Ao longe eu via a miragem do Beto se aproximando. Dei uns tapas na minha cara, esfreguei o rosto.
Era uma miragem perfeita.
Aquele cara parou na mesa de alguns amigos, e trocou algumas poucas palavras.
Eu estava tão viciado no Beto que começava a ver ele nas outras pessoas.
Chamei o garçom. Ele demorou um pouco, mas veio ate minha mesa.
- Manda outro sujo pra mim. (disse ja meio alterado).
- Manda um pra mim também. ( respondeu Beto sentando a mesa junto comigo).
Berg - Beto?
Beto - Não ia me convidar?
Meus olhos brilharam.
Berg - Eu tentei te ligar, mas teu celular só dava na caixa postal.
Beto - descarregou.
Berg - como tu soube que eu tava aqui?
Beto - passei na tua casa, e tua mãe disse que tu vinha pra ca se encontrar com uma garota. Quem é essa garota?
Berg - Isso é coisa da cabeça da minha mãe. Ela pensou isso, e eu achei melhor não negar.
Beto - entendi.
Berg Tu foi na obra dos teus pais?
Beto - dei uma passada.
Berg - e tu não vai mais me chamar pra ajudar?
Beto - vou sim. Acontece que hoje eu estava sem cabeça.
Berg - hum.
Beto - ajeita essa cara.
Berg - o que tem minha cara?
Beto - tu sabe o que eu quero dizer.
Berg - Minha cara ta normal.
Beto - Você sabe que não. Tu não é assim.
Berg - E tu quer o que depois de tudo o que aconteceu?
Beto - Quero passar uma borracha. Eu tou aqui não estou?
Eu confirmei com a cabeça.
Nossas cervejas chegaram.
Beto - eu amo você seu porra. Você é o melhor que eu tenho.
Berg - eu também cara.
Beto - só não te agarro aqui porque estamos em um local publico.
Berg - quer dar uma volta?
Beto - só se for agora.
Beto solicitou a conta, e saímos daquele estabelecimento em seu carro. O meu, eu fiquei de voltar para pegar.
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Beto - tu quer ir pra onde? (perguntou Beto antes de dar partida no carro).
Berg - qualquer lugar.
Beto - Pode ser lá na obra?
Berg - por mim de boa!
Beto - então aí vamos nós.
Beto ligou o som do carro.
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Por quê fui andar por caminho de pedra
Querendo encontrar
Na noite buscar o amor de um amor
Que não ia me amar
Você esteve tão perto perfeita, amiga
Eu não pude enxergar
Que era a exata pessoa e hoje na boa
Eu começo a gostar do seu olhar
Do sorriso lindo, o jeito de falar
Quando me liga, brinca, muda a voz
Pede pra adivinhar
E no meu aniversário, virou meia noite
É a primeira a lembrar
E as minhas melhores risadas
Somente você consegue arrancar
Como não me apaixonar?
Como não me apaixonar?
Tenho a certeza e aquela incerteza
Não existe mais, ficou pra trás
O meu pensamento, vive e pensa a todo tempo
E me pede mais, eu vou atrás
Tenho o que quero e preciso
E as briguinhas comigo, eu deixo pra lá
Quem sabe é o seu jeito de amar
Tenho o que quero e preciso
E as briguinhas comigo, eu deixo pra lá
Quem sabe é o seu jeito de amar ♪♫
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Eu fui todo o percurso com minha mão em suas coxas.
Eu estava tão bêbado que Beto conversava coisas atoas, só pra não deixar eu dormir.
Chegamos ate a obra, Beto estacionou o carro, e depois me ajudou a subir as escadas. Deitamos no colchão que o Beto havia levado dias antes. Beto começou a me beijar.
Beto - hoje eu não quero sexo, quero ficar aqui, e cuidar de tu.
Eu concordei, e dei outro beijo em sua boca.
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O Beto era um cara surpreendente. Eu não enjoava nunca de estar ao lado dele.
Mas com o tempo vamos entendendo que não existe perfeição absoluta. A gente discutia com frequência, as vezes por culpa dele, as vezes minha... E assim íamos levando.
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Nas férias do final de ano o Rafa me mandou uma passagem pra eu ir visita-lo.
Eu tentei explicar para o Beto que era apenas amizade, mas ele tinha outro ponto de vista.
Beto - não é apenas amizade. Se a carência bater, e aí como é que fica?
Berg - ta falando da minha carência ou da tua?
Beto - Eu me garanto cara, mas e você se garante também?
Berg - Claro que sim po. Tu acha que eu sou moleque?
Beto - o que eu acho é que é arriscado você passar uma semana com um cara que gosta de você.
Berg - ele não gosta mais de mim Beto. O cara já ta ate namorando.
Beto - eu não confio nele. Porra, ta difícil de entender?
Berg - mas pode confiar em mim, eu não vou vacilar contigo.
- eu confio em você. (disse Beto aproximando-se de mim). - Mas eu sei que a carne é fraca.
