O Novo Funcionário - Parte 2: A Voz

Um conto erótico de Diego
Categoria: Homossexual
Contém 1737 palavras
Data: 17/05/2016 22:44:06
Última revisão: 17/05/2016 22:49:22

Depois de concluir a rápida conversa com o tão esperado candidato à vaga de trabalho, desliguei o telefone e respirei aliviado. Apesar do nosso negócio ser bem pequeno, o desfalque em nossa equipe fez com que o trabalho de cada um fosse aumentado, o que para mim se tornava ainda mais complicado devido à minha rotina intensa de conciliação entre estudos e trabalho. Mas parecia que finalmente esse problema iria ser resolvido, visto que um candidato tinha aparecido. Candidato este que se mostrou bastante interessado ao telefone.

Imediatamente após a conversa, entrei em contato com o meu pai para avisá-lo da ligação. Neste dia, ele não estava na lanchonete pois estava doente. Meu pai era duro na queda quando o assunto era doença. Só se ausentava do trabalho quando realmente estava mal de saúde, o que era o caso. Nossa cidade estava enfrentando um grande surto de dengue e meu pai havia contraído a doença. Apesar de ele já estar se recuperando, preferiu ficar em casa, uma vez que a médica que o consultou recomendou absoluto repouso por dez dias. Este já era o oitavo:

- Pai, eu tenho uma ótima notícia para dar ao senhor! – falei assim que ele atendeu seu celular mostrando total empolgação com a novidade que eu estava prestes a compartilhar.

- O que foi, meu filho? O que aconteceu para você estar tão animado? – meu pai notou o quanto eu estava feliz.

- Pai, nem conto pro senhor... Acabou de nos ligar um rapaz perguntando sobre a vaga aqui da lanchonete. – falei com a empolgação de uma mulher quando conta ao marido que está grávida (isso em casos de gravidez planejada, hahaha).

- Não, Diego! É sério, isso? Não acredito, rapaz... – o tom de voz do meu pai demonstrava total incredulidade.

- É sério, pai. Eu também não acreditei quando ele falou que tinha interesse pelo emprego. Só não demonstrei a empolgação para ele com medo dele achar muito “desespero” da minha parte. – caí na gargalhada.

- Hahahaha! Fez certo, meu filho, fez certo. Mas me diga, vocês marcaram alguma coisa, alguma entrevista? – meu pai queria saber mesmo era dos negócios, não perdia tempo quando o assunto era esse.

- Claro que marquei, pai. Ele ficou de vir aqui depois de amanhã. Marquei com ele para às 18h00, para não atrapalhar o atendimento aqui, já que costuma ser mais movimentado mais tarde.

Perfeito, Diego! Melhor impossível. Vamos torcer agora pro rapaz ter interesse e aparecer mesmo. – meu pai ainda estava com receio já que por tanto tempo a vaga apareceu sem nenhum candidato em potencial.

- Estou torcendo por isso, meu pai. Mas estou botando fé! Acho que dessa vez finalmente vamos preencher nosso quadro de funcionários. – eu realmente tinha essa sensação.

- Que Deus te ouça, Diego! Vou já contar a notícia pra sua mãe. Ela vai adorar a novidade! Até mais tarde, filho.

- Conte sim, pai. Até mais tarde! – falei nos despedindo.

A minha mãe costumava ajudar na lanchonete durante o dia, nos turnos da manhã e da tarde. Depois do desfalque do funcionário que pediu demissão, ela trocou o turno da manhã pela noite. Porém, ela detestava. Ela não gosta muito de barulho e se sente mal em ambientes muito lotados. E as nossas noites eram exatamente assim. Quando meu pai adoeceu de dengue, ela voltou a ir pela manhã para, à noite, estar em casa e “cuidar” dele. Ou seja, a lanchonete “bombava” durante a noite e eu tinha que me virar somente com os outros funcionários. Se o rapaz aceitasse trabalhar conosco melhoraria a minha sobrecarga de atividades, tiraria definitivamente a necessidade da minha mãe ir ajudar durante a noite e evitaria os estresses que o meu pai vinha tendo por ter que resolver mil e uma coisas ao mesmo tempo. Ou seja, resolveria todos os nossos problemas. Era exatamente por isso que todos nós estávamos com tanta expectativa.

O resto da noite foi bastante movimentada. Era uma terça-feira mas o fluxo de clientes era o típico de uma sexta-feira. Casa cheia! Nesse dia eu fiz todo tipo de trabalho que você pode imaginar: fiquei no caixa, atendi o telefone, anotei os pedidos dos clientes, servi-os, lavei a louça, limpei as mesas... Eu estava sendo o faz-tudo do nosso negócio. Não vou negar: isso era chato pra caramba! Afinal de contas eu tinha uma faculdade super puxada e ainda tinha que carregar nas costas uma série de responsabilidades com essa bendita lanchonete. Mas isso estava prestes a mudar. Pelo menos era o que eu esperava.

