Gabriel Narrando
Ficamos nos encarando por alguns segundos.
- E aí, o que você tem pra me falar? Ou vai dizer que só veio aqui pra ficar me olhando? Se eu soubesse, nem precisava ter se dado ao trabalho de vir aqui, eu poderia te enviar uma foto minha.- Ele pareceu espantado com o que eu disse.
- Você ta mesmo chateado né?
- Chateado não, Eu tô puto com você isso sim.
- Amor me perdoa, por favor. Você sabe que eu não fiz por mal. É-é só que quando eu Vi ele ali em cima de você, eu fiquei maluco, eu só pensava em afastar ele de você...
- O cara estava BÊBADO. Qual a necessidade daquela pancadaria toda? Bastava ter tirado ele de cima de mim, não precisava daquilo tudo!
- Você tem razão, eu sei que eu peguei pesado, mas aquele cara me tira do sério. Na faculdade ele vive dando em cima de mim mesmo eu dizendo que não quero nada com ele, vive me desrespeitando e quando eu Vi ele mexendo em uma das coisas mais importantes pra mim, eu fiquei possesso.
- Pra mim nada justifica violencia, principalmente contra uma pessoa que não pode se defender, por mais errada que ela esteja.- Ele pareceu entender o real significado daquilo pra mim.- Fora você me acusando injustamente de algo que eu não fiz. Sabe qual é o meu medo, Ricardo? É que você seja essa pessoa violenta que eu Vi hoje. Eu não sei se eu quero ter um relacionamento com um cara que vai me meter a porrada por não concordar com ele em algo.
- Pelo amor de Deus eu não quero nem pensar em uma coisa dessas. Acho que eu me mato antes de encostar um dedo em você, nesse sentido. Eu já não suporto a ideia de alguem tocando em você, eu juro que nunca, jamais levantaria a mão pra você, nem que minha vida dependesse isso.- Ele disse passando a mão dele no meu rosto, que eu tirei. Seus olhos estavam cheios de água.
- Eu realmente não sei o que fazer sobre isso. Pra mim isso que você fez hoje foi totalmente decepcionante. Eu me apaixonei pelo Ricardo doce, gentil, o Ric que se preocupava comigo quando eu ia pra academia, o cara que me levou pra um piquenique e falou todas aquelas palavras bonitas... O Ricardo que eu Vi hoje não me agradou nem um pouco.
- Você vai terminar comigo não vai?- Finalmente uma lágrima caiu de seu olho. Eu por incrível que pareça consegui me manter firme, apesar do turbilhão de emoções que eu sentia.- Droga, eu sabia. Eu Estraguei tudo.- Ele falava consigo mesmo.
- Claro que não. Eu fiquei chateado mas não é o fim do mundo. Eu só quero que você Me prometa uma coisa: você nunca mais vai gritar comigo daquela forma, entendido? Você tem noção que nem meu pai nunca gritou comigo? Se tem uma coisa que eu odeio é isso. Ah e quero que prometa que não vai mais agir daquela maneira, a não ser que seja realmente necessário.
- Claro, claro, claro.- Ele respondeu meio desesperado.- Tudo o que você quiser, só por favor me perdoa? Não vamos mais ficar brigados não... ta doendo aqui...- Ele pôs a mão no coração e fez uma cara de cachorro que caiu do caminhão de mudanças que eu não resisti.
- Tá, tá bom, eu perdôo.- Me desarmei e finalmente sorri para ele, que veio me abraçar e me deu um beijo no rosto.
- Me desculpa por tudo, eu sou um idiota. Tenho vontade de bater em mim mesmo por ter feito aquilo com você. Eu só queria te proteger de tudo e de todos e ter você só pra mim.- Segundos depois o Max apareceu na porta.
- Fala cuzão!- Ele cumprimentou Ricardo.
- Deixa só meu pai te pegar falando desse jeito.- Falei provocando-o.
- É e deixa só meu pai te pegar agarrado com o Ricardo aqui na porta de casa!- Retrucou. touché.
- Acho melhor você ir embora agora.- Falei saindo do abraço.
- É, acho melhor você ir embora agora.- Max repetiu o que eu disse, só para encher o saco.
- Tô achando que você me ama mais do que o Gabriel, não é possível! Vem cá me dar um beijo.- Ric foi se aproximando dele.
- Credo, preferia comer vômito do que te beijar.- Max fez cara de nojo e nós rimos muito da cara dele. Nos despedimos e eu e meu irmão entramos em casa.
- O que tanto vocês conversavam la fora?- Puxou assunto assim que nos sentamos no sofá. Ele passou o braço envolta do meu pescoço.
