VII
Insatisfeito, porque não suportei o soldado invadindo a cidade há muito inabitada, sem ordenar que o soldado desse meia volta e se retirasse da cidade; afundou os dedos nos meus cabelos como se fosse fazer um cafuné, massageou ainda o coro cabeludo de leve para em seguida encher a mão com os fios da minha cabeleira e os puxar para trás fazendo que o meu corpo á medida que ele puxava eu o seguisse.
Gostei da atitude dele novamente. Entregue ao domínio dele fiquei angustiado de tesão, de tensão. Eu queria ser daquele homem, queria ter aquele homem todo dentro de mim, embora fosse verdade que não o suportava por completo, o máximo que o aguentei foi à cabeça do pau dele enterrado no meu cú.
Ele beijou meu pescoço. Estranhei, não esperava essa atitude de Mauricio. Mas, também não esperava que Mauricio quisesse me comer, não acreditava, mesmo querendo, na cena que ainda se desenvolvia.
Ele deixou um rastro de beijo molhado do meu pescoço ao meu rosto. Esfriei quando tive a noção que ele iria beijar a minha boca... Ele me fez encostar no capo do carro, ainda penetrado até onde aguentei; ainda me controlando pelos cabelos literalmente... Forçou meu rosto virar para que pudesse encaixar sua boca na minha. O beijo foi molhado, não de língua, mas foi molhado. Como se experimentasse a sensação de ter meus lábios ao seu controle. Experimentou o meu lábio inferior. Experimentou meu lábio superior. Nitidamente ele avaliava a sensação. Por quê?
Porque ele avaliava o sabor dos meus lábios? Porque ele experimentava o sabor da minha boca em demonstração explicita de avaliação? Por quê? Enquanto analisava-o de repente ele saiu de dentro de mim ao mesmo tempo em que balbuciou em tom de arrependimento:
- O que estou fazendo meu Deus?
Subiu a cueca. Enrolou-se na toalha e parecendo um foguete em disparada sumiu dentro de casa.
Subi a minha calça e tratei de voltar a fazer o que estava fazendo no momento que fui interrompido, que era lavar o jipe. Não demorou muito apareceu ainda feito um foguete passou por mim atônito. Abriu o portão e desapareceu na rua.
Não fiz nada. Não disse nada. Mas, uma dor se instalou no meu peito.
Tive vontade de chorar.
“Era muito bom para ser verdade. Era muito bom para ser verdade”. Era o único pensamento que insistia em me atormentar.
“Era muito bom para ser verdade. Era muito bom para ser verdade”. Insistia em prevalecer na minha cabeçaTinha muita vontade dos meus filhos fazerem faculdade. – Revela Dona Maria numa evidente preocupação com as crias, por isso considerei típica confissão de amor materno.
Estávamos à mesa jantando.
- Não deu mamãe. Fazer o que? – Respondeu Jackson filho de Dona Maria numa indiferença clássica de sua personalidade. Bastava passar dois minutos na companhia de Jackson para perceber que não tinha muito apreço por estudo.
- Já eu se tivesse a oportunidade pegaria com as duas mãos. – Diz Cristina, filha de Dona Maria, dando uma boa garfada na sua comida.
- Mas, há tempo para você correr atrás Cristina. – Incentivei Cristina que, não sei ao certo porque não perguntei, até porque seria indiscreto, mas que demonstrava ter uns 23 anos no máximo. – Tá no tempo de fazer uma boa faculdade. – Concluo.
- Será? – Questiona Cristina cheia de esperanças.
- Não tenho duvida.
De todas as formas tentava me manter ligado na conversa da família de Dona Maria, contudo, minha cabeça desde o dia anterior parece que passou a ganhar a vida própria, insurgiu-se a favor de sua independência, á decidi em causa própria. Fazia mais de 24hs que Mauricio sumiu, evaporou e nestas 24hs não dormir direito, não comi direito, não trabalhei direito. Minha cabeça nestas 24hs não parou um segundo: agitado, inquieta, sobretudo, na expectativa de vê-lo entrar pelas portas da casa de Dona Maria, mesmo que fosse apenas para me mandar ir embora, mesmo que fosse para me destratar.
Vê-lo são e salvo já era o bastante. O resto era o resto.
- Você me ajudaria? – Questionou-me Cristina.
- Claro. – Balbuciei muito comprometido.
Fito meu prato. Intacto. Não dei uma garfada. Não consigo comer.