Nesse dia eu fechei a lanchonete às 23h30. Baixei as portas, tranquei-as, entrei no carro do meu pai e suspirei aliviado. Parecia um sonho mas era realidade: o dia finalmente estava chegando ao fim e eu podia ir pra casa. Respirei fundo por uns 5 segundos. Foi o suficiente para me dar o ânimo necessário para dirigir até casa. E dirigi com a sensação de dever cumprido. Pensei em tudo o que tinha feito no decorrer do dia. Pensei na minha faculdade que eu amava e que, apesar de todas as dificuldades, estava conseguindo dar conta com bastante êxito. Pensei na saúde do meu pai que, graças a Deus, estava se recuperando. Pensei nos negócios que davam trabalho e estresse mas que valiam à pena. Pensei na ligação do nosso candidato a novo funcionário. Pensei em tudo, tudo mesmo. Apesar de todo o cansaço físico e mental, a sensação foi a melhor possível. Parecia que as coisas finalmente iriam voltar pro seu devido lugar. Nem vi o tempo passar e quando dei conta já estava em casa. Abri o portão da garagem com o controle remoto, “guardei” o carro e entrei em casa. Subi as escadas rumo ao primeiro andar, onde ficava o meu quarto. Parecia que o cansaço estava me dominando por completo e que o “piloto automático” do meu corpo estava sendo ativado. Só consegui tirar a roupa e entrar no meu banheiro. Tomei uma chuveirada de cinco minutos, me enxuguei rapidamente, saí do banheiro, tirei uma cueca do guarda-roupa, vesti e caí na cama. A primeira lembrança que tenho depois disso foi péssima: meu celular despertou. Já era 06h30 de uma quarta-feira ensolarada. Um novo dia havia chegado. Mas a minha força para levantar não.

O dia seguiu dentro da mais completa normalidade: levantei, tomei banho, me arrumei, tomei café da manhã, escovei os dentes, fui para a faculdade, assisti aula até meio-dia, fui em um restaurante almoçar e no banco fazer uns pagamentos, voltei pra faculdade, assisti aula novamente até às 17h00, fui correndo às pressas para casa, tomei banho, me troquei e fui para a lanchonete. Ufa! Isso seria o suficiente para esgotar por completo uma pessoa e deixa-la sem forças para fazer mais nada. Mas comigo não era assim que as coisas funcionavam. O meu terceiro turno foi do jeito que você já sabe. Aliás, teria sido se não fosse por uma ligação.

Se você pensou que foi o candidato à vaga de emprego que ligou a sua resposta está... EXATA! Sim, ele ligou. Ligou para confirmar a nossa entrevista do dia seguinte. Esse rapaz estava mesmo querendo o emprego. Algo na voz dele me dizia que não tinha outra... a vaga já era dele. Eu ainda não sabia o seu nome (sim, com tantas coisas na minha cabeça, eu esqueci de perguntar o seu nome), eu ainda não tinha o visto, eu ainda não tinha nenhuma referência dele. Mas algo me dizia que independentemente de qualquer coisa, a vaga já era dele. E a minha intuição raramente falhava. A voz dele era interessante. Era uma voz grossa, de homem, mas ao mesmo tempo aparentava uma certa jovialidade. Vinte anos... Talvez vinte e cinco... Eu ainda não sabia, mas não por esquecimento. Preferi não perguntar para não gerar nenhum tipo de expectativa de nenhuma das partes quanto ao emprego. Mas era uma voz determinada, eu diria. Uma voz que me fez acreditar no seu potencial. E eu confesso pra você que, depois dessa segunda ligação, fiquei curioso para conhecer essa pessoa que se mostrava tão interessada, tão obstinada e até tão dedicada.

Após a ligação, a noite transcorreu como de costume. Não tivemos o mesmo movimento da noite anterior, mas ainda assim tivemos trabalho de sobra. Tanto é que não tive muito tempo de pensar na ligação que me pegou de surpresa. Para falar a verdade, essa lembrança só me veio à tona ao chegar em casa e colocar a cabeça no travesseiro. Lembrei do quão surpreso fiquei em perceber o interesse desse rapaz que apareceu de repente procurando o trabalho. Me peguei recordando da voz que tinha ouvido até então somente duas vezes mas que já foi capaz de dizer tanta coisa sobre o seu dono. Percebi então que tinha ficado bastante curioso em saber de quem se tratava essa pessoa. E foi pensando em todas essas coisas que, sem me dar conta, acabei pegando no sono.

No dia seguinte, a quinta-feira da entrevista, o dia transcorreu conforme a minha rotinha que você já conhece. Casa-faculdade, faculdade-casa, casa-lanchonete. A diferença dos dias anteriores foi que esse era o 10º e último dia de repouso do meu pai e ele, finalmente, estava de volta à lanchonete, o que era ótimo pois somente assim eu ficara menos sobrecarregado. A minha mãe, por sua vez, ficou em casa pois como meu pai já havia se recuperado, ela reassumiria o seu horário habitual da manhã.

Quando cheguei na lanchonete às 17h30, meu pai já estava lá todo na expectativa para a chegada do nosso candidato. Eu achava que estava animado com tudo o que estava acontecendo, até mais do que poderia ser considerado normal, mas a empolgação do meu pai era ainda maior do que a minha.

O rapaz havia combinado comigo de chegar às 18h00 para que pudéssemos conversar tranquilamente enquanto fosse cedo para não atrapalhar o nosso movimento. O relógio fixado na parede que ficava acima da bancada localizada atrás do caixa marcava 17h56. Eu estava separando umas moedas que havia trocado no centro da cidade quando o meu pai, que acabara de sair da cozinha e trazia uma bandeja com o pedido do único cliente que encontrava-se dentro do nosso estabelecimento, parou ao meu lado e falou com voz de surpresa:

- Acho que pontualidade não será problema para esse rapaz.

(Está gostando do conto ou tem alguma crítica/sugestão? Seria um prazer ler a sua opinião em um comentário. Um abraço e até a próxima!)

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