- Nada, coisa nossa.- Respondi meio indiferente, pois não queria voltar àquele assunto.
- Sai de manhã com o Gustavo, passa a tarde com seus amigos, fica de conversinha com aquele la... é, pelo visto eu tô sobrando na sua vida.- Ele falou fazendo-se de ofendido e me largando.
- Deixa de ser dramático, garoto.- O abracei de novo.- Eu passo a maior parte dos dias da semana com você no meu culote, da uma folga pelo menos hoje!- Falei provocando-o.
- Ah então é assim? Deixa estar... não quero mais saber de você também! Vai procurar seus amiguinhos pra ficarem com você de novo...
- Eu sabia! Isso tudo é só por causa do Marcus não é? Sempre que eu estou perto dele você fica assim! Qual o seu problema com ele?- Falei agora serio, encarando-o.
- Você quer mesmo saber qual o meu problema com ele? Então eu vou te dizer.- Agora ele estava realmente sério e não parecia brincar mais.- Acontece que sempre que você está com ele, você me ignora, nem fala comigo direito... Parece até que gosta mais dele do que de mim.- No final seu tom de voz ganhou uma pitada de vergonha.
- Max eu sinto muito, mas o Marcus é meu amigo bem antes de você. Por mais que você seja meu irmão, até outro dia você estava socando a minha cara. As coisas não mudam assim de uma hora pra outra.
- Também não precisa jogar o que eu fiz na minha cara.- Ele ficou chateado e se levantou do sofá.- Eu sei que por mais que eu queira, você nunca vai conseguir me perdoar pelas coisas que eu te fiz não é?- Nessa hora seus olhos encheram de água e deu pra perceber o esforço que ele fazia para que as lágrimas não caíssem. Só então percebi o motivo daquela reclamação toda e daquela historia de perdão. Foi sobre o que o Gustavo me falou de ele estar se culpando ainda pelo acidente. Querer estar sempre comigo era apenas uma forma que ele encontrou para tentar compensar o que ele sentia.
- Eu já disse que te perdoei pelo acidente.- Ele me olhou assustado quando Pareci "adivinhar" o que ele sentia. Foi como se eu tivesse descoberto seu mais profundo segredo.- Pare de se cobrar tanto, pare de se culpar dessa forma!- Falei e nessa hora ele desabou na minha frente. Foram raras as vezes em que Vi Max chorar e nenhuma delas me tocou como dessa vez. Nessa ocasião eu estou muito mais envolvido sentimentalmente com o fato de ele estar sentindo-se mal, apesar de não ser culpa minha. Ele abaixou o cabeça e ficou em pé na minha frente, soluçando. Eu não aguentei vê-lo daquela forma. Peguei pela sua mão e o fiz sentar de volta ao meu lado. Deitei sua cabeça em meu peito e o abracei com toda força.- Para de chorar, por favor.- Falei já com a voz falha, ameaçando começar a chorar também.- Você parte o meu coração chorando dessa forma, por favor pare.- Meus olhos começaram a arder com a ameaça das lágrimas. Ele não falava nada, apenas me abraçava com força. Já faziam alguns minutos que ele estava daquele jeito e eu já não sabia mais o que fazer com ele. Foi a primeira vez que ele se mostrou tão vulnerável assim. Ele parecia um bichinho acuado.
- E-eu não queria ter feito você sofrer.- Foi a primeira coisa que ele falou depois de muito tempo chorando em silencio.
- Max, você tem que entender a diferença entre perdoar e esquecer. É claro que eu já te perdoei, mas isso não faz com que as memórias sejam apagadas da minha mente. Você não precisa trazer à tona assuntos que já foram enterrados. Sim, você já me fez sofrer, mas hoje dia você e o Gustavo me fazem feliz e é isso que importa. E outra coisa: mesmo o Marcus e o JL sendo meus melhores amigos, o sangue que corre nas nossas veias faz com que nossos laços sejam mais fortes do que os meus laços de amizade com eles, porém eu preciso tanto deles quanto de você e do Gus. Vamos deixar todas essas coisas de lado e apenas tentar ser feliz, beleza?- Ele apenas acenou positivamente com a cabeça, agora limpando as lágrimas.- Acho melhor irmos dormir, eu tô com sono. Promete que vai ficar bem?
- Prometo.- Sua voz saiu mais grave que o normal. Subimos e ao chegar em frente às portas dos quartos, ele entrou no quarto do Gustavo e eu fui pro nosso quarto. Ele provavelmente dormiria com o nosso irmão mais velho. Sabe quando a gente ta precisando só de um abraço, ou de alguém que cuide da gente? Então, nesse momento o Max estava assim e eu achei ate melhor ele buscar refúgio no Gus. Acabei dormindo sozinho.
