1ª PARTE
CAPÍTULO 1
MICKEY, JORGE E GABRIEL
MICKEY
2003
O dia tinha no ar aquela sensação mórbida que só o dia dos finados tem, o cinza do céu contribuía com aspecto feio, a sensação seca da primavera, o vento e a sujeira da cidade, lembrava que o centro tinha acabado de sair de uma pesada época de eleição.
Agora ele sabia que Mickey era gay, de uma maneira inconveniente. Agora ele sabia, era fato, a partir daí a cena toda se passou lentamente para ele, inaudível. Mickey corria sem saber ao certo do que ou o porquê. Ele tinha noção de que seu irmão contaria para a família toda, chegar lá antes dele só o faria implorar mais, mesmo assim, Mickey corria.
Mickey nunca havia tentado se enganar, não tinha se dito “é só uma fase” nem “talvez eu seja bi”, desde os 14 anos, quando o vizinho, com calor, tirou a camisa e começou a cortar a grama, ele sabia. Achava bonito aquele verde, não parava de encarar aquele peitoral e se encantou por aqueles mamilos.
Ele sabia que ao abrir a porta de casa iria se encontrar com uma realidade que jamais conseguiria mudar, seu irmão sempre fora mais rápido que ele, pensava: “é claro que ele já estava em casa, é claro que ele já teria contado para a família toda”, talvez fosse mais racional e menos estupidamente corajoso fugir, negaria tudo, diria que não sabia do que Maurício estava falando.
Mickey se encontrava parado em frente do portão de casa, o vento batia em seu cabelo amarelo e tentava inutilmente desarrumar o que ele já considerava bonito desarrumado. Ele não ouvia barulho algum, “Minha casa sempre foi assim, silenciosa? ” Se ele contou, iria começar uma briga, não sabia o que iria acontecer depois dali. Sua irmã talvez ficasse do seu lado. Seus pais deveriam estar indo para igreja uma hora dessas, mas o carro ainda estava na garagem. Talvez fosse pior ficar imaginando as coisas, “talvez não seja tão ruim assim”, ele não conseguia fingir ser positivo.
Entrou.
O barulho que a porta faz ao abrir, alertou todo mundo em casa que ele havia chegando, seus pais e seus irmãos que estavam de mãos dadas na sala ridiculamente branca, pareciam estar rezando, cada um possuía uma bíblia de tamanhos diferentes abaixo do braço, eles estavam em círculo. Sua mãe extremamente loira, com olhos gigantes azuis, já deveria estar chorando faz tempo quando olhou pra ele, tinha uma expressão de cansaço no rosto e a maquiagem borrada não se deixava enganar, ela estava ao lado do seu pai que tão gigante quanto seu irmão o olhou com a testa enrugada, com os olhinhos minúsculos, parecendo uma pequena noz, ele foi em direção a Mickey com os passos aumentados e nervosos, olhando-o agressivamente, Mickey nunca tinha visto tanta fúria nos olhos de alguém, nem nos filmes de guerra que ele o fazia assistir.
Seu pai o pegou pelo braço, gritou alguma coisa muito perto do seu rosto, o arrastou pela escada acima. Mickey sabia que qualquer coisa que ele dissesse a partir dali seria em vão, pois o grito dele era mais alto de que qualquer outra coisa que ele poderia vir a dizer.
Mickey foi jogado na cama com uma violência tão grande que as fotos da parede do seu quarto caíram instantaneamente, o pai apontou o dedo gordo dele duas ou três vezes, tirou o cinto da calça com facilidade, dobrou e começou a acertá-lo, foi quando Mickey tentou proteger seu rosto que Maurício, seu irmão, apareceu para segurar os seus braços para trás, o pai então acertou seu rosto com a fivela do cinto, no seu nariz, sobrancelha e boca. Ele pode sentir o salgado de suas lágrimas se misturar com o vermelho e meio amargo do seu sangue, uma dor tão horrível que ele só queria desmaiar, mas que não acontecia, seu pai abandonou o cinto e começou a usar os pulsos, ele era muito forte, socou o estômago com uma força tão bruta que Mickey parou de respirar por alguns segundos, “Você acabou com a minha vida Mickey! Acabou com a minha vida! ” Seu irmão o soltou e ele pode cair no chão tossindo, e tossiu mais conforme seu irmão começou a lhe chutar, braço, pernas e costas, o pai tinha saído do quarto, foi então que ele pode ver pela porta semiaberta, sua mãe abraçando sua irmã, olhando para ele e chorando, seu irmão que agora tinha cansado de lhe chutar pegou seu monitor, arrancou violentamente da tomada, gritou um versículo e jogou pela janela, quebrando a vidraça e fazendo um alarde no chão.
