Gente, o que vou escrever aqui hoje, apesar do site, não é sexual. Sequer é um romance... É mais uma história de amizade. É mais uma representação do preconceito que nós vemos por aí. Fiquei sabendo dessa história, não sei se é realmente real, mas pode acontecer. E eu tenho certeza que já aconteceu. Não uma vez, mas várias. Porquê o preconceito, infelizmente não é restringido a uma pequena parte da população humana. Mas uma grande parte dela. Não vou citar idade, para que o site não barre a história. Considerem apenas os personagens como "Duas homens que não tem maturidade sexual ainda !" Abaixo o preconceito !
CAPÍTULO ÚNICO
Meu nome não é importante para a história. Me conheçam apenas como “Narrador”. A história que vou contar aqui, poderia ter sido evitada. Ou ao menos amenizada. Mas alguns dos homens, infelizmente, não são racionais. Não quero com essa história culpar alguém. Só, queria ver esse preconceito idiota diminuir. Tudo começa com meu primo, Leandro. Um garoto lindo, exemplar. Sempre tirou boas notas, nunca deu trabalho para os pais, nunca foi levado, sempre foi um amor. Ele estudava em um colégio, próximo ao local aonde eu morava. Como os pais dele trabalhavam, eu ia buscá-lo no colégio todos os dias. Sempre que lá chegava, ficava impressionado com uma coisa...
-Oi Leandro ! - dizia eu, vendo ele vindo em minha direção me abraçar
-Oi primo ! - ele sempre era tão carinhoso. Mas não era aquilo que me impressionava...
-Já podemos ir ?
-Claro... Ah, espera. Eu tenho que me despedir do Daniel ! - Isso me impressionava. A amizade que ele tinha com esse garoto, o Daniel. Sabe aquele tipo de amizade que não vemos adultos manifestarem, apenas crianças ? Era algo assim. Todos os dias, ele saia dos meus braços e corria para se despedir do garoto com um abraço e um beijo no rosto. Eu sei, para a maioria das pessoas isso despertaria pensamentos ruins. Mas eles eram apenas crianças, mal sabiam o quanto aquilo era abominado pela sociedade.
TEMPO DEPOIS
Era uma amizade linda. Sem maldade. Com pureza. Eu ficava impressionado, porquê não vemos isso em adultos. Os adultos perdem a pureza, a maldade. As crianças são os seres mais abençoados dessa terra. Diversas vezes eu e Leandro saiamos juntos. Eu o levava para cinemas, para parques, para praças. Certo dia ele quis por que quis fazer um piquenique em um bosque. Acabou que eu tive que fazer esse piquenique com ele.
-Primo, nós podemos levar o Daniel ?
-Claro... Mas a mãe dele vai deixar ?
-Vai sim, tenho certeza que sim...
E ela realmente deixou. Os dois, sentados no banco de trás, não paravam de jogar e se divertir no celular. Apenas olhava eles dois pelo espelho do carro e via o quanto eles eram grudados. O quanto gostavam um do outro, sem nenhuma malícia. Chegamos no bosque, arrumamos a toalha com o monte de guloseimas no chão. Logo começamos a comer. Não deu 5 minutos, e eles estavam brincando de passar geleia um no outro.
-Meninos ! Parem com isso ! - dizia eu, rindo deles dois – é feio desperdiçar comida !
-Depois a gente compra mais primo ! - dizia ele, jogando em mim em seguida.
-Eu te pego seu moleque ! - começamos a correr pelo parque. Era tão divertido. Eu me divertia muito mais com eles do que com qualquer um dos meus amigos. Eles me faziam refletir. Me faziam indagar-me o porquê de nos tornarmos chatos depois de adultos... Via eles dois se lambuzando de geleia, se abraçando, se jogando no chão, enfim, se divertindo. Pena que meus tios não viam o mesmo que eu.
DIAS DEPOIS
Era um domingo. Almoço em Família. Aquela barulheira enorme que sempre acontece. Tias fofoqueiras que sempre falam dos conhecidos da família, normalmente mais alto que uma matraca. Sertanejo tocando na TV. Os marmanjos bebendo cerveja e falando de futebol, enquanto assavam carne na churrasqueira. E eu, cuidando das crianças. Na hora do almoço, todos na mesa comendo, o pai do Leandro fala.
-E ai filhão... Gosta de alguma menina na escola ? - aquela pergunta clichê !. Talvez todos os homens do mundo alguma vez na vida ouviram isso do pai
-Não papai... Eu gosto do Dani... - quando ouvi aquilo, todos pararam de comer. Olhei para o pai dele, sabia que ia dar merda. Ele não sabia que a sociedade não aceita amor entre homens. Não importa de qual espécie. De repente o pai dele se levantou, e começou a puxá-lo pelo braço. Quase em seguida eu fui atrás, com medo do que podia acontecer. - o que você vai fazer ? - eu perguntei
-Sai daqui ! O filho é meu ! - foi o que ele me respondeu. E eu tive que sair de lá, afinal ele tinha razão. Mas eu fiquei com um aperto no coração, porquê sabia o que ele ia fazer !