No domingo, acordei com meu pai dizendo que os pais da Patricia tinham nos convidado para almoçar na casa deles. O Gustavo ficou mais feliz por poder rever a namorada e eu fiquei feliz por poder ver o Marcus de novo, que pra quem não lembra, é irmão da paty. Max continuou meio caído.
- Vamos, anime-se! Vai ser divertido!
- Pra quem? Preferia mil vezes ficar em casa!
- Max você me prometeu que não ficaria assim, promessa é divida.
- Mas eu não to assim pelo motivo de ontem. Eu só não queria ir mesmo.- Ele pareceu sincero.- E aconteceram algumas coisas ai mas não vem ao caso.
- Maxwell e Gabriel desçam logo, já estamos indo.- Meu pai gritou da garagem.
- Parece que você não tem muita escolha.- Falei puxando ele pra descer comigo.
Chegando la, foi a maior farra. meus pais eram muito amigos dos pais da Paty, então todos falavam e sorriam alto. Todos, menos Max, que trocava mensagens com quem eu presumia ser Bianca, sua namorada.
- Vamos jogar videogame no meu quarto?- Marcus me chamou.
- Acho melhor não. Estão todos reunidos aqui e não seria legal nós ficarmos de fora.- Falei, mas na verdade queria mesmo era saber o que se passava com Max.
- Tudo bem então.- Ele deu de ombros e subiu. Fui ao sofá onde Max estava sentado e sentei ao seu lado.
- Está melhor?
- Estou.- Ele forçou um sorriso que não convenceu nem a ele mesmo, Porém não contestei.
Depois de muito papo naquela casa, voltamos para a nossa e depois fomos ao culto, onde algumas meninas que nunca tinham falado comigo, me abordaram pela cena ridícula do meu pai me carregando em meio a todos.
Na segunda feira fomos para a escola e na hora do intervalo Vi de longe a Bianca e o Max discutindo. Não consegui ouvir o que eles falavam, mas pelas suas feições ele parecia querer convencê-la de algo. Logo o João Lucas apareceu ao meu lado e me chamou pra ir na cantina com ele. O sinal para a volta das aulas tocou e o resto da manhã ocorreu normalmente. Voltando pra casa, Max ficou em silêncio a viagem toda e aquilo estava me deixando realmente preocupado com ele. Chegamos em casa e ele foi o primeiro a sair do carro. Ele andava a passos largos e eu tive que dar uma corridinha para alcança-lo já na metade da escada.
- Max ta tudo bem?- Perguntei segurando em seu ombro, fazendo ele virar de frente pra mim. Seu olhar era triste.
- Ta, sim.- Mentiu na maior cara de pau.- Só me deixa um pouco sozinho ta bom?- Ele deu um sorriso amarelo e subiu. Não insisti e respeitei sua vontade.
A tarde fui para a academia. Os treinos agora pareciam bem mais fáceis, e o tal do Isaac não me perturbou mais por causa do Ricardo.
- Como você ta, amor?- Ricardo me perguntou em meio a um beijo, no vestiário, depois que os outros alunos foram embora.
- Pra falar a verdade, estou preocupado com o Max. Ele anda muito estranho esses dias. Pra baixo, com um olhar distante sabe? Hoje eu Vi ele e a Bia discutindo na escola e isso o deixou pior. O pior de tudo é que ele não fala nada sobre o que ta acontecendo, não se abre e fica sofrendo calado, o que me impossibilita de ajudá-lo.
- Acho que isso é fase, Gabe. Daqui a pouco ele volta ao normal. Deve ser só uma crise no relacionamento deles.
- Não sei se o Max ficaria assim apenas por uma crise... ele gosta dela de verdade. Tem algo mais sério acontecendo...
- É, mas enquanto ele não falar nada você não tem como ajudá-lo.
- Mas eu também não posso ficar de braços cruzados vendo ele se corroendo por dentro. Sofrer calado, sem ninguém para ajudar é horrível. Eu sei bem como é isso.- Nesse momento meu telefone tocou e era Gustavo.- Eu tenho que ir.- Falei e ele me beijou.
- Espero que fique tudo bem com Max, vou te ligar mais tarde.- Ele falou me dando mais um selinho.
- OK, tchau.- Me despedi e sai da academia, entrando no carro do Gus.
- E ai, mano como foi a aula?
- Você sabe o que ta acontecendo com o Max?- Perguntei ignorando totalmente sua pergunta.
- Eu já te falei que ele se culpa demais pelo acide...
