- Legal. A gente se vê depois então, Flor - ele me disse.
Virei a esquina e vi América parada com Finch do lado de fora do nosso domitório. Nós três acabamos ficando na mesma mesa durante a orientação aos calouros e soube na hora que ele seria o providencial terceiro elemento da nossa amizade. Ele não era muito alto, mas passava bem dos meus 1,62 metros. Os olhos redondos equilibravam as feições longas e esguias, e os cabelos descoloridos geralmente estavam espetados na parte da frente.
- Trevis Maddox? Meus Deus Kevin, desde quando você começou a pescar nas profundezas do oceano? - Finch perguntou, com um olhar de desaprovação.
América puxou o chiclete da boca, fazendo um fio bem longo.
- Você só está piorando as coisas ao rejeitar o cara. Ele não está acostumado a isso.
- O que você sugere que eu faça? Durma com ele?
América deu de ombros.
- Vai poupar tempo.
- Eu disse pra ele que vou lá hoje a noite.
Finch e América trocaram olhares de relance.
- Que foi? Ele prometeu parar de me encher se eu dissesse que ia. Você vai lá hoje a noite, não é?
- É, vou - Disse América - você vem mesmo?
Sorri e fui andando. Passei por eles e entrei no dormitório, me perguntando se Travis cumpriria a idéia de não fletar comigo. Não era difícil sacar qual era a dele: ou ele me via como um desafio, ou como sem graça o bastante para ser um bom amigo. Eu não tinha certeza sobre qual das alternativas me encomodavam mais.
Quatro horas depois, América bateu à minha porta para me levar até o apartamento do Shepley e do Travis. Ela não se conteve quando apareci no corredor.
- Credo, Kevin! Você está parecendo um mendingo.
- Que bom - eu disse, sorrindo para o meu visual.
Meus cabelos estavam meio desgrenhados. Eu havia substituído às lentes de contato por óculos retangulares de aros pretos. Vestindo uma camiseta bem velha e gasta e uma calça de moletom, eu me arrastava em um par de chinelos. A idéia me viera à mente horas antes: Parecer desinteressante era a melhor estratégia. O ideal seria que Travis perdesse instantaneamente o interesse em mim e colocasse um ponto final em sua ridicula percistência. E, se ele estivesse em busca de um amigo, meu objetivo era parecer desleixado demais até para isso.
América baixou a janela do carro e cuspiu o chiclete.
- Você é óbvio demais. Por que não rolou no cocô de cachorro para completar o visual?
- Não estou tentando impressionar ninguém - falei.
- É óbviu que não.
Paramos o carro no estacionanmento do conjunto de apartamentos onde o Shepley morava e segui a América até a escadaria. Ele abriu aporta rindo enquanto eu entrava.
- O que acontecceu com você?
- Ele está tentando não impressionar - disse América.
Ela seguiu Shepley em direção ao quarto dele. Eles fecharam a porta e eu fiquei ali parado, me sentindo meio deslocado. Sentei-me na cadeira reclinável mais próxima da porta e chutei longe os chinelos.
Em termos estéticos o apartamento deles era mais agradável do que eu imaginava, o lugar pelo menos era limpo, os móveis novos, o cheiro de cerveja velha e roupa suja notavelmente não existia.
- Já estava na hora de você aparecer - disse Travis se jogando no sofá.
Sorri e ajetei os óculos, esperando que ele recuasse diante da minha aparência.
- A América teve que terminar um trabalho da faculdade.
- Falando em trabalhos da faculdade, você já começou aquele de história?
Ele nem pestanejou ao ver meu cabelo despenteado, e franzi atesta com a reação dele.
- Você já?
- Terminei hoje à tarde.
- Mas é pra ser entregue só na próxima quarta-feira - falei surpreso.
- Achei melhor fazer logo. Um ensaio de dua pagina sobre Grant não é tão difícil assim.
- Acho que sou desses que fica adiando - dei de ombros. - provavelmente só vou começar no fim de semana.
- Bom, se precisar de ajuda, é só me falar.
Esperei que ele desse risada ou fizesse algum sinal de que estava brincando, mas sua expressão era sincera. Ergui uma sombrancelha.
- Você vai me ajudar com o meu trabalho?
- Eu só tiro A nessa matéria - ele disse um pouco ofendido com a minha descrença.
- Ele tira A em todas as matérias. Ele é uma droga de um gênio! Odeio esse cara - disse Shpley, enquanto levava América pela mão até a sala de estar.
Fiquei olhando para Travis com uma expressão dúbia e ele ergueu as sombrancelhas.
- Que foi? Você não acha que um cara cheio de tatuagens e que ganha dinheiro brigando pode ter boas notas? Não estou na faculdade por não ter nada melhor pra fazer.
- Mas então por que você tem que lutar? Por que não tentou uma bolsa de estudos? - perguntei.
- Eu tentei. Consegui meia bolsa. Mas tem os livros, as despesas com moradia, e tenho que consegui a outra metade do dinheiro de algum jeito. Estou falando sério, Flor. Se precisar de ajuda com alguma coisa, é só me pedir.
- Não preciso da sua ajuda. Consigo fazer um trabalho sozinho.
Eu queria deixar aquilo pra lá. Devia ter deixado, mas aquele novo lado dele me matava de curiosidade.
- Você não consegue fazer outra coisa pra ganhar dinheiro? Menos... sei lá... sádica?
Travis deu de ombros
- É um jeito facíl de ganhar grana. Não conseguiria tanto assim trabalhando no shopping.
- Eu não diria que é facil apanhar.
- O que?! Você está preocupado comigo? - ele deu uma piscadela. Fiz uma careta e ele deu uma risadinha abafada. - Não apanho com tanta frequência assim. Quando o adversário da o golpe, eu desvio. Não é tão difícil quanto parece.
Dei risada
- Você age como se niguém mais tivesse chegado a essa conclusão.
- Quando dou um soco, eles levam o soco e tentam me bater de volta. Não é assim que se ganha uma luta.
Revirei os olhos.
- Quem é você... o garoto do 'Karate kid"? Onde aprendeu a lutar?
Shepley e América se olharam de relance um para o outro e depois para o chão. Não demorou muito para eu perceber que eu tinha dito algo errado.
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CONTINUA
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CINTIA C: Que bom, continue acompanhando. Bjss...
ZECARLOS: Prontinho, continue acompanhando. Bjss
FLAANGEL: Já dei uma olhada e realmente tem algumas coisas, vou tentar prestar mais atenção agora. Contiue acompanhando. Bjss...