NO DIA SEGUINTE
No outro dia eu fui lá novamente. A primeira coisa que fiz foi procurá-lo. E o encontrei, no quarto dele.
-Leandro ? - ele estava deitado – tá dormindo ?
-Não primo... Só estou aqui deitado...
-Como você tá ?
-Bem... - ele se sentou na cama, eu me aproximei dele e sentei também. Começei a olha-lo, de cima a baixo. E logo vi diversas marcas. Nos braços, nas pernas...
-Levanta a camiseta para eu ver seu corpo Lê – ele levantou. E ele também tinha marcas pelo corpo. Imediatamente lágrimas vieram aos meus olhos. Eu só me perguntava o porquê.
-Primo, porquê o meu pai me bateu ? - eu olhei para os olhos dele, podia ver o quão magoado estava. Fiquei com raiva, com ódio enquanto chorava. Não sabia o que dizer. Não podia simplesmente dizer que era porquê ele não podia ter uma amizade linda com um garoto, na opinião do pai. Eu só conseguia chorar. De repente então ele limpou as minhas lágrimas, com a mão. Me perguntava como o pai dele havia conseguido fazer uma barbárie daquela com um garoto. Bater nele, por ele amar um homem...
TEMPO DEPOIS
Alguns dias depois e ele voltou para a escola. Eu continuei diariamente buscando na escola, pelo mesmo motivo anterior. Não tinha quem o buscasse, então eu me prestava a esse favor. Todos os dias via ele sempre com o mesmo sorriso, aqueles olhos magoados sumiram. Sabia que era por causa de Daniel. Porém, num dia, eu cheguei lá, e me deparei com o pai dele, furioso, o arrastando para o lado de fora da escola.
-Ei, o que é isso ? Porquê você está fazendo isso ? - ele não me respondeu. Praticamente empurrou o garoto para dentro do carro e saiu. Leandro me olhava, como se quisesse uma resposta, porquê assim como eu, não sabia o que estava acontecendo. Olhei para dentro da escola, e de longe vi o Daniel e a mãe dele. Fui rapidamente até eles. - o que foi que houve ? Porquê ele saiu daqui desse jeito ?
-Eu não sei... Ele só chegou aqui e saiu arrastando ele para fora. Eles não estavam fazendo nada, só estavam sentados aqui, esperando – imediatamente me toquei sobre o que havia acontecido. Ele não me avisou que viria. Quando chegou, viu eles dois juntos. E aí ficou furioso.
-Tio ? Eu fiz algo de errado ? - Daniel me perguntou.
-Não meu querido... Isso é besteira do pai dele... - falei, olhando para a mãe dele. Com o meu olhar, ela já entendeu o que havia acontecido. Praticamente corri em direção a casa do Leandro. Estava com medo do que poderia acontecer.
MINUTOS DEPOIS
Quando cheguei lá, me deparei com o pai dele furioso. Nunca tinha visto um homem tão transtornado. E eu só me perguntava porquê... Porquê isso ? O pai dele arrumava as coisas do Leandro em uma mala.
-Para quê essa mala ?
-O Leandro vai viajar. Para a casa de uma tia minha. Lá tem crianças decentes, é o melhor para ele – gente, eu fiquei desesperado. Além de não querer me separar do Leandro, não entendia o porquê disso. Parecia que ele havia cometido um crime terrível, e estava fugindo da polícia. Parecia que ele era o pior garoto da Terra, e não era. Comecei a procurar o Leandro pela casa. O encontrei, num canto, aos prantos, como eu nunca tinha visto.
-Leandro !? - imediatamente quando ele me viu, me abraçou.
-Primo !? Porquê meu pai está assim ? Porquê ele está assim comigo ? - eu não sabia o que responder, mais uma vez. Só soube dizer uma coisa.
-Vai ficar tudo bem meu querido... Vai ficar tudo bem...
TEMPO DEPOIS
Voltei para casa com raiva. Me sentia um lixo. Acho que nunca havia me sentido tão mal. Eu vi uma injustiça acontecer, e não pude fazer nada. Só me perguntava o porquê de tanto ódio, de tanta raiva por parte dele. O filho só era um garoto, caralho ! Mal tinha uma visão de mundo, quanto mais de sexualidade... No dia seguinte retornei a casa dele, mesmo mal. Quando cheguei lá, não encontrei ninguém. Após andar por todos os cômodos, encontrei um papel amarelo grudado na geladeira.
“Alugamos uma casa em São Paulo. Ficaremos lá durante algum tempo”
Sai da casa indignado. Minha vontade era gritar com o meu tio. Desrespeitá-lo, dizer que ele estava errado, que ele era um louco, que um filho era apenas um garoto. Mas eu não podia fazer isso. Não podia fazer nada.
5 MESES DEPOIS
O tempo foi passando, e mais de 5 meses depois, e eles continuavam lá em São Paulo. Diversas vezes eu ia visitar o Edu, porquê sentia falta dele. Gostava muito dele também.
