de fazer isso – dizia ele, beijando o meu rosto.
-De fazer o que ?
-Rir com você... Te abraçar – falou, subindo sobre mim – te beijar – ri, sentindo ele beijar o meu rosto diversas vezes seguidas.
-Deixa de besteira seu bobão...
-Eu não... Eu gosto de ser bobo – ri.
DIAS DEPOIS
Alguns dias de treino, e então voltariamos a jogar. Durante os três jogos que ele esteve suspenso, eu não estive nem no banco. Porém, assim que ele voltou eu fui relacionado para o jogo. Jogariamos em casa. O estádio era lindo, cheio de torcedores do nosso time, muito barulho, muita gente apoiando, uma emoção só. Me sentia em casa ali. Aliás, em qualquer campo do mundo, eu me sentia em casa. Era o que eu mais gostava de fazer.
-Tenha calma viu – dizia eu, para ele no vestiário com medo dele mais uma vez entrar em campo de cabeça quente.
-Hoje eu tô calmo, pode ficar tranquilo...
Entrei, me sentei no banco. Olhei o estádio inteiro, de uma ponta a outra. Era lindo. Me surpreendi, quando atrás do gol, vi uma faixa. Nela estava escrito “FuerzaRafa10”. Era o atestado. A torcida estaria do nosso lado. E quando ele marcou um gol, a torcida comemorou como se fosse final de campeonato. Agora eu podia jogar tranquilo.
MAIS TARDE
Já em casa, depois daquele jogo. Eu não havia estreado naquele dia. Mas não estava com raiva. Estava feliz, porquê ele havia ido muito bem. E isso era o que mais importava.
-Você é o meu maior orgulho ! - dizia, entrando do lado dele dentro de casa... Joguei minhas coisas num canto e o beijei...
-Eu queria te fazer um pedido...
-Pedido ?
-É... Casa comigo ?
Continua
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