Mickey sentia que não estava ouvindo muito bem, ttambéminha sangue saindo do meu ouvido. Aquele vento frio que ele tinha sentido antes, agora invadia seu quarto, alçando as fotos do chão e arrancando o restante das fotos da parede, daquela direção para fora.
Os vizinhos assustados haviam se aproximado para ver o que estava acontecendo. Mickey não emitiu som algum, mas seu pai gritava muito, para todo mundo ouvir, ninguém o seguiu, tampouco com os olhos. Ele sabia que não podia mais ficar em casa, mas não sabia quão mal estava, resolveu não se olhar antes de partir. Pegou sua mochila, enfiou umas peças de roupa e documentos, a coragem permanecia, mas seu corpo não lhe obedecia como antes, gotas de sangue faziam um rastro por onde ele passava, sua perna direita não suportava o peso do seu corpo, ele saiu pela parte da frente, sabendo que um dia ele iria voltar.
17 anos, magrelo, sangrando e quebrado interna e externamente, ele sabia para onde ir só não sabia como chegar lá.
JORGE
1987
Jorge foi para o exército aos 18. Tradição. Sempre foi muito sério e responsável em quesito aos seus objetivos.
Ele não era muito diferente do que seu pai e avôs queriam que ele fosse: Trabalho, estabilidade, família e uma rede para balançar. De fato, ele estava construindo tudo isso. A entrada no exército foi prova de que seu plano estava dando certo, ele era focado e racional, irracional quando tinha de ser, o melhor atirador e o mais disciplinado, fez poucos amigos, pois não falava muito, gostava das conversas que poderia acenar com a cabeça que sim ou que não, essas eram as melhores, sempre esteve ocupado demais com seus pensamentos. Carreira, futuro, família, filhos, rede e lps. Talvez ele devesse aprender a cozinhar de verdade, enfim, pensar nisso minuciosamente o levava tempo.
Os anos passaram e Jorge já era policial, em decorrência a alguns acontecimentos na cidade onde residia, virou guarda numa escola, sabia que era temporário, mas de início aquilo o estressava, ninguém poderia dizer que estava estressado, a não ser ele. Foi um período difícil para a polícia aquele ano, uns foram ser guardas na prisão, outros na pracinha, mas Jorge não, Jorge ficou na principal escola pública da cidade, 1ª à 4ª série. Em conversas informais ele narrava para os colegas que a coisa mais perigosa que poderia acontecer era o fulaninho não emprestar a borracha para fulaninha.
Ele estava errado.
A professora mais teimosa trabalhava ali. Jorge se flagrava nervoso perto dela. Não havia visto várias professoras, mas caso tivesse, nenhuma seria tão birrenta quanto essa. Ela era curiosa, ele nunca imaginou que pessoas curiosas teriam essa habilidade de serem irritantes quando queriam. Ela não se contentava com seus acenos que sim ou acenos que não. Ele sempre teve a cara amarrada, de sério e poucos amigos, mas ela, curiosamente, não parecia se intimidar. Ela tinha cabelos longos e escuros, um par de olhos azuis que era fácil de perder a concentração olhando para eles, usava uns óculos enorme, tinha as bochechas fartas e rosada e vestia aquele uniforme que contornava sua cintura grande e, na sua opinião, sexy. Linda, ela o infernizava com sua beleza. Jorge se via tímido. Balbuciou uma ou duas dúzias de vezes, mas ele a convidou para jantar.
O primeiro encontro havia sido horrível, Jorge descobriu uma reação alérgica e Elaine riu, mas houve um segundo encontro, e depois o terceiro, jantares, cinemas, boliche e batata frita. O tempo só foi passando.
Casaram.
1992
Sua cara carrancuda não havia mudado, mas como os vizinhos se referiam a ele, era “um amor de pessoa” ainda não era delegado, mas era persistente, seu próximo passo: Queria ser pai. Ao ver que aquela professora incrivelmente formosa, bela e teimosa ainda o aguentava e o irritava de uma maneira que só ela sabia, se sentia bem.