- Depois tu conversa sobre isso com Caio filha. Tô reparando que há algo errado... – Diz com os olhos fixos em mim.
- Porque diz isso?
Voltei minha atenção para Dona Maria em expectativas. Talvez, ela obtivesse alguma informação de Mauricio. Eventualmente ele tenha entrado em contato, dito alguma coisa. Enfim, o dia todo veio à vontade de perguntá-la sobre Mauricio não o fiz, porque considerei impróprio.
- Tua comida tá toda no prato. Não tocou em nada.
As expectativas foram frustradas. Dona Maria não tinha noticias de Mauricio.
Ela acrescentou:
- Não tá gostando da minha comida?
- De forma alguma. De forma alguma. – Boto veemência na voz na intenção que rua qualquer sentimento de desfeita para com a minha anfitriã. Seria um ultraje de a minha parte rejeitar a comida de Dona Maria, que diga de passagem, sempre tinha maior amor em nos servir, digo servir tanto a Mauricio quanto a mim. Seria grosseria algo que não faz parte da minha educação. Explico:
- Não tô com apetite, aliás, tô com uns problemas no serviço.
- Posso preparar outra coisa, talvez uma sopa. O que você acha? – Sugeriu a sopa muita prestativa.
- Agora, não. Qualquer coisa eu digo a senhora. – Levanto ajeito a cadeira a mesa. E peço licença para me retirar.
- Posso passar amanhã no teu escritório para tu resolver o que te pedir?
Jackson queria trabalhar na construção da estrada. E como havia muitas vagas não seria difícil encaixá-lo.
- Amanhã o serviço é teu.
Dito isso fui para o meu quarto.
Liguei o mp3 no volume médio e a música, o mundo é um moinho:
“Ainda é cedo amor mal começaste a conhecer a vida. Já anuncia á hora da partida sem saber mesmo o rumo que ira tomar...”
Preencheu o quarto.
Um rastro de melancolia invade o quarto amparado pela ignorância do paradeiro de Mauricio. Pela ignorância de saber qual será a sua decisão. Não sabia o que pensar. quais parâmetros utilizar para ponderar. O ultimo evento, inesperado, intempestivo desconstruiu fatalmente o que considerava previsível. Embora, almejasse, e almejasse em demasia, jamais acreditaria que Mauricio me daria uns amasso. Que Mauricio me pegaria do jeito que me pegou. Que Mauricio beijaria minha boca.
Por isso, de fato não sabia o que esperar; como esperar. Ainda mais, depois do rompante que lhe fez sumir. Ele experimentou meus lábios, o sabor, o gosto e, certamente após pesar o sabor não gostou da experiência e fugiu. É a única explicação. Ele não gostou. E não gostou, porque é heterossexual convicto.
Logo, não tenho chance, penso; mas depois vem a lembrança que do nada ele me agarrou. Há peso neste fato. Então, tenho chance. Concluo agora o inverso da primeira conclusão. Esse fato assegura isso. E fico neste conflito.
No fim da ultima faixa Mauricio do entrou no quarto e disparou.
- Precisamos conversar.
Espantei-me.
Sobre a cama apoiando o pescoço no travesseiro contra o espelho da cama estava imaginativo, pensativo. Quando o olhei fiquei na defensiva cuja minha atitude foi num salto pular da cama, ou melhor, tirar os pés de sobre a cama. Permaneci sentado na beirada esperando o ataque, como demorou relaxei o corpo. Desta nova posição o fitei de lado quase por cima do pescoço. Sei lá porque agir assim.
Mauricio estava muito sério. A expressão do rosto fechada. E foi impossível não reparar como o ar sério lhe caia bem, deixava-o lindo, irresistivelmente lindo. Usava bermuda e camiseta o que proporcionava uma visão privilegiada das pernas, do peitoral e dos braços, ou seja, era a exuberância encarnada para meu deleite.
- Não tem jeito. – iniciou na mesma posição. Em pé. – Não fala fino. Não desmunheca. Como pode?
Intrigado, Mauricio estava completamente intrigado comigo.
- E quem falou que o fato de ser gay tem que obrigatoriamente o cara falar fino e desmunhecar? – Rebato pacificamente, pois não era o objetivo gerar conflito. E também era visível que ele não queria conflito. O questionamento dele era honesto.
- Tu comeste Letícia. Não foi? – Sedento de entendimento. Era notório que Mauricio buscava compreender.