- Não é disso que eu to falando.- Falei o cortando.- Tem algo a mais acontecendo com ele.
- Olha pra falar a verdade eu não tenho prestado muita atenção no Max esses dias. Tô mais preocupado com meus trabalhos da faculdade no momento.- Falou dando de ombros.- E outra, vocês já estão bem grandinhos pra resolverem seus problemas sozinhos.
- Não existe essa de "grandinhos". As pessoas tem problemas independente de suas idades ou tamanhos e nós temos que ajudá-lo. Você lembra quando precisou de nós dois?- Falei, lembrando de quando o nosso pai bateu nele.- Agora é o Max quem precisa ser ajudado.- Gustavo pareceu arrependido por sua indiferença.
- Tudo bem, mais tarde eu falo com ele. E me desculpe por agir assim, é que esses dias eu ando com muita coisa pra fazer e minha cabeça tá cheia demais.- Chegamos em casa e eu logo subi pro quarto, que estava todo escuro apesar de ainda ser umas cinco da tarde. Liguei a luz e Vi o Max coberto dos pés a cabeça em sua cama, presumi então que ele estivesse dormindo. Fui andando em direção à minha cama e foi quando ouvi um gemido vindo do Max. O que será que ele estava fazendo? Fui me aproximando de sua cama lentamente.
- Max, o que você tem?- Ele nada respondeu. Foi quando puxei seu lençol e encontrei um Maxwell totalmente acabado. Meu irmão chorava compulsivamente, apesar de não emitir sons. Ele escondeu o rosto no antebraço, ficando de cara para o colchão.- Mano o que aconteceu? Fala alguma coisa, por favor, você está me deixando mais preocupado do que eu já estava.
- Eu n-não quero falar nada! Só me deixa em p-paz, por fa-favor!- Falou tentando cobrir o rosto novamente com o lençol, mas eu não deixei.
- Para com isso Max. Eu só quero te ajudar! Sofrer calado é pior... Se abre comigo!- Nessa hora o Gustavo apareceu na porta.
- Ei, o que é que ta acontecendo aqui?- Gustavo falou entrando.
- Eu disse que algo tinha acontecido, Gus. Mas ele não quer falar...- Max continuava com o rosto escondido no colchão e Gustavo sem to na cama.
- Fala com a gente, mano.- Gus falou com uma voz mansa, com uma pitada de preocupação e começou a passar as mãos nas costas do Max. Ele então se levantou ficando agora sentado na cama ao lado do Gustavo. Maxwell abraçou os seus joelhos e escondeu o rosto no mesmo.
- Ela me deixou.- Falou quase inaudível.
- Hã?- Gustavo não entendeu.
- A Bianca me deixou, terminou comigo! Satisfeito?- Falou quase gritando e encarando o Gustavo com o rosto molhado pelas lágrimas e os olhos vermelhos.- Então era por isso a discussão de hoje de manhã.
- Own mano, vem cá!- Gustavo envolveu Max em seus braços, que por sua vez escondeu o rosto no pescoço do mais velho e começou a chorar com mais força.- Nossa Max, você ta ardendo em febre!- Ele colocou a mão no pescoço do mais novo.
- P-por que dói t-tanto, Gustavo?- Meu coração estava aos cacos vendo ele assim. Nunca imaginei ver o Max passando por isso. Sentei ao seu lado e passei a mão em sua cabeça.
- Não fica assim...
- Não me peça o impossível, Gabriel.- Ele abraçava o Gustavo com força e continuava a esconder o rosto como se estivesse com vergonha.
- Mas por que ela fez isso?- Foi a vez de Gustavo perguntar.- Você fez alguma coisa?
- Não, eu juro que não!- Falou agora encarando o Gustavo.- Ela só disse que não sentia mais nada por mim...
- Mano mas pensa por outro lado: é melhor ela ter terminado do que ficar te enrolando, empatando a sua vida e a dela e depois acabar até te traindo...- Gustavo falava com o maximo de cuidado possível.
- O pior é que eu sei disso... acontece que isso não faz com que eu pare de sentir o que eu sinto por ela...
- Eu sinto muito pelo que aconteceu, Max. Mas nós estamos aqui pra o que você precisar... você não precisa passar por isso sozinho.- Falei e ele pegou o lençol novamente e se cobriu.
- Eu estou com frio.
- Sua febre está aumentando. Gabe, Vai la embaixo e pega um comprimido para ele.- Gus falou e saí, voltando minutos depois com o remédio e um copo com água que logo o Max tomou.