Os bimestres foram se passando depressa, havia algo estranho com Elaine, ela não se sentia bem e não estava conseguindo engravidar, exames foram sendo agendados e reagendados, de cabeça aberta os dois se dirigiram ao hospital.
“Me desculpe Elaine, eu receio que você não possa ter filhos”
Elaine não gostava de rodeios, mas mesmo assim, essa notícia pareceu cruel.
“E agora?”
Ao receber a mesma notícia de todos os doutores diferentes que Elaine desejou consultar, Jorge fazia esse movimento com a mão que sabia que a fazia notar sua presença e empatia, ele cobria a mão dela com as suas, e acariciava a parte traseira de sua mão com seus polegares, Jorge nem notava que fazia isso sempre, mas Elaine sim e mesmo que só um pouco, se sentia bem e sortuda por estar ao lado dele.
Essa incapacidade mexeu com ela.
De um tempo pra lá, Elaine já não era a mesma.
Jorge rezava para que aquilo fosse apenas uma fase. O segredo talvez tenha sido o tempo, Elaine possuía vários tipos de sorriso: o sorriso de agradecimento pelas flores, o sorriso pela empatia da família, o sorriso de carinho e o sorriso de agradecimento pelos desenhos dos alunos, mas ela era sincera e triste às vezes com Jorge, o que ele confusamente preferia.
Levaram-se anos até ela sorrir de verdade e ele sabia porque se lembrava bem, foi num jantar que resolveram fazer em casa, os vizinhos e uns parentes vieram, ela segurava uma taça de vinho, tinha seus cabelos presos e uma maquiagem clara, seus olhos azuis encaravam o pessoal ao lado como se quem esperasse o final de uma piada, até que finalmente aconteceu, ela sorriu com aquelas bochechas rosadas novamente, “Meu Deus como ela era linda! ” Ele poderia sentar e olhar para ela por horas.
Ela gostava das vizinhas, mas era diferente de todas elas.
Elaine era revolucionária, orgulhosa, independente, feminista, se Jorge a deixasse entediada por um tempo, ela já arranjaria alguma coisa para fazer, tricotar, reinar ou comer. Ela tinha seu tempo e não gostava de o perder. Jorge se contentava com os rapazes, Frederico e Tom, principalmente Tom, conversava também com eles durante horas, mudou muito depois que conheceu Elaine. Jorge agora falava mais, às vezes era o primeiro a falar, aprendeu que o silêncio às vezes levava as pessoas assumirem o pior dele.
Os dias se passaram, ela se dava cada vez melhor com as vizinhas, colegas e amigas, Jorge cada vez mais amigo de Tom, papeava bastante, mas também ficavam em silêncio juntos, tudo estava bem novamente, até que, depois daquele longo dia, ela se deitou ao seu lado, segurou a sua mão de uma maneira carinhosa, por sobre a dele, acariciando com os polegares, respirou fundo e comentou:
“Eu vi a maneira como você olha para ele”
Jorge se fez de desentendido, disfarçou, achou aquilo uma barbaridade. Ela tentou inutilmente reproduzir a conversa sem sucesso. Ela nunca mais tocou no assunto.
1994
Os dias se passaram e aquela dor boba que incomodava Elaine veio em formato de dores pontudas, ela não gostava de Hospitais, com razão e só comunicou a Jorge sobre suas consternações, porque começaram a ficar insuportáveis, uma outra ida ao médico e Elaine ouviu aquela paavra de seis letras que a amedrontava: câncer.
Não foi tão ruim quanto o primeiro choque.
Elaine ela era forte, Jorge não.
Jorge estava desmoronando por dentro.
Ele sofria com todos os efeitos dos inúmeros remédios que ela tomava diariamente, como se quem sentisse as dores fosse ele ao invés dela, a quimioterapia foi a pior parte, a perca dos cabelos foi como se uma parte dela tivesse ido embora, ela lutava e implorava por um balde de batatas fritas todos os dias, mas se enjoava facilmente de tudo.
As unhas haviam ido embora, Elaine sentia como se o seu corpo tivesse desistido dela e se sentia sempre cansada, não gostava que Jorge a visse assim. A pedido dela, Jorge removeu os espelhos da casa e foi pega contrabandeando comidas.