Berg - Mo. Já falei, não vai acontecer nada. Vai ser só uma semana. ( Eu tentava articular).
Beto - Não quero discutir contigo. Se você tem o mínimo de respeito a mim, você não vai!
Foi a ultima palavra do Beto.
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No sábado a noite eu fui a uma festa na casa do Sr Edgar.
Já fazia anos que eu frequentava a mansão do sr Edgar, mas tudo continuava igual. As mesas, a piscina, a pista de dança improvisada, o pequeno palco arquitetado para quando tivesse som ao vivo, e a sala de jogos. O que mais me marcava era a mesa de sinuca, toda vez que eu olhava para ela, lembrava do Lucas. É incrível: As pessoas passam por sua vida, e quando elas marcam por algum motivo, sempre serão lembradas. Eu não conseguia esquecer o Lucas, e mesmo estando com o Beto, as vezes eu me pegava lembrando da passagem dele pela cidade. A gente sempre se falava por telefone, e ele dizia estar bem, mas não estava namorando, apenas viajando, conhecendo pessoas e lugares.
Meu pai estralou os dedos a frente do meu rosto, fazendo eu despertar.
- acorda filho. (disse ele com muito senso de humor).
Berg - o que foi pai?
Pai - Pensando na morte da bezerra?
Berg - ah, tava longe.
Pai - percebi, o Edgar acabou de sair daqui, e você foi frio com ele.
Berg - serio pai?
Pai - sim.
Berg - nem me toquei.
Pai - já quer ir pra casa?
Berg - Não, ta de boa aqui. Cade o Bernardo?
Pai - olha lá. Parece um peixe. (meu pai apontou para a piscina, e Bernardo tava deitado em cima de um colchão inflável.
Eu ri.
- Vou jogar uma partida de sinuca. (disse me levantando)
Pai - va la, mas não suma não.
Berg - pode deixar.
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Marquei minha cerca, e fiquei aguardando a vez. Eu sempre soube jogar, mas o Lucas havia aprimorado meu jogo, ganhei varias partidas seguidas. Só parei de jogar quando recebi uma ligação do Gustavo.
Estranhei, nossa amizade não era mais a mesma. Não vivíamos discutindo, mas também não havíamos voltado a ser os velhos brother's de antes.
Pensei em recusar, mas achei melhor atender, poderia ter acontecido alguma coisa com o Beto.
******
- Fala Gustavo.
Guga - E aí. Beleza?
Berg - beleza. O que você manda?
Guga - como é que ta as coisas entre tu e o Beto?
Berg - bem, porque?
Guga - cara. Por mais que eu não concorde com a o lance de vocês dois, quero que saiba que eu continuo o mesmo de antes.
Berg - Por que está me falando isso?
Guga - O Beto saiu com a Debora. Foram pra festa da turma de medicina lá da faculdade.
Berg -...
Guga - Eu não estou falando isso pra vocês brigarem, essa não é minha intenção. Tou falando porque vocês são meus brother's, e eu não quero que vocês se machuquem.
Berg - ...
Guga - Ainda ta aí?
Berg - tou sim.
Guga - se você quiser, agente pode dar uma passada lá. Eu ligo pra um amigo meu e descolo uns ingressos pra nós.
Berg - Eu tou numa festa com minha família, não da pra sair. Mas ta de boa cara, eu confio no Beto.
Guga - ta certo mano, e oh, não fica pensando que eu tou querendo jogar álcool no fogo, eu só falei porque senti que era o certo.
Berg - fica tranquilo. Vou ter que desligar aqui mano.
Guga - ta certo mano. Boa noite.
Berg - boa.
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Desliguei o celular, e senti uma lágrima escorrendo.
Beto disse que não iria sair aquela noite. Pra que mentir pra mim?
Atravessei a piscina, e passei em frente a dupla que tocava. Senti um aperto no coração.
Engraçado que as vezes sentimos falta de algo que nem perdemos ainda. Acho que é o que chamamos de sofrer por antecedência.
Procurei pelo Sr Edgar, e pedi que ele me deixasse deitar em um dos quartos. Ele prontamente me ofereceu o quarto dele, e disse que eu poderia ficar a vontade.
Subi as escadas, e quando cheguei na porta do quarto do Sr Edgar, dei uma parada, e olhei para a porta do quarto do Lucas. Fui lá verificar, e a porta não estava trancada na chave.
Girei a maçaneta, e acendi a lâmpada. Acho que o sr Edgar não costumava hospedar os amigos naquele quarto, tudo estava do mesmo jeito.
Me aproximei lentamente da cama, deitei, e abraçei meu próprio corpo. Uma dor me consumia, mas não era a dor da traição, era a dor da perda.
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Tenho o que quero e preciso
E as briguinhas comigo, eu deixo pra lá
Quem sabe é o seu jeito de amar
Tenho o que quero e preciso
E as briguinhas comigo, eu deixo pra lá
Quem sabe é o seu jeito de amar.
♫♫♫♫
Continua...