Alguns podem achar exagero do Max ficar desse jeito, mas só quem já teve o coração partido sabe o quanto dói. Aquela provavelmente foi a primeira vez que ele realmente amou alguém, pois nunca tinha visto ele ficar assim por nenhuma outra garota. Pra ele ficar assim é porque amava demais ela. Max não largou o Gustavo um só minuto. Ele ficou la encolhido, aninhado ao nosso irmão mais velho enquanto eu fui tomar um banho, coisa que eu ainda não tinha feito desde que cheguei da academia. Voltei para o quarto e sentei junto com eles. Liguei a TV e ficamos assistindo a um filme.
A noite nossa mãe e nosso pai chegaram do serviço e perguntaram o porquê de estarmos todos já deitados e juntos tão cedo assim. Falamos apenas que estávamos cansados e eles engoliram. Poucas horas depois nossa mãe falou que o jantar estava pronto.
- Vamos Max, você tem que comer alguma coisa!- Gustava insistia pela quarta vez.
- Eu já disse que não estou com fome! Podem ir, eu quero ficar sozinho mesmo...
- Nada disso! Ninguém aqui vai te deixar só.- Falei.- Se você não for, nossos pais vão perguntar o porquê. Daí nós vamos ter que falar o real motivo e se você já achou difícil conversar sobre isso com a gente, imagine com eles. Então acho melhor você descer e tentar disfarçar.- Só assim consegui convencê-lo.
No jantar ele nem tocou na comida. Fiquei torcendo para que os meus pais não reparassem, mas foi inevitável.
- Ta tudo bem, Max? Você praticamente não comeu...- Minha mãe notou.
- É... seus olhos também estão vermelhos.- Foi a vez de meu pai falar
- Não é nada demais, acho que só estou ficando um pouco resfriado, mas não se preocupem, já tomei um remédio. Também estou com sono, será que já posso ir dormir?- A vontade que eu tinha era de poder protegê-lo de tudo e de todos. De colocá-lo em meus braços e dizer pra vida:"Ei, nele você não pode tocar!".
- Claro que pode, filho. Melhoras tá? E descansa bastante!- Minha mãe falou passando a mão em seu cabelo, em seguida ele se levantou.
- Vem cá da um abraço no seu pai.- Nosso pai ainda sentado, puxou Max pela cintura de uma vez, envolvendo-o com seus braços, fazendo com que ele caísse em seu colo. Ele adorava fazer isso com a gente.- Nossa filho, você ta com o corpo quentinho. Será que é febre?
- Não, pai, só tô com calor mesmo. Vou subindo. Boa noite.- Se levantou e saiu.
- Já terminei de comer, também tô subindo. Boa noite.- Falei e fui pro quarto. Chegando lá Vi o Max deitado em sua cama, mexendo no celular e percebi que ele tava olhando fotos deles dois. Peguei o celular de sua mão sem que ele esperasse.
- Ei, devolve isso aqui agora!
- Não. Não vou deixar você se machucar mais ainda olhando essas fotos. Ela decidiu assim, Max. Pode não ser do seu agrado a decisão dela, mas ficar olhando suas fotos não vai adiantar nada.- Nessa hora uma lagrima escorreu de seu olho.- Agora é bola pra frente.
- Mas não é tão fácil quanto você pensa, Gabe!
- Eu sei que não, mas é por isso que eu to aqui, pra cuidar de você.- Falei diminuindo o tom de voz e me deitando ao seu lado.- Você vai ver como daqui a pouco você vai ta bem melhor, mas sem foto, OK?- Ele assentiu positivamente. Ele chegou mais perto e deitou a cabeça em meu peito.
- Obrigado por tudo, Gabe.
- Você não tem o que me agradecer. Eu faço isso é porque eu te amo e nunca te deixaria agora e nem em qualquer outra situação.- Ele me abraçou com mais força.
- Posso dormir aqui com você?
- Não precisava nem perguntar. É óbvio que pode. Hoje o meu colo é só seu.- Falei arrancando uma leve risada dele. Pelo menos já era alguma coisa. Mandei uma mensagem pro Ric dizendo pra ele não me ligar e que depois eu explicaria.
- Gabe eu realmente espero que você nunca passe por isso, porque é horrível e se um dia o Ricardo fizer isso com o seu coração, partir ele tanto quanto o meu, eu juro que ele me paga. Não aguentaria te ver assim.
- Não vamos pensar nisso agora, ta bom? Acho que o que você precisa é se distrair um pouco. Coloquei um filme de comedia brasileira qualquer, só pra pelo menos passar o tempo. Quando percebi ele já dormia no meu peito, então desliguei tudo. Já tô até vendo como vai ser amanhã na escola, com esses dois na mesma sala! acabei dormindo, pois amanhã o dia vai ser longo.