Os dois permaneciam sinceros um com o outro, Elaine tentou várias vezes iniciar uma conversa com o intuito de preparar Jorge caso o pior viesse a acontecer, mas ele tinha ataques de raiva e preferia se apegar aqueles 30% de chances que os vários doutores tinham comentado.
Elaine dormia e Jorge a admirava dormindo.
“Meu Deus como ela é linda!”
Era manhã de terça chuvosa quando Jorge foi chamado para uma operação policial, várias viaturas estavam presentes, o cara armado estava prestes a se render, mas um movimento errado do refém fez um deles se assustar e foi aí que a troca de tiros começou. Jorge foi baleado três vezes, peito, perna e ombro.
Tudo havia acontecido tão rápido, ele poderia descrever com duas frases tudo que havia acontecido. Entr piscar de olhos ele via a maca, sentia as luzes da ambulância e lembrava de ser levado para uma sala branca, mas não conseguia sentir a dor, o que era curioso, mas estava ciente do seu limite, sabia onde doía e onde deveria doer mais, mas havia dificuldade no sentir.
Acordou assustado, levou um tempo para se lembrar de onde estava.
“Quanto tempo passou?”
Retirando agulha de seu corpo, automaticamente queria saber onde estava Elaine, tinha medo que não a segurassem e ela inventasse de sair da cama para visitá-lo e meio atordoado começou a se levantar, uma enfermeira o flagrou se levantando da maca e correu ao seu encontro o acalmando e recolocando na posição horizontal.
- Minha mulher... eu preciso ir... Elaine... - Disse Jorge com sua voz meio rouca, a garganta seca e sentindo a língua morta.
- Policial Jorge... - Respirou a enfermeira que exibia em seu crachá o nome Mel - Por favor não se mexa, eu... seus amigos estão aqui eles virão falar com você... - E rapidamente Mel, sumiu de vista.
Frederico e Tom entraram ali, mantendo contato visual com Jorge por alguns segundos somente e já olhando para o chão, Jorge imediatamente sabia o que tinha acontecido.
Elaine faleceu.
Jorge nunca havia chorado tanto em sua vida.
GABRIEL
2013
Houve um manifesto na cidade contra o uso de cachorros para testes de produtos cosméticos, havia mais de 400 pessoas caminhando, protestando, gritando, com caras pintadas e afins, Gabriel, estava com orelhas enormes e marrons, um focinho preto e umas pintinhas na bochecha que sua mãe havia feito, ele acreditava estar lindo. Foi ali que conheceu seu namorado, Rodrigo. Ele era enorme e estava erguendo uma placa enorme, tinha um cabelo estilo dread longo e espalhado, haviam vários nós em seu cabelos, o que causava uma impressão visual bela e estranha ao mesmo tempo.
Pessoas diferentes sempre atraiam Gabriel e o efeito daqueles olhos castanhos esverdeados possuíam alguma coisa que o fazia querer ficar perto, ele se sentiu hipnotizado e além disso, Rodrigo também tinha uma cara de bobo engraçada que, para Gabriel, era como se precisasse de ter alguém por perto.
Gabriel gostava de ser preciso.
O manifesto estava cheio, estava tudo ocorrendo bem, haviam pessoas assistindo e aplaudindo, câmeras por todas os lados, o intuito era mesmo chamar a atenção e parecia estar dando certo. De hora em hora as coisas estavam dando tão bem, que Gabriel se esquecia de se manter perto de Rodrigo e chamar a atenção dele.
A chuva veio em forma de alegria, pois o calor era grande e Gabriel nunca fugiu de uma chuva antes, o lado negativo era que perdera seu cartaz.
Algo aconteceu lá na frente cuja compreensão foi vaga, uma grande quantidade de pessoas se agitaram em meio ao manifesto, Gabriel ouviu gritos e barulhos, a polícia veio, bombas de gás foram lançadas nos manifestantes, havia perdido Rodrigo de vista, aquele fora um dia diferente, Gabriel estava assustado com toda aquela bagunça e fumaça e em meio a várias pessoas correndo, teve a ideia de mudar um pouco de rumo.