-Oiiii – ele dizia, ao me ver na porta de casa – que bom que você veio tio...
-Mas é claro que eu viria te visitar ! Você acha mesmo que eu me esqueceria de você, meu lindo ?
-Não... Vem, quero te mostrar umas coisas – e como sempre ele me alegrava... Andava pelo quarto dele, ele me mostrava algumas coisas. Até que aquele velho assunto voltou à tona ? - tio, e o Leandro ein ? - naquele momento fiquei sem ação. Não sabia o que dizer. Olhei para a mãe dele, ela olhou para mim.
-Ele está viajando querido...
-E não volta nunca dessa viagem ?
-Eu... Eu não sei... - deixei ele lá, arrumando as coisas dele. Percebi o quanto ele ficou triste naquele momento. Mas eu não podia fazer nada.
-Ele pergunta dele todo dia... - a mãe dele me disse, do lado de fora do quarto.
-E o que você diz ?
-O mesmo que você... Ele tem estado muito triste sabe. Aquela amizade... Significava demais para ele.
-É... Pro Leandro também... - ainda me perguntava porquê aquilo tinha acontecido. Porquê o pai do Leandro havia sido tão injusto com o filho...
DIAS DEPOIS
Estava trabalhando, quando de repente recebi uma mensagem.
“Pelo amor de Deus, me ajuda...”
“O que foi que houve ?” era a mãe do Daniel
“O Daniel... Ele tá se sentindo mal, vomitando, com febre”
“Leva ele no hospital, acho que é virose...”
“Vou esperar. Ver se passa. Se for virose o doutor só vai dar remédio para ele”
“Ok... Qualquer coisa, se precisar de mim, me avise”
Fiquei preocupado com o Daniel. E mais preocupado ainda quando ela o contatou novamente.
“Ele não melhorou” ela dizia “Trouxe ele para o hospital, por algum motivo esses sintomas não querem passar”
“E como ele está ?”
“Teve duas convulsões”
“Jura ?”
“Juro. Olha, se você puder, tem como passar na minha casa e trazer roupas pra mim e pra ele ? Ele vai ficar internado”
“Tem, claro... Já estou indo”
Eu não conseguia parar de pensar que se o Leandro não tivesse ido embora, ele não estaria daquela forma. Fui para o hospital com o que ela pediu. E quando entrei no quarto, vi os olhos dele brilharem. Reparei que assim que entrei, ele ficou olhando para a porta, como se esperasse que mais alguém entrasse. Aquilo cortou o meu coração. Era nítida a falta que ele sentia do Leandro.
-O Leandro não veio ? De novo ? - eu não consegui responder nada, apenas desconversei.
-Você cresceu ein ? Faz um tempão que a gente não se vê... - ele ameaçou esboçar um sorriso, mas a verdade foi que ele muchou novamente depois daquilo.
Passei algum tempo com ele, e nos divertimos bastante.
-É minha vez – ele dizia, pegando o celular das minhas mãos.
-Tá, mas eu tenho certeza que você não vai conseguir... - dizia sorrindo. Algum tempo depois, e ele conseguiu. Fiquei de boca aberta.
-Sou melhor que você tio !
-É, parece que é mesmo... - sim, fiquei muito feliz de vê-lo. Podia ver o quão feliz ele ficou com a minha presença. Isso me animou. Porém bastou eu sair do quarto e a realidade aparecer para eu ficar triste novamente.
Alguns dias depois, recebi uma mensagem novamente da mãe dele.
“O Dani pegou uma doença...”
“Como assim ?”
“No hospital... O médico disse que a imunidade dele baixou, ele pegou uma doença... Ele tá muito mal, eu tô com medo”
“Calma, vai ficar tudo bem... Ok”
É, mas não ficou. Alguns dias depois, e ela mandou um áudio.
-Ele não aguentou – dizia, chorando – ele morreu ! Ele não aguentou os remédios... Ele acabou de morrer... Oh Meu Deus, o que vou fazer da minha vida agora ? - e ela chorou. Ao ouvir aquilo, me desesperei. Comecei a chorar também. Não sabia como daria aquela notícia a Leandro. Ele morreu ! Morreu por uma complicação de coisas. Mas tudo começou com a imunidade baixa. Imunidade essa que baixou por causa da tristeza e do estresse que ele foi submetido. O pai do Leandro havia deixado isso acontecer. Os garotos eram tão felizes, porquê destruir uma amizade tão pura. Por puro preconceito. E agora Leandro nunca vai poder se despedir do amigo. Nunca vai saber o que aconteceria. Daniel morreu triste, como um garoto nunca deve morrer. Isso tem que acabar. As pessoas tem que se tocar. O preconceito tem que deixar de existir !
FIM
E ai ??? Gostaram ??? Novamente digo,eu não sei se essa história é real. Não é uma história minha, mas eu achei legal contar ela. Mostra o quanto o preconceito ainda é real. E o quanto ele é idiota. Espero não ler mais coisas assim. Leiam meu novo texto →:
http://www.casadoscontos.com.br/texto/ Beijos <3