Cap.21
Sorri enquanto olhava aquele rosto que eu achava perfeito, e então parti daquele hospital. Como sempre fazia todos os dias. O eterno apaixonado continuava com as duas vidas.
6 MESES DEPOIS
Sim... Ele passou mais 5 meses desacordado. Era uma luta vê-lo daquela forma, mas eu não podia fazer nada. Só Deus sabia quando ele ia acordar. Eu continuava fazendo as mesmas coisas. Com o meu salário mais alto, aluguei um apartamento no prédio dele. Já fazia 5 meses que eu estava na diretoria provisoriamente, porém havia recebido uma proposta que me deu segurança para me mudar.
-Olá Eduardo – este era um dos sócios da empresa.
-Oi Enzo. Quer alguma coisa ?
-Não, nada. O que gostaria de falar comigo ?
-Bem... Você está a quase 6 meses na diretoria provisoriamente. Recebeu uma oportunidade de ouro, infelizmente numa circunstância ruim. Tem feito um ótimo trabalho, cumprindo a agenda do Marcos e seguindo as ideias que ele tinha. Mas, não apresentou nada de novo até hoje.
-Eu não acho justo criar algum projeto que eu não possa tocar plenamente. Se de repente eu crio um projeto e ele acorda, não sei se ele iria gostar ou continuar...
-Sim, eu sei disso. Exatamente por isso tenho uma proposta para você. Um dos 5 diretores vai sair e a vaga vai ficar aberta. Se você quiser, podemos encaixar você nela – arregalei os olhos.
-Sério ?
-Sim... O que me diz ?
-Nossa... Que proposta... Inesperada... Bem... Eu vou pensar...
-Tudo bem. Tem até o fim de semana para me dar uma resposta – obviamente eu só falei aquilo por quê não queria parecer prepotente. Mas iria aceitar a proposta.
DIAS DEPOIS
E aceitei...
-Bem... Andei olhando a linha de produtos da empresa e... Elaborei um novo projeto a respeito dos manipulados. É o ponto mais fraco da companhia até hoje e merece atenção... - lembrava de Marcos dizendo isso para mim no carro.
“Esses diretores não vão sossegar enquanto o setor de manipulados não falir”
-... creio eu que esse projeto seja o mais adequado para esta área – ao final da minha fala, todos me aplaudiram. Fiquei feliz, porquê enfim estava conseguindo subir de vida novamente. Do modo correto, ralando como as melhores pessoas fazem.
Assim, me mudei para o Leblon. Para o prédio dele, porquê obviamente queria ver o seu rosto todos os dias. Comprei um carro novo, e pude reaver parte daquilo que já tive um dia...
-Nem acredito que voltamos para esse bairro – minha mãe dizia.
-É o preço da minha batalha para me reerguer – dizia, olhando o mar da janela do prédio. Olhei para o lado, vi a Varanda dele e me lembrei de tudo que ali já houve – ele mora ai ao lado.
-Ele quem ?
-O Marcos...
E eu continuei fazendo o que sempre fazia. Arrumava a casa dele diariamente. Como estava do lado da casa dele, achei melhor ficar com o Félix até ele acordar, então ele passou a dormir na minha casa. E todos os dias, ia ao hospital. Comprava flores na floricultura e levava para o apartamento.
-Como ele está ? - perguntava a enfermeira assim que entrava
-Bem... Porém desacordado.
-Para variar – ela riu. E logo nos deixou sozinhos. Tirei as flores do dia anterior, coloquei as novas, e então fui observá-lo de perto. Ele já não tinha marcas. Estava com a pele perfeita. Lindo como sempre. Porém, desacordado – será que você não vai acordar nunca mais ? - me perguntava – queria tanto que visse a minha mudança e que compartilhasse a minha felicidade. Afinal, você é o que mais me importa hoje. Você é a minha razão de viver ! - após falar aquilo, uma lágrima escorreu do meu rosto. Deslizei minhas mãos pelo rosto dele. E então me aproximei, para beija-lo. Quando de repente, senti ele se mexer. Me arrepiei – o que foi isso ?! - olhei novamente para ele, não conseguia acreditar naquilo – eu estou sóbrio ? - de repente então ele se mexeu novamente, e se colocou de peito para cima. E então abriu os olhos. Imediatamente chamei a enfermeira pelo telefone – Marcos ?! Você acordou mesmo ? - ele olhou ao redor, olhou para mim, e então falou.