Correu para uma praça abandonada pela prefeitura, onde havia uma espécie de redoma velha cuja qual as plantas já tinham feito de lar, suas pintas falsas de cachorro já haviam diluído, talvez pelo suor, talvez pela chuva, se sentiu aliviado em saber que mais ninguém havia tido essa ideia.
Gabriel estava errado.
Rodrigo logo chegou molhado e suando também, respingando, com uma camisa verde musgo, que colava sobre seu corpo, exibindo as curvas de seu corpo e os detalhes de seu abdômen, sua barba era gigante e negra, que agora úmida, contribuía para que as pupilas de Gabriel se dilatassem. Na cabeça de Gabriel, aquela cena parecia de filme, percebeu que ele deveria parecer um bobo com toda aqula fantasia e toda aquela situação.
- Que raça você é? - Perguntou Rodrigo.
Gabriel ficou imediatamente surpreso com a pergunta, pois felizmente nunca tinham o perguntado isso.
- Eu não lembro o nome, mas é aquele do comercial da Coca!
Os dois riram e uma conversa interessante começou a partir daí.
Marcaram um café em outro lugar e não denominaram aquilo de encontro, porque ele não queria dizer para seus amigos que no meu primeiro encontro ele parecia um cachorro molhado.
O tempo passou e os dois foram se conhecemos melhor:
Moravam perto.
Rodrigo estava na cidade havia dois anos, ela era do Norte,
Gabriel sempre estivera por ali,
Rodrigo já teve um piercing no septo,
Gabriel não podia comer frutos do mar,
Rodrigo era sensível, antissocial e adorava astrologia
Gabriel não.
2014
O tempo passou e logo estavam comemorando 1 ano de namoro. O relacionamento todo discorreu naquela mesma praça, Gabriel decidiu enfeitar aquela redoma colocando algumas luzes e com ajuda de uns amigos enfeitou o chão com algumas velas e botou para tocar o seu Jazz. Dançaram ali por alguns minutos e juraram amor infinito.
Gabriel admitiu para si mesmo que Rodrigo foi uma das pessoas mais incríveis que conhecera. Nunca havia sido tão feliz assim com mais ninguém, o fato dele ser meu primeiro namorado o fez perceber coisas nele mesmo que nem sabia que existia e isso foi muito bem explorado. As brigas e reconciliações foram um aprendizado, e o sexo “... ah o sexo!” Gabriel fazia Rodrigo tremer, ambos insaciáveis. Rodrigo pedia para Gabriel repetir e Gabriel repetia.
Rodrigo ser excelente na cozinha foi de grande responsabilidade pela felicidade do casal. Para Gabriel, era difícil não engordar ao lado dele, e ele era feliz em ser cobaia de suas novas tentativas. Os domingos ao lado dele eram uma mistura de panqueca, sexo e sono de dar inveja a qualquer casal.
A situação era: graças ao emprego do seu pai, Gabriel se mudaria para a Europa dali um ano. Ele e sua família, claro, todos estavam em êxtase, pois seu pai finalmente tinha alcançado um importante cargo na companhia e seria uma grande experiência e oportunidade para todos, porém isso subiu à cabeça de Rodrigo que não acreditava em relacionamentos à distância, pensamento que Gabriel também compartilhava e logo começaram a se questionar sobre o futuro e ambos, tão jovens, não faziam ideia do que estavam fazendo.
Os dois se flagraram numa espécie de contagem regressiva rumo a infelicidade que os deixava cada vez mais depressivos. Seus amigos que sempre tiveram ao seu lado, disseram que lhes doía os ver assim. Gabriel interrompeu o namoro porque acreditava ser a coisa mais correta a se fazer no momento.
“Aliás, adianta esperar comprar as passagens para terminar de vez? ”
Para ele, terminar por terminar não era o suficiente, ele não aguentaria viver aquela eterna despedida, ele queria, aliás, precisava de algo para fazer, ocupar a mente, qualquer coisa, viu alguns locais brasileiros lindos que nunca havia visto e ficara boquiaberto com as belezas nacionais, de repente estava claro na sua cabeça o que eu deveria fazer.
Ele era um brasileiro que não conhecia o Brasil e não queria sair daqui assim, decidiu viajar e conhecer um pouco as terras brasileiras antes de dizer tchau.
Já graduado, carregava consigo uma filosofia torta de liberdade
“Agora eu posso fazer o que eu quiser”