Cap.6
Sim, ele abriu a boca. Pela primeira vez ouvi a sua voz. Doce, macia, lisa, era uma voz tão diferente e ao mesmo tempo tão familiar. Me fez sorrir.
-Você falou o meu nome ? Você falou mesmo ? Oh meu Deus... - o abraçei. Fiquei hiper feliz, por ele ter falado comigo. Como queria ouvir aquela voz.
-Porquê você fez isso Miguel ? - foi o que ouvi em seguida, após ele falar o meu nome. O soltei, fiquei pensando...
-Eu não sei. Me deu vontade, e então eu fiz... - ele sorriu.
-Você não gosta de mulher ?
-Gosto. Mas sei lá... Você me deixou confuso... E eu não sei porquê... - falei, beijando ele novamente. E mais uma vez ele retribuiu, me beijando.
SEGUNDOS DEPOIS
Olhavamos nos olhos um do outro, sem saber o que dizer.
-E você, porquê falou só agora e me deixou cheio de dúvidas durante todo esse tempo ? - ele sorriu, olhou para o chão
-Porquê eu queria me sentir seguro... - falou, olhando para mim- eu sou um adolescente Miguel. Um adolescente indefeso, e da forma que eu estava, você poderia fazer milhares de coisas comigo. Eu só queria me sentir seguro... - deslizei minha mão em seu rosto, a pele dele era tão macia, nem parecia um adolescente.
-E qual é o seu verdadeiro nome ? - ele suspirou naquele momento.
-Pedro – falou, olhando para mim – você acertou o meu nome. Parecia que nossas mentes estavam conectadas, você acertou o meu nome...
-E sua família ? Você já está na minha casa há muito tempo, porquê não quis avisa-los ?
-Eu não tenho família. Perdi minha família naquele dia que você me achou na escada.
-Como assim ?
FLASHBACK
Ele começou a me contar uma história ligeiramente longa e dolorosa. Ele era um garoto feliz, tranquilo, amigo de todos, romântico e sonhador. Apesar de não ter muito dinheiro, ele tinha dentro de si todas essas características.
“NARRADO POR PEDRO
Terminava o meu ensino médio. Depois de toda a luta, aquelas brigas e diversas frustrações, eu terminei meu ensino médio.
-Não devemos parar de nos ver – dizia, a um amigo meu.
-Claro que não... Mas, Pedro, antes de nós irmos embora, queria te contar uma coisa.
-O quê ?
-Eu... Eu gosto muito de você...
-Eu sei que gosta, eu também gosto de você...
-Não. Estou falando que... Gosto de você como namorado....”
Ele disse para mim que não pensava muito em namoros naquela época, até porquê tinha dúvidas quanto a sexualidade. Mas que não teve mais, depois que o garoto se assumiu pra ele. Eles namoraram, ele perdeu a virgindade com esse garoto. Mas ele me dizia que nunca conseguiu se apaixonar por ele de verdade, que fez tudo aquilo apenas por curiosidade, para saber como era namorar. Parecia que faltava alguma coisa.Até que certo dia eles foram descobertos.
“NARRADO POR PEDRO
Estava no meio das pernas dele, recebendo o seu abraço, enquanto jogava videogame.
-Eu já disse que vou ganhar de você...
-Ah, não vai não ! - continuava jogando, até que o jogo acabou. Ele ganhou – mas que merda, eu nunca ganho.
-Eu sou expert nisso bobinho – falou, me dando um beijo. Naquele momento,a porta do meu quarto foi aberta.
-Pedro ?! - era o meu pai – que merda é essa !”
Ele me disse que o pai dele bateu nele, o xingou...
“-Sua bicha ! Seu viado ! Seu lixo ! Não acredito que durante todo esse tempo eu criei um lixo como você !”
Ele nunca havia dado nenhum problema para o pai. Mas o pai simplesmente ficou furioso quando viu que o filho gostava de homens.
“-Vá embora daqui ! E nunca mais me apareça !
-Mas pai, para onde eu vou ?
-Não sei ! Vá pro inferno !”
Ele tentou se refugiar na casa do garoto, mas ele não deu apoio. Foi um covarde.
“-Pedro, o que você tá fazendo aqui ?
-Me ajuda, meu pai me expulsou de casa...
-O quê ? Não ! Se o meu pai descobrir isso nós dois estaremos na rua. Sinto muito, mas eu não vou ajudar você !”
Vagou pelas ruas da cidade. De repente começou a chover. Ele viu o portão de um prédio aberto, o meu. E lá decidiu se abrigar. Se escondeu na escada, e lá se recolheu, pensando no que faria, sem casa, sem família, sem amigos. Até que eu o encontrei, naquela escada...
FIM DO FLASHBACK
Olhei para ele, sem acreditar.
-Se eu soubesse que era esse o motivo, não teria nem perguntado – falei, com meu coração apertado.
-Ele me tratou como lixo Miguel. Como se eu nunca tivesse feito nada de bom na vida. Como se ele não fosse meu pai... - falou, lagrimando. Limpei as lágrimas com o meu dedo – eu acho que ele se arrependeu depois. Mas agora já é tarde. Ele me magoou mais que qualquer pessoa deste mundo...
-Fique tranquilo ok ? - falei, beijando o rosto dele – depois desses meses morando com você, apesar do seu silêncio, eu sei que você não é uma pessoa ruim. É uma pessoa linda, que me encanta a cada dia. Eu protejo você ! - falei, fazendo com que logo ele me abraçasse.
-Eu não falei isso para você antes porquê achei que você iria achar que eu estava mentindo. Você era a única pessoa que abriu a porta para mim. Sem você eu não sei o que teria sido de mim... Eu não tenho mais família Miguel. Você é a minha única família... - falou ele, apertando ainda mais o meu coração. Só então eu percebi que voltei a ter uma grande importância na vida de alguém. Primeiro com a Daniela, agora com ele.
-Fique tranquilo – falei, alisando as suas costas enquanto sentia as lágrimas dele no meu ombro – eu cuido de você... Já cuidei de algumas pessoas... Só espero que você não fuja, igual elas... - ele me soltou, olhou para mim..
-Miguel ? O que significa esses beijos ?
-Significa... Eu não sei o que significa. Acho que eu gosto de você...
-Mesmo eu tendo 18 anos ?
-Você tem 18 ? Como eu não percebi isso ? - estava sendo irônico. Ele riu. O beijei novamente. Me sentia vivo de novo. Feliz de novo. Como na época em que era casado. Parecia que ele era o gás que a minha vida precisava para voltar ao normal.
Continua
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