- De fato, procede. E comeria novamente, se fosse o caso. – Asseguro sem titubear. - E a bem da verdade, Letícia não foi à única mulher que eu comi. Já comi varias. – Completei a informação.
- Eu não entendo. – Confessou envolto em confusão mental, aparente.
- A questão de tanta confusão é porque a maioria das pessoas comunga piamente da idéia que gay só e somente dá à bunda.
- E não é verdade? – Bota a mão no bolso pensativo. Analisava tudo o que eu dizia.
- Meia verdade. Nem todo gay dá a bunda. Há gays que nunca deram à bunda, pelo contrario, só comem. Nem todo gay quer ser mulher. Eu por exemplo: Não quero ser mulher, não sou mulher, sou homem, sou macho, embora esteja apaixonado por ti. Assim, se por acaso tivéssemos algo seria um relacionamento entre dois homens. Enfim, o que estou tentando ti dizer é que não podemos ficar preso em rótulos para entendermos a diversidade que cerca a humanidade. Rótulos não conseguem exprimir tampouco explicar a cabeça das pessoas. Não consegue defini as pessoas. – Discurso com paciência, procurando escolher as palavras corretas, o tom de voz correto. E, sobretudo, agradecido pela oportunidade dada em poder dialogar. Lembro que a vida foi implacável no meu julgamento em idos distantes. Não tive oportunidade de explicar, de me justificar, não tive o direito do contraditório.
Mauricio ouviu com atenção.
- É muito confuso tudo isso. De tudo que tu explicaste gostei da parte que você não é, e não quer ser mulher. Tu és sujeito macho.
Acho graça das palavras de Mauricio. Pois de fato, ele entender de pronto, o que eu até aquele instante completamente ainda não havia entendido seria muito, portanto totalmente plausível a confusão na cabeça dele. Desta maneira, uma luz acendeu diante de mim, Mauricio estava tolerante, receptivo. Será?
- Eu entendo a tua confusão.
Ele se aproxima. Senta ao meu lado.
Ele diz:
- Desculpas.
- Por quê? – Pergunto sem olhá-lo nos olhos.
- Porque eu fugir. – Respondeu Mauricio.
- E porque fugiu? – Ainda sem olhar no rosto dele.
- Porque foi o caminho mais obvio que achei depois da minha constatação. – Diz Mauricio receoso. Como tivesse medo em encarar o que estava prestes a confessar.
- Não entendo. – murmurei sem entender nada.
- Medo, receio. Eu vou explicar. – calou-se por uns segundo. É nítida a dificuldade que tinha em encarar o que esta prestes a revelar. Por isso a hesitação. Continuou. - imaginei que sentiria repulsa, nojo ao beijar tua boca. Contudo, não foi assim. Não senti repulsa e muito menos nojo.
- Então você fugiu por medo do fato de ter gostado. O teu medo é que tenha virado gay. E diante da possibilidade se apavorou e fugiu. Não é verdade? – Agora consigo ver direitinho ás coisas como elas são. Consigo entender o conflito na cabeça de Mauricio, e diante deste elemento novo instala-se no meu peito uma dosagem substancial de compreensão. Fico comovido e cresce a vontade de tê-lo no colo, de cuidar dele.
- Eu não sou viado. Fiquei apavorado mesmo. E para tirar a prova dos nove fui à casa da loira terminar o serviço que tu interrompeste aqui no quarto.
- Tu foste atrás da loira?
- Fui comer a loira. Dei três com ela ontem á tarde. E a conclusão é só uma: não tenho nada de viado, pelo contrario sou macho fodedor.
Não me seguro e caio na risada.
- Fico feliz em ter chegado a essa conclusão.
- Pensei muito em tudo o que ocorreu ontem à tarde comigo. – Ele se corrigiu. – O que correu com a gente.
Fico em expectativas. Ansioso pela conclusão dele. Viro-me para ele, e torno-me todo atenção. Será que esse homem de um metro e noventa, corpo perfeito, tarado vai me querer? Chegou a hora da verdade.
CONTINUAO QUE ESTÃO ACHANDO DA HISTORIA? SERÁ QUE VAI ROLAR NAMORO ENTRE CAIO E MAURICIO?
FINALMENTE, QUERO DEIXAR REGISTRADO MEU AGRADECIMENTO A ATHENO POR TÁ ACOMPANHANDO A HISTORIA. SAIBA: É MUITO IMPORTANTE TUA OPNIÃO!