E aí cambada, tudo bem? Então vou postar a primeira parte agora e todas as vezes será mais ou menos nesse mesmo horário, e galera peço que vocês realmente deixem seus comentários e avaliem o conto, porque assim posso saber se estou fazendo um bom trabalho ou se tenho que melhorar alguma coisa belezinha? Vamos ao que interessa enfim.
“O único segredo que as pessoas guardam / é a imortalidade.”
-Emily Dickinson
UM
- Adivinha!
As mãos quentes e úmidas de Haven apertam minhas bochechas, e seu anel, um crânio de prata escurecido, deixa uma marca de sujeira sobre minha pele. E mesmo que meus olhos estejam cobertos e fechados, sei que os cabelos dela, tingidos de preto, estão partidos ao meio; um espartilho de vinil preto se sobrepõe a uma blusa de gola rulê – mantendo-se em conformidade com o código de vestimenta de nossa escola; a saia comprida de cetim preto, apesar de nova, já tem um furo próximo a bainha, de quando ela pisou com o bico da botas; os olhos parecem dourados, mas só porque ela ta usando lentes de contato amarelas.
Também sei que o pai dela ta viajando “a trabalho”, como ele mesmo disse; que o personal trainer da mãe dela é muito mais “personal” do que “trainer” e que o irmão caçula quebrou um cd dela, do Evanescence, e agora está com medo de contar.
Mas não sei disso tudo porque andei bisbilhotando a vida dela, nem porque alguém me contou. Sei por que tenho poderes sobrenaturais.
- Anda logo, adivinha! Daqui a pouco o sinal vai tocar! – ela diz com a voz rouca, como se fumasse um maço de cigarros por dia, embora só tenha tentado fumar uma vez.
Enrolo um pouco enquanto penso na ultima pessoa com quem ela gostaria e ser confundida.
- Hilary Duff?
- Eca! Vai, tenta de novo. – Ela aperta ainda mais forte, nem sequer desconfiando que eu não precise ver pra saber.
Ela ri e desencosta as mãos, e então lambe o polegar para apagar a tatuagem (quer dizer, sei que Haven não tem doença nenhuma), mas porque não quero que encoste em mim novamente. O toque humano e muito revelador, muito cansativo, então procuro evitá-lo a todo custo.
Com um gesto rápido, ela tira o capuz da minha cabeça e aperta os olhos ao ver meus fones de ouvido..
- O que você está ouvindo?
Levo a mão ao bolsinho para iPod que costurei em todos os meus moletons (para esconder dos professores os tão conhecidos fiozinhos brancos) e entrego a ela o aparelho.
- Radioactive – respondo, desligando o iPod e guardando-o de volta no esconderijo.
Simplesmente dou de ombros. Não preciso escutar para ouvir. Claro que não é isso que digo a ela. Falo apenas que a gente vai se ver de novo na hora do almoço e vou para mina aula.
A caminho de meu lugar, no fundo da sala, desvio-me da bolsa que Stacia deixou de propósito em meu caminho e ignoro a serenata que ela diariamente sussurra ao me ver – “Per-de-dor” . Em seguida, acomodo-me na cadeira, tiro livro, caderno e caneta da mochila, coloco os fones de ouvido, visto o capuz, jogo a mochila na carteira vazia a meu lado e espero pela chegada do Sr.Robins.
Nem sempre fui essa bizarrice que sou hoje. Já fui um adolescente normal, do tipo que ia as festinhas da escola, se apaixonava por celebridades e tinha tanto orgulho do cabelo louro que nunca usaria um capuz que os escondessem. Eu tinha mãe, pai, uma irmã caçula chamada Riley e uma cadela labrador amarela, fofíssima, de nome Buttercup. Morava numa casa agradável, num bairro bacana de Eugene, no Oregon. Era popular, feliz e mal podia esperar pra chegar ao segundo ano, pois tinha acabado de me tornar chefe de torcida da principal equipe da escola. Minha vida era completa, e o céu era o limite. Essa historia de céu pode ser um tanto gasta, mas, no meu caso, ironicamente, e também a mais pura verdade. No entanto, sei tudo isso apenas por ouvir dizer, pois desde o acidente so me lembro claramente de uma coisa: eu morri.