1ª PARTE
CAPÍTULO 8
OS MENTIROSOS IIa semana já havia se passado desde que Gabriel havia sido deixado com o braço rabiscado. Suas passagens estavam prestes a serem compradas, mas era em situações como essas que um de seus piores defeitos, a indecisão, o infernizava.
“Quem ele está pensando que é? Que eu vou ligar assim... E pedir para vê-lo? Que absurdo... eu? Ligar para ele? Ele está pensando que é quem? Só porque ele tem um corpo incrível e o sexo é bom?” Gabriel respondeu sua própria pergunta, pegou o papel que havia copiado o número o ligou, pois sentia como se precisasse de um drama em sua vida e se não ligasse para o provável “Quarentão’’, ligaria para Rodrigo e não era esse tipo de drama que ele estava procurando.
- Alô? – Gabriel sabia que se pensasse demais ele acabaria não ligando, mas antes se culpar por ser impulsivo do que se arrepender por uma atitude bem pensada.
- Eu não achei que você fosse ligar mais - Disse Jorge do outro da linha.
- Ficou esperando eu ligar, é? – Gabriel levantou uma sobrancelha, sorrindo e fazendo com que sua tonalidade de voz ficasse diferente.
- Achei que você tinha tomado banho. – Gabriel demorou para fazer a conexão entre o banho e o braço com o número apagado. – Jorge fez um pequeno silêncio como se esperasse Gabriel entender e depois adicionou – Mas você me ligou...
Gabriel agiu como se de repente tivesse acordado e se perdeu na fala:
- Sim, sim, eu te liguei... é... Eu queria saber se você está afim de uma cerveja... Ou... Vinho... Ou Vodca... ou sexo como o da última vez... sei lá. – A naturalidade como Gabriel falava desses assuntos era algo que ainda assustava Jorge, ele estava tentando se atualizar, mas achava que para ele, algumas coisas seriam estranhas para sempre. Jorge riu e Gabriel ouviu a risada de Jorge pelo telefone ansioso pela resposta.
- Ai ai... sim, estou afim sim... eu te pego aí...? - Perguntou ansioso.
- Depende, em que sentido você está usando o verbo pegar? – Perguntou Gabriel esmagando Jorge com sua ousadia – Me pega do tipo passa aqui para me levar em algum lugar ou me pega do tipo semana passada, contra a parede? – Gabriel ouviu outro ataque de risos de Jorge pelo telefone, dessa vez mais longo. - Era estranho, para ele, que pessoa tão fechada, era capaz de de achar graça das coisas que dizia.
- Os dois, Gabriel... - Respondeu Jorge prevendo o que queria novamente.
Jorge se viu encantado pelo rapaz e achou injusto ele gostar de alguém tão rápido, não contaria para ninguém, mas nos últimos sete dias checaou o celular de hora em hora e chegou a preparar coincidências para se encontrarem, que nunca deram certo. Havia se arrependido profundamente de não ter pego o número de Gabriel.
- Amanhã às 21h passa aqui – Gabriel desligou o telefone sem dar à Jorge chance de discordar ou dizer que sim.
Jorge odiou adorar essa atitude. Algum tempo atrás se sentiria ofendido com qualquer pessoa que desligasse o telefone nele, mas lembrava das coxas grossas de Gabriel abertas para ele e logo estava em paz.
Demorou dois dias para chegar o dia seguinte.
Os dois já estavam prontos às 18h, mas mesmo assim chegar mais tarde era previsível, chegar mais cedo era desespero.
“Quantos orgulhosos eram necessários para trocar uma lâmpada?”
George já estava dentro do carro em frente ao apartamento, esperava ansiosamente dar 21:15h. Gabriel tinha todas as roupas de sua mala jogadas na cama como se tivesse gastado muito tempo escolhendo e de fato tinha. Na possibilidade de vir a gozar naquela cama novamente Gabriel embrulhou tudo num colo só e jogou dentro do guarda roupa fechando antes que houvesse tempo de despencar, ele sabia que seria traído pela sua memória e se arrependeria de ter feito aquilo na próxima vez que o abrisse. Colocou sua bota alta marrom, um jeans preto, que fazia sua bunda parecer maior, uma camisa num tom azul escuro com a estampa de um rádio com os anos de 1945 escritos em cinza logo abaixo, um casaco de couro preto e aberto e um cordão de âncora folheado em prata. A barba por fazer, dava a ela um ar de quem não pertencia a ninguém, e ele gostava desse ar de vilão que possuía, passou seu perfume de café e ouviu seu celular tocar em algum lugar, mas não sabia de onde era. Num desespero enorme Gabriel começou a procurar por todos os ridículos cantos que ele sabia que não tinha deixado, desde embaixo da cama até dentro da geladeira, foi quando de repente passou pela sua cabeça que conferira o horário enquanto trocava de roupa e foi diretamente ao guarda roupa e quando aquele amontoado de coisas desabou em cima dele, Gabriel soltou um palavrão e atendeu sem conferir o número.