-Onde estou ?
NARRADO POR MARCOS
Parecia que eu simplesmente havia dormido. De repente abri os meus olhos, pesados. Logo eles doeram. Uma forte luz tomava conta do local aonde eu estava. E eu nem sabia aonde estava.
-Hummm... - olhei ao redor – onde eu estou ? - olhei para meu lado e então vi alguém. Minha visão melhorou e eu pude ver quem era – Enzo ? - a cara que eu vi dele era enigmática.
-Você acordou ?! Eu não acredito ! - vi lágrimas caírem dos olhos dele, e de repente ele me deu um selinho demorado, me fazendo arregalar os olhos. Quando ele se separou de mim, estava atônito – ai, desculpa ! Eu não consegui evitar, me desculpa – mas eu não nego, aquilo fez meu coração acelerar e me fez sorrir levemente.
-O que está acontecendo Enzo ? Aonde estamos ?
-No hospital...
-No hospital ?
-É... A uns 6 meses atrás, você capotou o carro perto da Estrada dos Bandeirantes. Bateu a cabeça, quebrou umas costelas, o braço direito e entrou em coma.
-6 meses ? Mas me pareceram horas... E durante esse tempo o que aconteceu ?
-Bem, durante o tempo em que você não estava acordado, eu estava aqui ao seu lado. Cuidei do seu apartamento, do Félix e do seu cargo.
-Do meu cargo ?
-É... Os outros diretores pediram para eu continuar a sua agenda e os seus projetos provisoriamente, porquê conhecia bastante todos os seus planos. Eu limpei os seus apartamentos todos os dias, ele está inteirinho. E o seu gato continua peralta. Trouxe ele para o meu apartamento já que... Agora me mudei para o apartamento ao lado do seu.
-O quê ? Mas... Como você conseguiu pagar o aluguel ?
-Assumi o lugar de outro diretor, a pedido de um dos sócios... Estive ao seu lado, durante todo o tempo de tratamento. Fiz de tudo para que você estivesse bem o tempo todo.
-Porquê está falando isso ?
-Não... Por nada – falou ele, andando em direção a janela – é que... Apesar de você estar sempre rodeado de muitas pessoas, eu fui o único que esteve aqui esse tempo todo. Que colocou flores diariamente para alegrar o quarto e que... Declarou amor a você diariamente – disse, me deixando atônito – eu preciso ir, ainda tenho uma reunião para fazer. Até mais...
-Até... - ele pegou uma pasta e então saiu, sem olhar para trás. Assim que saiu, levei a minha mão a boca, ainda com o gosto dele. De repente a enfermeira entrou.
-O que foi ? O que houve ? - ela então arregalou os olhos ao me ver – você acordou ?
-Acordei...
-Oh meu Deus, deite-se, vou chamar um médico para avaliarmos você. Não está sentindo nada ?
-Não... - por alguns momentos não acreditei no que ele disse. Como poderia acreditar, se estava completamente desacordado ? - enfermeira ?
-Sim...
-Aquele homem que saiu agorinha...
-Qual ? O Enzo ?
-È, ele... Ele tem vindo aqui com frequência ?
-Ele vem aqui todos os dias, desde que você saiu da UTI. Sempre trás flores, passa um tempo com você, organiza esse local. Vocês são namorados, não é ?
-Ele disse isso ?
-Não... Mas, eu podia ver nos olhos dele, o quanto ele é apaixonado por você. Acho que nem um dos casais com parceiros em coma, tem alguém assim tão apaixonado...
Continua
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