Cap.7
-Quem era ? - ele perguntou, me olhando.
-Não... Não era ninguém importante... Vamos logo antes que algum vândalo faça algo com o seu carro...
MINUTOS DEPOIS
Eu fiquei pensando naquilo dentro do carro. Nunca, desde quando começei a fazer essas coisas eu deixei um programa passar. As vezes, até mesmo doente eu satisfazia os meus clientes. E agora, por causa desse furacão em forma de homem, eu recusei um cliente. Queria entender porquê de repente fiz algo assim.
-Mãe ? - entrávamos na casa da mãe dele. Eu estava meio envergonhado, afinal não conhecia nada nem ninguém ali, mas apenas o segui.
-Oi filho... - uma mulher apareceu, saindo da cozinha – o que está fazendo aqui a essa hora ?
-Vim pedir para a senhora ficar alguns minutos com a Leandra e o Gabriel aqui...
-Quem é Gabriel meu filho ?
-O filho dele... - falou, me olhando – este é o Paulo. Ele é meu vizinho, vamos ver o meu carro agora, que está com o pneu furado.
-Ah sim, você me falou ontem... - Gabriel olhou para mim, como se não quisesse ficar.
-Não fique com medo querido, eu volto logo. É só alguns minutos...
-Tudo bem... - falou ele, se soltando de mim.
-Vem Gabriel, vamos ver os brinquedos que eu tenho aqui – Leandra dizia, puxando ele.
-Fiquem tranquilos, eu cuido deles...
MINUTOS DEPOIS
Ele havia deixado o carro dele em um lugar seguro, dentro de um estacionamento.
-Porquê você não levou na borracharia logo ?
-Porquê ia dar muito trabalho... Prefiro comprar o pneu e trocar... - ele havia comprado um pneu para o carro no caminho. Eu apenas ajudei, ele fez tudo praticamente. E durante alguns segundos eu só consegui ficar olhando para os músculos dele trabalhando, ao mesmo tempo que queria não olhar, que preferia virar o rosto, na tentativa de não pensar nele daquela forma...
MINUTOS DEPOIS
-Pronto ! - dizia ele, se levantando – o pneu já está trocado...
-Não imaginei que um executivo soubesse trocar um pneu...
-Qual é ? Acha que só porquê eu tenho dinheiro que sou diferentão ? - ri
-Espera... - ajeitei a roupa dele que depois daquele esforço, estava bagunçada. Naquele momento, acabei pegando em diversos músculos dele, e quando ele olhou no meu rosto, a vergonha bateu.
-Você quer jantar comigo hoje ?
-Como assim ?
-É que ontem nós jantamos na sua casa. Nada mais justo que jantarmos na minha hoje. Eu cozinho bem, sabia ? Sempre cozinhava quando... - ele olhou pro chão – bem... você sabe. E agora que posso ter uma companhia perto vou voltar a cozinhar...
-Tá bom executivo, eu e Gabriel jantaremos na sua casa hoje. Mas quero comida boa ein...
-É sério, eu cozinho bem mesmo ! - ri
-Tudo bem... Então estarei lá, a noite...
MINUTOS DEPOIS
Depois dele ter trocado o pneu do carro dele, fomos cada um no seu carro em direção a casa da mãe dele. Ao chegar, me deparei com duas criancinhas jogadas no chão, fazendo um desenho.
-Gabriel, cheguei ! - falei. Assim que ele me viu, veio correndo até mim...
-Olha Paulo, o que eu fiz... - logo tomei o desenho em minhas mãos. Desde cedo percebia que ele tinha talento para desenho. Os desenhos dele não eram típicos de criança, e isso não era ceguice de pai-irmão. Ele havia desenhado um homem alto, e um garoto do lado, como se estivessem sentados, fazendo alguma coisa.
-Quem são esses Gabo ?
-Eu e você... Lembra que a gente assiste desenhos juntos ?
-Lógico que lembro – falei, sorrindo. Quando olhei um pouquinho mais pro lado, vi um desenho também parecido com uma pessoa, porém sem pintura nenhuma – e isso aqui, o que é ?
-A nossa anjo da guarda... - sempre tentei amenizar a morte da nossa mãe no cérebro dele. Principalmente quando chegava o dia das mães, e não tinha mulher nenhuma para acompanhá-lo nas festinhas para as mães, e acabava sendo eu quem o acompanhava.
“-Porquê eu não tenho uma mãe como todo mundo Paulo ? - ele perguntava, logo depois de eu dizer que iria na sua festa de Dia das Mães.
-Quem disse que você não tem mãe ? Você tem mãe sim, só que ao contrário das outras, ela te protege lá do céu... - dizia, sempre com o coração na mão – ela é nossa anjo da guarda !”
Sempre que eu lembrava daquilo, ficava abatido.
HORAS MAIS TARDE
No apartamento dele, tomava vinho enquanto as crianças brincavam e ele cozinhava.
-Já está quase pronto... - falava ele, saindo com um avental super esquisito da cozinha.
-Onde você comprou esse avental estranho ?
-Eu já tenho ele há muito tempo...
-Sei... - falei rindo.
-Porquê você tá assim tão calminho ?
-Gabriel me deixou pensativo...
-Por causa daquele desenho...
-Sim. Eu sempre tentei fazer com que ele sentisse o mínimo possível de falta da nossa mãe, para que não sofresse tanto. Mas as vezes não dá, não é ?
-Você é um ótimo pai-irmão... Mas nem os pais podem fazer tudo...
-É, você tem razão... Precisa arrumar este apartamento – falei, olhando ao redor...
-Ah, depois que a Flávia foi embora eu já não ligo muito para esse apartamento.
-Mas tem que ligar, ou você quer morar num chiqueiro ? Depois do jantar eu vou fazer você botar a mão na massa...
E a partir de então, nos tornamos amigos...
Continua
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