- Você é engraçado sabia?
- Sou? – Perguntou reconhecendo a voz de Jorge.
- É! Tô aqui na frente esperando... lembra de mim né?
- Vagamente – Disse Gabriel retirando uma meia de sua cabeça.
- Vai demorar?
- Leva tempo para se fazer uma obra prima... – Jorge riu um pouco e rouco e repetiu
- Vai demorar?
- Já estou pronto - disse Gabriel se levantando.
Dentro de dez minutos os dois estavam numa mesa de bar esperando uma bebida de nome estranho. Gabriel pediu algo que levava energético, vodca, uma rodela de laranja e um canudo que dobrava, Jorge uma cerveja.
Dentro de mais dez minutos os dois estavam transando no apartamento em que Gabriel estava, refazendo todos as posições que fizeram a uma semana atrás, mas dessa vez demorando o dobro do tempo.
A cena era cômica e bela, os dois estava respirando exaustivamente numa típica cena pós sexo, entre tênis, sapatos, êxtase, câimbra, meias e chapéus espalhados pelo chão.
Gabriel estava vestindo apenas uma meia cinza e Jorge ainda tinha o peito encharcado de suor e da saliva que não era sua. Gabriel se ajeitou na cama, se esticou por cima de Jorge, alcançou o bidê, abriu a pequena gaveta única e tirou dali um pacote de cigarro e um isqueiro.
- Não sabia que você fumava – Disse Jorge com um tom fraco, mas alto suficiente para não repetir o que tinha dito.
- Eu não fumo – completou Jorge acendendo o cigarro – Eu só fumo porque tem...
Jorge virou a cabeça para olhar pra Gabriel e ter certeza que ele estava sério e não brincando – Quer um? – Jorge encarou Gabriel como se acabasse de ouvir um absurdo e respondeu: - Quero!
Dois tragos depois Gabriel resolve quebrar o silêncio
- Olha eu realmente quero estabelecer uma conversa com você aqui, mas eu estou com um medo enorme de me decepcionar, então você se importa se a gente não falar muito?
- Nenhum um pouco – Disse Jorge se sentindo meio aliviado e fechando os olhos.
Gabriel achou estranho o fato de Jorge não achar sua pergunta estranha.
- Mas se eu tiver alguma pergunta esquisita você me responde?
Jorge abriu os olhos, pensou e respondeu – Sim – e fechou os olhos novamente
- Hum – resmungou...
Dois cigarros depois, Gabriel quebra o silêncio novamente:
- Qual foi a pior coisa que já te chamaram? - Gabriel começou o quiz.
- Assassino – respondeu Jorge não esperando que Gabriel explicasse a pergunta.
Gabriel engoliu um pouco da fumaça que deveria ter assoprado e tossiu convulsivamente até perder completamente o ar enquanto Jorge ria, seus olhos aguaram enquanto ele voltava ao normal e numa voz ridiculamente fina ele perguntou:
- O quê? - Perguntou assustado.
- Eu era delegado a uns aos atrás, mas já me aposentei... – Completou Jorge ainda achando graça e tragando pela última vez o cigarro que ia ficando menor.
- Sabe, acho que se você tivesse dito isso antes dessa transa, eu provavelmente teria gemido mais alto...
- Por quê? – Jorge agora olhava pra Gabriel curioso
- Sei lá, tesão acho... você tem alguma algema aí? E uniforme? Tem? – Gabriel se animara tanto que se não fosse as fisgadas que sentia, transaria novamente com Jorge naquele mesmo momento.
- Tenho, mas não aqui...
- Estão na sua casa? – Jorge pensou um pouco e mudou de assunto
- Por que você perguntou qual era a pior coisa que tinham me chamado?
- Não sei – Respondeu Gabriel não percebendo a intencional alteração de tópico – Só achei que me surpreenderia com a resposta... Bom, eu não esperava estar tão certo...
- E você?
- Eu o quê?
- Qual a pior coisa que já te chamaram?
Héterossexual! Tenho arrepios só de lembrar.
Os dois riram e Jorge soltou: - Sério, Gabriel.
- Ah! Meu ex namorado dizia que ou meu coração é gelado ou que não tenhoPor que ele dizia isso?
- Minhas atitudes ultimamente falavam por si só...
- Se realmente você não tivesse um coração, não se sentiria ofendido com isso, não acha?
- É! – Respondeu Gabriel pensativo
- Você já teve muito namorado? – Perguntou Jorge.
- Não, um só! – Gabriel olhou pra Jorge, jogando o cigarro fora. – Quantos anos você tem?
- Bastante. Você?
- 25. Você já teve muito namorado? –Perguntou Gabriel.
- Não. Só um. - Jorge olhou pra Gabriel.
- Você sempre morou aqui? - Perguntou Gabriel olhando para o teto.
- Aham! E você? –
- Também.
- Quer transar de novo?
- Finalmente!